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quarta-feira, 8 de junho de 2011

08 de junho 2011 - CORREIO BRAZILIENSE


Palocci cai e Dilma põe senadora na Casa Civil

Presidente decide encerrar a crise que envolveu um dos principais colaboradores do governo e escolhe Gleisi Hoffmann (PT-PR) a fim de impor um caráter mais técnico à pasta. "Assumo para cuidar da gestão", anunciou a nova ministra. Luiz Sérgio, da Articulação Política, está ameaçado no cargo.
No início da noite de ontem, Antonio Palocci anunciou a sua saída do governo de Dilma Rousseff. Segundo nota oficial, ele deixou o cargo de ministro-chefe da Casa Civil por considerar que "a continuidade do embate político poderia prejudicar suas atribuições no governo". Palocci ainda tentou se manter no posto ao longo do dia, mas uma conversa com a presidente no Palácio do Planalto no fim da tarde selou o seu destino. Ao convidar a senadora petista Gleisi Hoffmann, mulher do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, e conhecida pela experiência em gestão pública, Dilma começa a desenhar o novo modelo de articulação política. A saída do ministro Luiz Sérgio, das Relações Institucionais, é dada como certa.


VISÃO DO CORREIO
Sem Palocci, a hora é de retomada

A saída do ministro Antonio Palocci, a despeito de representar a perda de um quadro importante para a equipe da presidente Dilma Rousseff, pode marcar a retomada do ritmo de trabalho do governo. Nas últimas semanas, o episódio envolvendo o chefe da Casa Civil impunha constrangimento a parte da base aliada e contribuía para ampliar as dificuldades naturais das conversações com o Congresso Nacional. Não à toa, o Palácio do Planalto foi derrotado na votação do projeto do novo Código Florestal e sofreu até chantagem de certas lideranças aliadas, que, em vez de oferecer solidariedade, valeram-se do momento de fragilidade para tentar arrancar novos nacos do poder. Mas, como tudo é lição para quem sabe aprender, a presidente sai do episódio mais bem informada sobre com quem pode contar e de quem esperar oposição firme, mas civilizada.
Página virada, é hora de voltar a imprimir o ritmo quase frenético com que, em poucos meses, Dilma colocou a política externa do país de volta ao bom senso e ao pragmatismo, ao mesmo tempo em que teve coragem para manejar a tesoura da austeridade fiscal e lucidez para bancar ostensivamente o mandato da autoridade monetária. Decidida a repor as contas públicas na medida do superáavit primário projetado, a não permitir a disparada da inflação e a não fazer pirotecnia no câmbio, a presidente deu sinais claros aos mercados, interno e internacional, de que chegara ao poder disposta a preservar as condições necessárias para que o país ultrapasse a categoria de emergente.
Já não era sem tempo. A inflação volta a corroer os salários e o comando da economia terá de contar com tranquilidade para conduzir uma passagem delicada: crescer menos agora, para garantir saltos mais seguros logo adiante. Tal fase está a exigir diálogo maduro e negociação eficaz com as diversas correntes políticas do país, aliadas ou não, dentro e fora do Congresso. A presidente já anunciou a disposição de promover as reformas politicamente factíveis com o propósito de estimular a produção, o emprego e a competitividade do setor privado. Deu os primeiros e indispensáveis passos para atrair a agilidade e o capital das empresas na expansão e atualização da infraestrutura aeroportuária e começou a tocar seu ambicioso projeto de erradicação da miséria.
Agora é retomar os desafios que o país tem pela frente. A saúde pública continua a envergonhar a sétima economia do mundo e a baixa qualidade da educação não promete futuro algum à nação. Além dos aeroportos, as rodovias e os portos aguardam investimentos para deixarem de ser peso extra no custo Brasil e passarem a ser vantagens competitivas. Nada disso se fará sem o envolvimento e a parceira da sociedade, sem preconceitos e viés antiquados. A presidente começou bem. As inúmeras horas diárias de trabalho e a firmeza com que cobra resultados da equipe gravaram sua marca em Brasília. Até mesmo seu estilo discreto e sem espalhafato de governar agradou. Fará bem se voltar a ser 100% Dilma Rousseff.







