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sexta-feira, 10 de junho de 2011

10 de junho 2011 - CORREIO BRAZILIENSE


DESTAQUE DE CAPA - TRANSPORTE PÚBLICO
Máfia do transporte usa greve para elevar tarifa

Beneficiados pela omissão de sucessivos governos ao longo da última década, empresários de ônibus assumiram o controle do sistema público de transportes do DF. Nas mãos de três grandes grupos, 10 empresas operam sem licitação, gerenciam a emissão de vale-transporte e de passe estudantil, e são acusadas pela Polícia Civil de colocar em circulação ônibus piratas para não pagar impostos. Os órgãos fiscalizadores não controlam sequer a planilha de custos que serve como base para a definição do valor da tarifa. Para forçar o governo a reajustar as passagens, os patrões contam com a cumplicidade de motoristas e cobradores nas paralisações que infernizam Brasília desde o início da semana. Diariamente desrespeitados em ônibus lotados e sucateados, mais de 1,2 milhão de passageiros pagam a conta desse sistema viciado e fraudulento.


GOVERNO
A minirreforma de Dilma na Esplanada
Ideli Salvatti é sondada para o cargo de Relações Institucionais e deve abrir vaga na pasta da Pesca. Enquanto peemedebistas dão sinal verde para a troca, petistas brigam pelo espaço a ser aberto por Luiz Sérgio

Denise Rothenburg
Ivan Iunes

A troca de comando na Casa Civil e, consequentemente, na articulação política do governo com o Congresso, levou a presidente Dilma Rousseff a esboçar uma minirreforma ministerial e a arbitrar uma guerra por poder dentro do PT. Ontem, parlamentares ligados a Dilma percorreram gabinetes para saber se haveria apoio à nomeação da atual ministra da Pesca, Ideli Salvatti, para o cargo de ministra de Relações Institucionais no lugar de Luiz Sérgio, o que abrirá uma vaga na Esplanada. O PMDB deu o aval, mas alas do PT na Câmara relutaram. O grupo ligado ao presidente da Câmara, Marco Maia, uma das autoridades que faltou à posse de Gleisi Hoffmann na Casa Civil, fez uma ressalva: se mudar o ministro dessa área, tem que mudar também o líder do governo na Câmara. Resultado: a briga ontem à noite era pela liderança do governo.
Ideli reúne atributos que Dilma considera essenciais: é leal, tem com a presidente uma relação excelente, construída desde os tempos em que Dilma ocupava a Casa Civil e Ideli era senadora. Mas, dentro do Senado, Ideli saiu desgastada embates que travou com a defesa intransigente do governo Lula. A imagem dela é de enfrentamento e de falta de jogo de cintura para o diálogo — características que também são cruciais para um ministro de Coordenação Política.
As sondagens ao nome de Ideli surgiram depois que a presidente ficou irritada ao saber que deputados petistas estavam loteando o governo à sua revelia. Na noite de quarta-feira, o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza, foi ao gabinete de Renan Calheiros conversar sobre a articulação política. Antes disso, uma reunião na Casa de Marco Maia também debateu o assunto. Houve até um desenho que colocaria Vaccarezza no cargo de ministro e André Vargas (PT-PR) na liderança governista.
Dilma não gostou. Afinal, a distribuição de cargos pelos políticos ocorreu antes mesmo de uma conversa definitiva com Luiz Sérgio — é esperado entre alguns petistas que ele entregue a carta de demissão hoje. Ontem, a boataria era tal que o atual ministro Luiz Sérgio divulgou em seu microblog que não pediu o boné. Foi nesse contexto que Dilma sacou o nome de Ideli, de forma a não deixar nenhum dos grupos da Câmara fazer o sucessor de Luiz Sérgio. A ex-senadora já é tratada por funcionários da Pesca como ex-ministra.

Dificuldade de trânsito
Ontem, no meio da tarde, o líder do PT no Senado, Humberto Costa, foi ao gabinete do líder do PMDB, Renan Calheiros. Queria saber o que Renan achava da nomeação de Ideli. Renan não fez objeção. Elogiou a senadora. Na verdade, o peemedebista sabe que pode haver problemas. Mas o partido não vai interferir na escolha. “Estamos com a presidente. O que ela decidir apoiamos. O PMDB quer participar das decisões de governo e não fazer o ministro de Relações Institucionais”, disse Renan a Costa, dando a entender que o problema será no PT. O PMDB está convicto de que Ideli não tem trânsito entre os aliados e nem resolve a briga de petistas na Câmara.
Enquanto isso, no Palácio do Planalto, outra reunião, restrita a petistas, ocorria no gabinete do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ali, Gleisi Hoffmann, o próprio Gilberto e outros integrantes do partido chegavam a conclusões próximas às de Renan: antes de decidir nomes, Dilma tem que apaziguar o PT (leia análise nesta página). A escolha de Ideli não resolve o imbróglio petista na Câmara, onde há dois blocos brigando por espaço. O grupo de Marco Maia reivindica um lugar ao sol na formulação política do governo. E, se Ideli for mesmo confirmada no Ministério de Relações Institucionais, eles vão querer o cargo de Vaccarezza.

