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quinta-feira, 9 de junho de 2011

09 de junho 2011 - CORREIO BRAZILIENSE


DESTAQUE DE CAPA - APOSTA NA QUEDA DA INFLAÇÃO
Economia ajuda Dilma a espantar a crise

Prévias dos índices de junho mostram a inflação em queda após as medidas adotadas para conter o consumo. Especialistas preveem que uma onda de otimismo entre os trabalhadores deve resgatar a popularidade do governo.


GOVERNO
Uma posse para esquecer a crise
Em clima de trégua com a base aliada, Gleise Hoffmann assume a Casa Civil. Dilma elogia Palocci na despedida do cargo

» Igor Silveira
» Vinícius Sassine
» Débora Álvares

A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, tomou posse ontem à tarde no Palácio do Planalto em uma cerimônia com clima ameno, planejada para encerrar a crise política que assola o governo há três semanas. Com participação maciça da base aliada, discursos em tom de agradecimento e sem qualquer referência às suspeitas que levaram à queda de Antonio Palocci, a solenidade teve momentos de emoção da presidente Dilma Rousseff, como, por exemplo, ao lembrar da participação do ex-ministro na campanha de 2010.
Acompanhada pela família — incluindo o marido, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e os filhos, João Augusto e Gabriela —, Gleisi recebeu as boas-vindas de Dilma, que ressaltou o perfil técnico da paranaense. A presidente chamou Gleisi de “amiga” e afirmou que a senadora petista se notabilizou no Congresso pela competência de administradora e gestora. “Tenho certeza de que você será bem-sucedida nessa importante função de governo. Sei disso porque a conheço muito bem”, disse.
A ministra agradeceu a confiança da presidente e, no discurso, destacou que quer seguir os passos de Dilma no Executivo. “Pretendo trabalhar com a mesma lealdade e responsabilidade da presidente”, comentou. Gleisi aproveitou, ainda, para colocar panos quentes na conturbada relação entre o Planalto e o Congresso. “Tenho consciência que minha escolha não se deve apenas à minha trajetória política. Ao escolher uma senadora, Dilma manifesta apreço ao Congresso, ao Poder Legislativo”, destacou.
Primeiro a falar durante o evento, Palocci explicou que a decisão de deixar a Casa Civil foi tomada para preservar o diálogo político do governo e garantiu que saía do cargo sem ressentimento ou mágoa. Antes de deixar o Palácio do Planalto, falou com a imprensa. De acordo com ele, a confiança de Dilma no seu trabalho permanece. “É assim que a política funciona, é assim que a imprensa funciona e é por isso que a gente luta pela liberdade de imprensa. Então, eu saio com respeito, com a cabeça erguida e com a certeza de que a presidente Dilma vai fazer muito pelo país.”
Ele foi elogiado pela sucessora e por Dilma, que ficou com a voz embargada ao falar sobre o ex-ministro. “Eu estaria mentindo se dissesse que não estou triste. Tenho muitos motivos para lamentar a saída do ministro Antonio Palocci. Motivos de ordem política, pelo papel que, como todos vocês sabem, ele desempenhou na minha campanha; motivos de ordem administrativa, pelo papel que ele tinha e teria no meu governo; motivos de ordem pessoal, também, pela relação de amizade que construímos ao longo deste tempo em que trabalhamos juntos”, ponderou.