COMBATE AO DESMATAMENTO NA AMAZÔNIA
Ofensiva ambiental ampliada
Após combater o desmatamento, governo manterá força-tarefa em Mato Grosso para mapear áreas de extração ilegal de madeira

» Igor Silveira

Pouco mais de 15 dias após a instalação do gabinete de crise para conter o desmatamento da Amazônia em Mato Grosso, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) conseguiu controlar a destruição desenfreada na região. A chefe da pasta ambiental, Izabella Teixeira, no entanto, ainda manterá a força-tarefa no estado. Agora, com um foco diferente: as autoridades vão trabalhar no mapeamento e na apreensão das madeiras extraídas ilegalmente.
O aperto na fiscalização do escoamento das cargas tende a gerar um desaquecimento na economia local e aumentar o desemprego nas cidades próximas às áreas mais devastadas. De acordo com a explicação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Mato Grosso, os madeireiros ilegais não cumprem as leis trabalhistas e, quando perdem as mercadorias, dispensam os funcionários sem o pagamento de qualquer beneficio.
“Essa é uma prática recorrente. Quando os madeireiros perdem o produto, eles precisam reduzir custos. Quem sofre com isso são os trabalhadores mais simples. Como se não bastasse, os patrões tentam colocar essas demissões na conta do governo. Isso não é justo. Quem tem madeira lícita continua trabalhando”, ressalta Curt Trennepohl, presidente nacional do Ibama, acrescentando que a madeira ilegal é vendida com preço até 30% mais baixo.
Trennepohl diz, ainda, que o governo não tem projetos específicos para ajudar os trabalhadores demitidos nesses casos: “Não seria justo com as empresas que agem dentro da lei, pagam impostos e geram empregos legais”. No último encontro do gabinete de crise, na semana passada, ficou decidido que parte da equipe mobilizada por Izabella Teixeira será deslocada para o sul do Pará. Com a diminuição da incidência de nuvens na região, os satélites identificaram áreas desmatadas. Amanhã, depois de mais uma reunião ordinária do gabinete, a ministra do Meio Ambiente deve anunciar resultados parciais e os próximos passos da equipe.

Violência no campo
Em entrevista depois da cerimônia de lançamento do Comitê Organizador do Rio 20, Izabella Teixeira falou sobre o combate ao desmatamento na Amazônia e a violência no campo. “Assumi um compromisso político de continuar reduzindo o desmatamento ilegal na Amazônia e, com isso, cumprir não só as metas da Política Nacional de Mudanças Climáticas, mas também de conservação da bioversidade, que resultam daquilo que foi acertado na conferência do Japão.”
“Lamentavelmente, temos conflitos socioambientais associados à questão da posse da terra e do desmatamento ilegal. O governo vai combater diariamente, com toda força, esse tipo de calamidade. O MMA e o Ibama estão presentes nessas frentes. Os fiscais, muitas vezes, são alvos dessas situações de emboscada, de violência. O Brasil não tolera esse tipo de coisa, de injustiça social. É por aí que se constrói sustentabilidade. Vamos construir um país cada vez mais forte”, concluiu Izabella.

Governo tenta conter conflitos fundiários
Tropas federais começaram ontem a ocupação em algumas regiões do Pará para tentar diminuir os conflitos fundiários e ambientais que resultaram em quatro mortes em menos de um mês. O governo também colocou à disposição de Pará, Rondônia e Amazonas policiais civis para ajudar na elucidação dos crimes. A entrada das forças foi determinada, na semana passada, pela presidente Dilma Rousseff e foi anunciada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que esteve na Câmara ontem para debater a violência no campo. Na sessão, havia 20 ambientalistas que estão sendo ameaçados de morte. Cardozo esteve no Congresso acompanhado pelos colegas do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, e dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. (Edson Luiz)

Comitê e comissão
A presidente Dilma Rousseff criou ontem a Comissão Nacional e o Comitê Nacional de Organização da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio 20). Durante o discurso, ela mandou um recado aos ruralistas e afirmou que não pretende permitir ações de desmatamento no Código Florestal que está sendo apreciado no Congresso. “Não negociaremos e não tergiversaremos com a questão do desmatamento. Nós iremos cumprir os compromissos que assumimos, e não permitiremos que haja uma volta atrás na roda da história”, destacou, em cerimônia no Palácio do Planalto ontem. A comissão será copresidida pelos ministros das Relações Exteriores, Antônio Patriota, e do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
» Colaborou Débora Álvares
VOO 447
74 corpos vão ficar no oceano
Associação de familiares das vítimas da tragédia protestam e acusam as autoridades francesas de arbitrariedade na decisão

