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segunda-feira, 13 de junho de 2011

11 de junho 2011 - O GLOBO


PANORAMA POLÍTICO

GRANDES empresas interessadas na privatização dos aeroportos se reúnem, terça, com o presidente da Infraero, Gustavo do Vale, na CNI.


VULCÃO CHILENO
Nuvem de caos
Cinzas de vulcão começam a deixar Brasil. Em Porto Alegre, 93% dos vôos foram concelados

Marcelle Ribeiro, Silvia Amorim, Naira Hofmeister*, Janaína Figueiredo** e Danielle Nogueira  
SÃO PAULO, PORTO ALEGRE, NAVEGANTES (SC), BUENOS AIRES e RIO  

A nuvem de cinzas do vulcão chileno Puyehue-Cordón Caulle, que atingiu o Sul do Brasil, provocando uma onda de cancelamentos e atrasos de voos pelo segundo dia consecutivo, começou a se dissipar na noite de ontem. A expectativa da Aeronáutica era que ela deixasse o continente em direção ao oceano por volta das 23h de ontem. Às 20h, a situação nos aeroportos havia apresentado alguma melhora: o percentual de voos cancelados (incluindo domésticos e internacionais) no país havia caído para 15%, ante 19% por volta das 15h. Mas o percentual de atrasos continuava alto: 24% dos 2.447 voos (domésticos e internacionais) tinham saído fora do horário, ante 19,5% até as 15h, segundo a Infraero.  
A situação nos três aeroportos mais atingidos — os de Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba — continuava complicada na noite de ontem, segundo o último boletim da Infraero. No aeroporto de Porto Alegre, que chegou a ser fechado durante a manhã e a tarde, todos os nove voos internacionais programados haviam sido cancelados. Entre os domésticos, o percentual de cancelamentos estava em 79,8%. Ainda assim, abaixo dos 93,7% de cancelamentos registrados até as 15h de ontem. Os atrasos não passavam de 16%. Em Florianópolis o índice de cancelamentos estava em 35,6% às 20h de ontem, mas chegara a 51,7% às 15h. Em Curitiba, 39,6% dos 106 voos domésticos não decolaram. Às 15h o cenário era de 52,7% de cancelamentos.  
A nuvem de cinzas vinda do Chile chegou a ocupar 70% do espaço aéreo de Porto Alegre, de acordo com o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA) da Aeronáutica. Por volta das 9h30m, a nuvem chegou a Florianópolis e ao litoral Sul de Santa Catarina e, por volta das 11h, a Curitiba, o que levou empresas como TAM e Gol a interromperem momentaneamente suas operações nas duas cidades. À tarde, porém, as cinzas estavam concentradas sobre o Rio Grande do Sul. Ainda assim, TAM, Gol e Webjet retomaram os voos no Aeroporto Salgado Filho no fim da tarde de ontem. As aéreas também retomaram suas operações para Buenos Aires.  