Afagos
Gleisi Hoffmann aproveitou a despedida do Senado para reforçar a defesa do governo Dilma, afagar o PMDB, rechaçar a imagem de “trator” no exercício do mandato e pavimentar um diálogo com a oposição. Ela fez um discurso breve em plenário e, logo após a fala, recebeu afagos públicos da maioria dos senadores presentes. Parlamentares da oposição tomaram a palavra para dizer que Gleisi é “competente” e “preparada” para o cargo. Mas lembraram o momento difícil do governo Dilma. “A senhora assume a Casa Civil num momento de crise”, disse o senador José Agripino (DEM-RN).
O discurso de Gleisi começou com a presença de 50 senadores. Ao final, 65 dos 81 parlamentares estavam em plenário. Ela começou citando o poeta Manuel de Barros, que escolheu a palavra “criança” como a mais bonita da língua portuguesa, e terminou com uma poesia de Helena Kolody, do Paraná. A nova ministra da Casa Civil disse ter gratidão ao presidente do Senado, José Sarney, e ao presidente da Comissão de Relações Exteriores, senador Fernando Collor (PTB-AL).
O primeiro porque a “acolheu” no Senado. O segundo, pelo “aprendizado” na comissão onde foi titular. A citação nominal ao ex-presidente Collor, que sofreu um processo de impeachment em 1992, não estava prevista no discurso redigido por Gleisi. Entrou de improviso. Collor foi o primeiro a fazer um aparte para elogiar a ministra.
“Cheguei a esta Casa em fevereiro, há menos de seis meses, e hoje o primeiro dia neste plenário me parece uma data remota”, disse ela. Para Gleisi, a consideração de oposicionistas de que é um “trator” não é a “melhor metáfora para quem exerce a política e sempre se dispôs a debater”. “Gostaria muito de manter a convivência respeitosa que iniciamos nesta Casa.” Gleisi disse ainda que assumiu o mandato com o compromisso de defender o governo Dilma. “Sempre fui muito incisiva aqui na defesa de seu governo. Quis Deus, através da presidenta, que eu ficasse ainda mais próxima para este auxílio.”


O primeiro desafio de Gleisi
Ministra terá de negociar prorrogação ou não do prazo para produtores regularizarem APPs, um dos entraves na discussão do Código Florestal

Vinicius Sassine

A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, acabou de assumir a pasta e já tem uma espinhosa decisão a ser tomada nos próximos três dias — será uma das primeiras polêmicas a serem enfrentadas na sua gestão. Até sábado, o governo da presidente Dilma Rousseff precisará decidir se prorroga ou não o prazo para produtores rurais regularizarem as áreas de preservação permanente (APPs) e de reserva legal em suas propriedades. Um decreto do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva estabeleceu 11 de junho como data final para a regularização. Como o novo Código Florestal Brasileiro não foi aprovado a tempo — a proposta está em fase inicial de discussão no Senado —, o decreto continua valendo. O adiamento do prazo passou a fazer parte do contexto de negociações do novo código e passará pela mesa de Gleisi Hoffmann.
A chefe da Casa Civil deve se reunir com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, para discutir a possibilidade de prorrogação. Questionada pelo Correio sobre qual será a posição do governo em relação ao decreto, Izabella disse que a ampliação do prazo depende, agora, de análise da nova ministra da Casa Civil. “Vou esperar a ministra assumir o cargo e programar uma reunião para resolver essa questão.”
A dilatação do prazo passou a ser exigência dos próprios senadores da base aliada, que querem ganhar tempo para debater o Código Florestal e tentar reverter as perdas na Câmara. O texto aprovado pelos deputados anistia desmatadores (desde que se cadastrem num programa de regularização), isenta pequenas propriedades de reserva legal e permite atividades agropecuárias em APPs.

Pressão ruralista
O decreto de Lula passou a funcionar como instrumento de pressão. Técnicos do Ministério do Meio Ambiente interpretam que os produtores não caem automaticamente na ilegalidade a partir do dia 12. Eles poderão apenas ser notificados por órgãos de fiscalização — multas só seriam aplicadas após novo prazo de 180 dias. A bancada ruralista, no entanto, pressiona o governo para ampliar o prazo. A decisão final é da presidente Dilma Rousseff, que assinaria o novo decreto.
Na reunião entre Izabella e quatro senadores, ontem, no MMA, foi discutida a prorrogação do prazo. Além da ministra, participaram os dois relatores do novo Código Florestal — Jorge Viana (PT-AC), na Comissão de Meio Ambiente (CMA), e Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), nas Comissões de Constituição e Justiça e de Agricultura (CRA) — e os presidentes da CMA e da CRA, respectivamente Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) e Acir Gurgacz (PDT-RO). A Emenda nº 164, de autoria do PMDB e aprovada na Câmara, também pautou a reunião. A emenda permitiu “atividade agrossilvopastoril” em APPs.
Os senadores disseram que a proposta tramitará em conjunto nas comissões de Agricultura e Meio Ambiente, com possibilidade de redação de um único relatório. Mas o senador do PMDB deixou evidentes as divergências. “A Constituição reserva poder concorrente aos estados. O projeto será construído nesse sentido”, disse. O governo discorda da transferência aos estados da possibilidade de regularizar APPs.




