POLÍTICA
PMDB exibe Lula e usa programa na TV para rebater Dilma
Cristian Klein | De São Paulo
O programa partidário do PMDB que foi ao ar, ontem à noite, entrou na casa de milhões de brasileiros mas teve como alvo principal um único cidadão: a presidente Dilma Rousseff. Eivada de mensagens indiretas, mas com destinatário certo, a propaganda refletiu o mal disfarçado clima de beligerância por que passa a relação entre Dilma e os pemedebistas.
"Na disputa democrática, quem ganha junto, governa junto. É simples assim, ou não é?", disse a apresentadora, ao concluir uma defesa que rebate a imagem disseminada por "adversários" e "boa parte da mídia brasileira" de um PMDB que só se interessa por cargos.
Maior partido da base governista, o PMDB liderou, na semana passada, a primeira e grande derrota da presidente Dilma na Câmara, durante a votação do Código Florestal. A rebeldia veio depois de seguidas recusas da presidente em aceitar indicações dos pemedebistas para o segundo escalão do governo.
"O PMDB não cobra cargos. O PMDB divide trabalho, assume responsabilidades. Tem equipe e resultados para mostrar", afirmou em outro momento o programa.
No auge da crise, a Presidência ameaçou demitir os seis ministros do partido por meio de uma áspera conversa telefônica entre o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, e o vice-presidente Michel Temer.
No decorrer dos dez minutos do programa, o ímpeto intimidador - "Num regime democrático tamanho é documento, porque reflete a vontade popular" - aos poucos foi sendo substituído pelo tom mais conciliador.
Michel Temer afirma: "Com moderação, equilíbrio, respeito, atenção às instituições e a proteção de Deus, vamos dar sequência a um projeto que começou com o presidente [Luiz Inácio] Lula [da Silva]".
O ex-presidente não foi apenas citado. Apareceu em depoimento no qual tenta pôr panos quentes na briga. "Estou convencido que a presidenta Dilma e o vice Temer, o PT e o PMDB, construirão uma aliança ainda mais forte, que produzirá muitos frutos para o povo brasileiro", disse Lula.
Antes do depoimento do ex-presidente, a tela foi tomada por uma frase - outra indireta para Dilma: "Ser grande é ser grato".
Em seguida, surgiu Lula, agradecendo ao partido: "As minhas palavras neste programa do PMDB são de agradecimento pelo apoio que o partido deu ao meu governo. Juntos conquistamos muita coisa para o povo brasileiro".
A presença do ex-presidente, associada à ausência de qualquer imagem de Dilma, reforçou o protagonismo que Lula está retomando no cenário político. Durante a crise com o PMDB, quando o governo passou por uma espécie de "apagão", Lula tomou a frente da articulação política e reuniu-se com senadores do PT, à revelia de Dilma - ação que foi interpretada como uma intervenção branca.
Outra vez, Lula exerce um papel de bombeiro ou de mediador da crise. E suscita especulações sobre sua intenção de se candidatar em 2014, ao aparecer ao lado dos pemedebistas e domar, desde já, reações e pretensões de sua sucessora, como a de tentar a reeleição.
Apesar das mensagens cifradas, dos recados à presidente, o PMDB não descuidou do público-alvo de qualquer programa partidário. E também foi ousado ao reivindicar o crédito de várias conquistas do governo liderado pelo PT. O senador alagoano Renan Calheiros é quem melhor rouba as bandeiras normalmente associadas à administração petista.
"Quem diria que, no Brasil de agora, 30 milhões de brasileiros entrariam para a classe média. Quem diria que o nosso país fosse emprestar dinheiro ao FMI. Quem diria que um dia o brasileiro teria o maior programa de distribuição de renda do mundo", proclamou Renan Calheiros.
O senador cearense Eunício Oliveira afirmou que o "PMDB ajudou a revolucionar o campo com o Luz para Todos. Agora vai priorizar o programa Água para Todos" e que "a educação deu um salto com o Prouni".
Estopim da discórdia entre Dilma e PMDB, a questão ambiental foi tratada com mais tato e acenou para um armistício - uma vez que a discussão do Código Florestal continua no Senado. O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, fez uma defesa contundente do agronegócio, mas terminou por contemporizar. "O nosso foco agora é investir na agricultura de baixo carbono e assim levar também para o campo o desenvolvimento sustentável".
O programa foi aberto pelo presidente do Senado, José Sarney, e contou com outros caciques do PMDB, como o senador Valdir Raupp (RO), presidente em exercício do partido, o deputado federal Henrique Eduardo Alves (RN) e quatro dos seis ministros da legenda: além de Rossi, Moreira Franco (Assuntos Estratégicos), Garibaldi Alves (Previdência) e Edison Lobão (Minas e Energia).