Aumenta movimento nas rodoviárias  
Os aeroportos de Ezeiza e Jorge Newbery, em Buenos Aires, começaram a normalizar suas atividades no início da noite de ontem, depois de terem cancelado 320 vôos na última quinta-feira e a maioria dos vôos de ontem pela presença de cinzas. Ontem decolaram de Ezeiza vôos com destino a capitais europeias e cidades do Cone Sul, entre elas o Rio de Janeiro. Outros serviços continuaram suspensos, já que algumas companhias aéreas não conseguiram regularizar suas operações ontem.
Até mesmo o cantor Ricky Martin, que realizou algumas apresentações na Argentina esta semana, teve seu voo para os Estados Unidos cancelado e ontem ainda não sabia quando retornaria para casa. A situação no Sul da Argentina continua sendo complicada, e a maioria dos aeroportos da Patagônia, entre eles os de Bariloche, Esquel e Chapelco, continuam fechados.  
Segundo o major Daniel Martins Neiva Filho, meteorologista do CGNA, a tendência apontada pelos órgãos argentinos é que a emissão de cinzas pelo vulcão se torne menos intensa até o fim do dia de hoje, diminuindo a probabilidade de uma nuvem se deslocar para o Brasil. Pela manhã, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Saulo Freitas chegou a afirmar que a nuvem poderia chegar a São Paulo hoje ou amanhã, de forma tênue. A Aeronáutica, porém, não confirma a previsão. De acordo com o major Neiva Filho, a nuvem está se deslocando em direção ao mar a uma velocidade de 80 quilômetros por hora.  
No Aeroporto de Navegantes, em Santa Catarina, o cancelamento de voos começou já na noite de quinta-feira e causou transtornos aos passageiros. A empresária Cristina Polli, de 27 anos, foi uma das pessoas que tentou viajar, mas sem sucesso. Desde as 19h de quinta-feira, ela tentava embarcar para o Rio.  
— Não deram hotel e, como moro muito distante, tentei passar a noite no carro, que estava no estacionamento do aeroporto. Mas começou a fazer muito frio e não aguentei. Fui até um hotel na beira da rodovia e fiquei lá até amanhecer — contou.  
Em Porto Alegre, o caos aéreo levou ao cancelamento do show do grupo argentino The Beats, previsto para ocorrer ontem à noite. Também a apresentação dos integrantes do Kid Abelha, prevista para hoje, deverá ser adiada. Com a interrupção dos voos, a procura pelo ônibus para destinos domésticos e internacionais cresceu em média 10%. A projeção é do chefe operacional do terminal rodoviário de Porto Alegre, Jorge Rosa:  
— Temos pelo menos duas mil pessoas a mais circulando na rodoviária.  
No Rio, a situação foi mais tranquila. Até as 20h de ontem, 22 (15,3%) dos 144 voos programados no Santos Dumont haviam sido cancelados. Os atrasos também somaram 15,3%. No Galeão, mais de 10% dos voos haviam sido cancelados.   O advogado Rafael Fonseca, tentava até a noite de ontem embarcar para Florianópolis, onde pretendia passar o Dia dos Namorados com a namorada. Seu voo, que sairia do Santos Dumont às 10h30m, fora cancelado:  
— Vou tentar até o último minuto.   As ações preferenciais da TAM recuaram ontem 2,78%, uma das maiores quedas no Ibovespa. As ordinárias caíram 2,24%. Também em queda, os papéis preferenciais da Gol eram negociados com baixa de 1,25%.  
(*)Especial para O GLOBO


QUESTÃO NUCLEAR
TCU vê falhas no programa nuclear

BRASÍLIA. Uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) constatou deficiências no Programa Nuclear Brasileiro. Conforme o relatório, apreciado em plenário na última quarta-feira, instalações radiativas do país operam sem passar por fiscalização de segurança ou sem autorização de funcionamento. A situação inclui até unidades da própria Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), responsável pelo controle do setor: de um total de 17, 13 estão sem registros oficiais de inspeção.  
Um relatório anterior já havia constatado as irregularidades e listado várias recomendações à CNEN. Auditores concluíram que algumas não foram atendidas. Além de descumprir as próprias normas relativas à periodicidade das fiscalizações, a CNEN tem permitido, segundo o TCU, a renovação de licenças sem inspeções prévias. Pelo menos 7% das instalações de alto risco estariam com autorizações de funcionamento vencidas.  
Os auditores do TCU ponderam que as vistorias são necessárias para diminuir os riscos de acidentes. Procurada, a CNEN argumentou que a maioria das instalações sem inspeções é de baixo risco. Segundo a comissão, uma nova norma deverá isentá-las de fiscalização, pois não haveria perigo à saúde humana. A CNEN sustenta que todos os seus laboratórios de alto risco são, sim, inspecionados, embora nem sempre as licenças de suas unidades estejam “oficializadas”.
(Fábio Fabrini)