Bolsa de apostas
Dentro do Planalto, há a certeza de que é preciso pacificar o PT. O primeiro reflexo disso foi uma reunião promovida ontem por Marco Maia. Num esforço para tentar dizer que não há divisões no PT da Câmara, ele chamou em seu gabinete o líder do partido, Paulo Teixeira, e Vaccarezza, representantes dos dois grupos que se digladiam por poder na Casa (leia mais na página 3). Apesar dos discursos em tom ameno, não houve consenso, uma vez que quem decide é a presidente Dilma. Ela passou a tarde de ontem em Santa Catarina e viajou ao lado de Ideli. A atual ministra da Pesca comentou com amigos que, se virar mesmo ministra da área política do governo, terá que haver mudanças também na liderança do governo na Câmara. Portanto, não está descartada a troca do líder do governo por alguém do grupo de Marco Maia. Um dos nomes que subiu na bolsa de apostas foi o do antigo líder, Henrique Fontana. A expectativa é a de que tudo se resolva nas próximas horas.

Negativa no Twitter
Embora todas as inclinações políticas indiquem que Luiz Sérgio deixa hoje a Secretaria de Relações Institucionais, o ministro negou ontem, pelo microblog Twitter, as reportagens que sustentavam sua queda. “Não pedi para sair do governo”, afirmou em uma das postagens. “Há hora de falar e hora de calar. Agora é hora de calar”, comentou em outro instante.


DEU NO

Dilma prestigia aniversário da Marinha
A presidente Dilma Rousseff participará hoje das comemorações dos 146 anos da Batalha Naval do Riachuelo, data magna da Marinha. É a primeira visita oficial de Dilma à corporação. Ela presidirá a cerimônia, no Centro de Fuzileiros Navais do Comando da Marinha, em Brasília, na qual 11 ministros receberão a Medalha do Mérito Naval. Entre eles, o titular da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o da Fazenda, Guido Mantega.


MEIO AMBIENTE
Código Florestal sem pressa
Dilma prorroga prazo para regularização de áreas de preservação por 180 dias. Com isso, senadores ganham tempo para votar o projeto.

Vinicius Sassine

A aprovação e sanção definitiva do novo Código Florestal Brasileiro têm grandes chances de ficar para 2012. Numa tentativa de criar um ambiente favorável para a discussão do código no Senado, depois da ampla derrota na Câmara, a presidente Dilma Rousseff assinou ontem um decreto que amplia o prazo para os produtores rurais regularizarem áreas de preservação permanente (APPs) e de reserva legal. A medida será publicada hoje no Diário Oficial da União e prorroga por 180 dias, até dezembro deste ano, o prazo dado em outro decreto para a regularização ambiental. A data final para a adequação seria amanhã, o que foi alterado pela presidente. Assim, a apreciação do Código Florestal no Senado será feita sem pelo menos um dos instrumentos de pressão em jogo. Se o texto for alterado pelos senadores, as mudanças precisarão retornar à Câmara. Isso joga a discussão para o próximo ano.
A maioria dos produtores rurais ignorou o prazo dado no Decreto nº 7.029, editado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2009, para averbar reservas legais e definir APPs em suas propriedades. A expectativa desses produtores era pela aprovação do novo Código Florestal, que institui um programa de regularização ambiental e, na prática, torna inválido o decreto de Lula. O novo código passou na Câmara, mas chegou ao Senado a poucos dias do fim do prazo do decreto. O governo, como forma de pressão, ameaçou não prorrogar a data para a regularização ambiental. A dois dias do fim do prazo, porém, a presidente Dilma decidiu atender a um pedido dos senadores pelo adiamento da data final.
Os produtores terão mais seis meses para regularizar as áreas de reserva legal. Nesse período, a base do governo tentará reverter a derrota sofrida na Câmara. Os deputados aprovaram a permissão de toda atividade agropecuária em APPs, por meio da Emenda nº 164, do PMDB; a isenção de reserva legal em pequenas propriedades; a anistia a desmatadores, desde que se cadastrem num programa de regularização ambiental; e outras mudanças consideradas pelo governo como estímulos a novos desmatamentos (é o caso da exclusão de manguezais de áreas de preservação). A expectativa da presidente Dilma é reverter as perdas no Senado, sem precisar fazer uso do poder de veto.