Ipea prevê prejuízos

Ana Elisa Santana

A proposta do novo Código Florestal aprovada pela Câmara e à espera de análise no Senado pode prejudicar o compromisso brasileiro firmado no Acordo de Copenhague, segundo estudo divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada. O relatório do Ipea aponta que haverá atraso de 18 anos no cumprimento da meta de redução da emissão de gás carbônico (CO²) em função da redução das áreas preservadas.
Para os técnicos responsáveis pelo estudo, o novo projeto, que anistia propriedades com até 110 hectares de recuperarem áreas de reserva legal destruídas, não beneficia os pequenos agricultores e prejudica quem cumpre a lei atual. O novo texto do Código Florestal propõe que propriedades rurais de até quatro módulos fiscais — área que deve ser suficiente para sustentar uma família de acordo com as necessidades locais — sejam isentas de recuperar a Reserva Legal, porção do terreno que não pode ser desmatada. O problema, segundo o Ipea, é que 65% dos imóveis rurais são minifúndios e têm área equivalente a menos de um módulo fiscal.
Assim, considerando-se essas pequenas propriedades, o país poderia perder até 29 milhões de hectares de mata nativa caso a matéria seja aprovada com a redação atual. Esse número pode subir para 48 milhões se forem considerados os médios e grandes terrenos. Segundo a coordenadora da pesquisa, Ana Paula Moreira, manter a atual legislação implicaria menos prejuízos ambientais ao país.


OPINIÃO
A ministra dos ministros

Dad Squarisi

Gleisi Hoffmann assume a Casa Civil. Não há ineditismo na escolha. Duas mulheres já se sentaram na cadeira mais importante da Esplanada. Dilma Rousseff se saiu bem. Erenice Guerra saiu chamuscada por denúncias de corrupção. O gênero, pois, não faz a diferença. Talvez a diferença resida na determinação. Gleisi tem consciência da oportunidade. Foi a primeira voz petista a se levantar contra Palocci. Nos três meses como senadora, ganhou o apelido de pit bull da presidente. Destacou-se.
Com a força do cargo, Gleisi tem de sintonizar o país com o próprio tamanho. O Brasil parece adulto apertado em roupas de escoteiro. Criança, ofereceu boa escola, saúde de primeira, aeroportos confortáveis, estradas suficientes, segurança confiável, portos adequados, ônibus pontuais. Quem tinha acesso às benesses? A população da cidade — menos da metade dos brasileiros. Os demais, que viviam no campo, não sobrecarregavam o equipamento urbano. Mas o tempo correu, a realidade mudou. As urbes se superpovoaram. O país meio autista não correu atrás de alfaiates ou costureiros. Continuou com o guarda-roupa infantojuvenil. Resultado: sem o poder da multiplicação de Cristo, o menos não se tornou mais. Manteve-se menos. Carnes, gorduras, ossos, pelos saltam das vestimentas apertadas.
Aeroportos se confundem com rodoviárias. Aviões se assemelham a galinheiros. Portos atrasam cargas e descargas. Estradas desperdiçam produção, tempo e veículos. Apagões roubam a confiança de investidores. O Judiciário se afoga em processos. Hospitais matam. A insegurança pública incrementa a segurança privada. Drogas assassinam infâncias e juventudes. Escolas enganam — fazem de conta que ensinam, mas entregam à sociedade analfabetos totais ou funcionais. Nada atende as urgências de um Brasil que força as portas do mundo desenvolvido. Gleisi Hoffmann é cara e sangue novos na política federal. Sem os vícios que mantêm o país na era das Capitanias Hereditárias, pode usar a autoridade de ministra dos ministros para derrubar as estruturas arcaicas — sustentadas por corrupção e compadrios. Aliada à presidente, precisa vestir o Brasil com trajes adultos. Aí, sim, fará a diferença.