CASO BATTISTI
Itália convoca embaixador para tratar de caso Battisti

A Itália decidiu convocar ontem seu embaixador no Brasil, Gherardo La Francesca, para consultas, dois dias após o Supremo Tribunal Federal (STF) validar a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de negar a extradição do ex-ativista italiano Cesare Battisti e determinar sua liberdade. Segundo nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores da Itália, a convocação serve para analisar e “aprofundar, junto com as outras instâncias competentes, os aspectos técnico-jurídicos da aplicação dos acordos bilaterais existentes”.   O ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, afirmou que a decisão do Brasil de negar a extradição de Battisti foi tomada sob princípios políticos, e não jurídicos.   — Havíamos desejado uma decisão serena das autoridades brasileiras, mas foi uma decisão política, e não jurídica. Diante disso, não tem diplomacia que se sustente — disse. — Queremos saber em qual atmosfera ocorreu este procedimento jurídico — acrescentou Frattini.   A convocação do embaixador italiano no Brasil foi considerada pelo Itamaraty como um “procedimento normal”. O Itamaraty não pretende consultar o embaixador brasileiro em Roma, José Viegas Filho. De acordo com um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, o chanceler Antonio Patriota chegou na madrugada de ontem dos Estados Unidos e acompanha o caso.
Ainda segundo o porta-voz do Itamaraty, Patriota considerou o caso de Battisti como “um tema do âmbito judicial, e não é abordável politicamente”.  

Italianos realizam protesto contra libertação  
Em Roma, um grupo de manifestantes italianos se reuniu ontem em frente à embaixada do Brasil para protestar contra a libertação de Battisti. O grupo levou para o protesto cartazes com, entre outras frases, “Cesare Battisti é somente um assassino” e “a Itália quer justiça”, além da palavra “vergonha”. A manifestação foi organizada pelo movimento de centro-direita Jovem Itália e contou com a participação da ministra italiana da Juventude, Giorgia Meloni.  
— Dezenas e dezenas de cidadãos brasileiros escreveram em nossas páginas no Facebook para expressar indignação pela decisão do governo — disse Meloni à agência de notícias Ansa.
O conselheiro regional do partido governista Povo da Liberdade (PDL), Carlo De Romanis, acompanhou a manifestação. Ele apresentou uma moção pedindo à Junta Regional que promova todas as ações ao seu alcance para “sensibilizar o governo brasileiro”. O texto será analisado pelas autoridades locais. O protesto também contou com a presença de brasileiros que vivem na Itália. Um deles chegou a dizer que “nenhum brasileiro está de acordo com a decisão do Supremo Tribunal Federal”.  
A Itália pediu “solidariedade” à União Europeia (UE) pelas ações que pretende realizar nas sedes internacionais sobre o caso Battisti. A informação partiu do vice-secretário da Justiça, Giacomo Caliendo, no fim da reunião de ontem de ministros da UE, em Luxemburgo. O caso foi lembrado durante discussão sobre um pacote legislativo que pretende reforçar o direito de vítimas de grupos armados no âmbito da União Europeia.  
Ex-ativista, Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália por quatro assassinatos. Preso no Brasil em 2007, recebeu, dois anos depois, o status de refugiado político. Em 2009, porém, o STF autorizou a extradição, mas decidiu que a palavra final caberia ao então presidente Lula, que em seu último dia de mandato manteve Battisti no Brasil. O STF ratificou a decisão.  
Battisti está morando provisoriamente no apartamento do seu advogado, em São Paulo, Luiz Eduardo Greenhalgh. O italiano aguarda a permissão do governo para residir no Brasil, e assim ter carteira de trabalho e Registro Nacional de Estrangeiros. Greenhalgh diz que Battisti ainda não decidiu se vai morar no Rio ou permanecer em São Paulo.


Críticas à decisão do Supremo

Gilberto Scofield Jr.

SÃO PAULO. A presença de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) na festa de 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ontem à noite, transformou o caso do ex-ativista italiano Cesare Battisti num dos assuntos mais comentados do coquetel. O ministro Gilmar Mendes criticou o fato de o STF ter aceitado manter Battisti no Brasil, como decidira o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numa postura que qualificou de “submissa a um presidencialismo imperial”.  
— O papel do STF sai diminuído deste episódio. Como eu disse no meu voto, nós viramos um clube litero-poético-recreativo e acredito que não foi a melhor decisão — disse o ministro. — Se, de fato, o STF serve para isso, para o que o Supremo decidiu no caso Battisti, é melhor que o tribunal perca logo essa competência. Que se confie logo a decisão ao Executivo, criando uma espécie de presidencialismo imperial ou que se confie a outro órgão judiciário, não ao STF.  
O ex-governador José Serra criticou a libertação de Battisti e disse que a Itália tem todo o direito de entrar com um pedido de anulação da decisão no Tribunal de Haia:  
— Foi um equívoco, e a decisão vai transformar o Brasil num paraíso de delinquentes — disse Serra. — Ele não foi condenado por um regime de exceção, mas por um país democrático.  
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que, se fosse o presidente, não tomaria a decisão de libertar Battisti.   — Mas o STF declarou que é o presidente que resolve a questão, então...   A ministra Ellen Gracie Northfleet não quis comentar o assunto, mas o ministro Marco Aurélio de Mello defendeu o STF e se disse perplexo com a decisão da Itália de recorrer ao Tribunal de Haia.
CÓDIGO FLORESTAL
População discorda de texto aprovado
Segundo pesquisa Datafolha, 79% dos brasileiros são contra perdão de multas a quem desmatou ilegalmente

