MORADORES PROTESTAM CONTRA ISOLAMENTO
A rodovia tem 3,5 quilômetros intransitáveis
ANDREZZA TRAJANO
O prefeito de Normandia, Orlando Justino (PSDB), vereadores, comerciantes e moradores da cidade protestaram ontem contra as péssimas condições da BR-401, que dá acesso à região. A rodovia teve sete trechos destruídos pela força das águas, totalizando 3,5 quilômetros da malha viária intransitável.
Se o problema não for resolvido nem que seja de maneira paliativa até a próxima segunda-feira, 27, os manifestantes ameaçam bloquear a ponte dos Macuxi, na saída de Boa Vista, até que sejam atendidos.
O município, que tem 12 mil habitantes, está sem receber insumos, escoar a produção ou remover doentes por via terrestre. Para sair da cidade, os moradores precisam fazer baldeação, andando em meio à lama pelo trecho interditado, já que as águas do rio Maú, que cobriam a região, baixaram.
O que é possível transportar é carregado em um carrinho puxado por um trator da Prefeitura de Normandia. Ontem, os agricultores transportaram algumas melancias no carrinho, que acabou virando e derrubando parte das frutas.
“Estamos sem gás de cozinha, só existe combustível no mercado negro, onde o litro é vendido a R$ 10,00, e só há comida no supermercado para quatro dias”, disse o presidente da Associação Comercial de Normandia, Júnior Brasil.
A estrada está bloqueada há 19 dias. Brasil afirma que é possível fazer uma obra paliativa, colocando cascalho nos buracos, até que o Governo do Estado consiga os R$ 4,6 milhões do Ministério dos Transportes para consertar a estrada, segundo avaliação técnica feita pela Secretaria Estadual de Infraestrutura.
Além disso, o município enfrenta racionamento de energia, afirma o vereador João Menezes (PHS). “Normandia foi esquecido pelo governo”, disse.
ESQUECIMENTO - Para reforçar o possível “esquecimento” ou perseguição política, como mesmo diz, o prefeito Orlando Justino disse que Normandia ficou fora do programa de recuperação de vicinais, elaborado pelo governo, e do rateio dos R$ 15 milhões prometidos pelo Ministério da Integração, para recuperar o Estado, após as cheias que trouxeram tantos prejuízos.
“A questão é tão grave que o Município precisou fretar uma aeronave para transportar medicamentos e outros insumos para o hospital de Normandia”, disse o prefeito. “Não podemos esperar pelo recurso federal. Algo precisa ser feito agora ou as consequências do que estamos sofrendo serão ainda mais graves”, emendou o vereador Eduardo Oliveira (PSDB).
Todas as vias de acesso a Normandia estão bloqueadas. Pelo Surumu, em Pacaraima, duas pontes estão quebradas. Pelo Passarão, a balsa que estava cedida para o transporte de moradores de Caracaraí ainda não foi devolvida e uma das pontes está quebrada. Pela BR-401, a rodovia está intransitável. “A população está refém do próprio Estado”, criticou o vereador Silva Marques (PMDB).
Prejuízos aos rizicultores passam dos R$ 7 milhões
Caso não consigam levar insumos às propriedades, os produtores de arroz em Normandia temem perder suas lavouras. Desde o início das fortes chuvas, os rizicultores calculam uma perda de 635 hectares de plantio, o que corresponde a mais de R$ 2 milhões em prejuízos.
Além disso, mais de 1.500 hectares não foram semeados por causa das chuvas, o que corresponde a um déficit de pelo menos R$ 5,4 milhões, ou seja, são R$ 7,4 milhões em danos até agora.
Os valores correspondem à perda de 66.600 sacas, além da produção de sementes. As lavouras afetadas ficam nos municípios de Bonfim, Amajari, Boa Vista e Normandia. Neste último, há 1.130 hectares plantados em estágio de reprodução e podem ser perdidos porque o isolamento do município impede a assistência técnica.
