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segunda-feira, 20 de junho de 2011

20 de junho 2011 - O DIA


QUEDA DE HELICÓPTERO NA BAHIA
Aeronáutica vai investigar se houve fraude no voo da morte
Empresário que pilotava helicóptero que caiu na Bahia estava com habilitação vencida

Rio - A Aeronáutica investiga quem liberou o plano de voo do empresário Marcelo de Almeida, encerrado tragicamente com a queda no litoral baiano do helicóptero pilotado por ele e a morte de pelo menos quatro pessoas. Mantida em sigilo, a investigação tem o objetivo de detectar o controlador que teria autorizado o voo da morte e se houve falha durante a consulta ao banco de dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), uma vez que a habilitação do empresário estava vencida e ele legalmente não poderia pilotar.
Ex-mulher do vocalista da banda Biquini Cavadão, a jornalista Fernanda Kfuri foi enterrada sob forte esquema de segurança pouco antes do filho | Foto: Deize Resende / Agência O Dia
Coordenador da 23ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Coorpin) de Eunápolis (BA), Evy Paternostro, afirmou ontem que as informações publicadas com exclusividade por O DIA na edição de ontem, na reportagem “Piloto do voo da morte tinha licença vencida”, serão fundamentais para as investigações da Polícia Civil sobre a queda do helicóptero Esquilo PR-OMO, na noite de sexta-feira, em Porto Seguro (BA). Quatro pessoas morreram e outras três estão desaparecidas, entre elas a namorada do filho do governador do Rio.
 “Essas informações certamente vão nos auxiliar na apuração das possíveis causas da queda”, afirmou Paternostro. Cópia da reportagem será anexada ao inquérito. A Anac preferiu não comentar ontem o teor da reportagem.

Dados falsos para liberar voo
Um dos principais objetivos da investigação da Aeronáutica é identificar quem liberou o plano de voo de Marcelo. Algumas hipóteses estão sendo apuradas. A primeira é de que o piloto teria informado dados falsos, dando número de habilitação de outro piloto, com validade renovada.
A outra é a possibilidade de a base de dados da Anac ter falhado na consulta feita pelo controle de tráfego aéreo. Ou, ainda, de que o empresário conheceria os agentes do controle do espaço aéreo local e avisou o plano de voo já decolando (por rádio ou telefone, o que é permitido) e nada sobre habilitação foi checado. Tal procedimento é irregular e abre processo investigatório contra o controle.
Como o empresário é bastante influente, ele pode ter avisado só para garantir sua segurança de voo. A Força Aérea Brasileira só vai se manifestar oficialmente, porém, quando a investigação for concluída.

Folho do vocalista é enterrado
Os corpos da jornalista Fernanda Kfuri, 35, e de Gabriel Kfuri Gouveia, 2, foram enterrados ontem no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Ex-mulher e filho do músico Bruno Gouveia, vocalista da banda Biquini Cavadão, eles estavam no helicóptero acidentado. Bruno só ficou sabendo da tragédia na manhã de ontem, quando desembarcou no Rio.
O enterro de Gabriel aconteceu sob forte esquema de segurança, inclusive com pelo menos seis homens armados, se dizendo policiais à paisana. Eles fizeram até varredura no local do sepultamento. Amigos disseram que o aparato era para evitar o assédio de jornalistas e fãs.
“Bruno está sofrendo muito. É o pior dia de sua história e precisa de privacidade”, disse Carlos Coelho, guitarrista da banda. Personalidades e artistas, como a apresentadora Regina Casé, prestaram solidariedade à família.
Reportagem de Francisco Edson Alves e Diogo Dias


Cabine do helicóptero é localizada no início da noite pela Marinha
Não foi possível verificar presença de vítimas

Rio - A Marinha informou, ontem à noite, que mergulhadores localizaram a cabine do helicóptero do voo da morte. A aeronave encontra-se a 250 metros da costa e a uma profundidade de cerca de 10 metros. A cabine do helicóptero, segundo a Marinha, está bastante danificada, impossibilitando a verificação da presença de vítimas no interior da aeronave. Outra dificuldade encontrada pelos mergulhadores é a baixa visibilidade da água e as buscas no período noturno.
Os navios da Marinha Patrulha Gravataí e Varredor Albardão, que realizam as buscas na região, continuarão na área e, no início da manhã de hoje, reiniciarão as buscas nas proximidades e no interior da aeronave.
A região de busca foi estabelecida em uma área de aproximadamente 6,9 quilômetros quadrados. Pela manhã e à noite, outras partes da aeronave foram encontradas. A queda do helicóptero matou também Lucas Kfuri, 3, enterrado no sábado, e a babá dele, Norma de Assunção, sepultada no interior da Bahia. Ainda estão desaparecidos o empresário Marcelo de Almeida, Jordana Kfuri e Mariana Noleto, 20, namorada de Marco Antônio Cabral, filho do governador do Rio.
Reportagem de Francisco Edson Alves e Diogo Dias