Catarina Alencastro

BRASÍLIA. Pesquisa Datafolha encomendada por ONGs ambientalistas sobre o que o brasileiro pensa da reforma do Código Florestal aprovada na Câmara mostra que 79% são contra o perdão de multas impostas a produtores rurais que desmataram ilegalmente. Perguntados se o novo texto deveria anistiar de multa quem desmatou e desobrigar o infrator de recuperar a área degradada, apenas 5% dos entrevistados aceitaram essa possibilidade. O levantamento foi feito com 1.286 pessoas maiores de 16 anos no campo e nas cidades entre os dias 3 e 7 de junho.
A pesquisa mostra que a maioria dos entrevistados discorda do texto aprovado por ampla vantagem de votos dos deputados e que agora aguarda a aprovação dos senadores. Para 85%, a legislação deve priorizar a proteção das florestas e dos rios mesmo que isso prejudique a produção agropecuária. O levantamento mostra que mais da metade da população (62%) tomou conhecimento da votação do último 24 de maio, quando os deputados aprovaram o relatório de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e ainda a emenda 164, que autoriza a manutenção de atividades agropecuárias em Áreas de Preservação Permanente (APPs).
A emenda classificada pela presidente Dilma Rousseff de “vergonhosa” também é rejeitada por 91% da população — 66% defendem que apenas as culturas que fixam o solo devem ser mantidas, e 25% são a favor de retirar todos os cultivos das APPs. Além disso, 77% acham que a discussão do Código deve ser adiada para que a ciência possa se manifestar. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Academia Brasileira de Ciências pedem que o Congresso espere dois anos para que todos os estudos técnicos sejam feitos.

Líder ruralista contesta resultado da pesquisa
— Parece que a campanha extremada das lideranças ruralistas, insistindo que todos os agricultores estariam na ilegalidade, e a radicalização pela Câmara surtiram o efeito de aumentar a rejeição da população — diz Roberto Smeraldi, diretor da Amigos da Terra — Amazônia Brasileira. A ONG foi uma das que encomendaram o levantamento, junto com Imaflora, Imazon, Instituto Socioambiental, SOS Mata Atlântica e WWF Brasil.
Com relação ao veto prometido por Dilma caso o Código aprovado no Senado preveja anistia a desmatadores, 79% são favoráveis. Para o deputado Valdir Colatto (PMDB-SC), um dos líderes da bancada ruralista, ou a população está mal informada ou a pesquisa foi dirigida: — A gente está tentando resolver um problema seriíssimo no país, e a opinião pública acha que estamos cometendo um crime, quando na verdade estamos salvando o país.


Reforço policial para conter conflito no AM

Paula Litaiff*

MANAUS. Depois de visitar o Pará, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, desembarcou ontem em Manaus e prometeu enviar um efetivo de 70 homens ao Amazonas, a partir da semana que vem, para conter conflitos agrários na região Sul do estado, área que vem registrando altos índices de desmatamento na Amazônia e também ameaças de mortes aos ruralistas que denunciaram crimes ambientais.   A promessa foi feita durante reunião com o governador do Amazonas, Omar Aziz, na qual foram discutidas estratégias para prevenir violência contra trabalhadores rurais que denunciam crimes ambientais. Segundo a Comissão da Pastoral da Terra no Amazonas, pelo menos 32 pessoas estão ameaçadas de mortes por denunciar esses crimes, sendo que 17 vivem no Sul do Amazonas.  
Em reunião com o governador, o ministro Cardozo disse que o efetivo será composto por agentes da Polícia Federal, Exército e Força Nacional de Segurança. Ele informou que eles farão policiamento ostensivo, estabelecendo bases em áreas de desmatamento e perto das casas dos ameaçados de mortes:  
— Queremos ter certeza de que as áreas mais atingidas pelo desmatamento e as ameaças serão monitoradas.  
Em outra área de Manaus, a ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, reuniu-se com representantes de movimentos sociais ligados aos direitos das mulheres, negros e terras e moradias, além de representantes da Arquidiocese de Manaus, para falar sobre os recentes conflitos de terras no interior do estado.
GENTE BOA
Joaquim Ferreira dos Santos