» Larissa Leite

O Escritório de Investigação e Análises da França (BEA, na sigla em francês) informou ontem que 74 corpos de vítimas do acidente do voo 447 da Air France não serão retirados do mar. A agência enviou nota às famílias das vítimas, dizendo que “foram resgatados todos os corpos enquadrados nos critérios definidos e verificados pelas equipes de legistas”. Juízes franceses haviam determinado que apenas os restos mortais que “pudessem ser entregues decentemente às famílias” seriam resgatados.
O presidente da Associação de Vítimas Brasileiras do Voo AF447, Nelson Marinho, afirmou que o anúncio não foi bem-recebido pelas famílias, que terão o sofrimento ainda mais prolongado. “Todos os familiares estão ansiosos. De novo, é uma decepção em torno desse processo. Agora, todos ficarão se questionando se o seu familiar foi deixado no mar ou não. É uma injustiça, porque é a família que tem que decidir o que fazer com os corpos”, protestou Marinho, que perdeu um filho no acidente.
Segundo Nelson Marinho, a decisão de manter 74 corpos no mar foi arbitrária, um vez que os primeiros restos mortais resgatados não estavam em boas condições. Ainda de acordo com o presidente da associação, nenhuma comunicação relativa à identificação dos 104 corpos resgatados recentemente foi feita às famílias. Marinho pede, há dois meses, uma audiência com a presidente Dilma Rousseff para a resolução de problemas relativos ao caso.
O navio Ile de Sein, que fazia o resgate, deixou o local do acidente — a cerca de 1.100km da costa brasileira — no último dia 3, com destino às Ilhas Canárias, na Espanha. O navio deve chegar ao destino amanhã, onde a equipe de buscas será desmobilizada. Os corpos serão transferidos para o Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar francesa, onde será feito o processo de identificação. A transferência à França do material genético dos parentes brasileiros será realizada pela Interpol.
O acidente, ocorrido em maio de 2009, envolveu uma aeronave que fazia o trecho Rio de Janeiro-Paris e matou as 228 pessoas a bordo. Logo após a tragédia, 50 corpos encontrados flutuando foram retirados do mar — 20 deles, de brasileiros. Na fase atual de buscas, outros 104 restos mortais foram resgatados, elevando para 154 o total de cadáveres tirados do oceano. Um relatório parcial sobre as causas do acidente deverá ser divulgado no fim de julho, segundo o BEA. O documento definitivo, com recomendações de segurança, será publicado em 2012.


VACINAÇÃO
Campanha contra a poliomelite começa dia 18

ANA ELISA SANTANA

Crianças de até 5 anos poderão ser vacinadas contra a poliomelite a partir de 18 de junho. Segundo o Ministério da Saúde, a meta é imunizar 13,44 milhões de pessoas para manter o país livre da paralisia infantil. O Brasil não registra casos da doença há 22 anos. Os dias de mobilização serão 18 de junho e 13 de agosto, e os pais devem levar seus filhos para tomar as doses em ambas as etapas. Nessas datas, haverá 115 mil postos em todo o país, instalados em aeroportos, rodoviárias, escolas e shoppings. Caso não possam comparecer, os pais devem procurar os centros de saúde na semana seguinte. “O importante é garantir que todas as crianças sejam vacinadas no mesmo período”, afirmou a coordenadora nacional de Programas de Imunização, Carla Domingues.
A única contraindicação é para crianças que tenham febre acima de 38ºC, problemas de imunodepressão, como pacientes de câncer e de aids, ou tenha histórico de reação alérgica às vacinas. Crianças que não receberam a segunda dose da imunização contra a gripe, com campanha já encerrada, também poderão atualizar o cartão de vacina.

Sarampo
Um surto de sarampo em alguns países da Europa motivou o governo a adiantar a campanha contra a doença em oito estados que recebem muitos turistas: Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Crianças com idades entre 1 e 7 anos receberão, em 18 de junho, a vacina tríplice viral, que imuniza o organismo contra sarampo, rubéola e caxumba. Nos demais estados, as doses serão aplicadas em agosto.