OPERAÇÃO SENTINELA
Temer lidera o plano de fronteiras
Vice-presidente foi escalado por Dilma para coordenar o programa que pretende reduzir o tráfico nas entradas do país

» Débora Álvares

A promessa de Dilma Rousseff de destinar mais poder a seu vice, Michel Temer, começou a ganhar forma ontem. Durante a cerimônia para lançar o Plano Estratégico de Fronteiras, a presidente o anunciou como articulador político do programa. “O meu compromisso com esse programa é tão grande que escolhi meu vice para coordenar as ações dentro do governo, ao lado da Casa Civil, do Ministério da Fazenda, do Planejamento e de Relações Exteriores, para que não haja por parte do governo nenhum processo de omissão.”
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, destacou, após o evento, que a escolha não tem a ver com o enfraquecimento do secretário de Relações Institucionais, Luiz Sérgio. “Temos que aproveitar o mais possível o talento de um homem como Temer”, avaliou Cardozo. Segundo o ministro da Defesa, Nelson Jobim, os ministérios responsáveis definirão as questões operacionais e técnicas. Já a definição de orçamento e liberação de recursos será um dos atributos do vice-presidente. “A operação depende de uma coordenação política para seu sucesso, porque envolve a definição das ações e determinação de posições”, disse Jobim.

Portas
O programa traz uma parceria inédita dos ministérios da Defesa e da Justiça contra os crimes nas regiões de fronteira, apontadas como porta de entrada para o tráfico de armas, drogas e pessoas. As operações Sentinela — permanente, com foco na inteligênca — e Ágata —pontual, de acordo com as particularidades identificadas em cada região — ocorrerão de forma integrada entre as Forças Armadas e as polícias Federal e Rodoviária Federal, além de outros órgãos de segurança pública.
Os 34 pontos vulneráveis detectados receberão reforço ao longo dos 11 estados fronteiriços. Para isso, José Eduardo Cardozo anunciou que vai elevar recursos humanos e materiais. “Vamos prover cargos vagos na PF e na PRF com lotação inicial nas fronteiras.” No entanto, a preocupação recai sobre os trechos em que a fronteira é marcada por rios que conduzem para o interior do país, onde não é possível estabelecer bases. A estratégia a ser utilizada envolve investimento em tecnologia. “Tenho certeza de que o sucesso nessa empreitada vai aumentar nossa soberania, ampliar a integração fraterna com outros países e fortalecer o federalismo, pois os estados terão voz em todos os nossos comandos”, disse Dilma.


CASO BATTISTI
Battisti deixa a Papuda
STF liberta o ex-ativista italiano, que saiu da prisão à 0h05 de hoje, após quatro anos de polêmica