Sarampo, cuidado
Os funcionários dos hotéis do Rio estão sendo orientados pela Secretaria municipal de Saúde a se vacinarem com urgência contra o sarampo. Um texto distribuído à rede hoteleira diz que há muitos casos da doença ocorrendo na Europa e, como o Rio está prestes a ter uma invasão de turistas devido aos Jogos Militares, é preciso cuidado.


RIO 2016
Faltam R$ 4 bi para bancar projetos
Alerta foi feito por secretária de Fazenda, em seminário onde também foram discutidos investimentos em aeroportos e hotéis

Bruno Rosa

Na semana em que a Comissão de Coordenação do Comitê Olímpico Internacional (COI) visitou o Rio de Janeiro, alguns investimentos importantes para os Jogos de 2016 ainda não contam com linhas de financiamento. O alerta foi dado ontem por Eduarda La Rocque, secretária municipal de Fazenda do Rio, ao participar do seminário “Crescimento Econômico — Os investimentos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas”. Pelo menos dois projetos, a TransOlímpica — via que irá ligar a Barra da Tijuca a Deodoro, onde haverá as competições de hipismo, tiro esportivo, entre outros — e parte do Morar Carioca (de urbanização das favelas), não têm recursos garantidos. Pelas contas da secretária, irão consumir perto de R$4 bilhões.  
BNDES vai dobrar linha de financiamento para hotéis   A Prefeitura avalia como levantar esse investimento. Eduarda citou fontes como o BNDES e a Caixa Econômica Federal, mas descartou temporariamente a ideia de o município obter recursos no mercado externo com a emissão de títulos.  
— A proposta do município era levantar no mercado US$ 2 bilhões. Mas a emissão de títulos precisaria de anuência do governo federal, pois teria de mexer na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Não estamos autorizados a emitir bônus enquanto perdurar nossa dívida, que vai até 2029, e isso está fora de cogitação — disse Eduarda, em evento promovido pela Associação e Sindicato dos Bancos do Estado do Rio de Janeiro, ontem pela manhã no Centro.  
Segundo ela, a questão será levada ao ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, assim que assumir o cargo de Autoridade Pública Olímpica, o que deve ocorrer em agosto, e a Maria Silvia Bastos, que irá chefiar as ações olímpicas pela Prefeitura:  
— Vamos sentar com governo federal e estadual para saber como vamos financiar esses R$4 bilhões que faltam.  
Eduarda lembrou ainda que está desenvolvendo um plano de ações para atrair empresas do setor financeiro de volta para o Rio de Janeiro:  
— Queremos que o Rio se torne o segundo polo financeiro do país, depois de São Paulo. Queremos mostrar que existe esse momento no Rio.  
No evento, Ricardo Ramos, superintendente da Área de Inclusão Social do BNDES, adiantou ainda que o banco irá dobrar até o fim do ano sua linha de financiamento para hotéis, de R$1 bilhão para R$2 bilhões. A linha foi criada para permitir a construção e a renovação de hotéis para as Olimpíadas.   — Vamos dobrar a linha até o fim do ano, pois a demanda dos hotéis está muito alta. A maior parte das consultas que chegam ao banco é de projetos sustentáveis. Estamos nos antecipando a uma demanda que irá crescer. Temos recursos — afirmou Ramos
Outro ponto de discussão no seminário foi o investimento em aeroportos. Jaime Henrique Caldas Pereira, diretor de Engenharia e Meio Ambiente da Infraero, destacou os investimentos nos aeroportos do Rio de Janeiro. Em relação ao Internacional Tom Jobim — Galeão, frisou que já estão sendo feitas obras na pista para receber aviões A380, com 525 lugares. Além disso, será lançado até o fim do ano edital para a construção de um novo estacionamento e a conclusão de uma nova ala do segundo terminal.  