Eles já cobraram reiteradas vezes soluções ao Governo do Estado, mas até agora não receberam nenhuma medida concreta. As plantações de arroz estão sem receber fertilizantes e defensivos desde que a estrada foi bloqueada.
Governo admite que 401 é a rodovia que mais preocupa
O vice-governador Chico Rodrigues (DEM) fez à Folha um levantamento detalhado sobre as condições das estradas. A BR-401, que foi destruída pelas chuvas, está em pior situação e é mais preocupante.
Além disso, destacou que até agora o Governo do Estado não recebeu os R$ 15 milhões prometidos pelo Ministério da Integração para recuperar o Estado, que teve 79% da população afetada pelas fortes chuvas, segundo dados da Secretaria Nacional de Defesa Civil. O que tem sido feito, afirma, é com recurso próprio.
Rodrigues disse que enviou ao Ministério do Transportes um relatório acompanhado de um anteprojeto com quantitativo e orçamento necessário para recuperar as estradas. Para a BR-401 são necessários R$ 5,2 milhões para refazer 7,8 quilômetros da malha viária que foi afetada pelas cheias.
Ele negou que exista perseguição política aos parlamentares do município, que apesar de serem da mesma bancada do governo, fazem oposição. “Os moradores foram os primeiros a serem atendidos quando ocorreram as cheias. Os helicópteros do Exército levaram cestas básicas e óleo diesel para abastecer a termelétrica”, informou, acrescentando que a cidade será beneficiada assim como os outros municípios, quando a União liberar o montante.
Quanto à balsa do Passarão, disse que até amanhã, 22, ela deve estar de volta à região. A balsa foi levada há semanas para Caracaraí, para auxiliar no transporte de pessoas, veículos e insumos, quando a BR-174 foi interditada. Lá, o fluxo de pessoas e veículos é maior.
Ainda hoje o vice-governador disse que solicitará aos grandes produtores de Normandia que cedam seus tratores traçados para auxiliar no transporte dos moradores e de mantimentos, nos trechos da BR-401 que estão interditados. Afirmou também que recebeu ontem autorização do governador Anchieta Júnior (PSDB) para alugar tratores para auxiliarem na baldeação. Ele disse que inspecionará hoje os primeiros trabalhos com as máquinas.
BR-174 - No trecho norte da BR-174, desde anteontem apenas carros pequenos podem trafegar durante o dia. Das 18h às 6h, a estrada está fechada, uma vez que não há visibilidade. Está totalmente proibida a passagem de caminhões e carretas a qualquer hora do dia.
Conforme Chico Rodrigues, a rodovia tem seis pontos críticos, alguns com risco de desabamento. Três deles já possuem contrato de manutenção com a empresa Pampulha, que está fazendo os reparos.
Os outros três pontos, próximo às serras de Pacaraima, foram incluídos no anteprojeto enviado ao Ministério dos Transportes para liberação de recurso, avaliado em R$ 2,5 milhões para a recuperação.
Até lá, agentes da Força Nacional de Segurança, Polícia Militar, Defesa Civil e Polícia Rodoviária Federal farão o controle de tráfego, para evitar qualquer incidente, uma vez que a estrada só está liberada em meia faixa.
Na BR-174, sentido sul, o tráfego está liberado tanto de dia quanto à noite. A empresa CMT está colocando pó de brita nos quatro pontos que perderam a camada asfáltica por causa das cheias, para evitar atoleiros.
As rodovias 433 e 432 já estão sendo recuperadas. Apesar dos atoleiros, há condições de tráfego.
PONTE – Sobre a ponte de Caracaraí, o vice-governador confirmou as informações recebidas pela Folha, de que uma das pilastras da ponte está com um pequeno desvio.
“Os engenheiros da Seinf e do Denit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte] constataram que houve uma pequena torção de aproximadamente três centímetros em uma pilastra. Porém, eles atestaram que não há nenhum perigo e liberaram o trânsito”, informou.
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