UPP NA MANGUEIRA
Cerco no estado para levar paz à Mangueira
Polícia realiza operações em todo o Rio para evitar fuga e retaliação de traficantes

Rio - As faixas com inscrições de ‘paz’ nas janelas e muros das casas, retratavam o desejo dos 21 mil moradores do Morro da Mangueira, que foi ocupado ontem para a instalação da 18ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Enquanto 750 homens das polícias Militar, Civil, Federal e fuzileiros navais reconquistavam o território, outras favelas do estado controladas pela facção criminosa Comando Vermelho, inclusive no interior do estado, também foram cercadas.
A estratégia inédita da Secretaria Estadual de Segurança foi uma tentativa de evitar que criminosos da mesma quadrilha orquestrassem ações em outros locais. “Muitas vezes o tráfico da Mangueira acionava a mesma facção em outro local para desviar a atenção quando tinha alguma ação aqui. Colocamos a polícia em outras áreas para evitar isso”, afirmou o secretário José Mariano Beltrame.
Cerca de 750 agentes da polícia estão na comunidade desde as 8 horas da manhã | Foto: Severino Silva/Agência O Dia
Para ele, a ocupação de um dos principais redutos do CV foi histórica, apesar de os chefões da quadrilha terem escapado. “Era um lugar bem complexo de se atuar. Dificilmente as instituições policiais entravam num lugar desses sem haver uma troca de tiros. A polícia chega mais uma vez para ficar e essa é, indiscutivelmente, uma vitória. A saída dessas pessoas (traficantes) para outros lugares, os deixa vulneráveis. E a polícia, atenta, vai atrás”, frisou.
A comunidade — incluindo o Morro dos Telégrafos e o Parque Candelária — foi tomada pela polícia em 40 minutos e sem disparar nenhum tiro. Por volta de 10h, as bases provisórias do Batalhão de Operações Especiais já estavam montadas na localidade Caixa D’Água. Pouco depois, as bandeiras do Rio e do Brasil foram hasteada. Na ação, foram empregados 14 veículos blindados das polícias e da Marinha, quatro helicópteros, oito veículos para retirar barricadas do tráfico.

‘Cinturão’ para os Jogos
Para moradores do morro e arredores, a expectativa agora é de melhorias na região. “Estávamos esquecidos. Espero que venham saneamento básico e projetos sociais para as crianças. E, melhor, isso tudo com paz”, torce o PM reformado Willian do Vale, morador da favela há 10 anos.
“Pessoas que tinham medo agora podem vir conhecer a Mangueira. Minha loja vai bombar”, prevê o comerciante Marcos Pimentel. Beltrame reforçou o sentimento da população, ressaltando que todas os morros da Grande Tijuca e entorno do Maracanã já estão ocupados para a Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016.
Na ação, helicóptero da polícia jogou panfletos com telefone para denúncias e fotos dos bandidos mais procurados. Barricadas foram demolidas pelas retroescavadeiras do Bope e a prefeitura derrubou oito construções irregulares na calçada.

Ação foi o primeiro teste do rastreamento de PMs por GPS
A tecnologia foi uma aliada na ocupação da Mangueira. A principal novidade estava nas mãos de 70 PMs: radiotransmissores monitorados por GPS. Com a informação da localização exata dos policiais, o comando da operação pôde deslocar o efetivo conforme a necessidade.
De um central perto do morro, oficiais controlaram as ações num mapa que indicava a posição de cada PM. O GPS teve ainda o objetivo de evitar irregularidades cometidas por policiais, como acusaram moradores na tomada dos complexos do Alemão e da Penha, em novembro. Na ocasião, houve denúncias de saques a casas e de desvio de armas apreendidas.
Para Beltrame, o teste na Mangueira foi bem sucedido. “Estamos analisando o GPS, mas assim vamos evoluir a cada ação. O equipamento funcionou bem e foi uma reciclagem de alguns rádios, para termos mais uma ferramenta de gestão. Esperamos fazer isso em todos”, disse. O uso do aparelho foi antecipado pelo secretário a O DIA mês passado.

Identificação instantânea de suspeitos
A Polícia Civil também montou bases com agentes da Polinter nos acessos ao morro, para agilizar o trabalho de reconhecimento de suspeitos. Por meio de computadores nas viaturas, eram checadas identidades e fichas criminais.
Dois menores foram apreendidos e dois homens, presos. A polícia apreendeu 32 veículos, uma réplica de fuzil, dois carregadores de pistola, 1.374 pedras de crack, 2.504 papelotes de cocaína e 35 quilos, oito tabletes e 300 trouxinhas de maconha.

Dois helicópteros da polícia monitoraram a movimentação na Mangueira. O micro-ônibus do Bope, com câmeras israelenses, também captou imagens. A ação contou com apoio do ‘caveirão aéreo’ da PM.
Reportagem de Fernanda Alves, Vania Cunha e Marcello Victor

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