Alana Rizzo
Diego Abreu

Após quatro anos e três meses preso em Brasília, o ex-ativista italiano Cesare Battisti deixou a Penitenciária da Papuda à 0h05 desta quinta-feira. A liberdade de Battisti foi decidida em um julgamento que durou quase sete horas no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao deixar o presídio, em um Fox preto, na companhia de um de seus advogados, o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, Battisti acenou para os fotógrafos e seguiu para o Condomínio Solar de Brasília, no Lago Sul. De lá, foi para o Hotel Manhattan, no Setor Hoteleiro Norte. Segundo o advogado Luís Roberto Barroso, o primeiro desejo de Battisti era falar com suas duas filhas, por telefone. “Ele recebeu a notícia e ficou muito feliz, como qualquer pessoa ficaria após quatro anos nessa situação”, disse Barroso, que conversou com Battisti antes de o ex-ativista deixar a penitenciária.   Barroso afirmou ainda que a retomada da vida em liberdade do ex-ativista não será fácil. “É um homem traumatizado.”
Por seis votos a três, a Suprema Corte encerrou o processo de extradição na noite de ontem. O governo da Itália insistia para que Battisti retornasse ao país e cumprisse a condenação à prisão perpétua por quatro homicídios cometidos no fim da década de 1970.
O defensor da Itália, Nabor Bulhões, disse esperar que o Supremo reveja em algum momento a decisão, que, segundo ele, abre um “precedente perigoso” e tira a credibilidade do Brasil. Ele acredita que o governo italiano deve recorrer às cortes internacionais.
Em 2009, o STF autorizou a extradição de Battisti, mas condicionou que caberia ao chefe do Estado definir se entregaria o ex-ativista, desde que respeitasse os termos do tratado bilateral de extradição entre Brasil e Itália. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu manter Battisti no país ao alegar que uma eventual extradição colocaria o ex-ativista em risco de ser “submetido a agravamento de sua situação pessoal”.
No começo do julgamento, a maioria dos ministros decidiu arquivar a reclamação da Itália, que contestava decisão de Lula. Seis dos nove membros do STF entenderam que o governo italiano não tem legitimidade para questionar o ato favorável a Battisti, definido por Lula em 31 de dezembro de 2010 — último dia de mandato.
“Quem defere ou recusa extradição é o presidente da República. É um ato de soberania nacional”, afirmou o ministro Marco Aurélio Mello. “É inconcebível para mim que o governo requerente impugne um ato do presidente na condução da política internacional.”
Antes de os ministros se pronunciarem, os advogados das duas partes fizeram sustentações orais, assim como o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que se manifestaram favoráveis à permanência de Battisti em terras brasileiras.


SOLDADOS DA BORRACHA
À espera da indenização

Desde 2009, um grupo de soldados da borracha tenta, na Justiça, uma indenização dos governos do Brasil e dos Estados Unidos por danos moral e material. A alegação é que as condições dadas aos sertanejos que deixaram o Nordeste para cortar seringa na Amazônia foram desumanas, já que viviam em regime semiescravidão. O processo foi aberto pelo Sindicato dos Seringueiros e Soldados da Borracha de Rondônia, que reivindica o pagamento individual de R$ 763,8 mil de reparação — o valor equivaleria a dois salários mínimos mensais de 1943 a 2009.
Hoje, os cerca de 4 mil sobreviventes dividem-se entre os que recebem dois salários mínimos pagos pela Previdência Social e os que sobrevivem apenas com os vencimentos do Funrural — tributo, hoje extinto, que alimentava uma espécie de Previdência Social do campo. A situação, no entanto, pode melhorar se um projeto que tramita na Câmara for aprovado. A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) propõe que o valor seja reajustado para R$ 3 mil, o que equivale ao soldo de um tenente do Exército.
Na Justiça Federal de Rondônia, tramita uma ação baseada em uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) de 1946 que apurou as condições dos nordestinos que foram à Amazônia na época. O relatório narra, três anos depois da chegada dos sertanejos aos seringais, histórias de semiescravidão. O processo deverá ser julgado nos próximos meses, com prioridade, já que todos os soldados da borracha têm, hoje, mais de 80 anos.


MEMÓRIA
Inferno verde

A vontade de fazer fortuna fácil levou milhares de sertanejos que se dispuseram a deixar a terra natal para cortar seringa na Amazônia durante a Segunda Guerra. Na propaganda, o governo do então presidente Getúlio Vargas oferecia grandes vantagens para quem quisesse se alistar ao contingente que iria para a floresta, enquanto outros seguiam para os combates na Europa. Documentos históricos mostram que a realidade era totalmente diferente da prometida.
Quem sobreviveu no chamado inferno verde conta histórias de morte, exploração e medo, desde a partida, principalmente do Ceará (foto), até a chegada, no Acre, em Rondônia e no Pará. Durante o recrutamento, os soldados da borracha ficavam em pousadas montadas pelo governo, nas quais muitas vezes faltava até comida. Além das péssimas condições de trabalho, os seringueiros eram explorados e a maioria ficava endividada com os patrões.
(EL)