VULCÃO NO CHILE
Céus interditados
Cinzas de vulcão chileno provocam cancelamento de voos inclusive com destino ou origem em cidades brasileiras

Renata Tranches
Três semanas após as cinzas de um vulcão terem provocado o fechamento parcial do espaço aéreo europeu, ontem foi a vez de os céus da América do Sul serem perturbados por um fenômeno semelhante. A nuvem de fumaça e poeira expelida pelo vulcão chileno Puyehue, que entrou em erupção no sábado, avançou sobre a Argentina e provocou o fechamento dos dois aeroportos da capital. Em um efeito dominó, voos foram cancelados no Chile, no Paraguai, no Uruguai e no Brasil, que registrou a entrada de cinzas no oeste do Rio Grande do Sul.
A situação foi mais grave na Argentina, onde foram cancelados todos os voos domésticos e internacionais dos dois principais aeroportos — Ezeiza e Aeroparque —, ambos em Buenos Aires. Os aeroportos da Patagônia também permaneceram fechados durante todo o dia. Um dos polos turísticos do país, a estação de inverno e esqui de Bariloche, que recebe milhares de visitantes, estava isolada, com espaço aéreo e estradas fechadas e sem energia elétrica. A cidade fica próxima à fronteira com o sul do Chile, onde se localiza o vulcão. No fim da tarde, porém, as condições meteorológicas em Buenos Aires começaram a melhorar e alguns voos começaram a ser retomados
No Brasil, os aeroportos de São Paulo, Rio de Janeiro, Foz de Iguaçu, Florianópolis e Porto Alegre tiveram voos cancelados. A TAM informou, por meio de nota, que 39 de seus voos tiveram de ser suspensos. Todos, segundo a empresa, tinham destino ou origem em Buenos Aires, Assunção e Ciudad del Este (Paraguai), Montevidéu (Uruguai) e Santiago (Chile). Também por meio de um informativo, a Gol anunciou o cancelamento de 11 voos com os mesmos destinos e origens.
A companhia alemã Lufthansa explicou que um voo que tinha partido de Frankfurt na noite de segunda-feira, com destino a Buenos Aires, pousou ontem em Guarulhos e deve seguir hoje para a capital argentina. A Aerolíneas Argentinas comunicou que ontem à tarde foram retomados seus voos a partir da capital argentina. Três tinham como destino São Paulo.

Cinzas no Brasil
O site gaúcho MetSul Meteorologia confirmou que a nuvem de cinzas do Puyehue ingressou na manhã de ontem no Rio Grande do Sul, por volta das 8h. Mas ela só pôde ser observada por imagens de satélite, uma vez que estava acima de nuvens de chuva que se concentravam sobre o estado. O professor do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pesquisador de rochas vulcânicas Carlos Sommer explicou ao Correio que as cinzas que chegaram ao país são extremamente finas e não deverão causar transtornos nem fechamento de aeroportos. Elas foram impulsionadas por um ciclone extratropical.
A desordem causada pela nuvem de cinzas do Puyehue frustrou os planos de viagem da promotora de Justiça gaúcha Andrea Barros. Moradora de Frederico Westphalen, ela embarcaria amanhã pela Aerolíneas Argentinas para Ushuaia e El Calafate, na Patagônia argentina. “Não tenho previsão de embarque, porque a operadora nos ofereceu optar entre manter a viagem como estava, com todos os riscos, ou cancelar e ficar com o crédito e o direito de remarcar as passagens dentro de um ano”, afirmou à reportagem.
A promotora contou que seu objetivo é “conhecer o mundo”, viajando a cada ano para um lugar com o marido e postando tudo em um blog. Mas a Argentina foi o terceiro destino que o casal precisou adiar neste ano. Os projetos de viajar para a Índia e o Caribe também não deram certo. “A natureza se encarregou de me mostrar que não era para ir agora. Depois de tantos sinais, optamos por ficar com o crédito e escolher outra data para viajar”, resignou-se. A atividade do vulcão teve uma leve diminuição ontem, mas intensas chuvas na região poderiam provocar avalanches e arrastar o material expelido, segundo um relatório do Escritório Nacional de Emergências (Onemi) argentino.


NOTAS

VISITA AO BRASIL
SHIRIN EBADI QUER FALAR SÓ COM DILMA
A Nobel da Paz iraniana, Shirin Ebadi, disse ontem, em São Paulo, que veio ao Brasil para se reunir “só” com a presidente Dilma Rousseff e que não pretende se reunir com qualquer outra autoridade caso não seja recebida. Em uma coletiva de imprensa na sede da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo (OAB-SP), ela afirmou que gostaria de agradecer pessoalmente os esforços do governo brasileiro no caso da iraniana Sakineh Mohammadi-Ashtiani. Até ontem, o Palácio do Planalto previa apenas um encontro entre Ebadi e o assessor especial Marco Aurélio Garcia, amanhã. "Só vim ver a Dilma. Não vou ver mais ninguém", disse.

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