Ficaram de fora Nelson Jobim (Defesa) e Pedro Novais (Turismo). Não apareceram nenhum dos cinco governadores. Um ano antes das eleições municipais, o programa destacou o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, em busca da renovação do mandato, e os dois pré-candidatos à disputa em São Paulo: Paulo Skaf, recém-filiado, e Gabriel Chalita, que entra para a sigla no sábado - ambos egressos do PSB.
BRASIL
Governo anuncia novas PPPs para remédios e reativa laboratório baiano
Luciano Máximo | De São Paulo
O Ministério da Saúde anuncia hoje, em Salvador, na Bahia, novas parcerias público-privadas (PPPs) entre laboratórios estatais e a companhia farmacêutica Cristália para a produção e transferência de tecnologia de quatro remédios contra doença renal crônica, esclerose crônica, artrite reumatóide e desequilíbrio hormonal (hiperprolactinemia).
Dois desses medicamentos (sevelamer e cabergolina) serão fabricados pelo Bahiafarma, laboratório estadual que foi desativado em 1999 e agora contará, nos próximos dois anos, com um plano de investimentos de cerca de R$ 35 milhões dos governos baiano e federal e da inciativa privada para a retomada das operações. A Cristália também participará de PPPs com o Laboratório Farmacêutico da Marinha (LFM), sediado no Rio de Janeiro, para a produção das drogas contra artrite (leflunomida) e esclerose crônica (riluzol).
Além de fortalecer o chamado complexo industrial da saúde brasileiro, o objetivo das quatro parcerias é substituir importações e trazer uma economia de R$ 20 milhões às compras governamentais com a ampliação da capacidade de produção estatal para o Sistema Único de Saúde (SUS), além de dotar os laboratórios oficiais de novas tecnologias de fabricação, que serão transferidas pelas farmacêuticas privadas até 2015.
Carlos Gadelha, secretário de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, destaca ainda que o processo tem um caráter de "desenvolvimento regional", com a reinstalação de um produtor público no mercado da saúde no Nordeste. "O projeto também tem uma dimensão integrada, pois a produção do remédio será em Salvador e da matéria-prima, no polo industrial de Camaçari. Isso contribui para a descentralização da produção nacional da indústria farmacêutica e farmoquímica", explica Gadelha.
O secretário contou que, num universo de 28 PPPs previstas para os próximos anos, o governo pretende fechar mais convênios com laboratórios públicos do Ceará, de Pernambuco e de Rondônia - este último para explorar a produção de remédios fitoterápicos.
Segundo Gadelha, o Ministério da Saúde prepara uma estratégia de modernização dos 19 laboratórios públicos do país. A medida prevê que, para fechar contratos com o governo federal e a iniciativa privada, as unidades precisarão elaborar planos que contemplem profissionalização da gestão, planejamento estratégico de longo prazo e controle de custos.
AVIAÇÃO
Brasil e Índia lideram
Assis Moreira | De Genebra
A Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata) informou ontem que o Brasil e a Índia foram os mercados que registraram o maior crescimento de passageiros nos voos domésticos em abril, continuando "sua tendência de crescimento em alta velocidade".
O levantamento da Iata mostra alta na demanda em voos internos de 23,8% no Brasil e de 25,6% na Índia, enquanto a média mundial foi de 4,7%, comparado a abril de 2010. No mês passado, números da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) já tinham apontado aumento até maior na demanda por voos dentro do território brasileiro em abril - 31,45% ante igual periodo de 2010, o vigésimo segundo mês consecutivo de alta e o melhor desempenho mensal desde agosto do ano passado.
Segundo a Iata, nos últimos cinco anos, o mercado brasileiro para aviação dobrou de tamanho, juntamente com o da China. Na Índia, triplicou no mesmo período. Em abril, no entanto, a China cresceu menos que Brasil e Índia - 10,8%, em parte por causa de politicas do governo para desacelerar a economia.
A Iata constata que a economia mundial está se recuperando mais lentamente do que previsto e vai recalcular as projeções de lucros da industria aérea este ano. Em março, a projeção era de ganho de US$ 8,6 bilhões. Mas o aumento de preços do petróleo, a crise no Oriente Médio e o terremoto no Japão afetaram o setor.
EMPRESAS
Avianca quer aeroportos
O grupo Synergy, dono da Avianca Brasil, tem interesse em participar da operação e gestão de terminais de passageiros em aeroportos nacionais, segundo o presidente da aérea, José Efromovich. "Aeroporto é um assunto que interessa ao grupo", disse o executivo. O Synergy Group tem cerca de 90% das operações voltadas para os setores de aviação, petróleo e construção naval. Na Colômbia, a Avianca Internacional já construiu e atualmente opera um terminal doméstico no aeroporto de Bogotá, segundo o executivo. Efromovich também não descartou a possibilidade de participar da construção do Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, no Rio Grande do Norte, cujo edital já foi publicado.
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