OPINIÃO
Para restaurar a Federação brasileira

Dinis Pinheiro
Presidente da Assembleia de Minas Gerais e do Colegiado de Presidentes dos Legislativos Estaduais

A atrofia do Poder Legislativo no Brasil talvez seja um dos últimos, se não o último, remanescentes do chamado “entulho autoritário” legado pela ditadura militar, desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) praticamente revogou a Lei de Imprensa. O modelo centralizador implantado à força pelos generais presidentes foi, em grande escala, absorvido pela Constituição de 1988, como subproduto da derrota da tentativa de implantação do parlamentarismo. O resultado foi um Congresso e um conjunto de assembleias estaduais altamente limitados em seu poder deliberativo e fiscalizador.
Particularmente as assembleias estaduais têm sido tolhidas em sua capacidade de legislar pelas limitações constitucionalmente impostas, o que as torna quase que reféns do Executivo estadual e do próprio Congresso, ao quais é dada a iniciativa exclusiva da quase totalidade das matérias de real importância.
Muitas vezes criticadas por sua “baixa produtividade”, as assembleias têm poucas chances de reagir ou de se contrapor às críticas, pois estão impedidas de ampliar a relevância das deliberações, pelo restrito raio de atuação legislativa que lhes é reservado pela Constituição, seja em relação ao Poder Executivo estadual, seja em relação ao Congresso Nacional.
Por essas razões, é grande nossa expectativa em torno da tramitação da proposta de emenda à Constituição (PEC) que entregamos ontem ao presidente do Congresso, senador José Sarney, para alterar os artigos 22, 24, 61 e 220 da Carta Magna. O objetivo das mudanças é o de “retomar o caminho do autêntico federalismo, ameaçado a cada dia pelo crescente poder normativo da União”, como afirma o projeto de lei aprovado pela Assembleia de Minas Gerais, ainda em 2008. A PEC será apresentada com base no preceito constitucional que nos garante o seu encaminhamento, desde que referendado por pelo menos a metade das 26 casas legislativas; ela já tem o respaldo de 15 assembleias legislativas.
Basicamente, a mudança proposta pretende ampliar a competência legislativa dos estados e do Distrito Federal para áreas como trânsito e transporte, direito processual, assistência social, propaganda comercial e direito agrário, que deixariam de ser exclusivas do Congresso, além de estender seu poder de legislador concorrente para áreas como licitação e contratação e bases da educação.
Em outra modificação proposta, os legislativos estaduais buscam também ampliar seu poder frente aos governos do estado, nos mesmos moldes do que hoje é estatuído para o presidente da República, no artigo 61.
O texto da PEC vem sendo estudado e examinado há anos, com cuidado e vagar, para não estabelecer conflitos que possam conduzir à insegurança jurídica ou a uma frenética ânsia legislativa pelos estados. O texto é ponderado e cercado das ressalvas suficientes para que a nova situação não provoque desdobramentos indesejáveis, razão pela qual os presidentes de assembleias, que estaremos reunidos em Goiânia hoje, estamos otimistas com relação a um desfecho positivo.
O que se pretende e se espera tão-somente é o fortalecimento da Federação e o revigoramento dos legislativos estaduais.