Edital para reforma em Santos Dumont sai este ano
Pereira lembrou ainda que até o fim deste ano a estatal irá lançar edital para modernizar e melhorar as instalações nos aeroportos de Santos Dumont, no Rio, e Congonhas, em São Paulo:  
— Não haverá aumento de capacidade, pois há folga. No Santos Dumont e em Congonhas, haverá melhoria no conforto para os passageiros, modernização e troca do sistema operacional. Serão obras pequenas. E as intervenções começam já em 2012, ficando prontas até 2014.  
No caso do Santos Dumont, haverá reforma no setor de desembarque e obras no último nível do aeroporto. Já em Congonhas, será concluída a ala superior do terminal.


Município vai receber investimentos de R$ 53,2 bi
Executivo que atraiu centenas de companhias para Olimpíadas de Londres chega semana que vem ao Brasil

Enquanto tenta obter algum tipo de solução para financiar os R$4 bilhões que faltam, o Rio de Janeiro, que já vive dias de canteiro de obras, corre para se preparar para os Jogos. Estudo inédito feito pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) a pedido da Rio Negócios, agência de promoção da Prefeitura, revela que a cidade irá receber R$53,2 bilhões em investimentos em áreas como infraestrutura, telecom, turismo, seguro e publicidade. Serão mais de 90 mil empregos.  
Na próxima semana, desembarca no país Michael Charlton, que atraiu centenas de companhias para os Jogos de Londres, que acontecem em 2012. Charlton é hoje diretor internacional da agência carioca.  
— Ele (Charlton) tem experiência em Jogos Olímpicos. Queremos extrair lições importantes e gerar um legado para o Rio. Nosso objetivo é que as empresas estrangeiras não apenas vendam apenas suas mercadorias, mas sim que criem linhas de produção e montagem. O estudo da PwC criou o arcabouço para que isso seja possível. Foram mapeadas 22 oportunidades (setores) e a possibilidade de atração de 146 empresas internacionais.  

Chineses já traçam investimentos no Rio  
No setor aéreo, enquanto se discute o modelo de concessão nos aeroportos com a iniciativa privada, os trabalhos para atrair novas companhias aéreas, sobretudo asiáticas, já começou. No radar estão Qatar Airways, Turkish, Air China, Korean Air, El Al (israel), além de Air Canada e Air Mexico. O objetivo, revela o estudo, é fazer do Rio uma espécie de hub internacional.
Há ainda outros setores. A chinesa Haobo, fabricante de assentos para estádios, já enviou representantes ao Rio. Neste momento, a companhia prospecta o mercado para iniciar operações na cidade. Os chineses prometem desembarcar com força. A PwC destacou o setor de empreiteiras, de construção verde e de planejamento urbano.  
Segundo empresários, o setor de turismo chama a atenção. Redes como Accor, Windsor, Hyatt, Atlantica e BHG já estão com projetos em andamento. A maior parte está concentrada na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Segundo Renata Cianciaruso, gerente da consultoria BSH Internacional, o Rio vive um momento próspero e é hoje o local que mais irá receber hotéis quando se compara com cidades que irão receber jogos da Copa do Mundo de 2014:  
— Há uma dificuldade de se encontrar terrenos no Rio.  
Paulo Marcos Ribeiro, diretor de Marketing da rede Windsor, lembra que a ocupação aumentou 20% depois de o Rio ser anunciado como sede dos Jogos de 2016. A empresa planeja construir dois novos hotéis na Barra, que irão somar mil quartos. Em Copacabana, vai erguer outro com 140 unidades.  
— Já há um clima de otimismo no Rio — afirmou Ribeiro.  
O Pestana investe R$18 milhões na reforma do hotel em Copacabana, disse Roberto Rotter, diretor-presidente do grupo. Para ele, há espaço para novas oportunidades, como na Barra:  
— Estamos atentos a oportunidades. Iniciamos no Brasil um novo negócio, que é a administração de hotéis.
O empresário Eike Batista, homem mais rico do país, segundo a “Forbes”, investe R$460 milhões na reforma do Hotel Glória e na Marina da Glória, enquanto tenta comprar o Hotel Othon, na orla de Copacabana.
(Bruno Rosa)

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