VULCÃO NO CHILE
Tráfego aéreo se normaliza na região

Renata Tranches

Depois de um dia de transtornos, com mais de 50 decolagens canceladas por conta do avanço da nuvem de cinzas expelida pelo vulcão chileno Puyehue sobre os países do Cone Sul, a situação nos aeroportos brasileiros voltava ontem à normalidade e, na Argentina, começava a melhorar. A atividade do vulcão mantinha tendência de queda e as chuvas diminuíam. Mesmo assim, permanecia o risco de avalanches arrastarem o material expelido.
Dados do site da Infraero mostravam que, de 127 voos internacionais previstos para ontem no Brasil, até as 17h apenas 21 tinham sido cancelados, um porcentual de 16,5%. Entre eles, quatro em São Paulo (uma partida e uma chegada da Aerolíneas Argentinas e duas chegadas da Gol) e quatro no Rio de Janeiro (duas chegadas da LAN Chile e duas chegadas da Pluna) foram suspensos por conta do problema das cinzas na Argentina, no Uruguai e no Chile. No dia anterior, o percentual de cancelamentos tinha chegado a 40%.
Notas divulgadas pela TAM e pela Gol diziam que as companhias haviam retomado as operações para Argentina, Paraguai, Chile e Uruguai. “A TAM continua monitorando as atividades do vulcão e as condições meteorológicas e tomará medidas adicionais, se forem necessárias”, diz o texto. A Gol, por sua vez, informou que “sua malha aérea está passando por ajustes neste momento (ontem à tarde), a fim de regularizar as decolagens com mais eficiência”.
O Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), ligado ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea), assegurou que também está acompanhando a evolução das nuvens provocadas pelo Puyehue e mantém contato com o Volcanic Ash Advisory Centre, da Argentina. “Recebemos informações a cada três horas ou sempre que houver alguma mudança significativa”, afirmou o gerente nacional do fluxo de tráfego aéreo, o major-aviador Antonio Marcio Ferreira Crespo.
Na Argentina, o Aeroportos Internacional de Ezeiza e o Aeroparque (doméstico), ambos em Buenos Aires, tiveram suas operações interrompidas durante seis horas, por conta de uma intensa neblina provocada pelo material vulcânico. Ao longo do dia, porém, os voos foram retomados de forma gradual.
No Uruguai, segundo a agência de notícias Ansa, o Aeroporto Internacional de Carrasco, em Montevidéu, operava com normalidade, após cerca de 90% das viagens terem sido canceladas na terça-feira. A direção dos ventos levou a coluna de fuligem expelida pelo vulcão, localizado no sul chileno, para o lado argentino da fronteira, onde cinzas cobriam ainda ontem a concorrida estação de esqui de Bariloche e o Lago Nahuel Huapi. A nuvem chegou também ao Uruguai e ao sul do Brasil.


NOTAS

PERU
Humala no Brasil
O presidente eleito do Peru, o militar nacionalista Ollanta Humala, embarcou na noite de ontem para uma viagem aos países vizinhos e era aguardado na madrugada de hoje no Brasil, primeira escala da turnê, que incluirá também Argentina, Uruguai e Chile. Segundo afirmou à imprensa peruana, Humala pretende “estabelecer relações de amizade e respeito mútuo com os chefes de Estado”. Considerado próximo ao presidente Hugo Chávez, o futuro governante peruano deixou para visitar a Venezuela em uma segunda viagem, que pretende realizar ainda antes da posse, em 28 de julho. As autoridades eleitorais peruanas estavam ontem perto de concluir a apuração do segundo turno da eleição presidencial, realizado no domingo. Contados 98,13% dos votos, Humala tinha 51,5%, contra 48,5% da direitista Keiko Fujimori.

ONU
Campanha no Brasil
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, vai iniciar pela América do Sul a campanha para conquistar seu segundo mandato à frente da organização. Durante uma semana, Ban visitará quatro países. A maratona começa pela Colômbia, para onde ele segue amanhã, e termina no Brasil. Ban também vai estará na Argentina e no Uruguai. Em Brasília, Ban será recebido pela presidente Dilma Rousseff e pelo chanceler Antonio Patriota, entre outros ministros. A viagem ocorre poucos dias dias depois de o ex-chanceler sul-coreano de 66 anos ter anunciado interesse em mais u mandato de cinco anos como secretário-geral da ONU. Fontes diplomáticas afirmam que sem um rival para ocupar o cargo, espera-se que o Conselho de Segurança dê sua aprovação. O presidente americano, Barack Obama, já externou seu apoio.

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