Pedido dos líderes
O ganho de tempo para as negociações, como desejavam senadores da base aliada, pode não garantir uma vitória do Planalto. Os dois relatores da proposta no Senado, Jorge Viana (PT-AC) e Luiz Henrique da Silveira (PMDB-SC), têm propostas diferentes para o relatório. A base tenta garantir um texto único, de consenso, mas em pelo menos um ponto Jorge Viana e Luiz Henrique discordam completamente. O petista, relator na Comissão do Meio Ambiente, é contra a transferência aos estados da atribuição de regularizar APPs. O peemedebista, responsável pela relatoria na Comissão de Constituição e Justiça e na Comissão de Agricultura, é um ferrenho defensor dessa atribuição. Como governador em Santa Catarina, Luiz Henrique sancionou o Código Ambiental do estado, contestado no Supremo Tribunal Federal (STF). Ambos defenderam a prorrogação do prazo do Decreto nº 7.029.
“A presidente Dilma acolheu a solicitação dos líderes do Senado. O prazo foi prorrogado para que haja mais tempo para a discussão política”, disse ontem a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Segundo ela, o novo prazo levou em conta o exato tempo pedido pelos senadores: 180 dias. “O governo continuará buscando um texto de consenso, que não crie insegurança jurídica, não comprometa APPs e não induza novos desmatamentos.” Presidente da Comissão de Meio Ambiente, o senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) afirmou que o relatório será aprovado pelo Senado até o fim do ano. “Não dá para discutir um tema como esse preso numa camisa de força. Foi por causa da falta de tempo, em razão do decreto, que o debate na Câmara se radicalizou.”
O decreto da presidente Dilma também prorroga o prazo para a regularização de reservas legais por 180 dias. Os produtores poderão, a partir daí, ser notificados por órgãos de fiscalização. Multas só poderão ser aplicadas após mais seis meses, prazo final para a averbação.


ENTENDA O CASO
Prazo era até sábado

» O Decreto nº 7.029, de 10 de dezembro de 2009, foi assinado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e instituiu o Programa Mais Ambiente. Na prática, os produtores rurais ficaram obrigados a regularizar as áreas de preservação permanente (APPs) e de reservas legais de suas propriedades.
» O prazo final estabelecido no decreto para a regularização dos produtores foi 11 de junho de 2011. Ou seja, amanhã, sem que a grande maioria dos produtores — entre 70% e 90% — tenha se cadastrado no programa.
» A presidente Dilma Rousseff decidiu ontem prorrogar o prazo. Os produtores agora têm mais 180 dias para a adesão, contados a partir de hoje.
» O decreto passou a ser peça central na discussão do novo Código Florestal Brasileiro. Se o código entrasse em vigor a tempo, o decreto perderia a validade. Com a prorrogação do prazo, o Senado ganha tempo para discutir a revisão da lei ambiental, sem a pressão da bancada ruralista no que diz respeito especificamente ao Programa Mais Ambiente.


DESVIO DE FUNÇÃO
Justiça proíbe que taifeiro vire empregado de general
Forças Armadas terão 90 dias para devolver aos quartéis os militares que fazem atividades domésticas em casas de superiores. Cerca de 600 subalternos são submetidos a esse tipo de serviço. Ministério da Defesa estuda regras para mantê-los onde estão

» Alana Rizzo

A Justiça Federal determinou um prazo de 90 dias para que as Forças Armadas suspendam o trabalho dos taifeiros em casas de superiores. Segundo estimativa do Ministério Público, mais de 600 militares que deveriam estar trabalhando em atividades de serviços gerais em quartéis são desviados
para a realização de atividades domésticas na residência de militares de alta patente. A decisão liminar foi tomada pela juíza Simone Barbisan Fonte, da 3ª Vara Federal de Santa Maria (RS). De acordo com a magistrada, a finalidade constitucional do Exército, da Marinha e da Aeronáutica é a defesa da pátria e a garantia da lei e da ordem, não a prestação de atividades particulares.
“A fim de possibilitar que certas autoridades militares sejam servidas em sua residência (note-se que a benesse é individualizada em favor de pessoas ocupantes de cargos definidos), retiram-se taifeiros da organização militar, local em que realmente estariam prestando serviço à coletividade”, destaca o despacho da juíza. Os taifeiros prestam seleção pública para exercer atividades como a organização de ranchos militares, a preparação de alimentos e o controle da despensa dos quartéis. De acordo com o Ministério Público, o desvio de função custa em torno de R$ 1 milhão mensais aos cofres públicos.
Simone Barbisan destaca ainda que as Forças Armadas não devem ser empregadas para fins circunstanciais ou políticos. Para a magistrada, existe uma discrepância entre a missão dos militares com as atividades particulares relatadas na ação proposta em 2008 pelo Ministério Público Militar e pela Procuradoria da República do Rio Grande do Sul.
Além de exercer uma atividade para qual não se candidataram, os taifeiros reclamam há pelo menos três anos do tratamento recebido na casa dos superiores (veja memória). “Quando fiz o curso, imaginei que iria trabalhar nas organizações militares e sempre à serviço da pátria. Só que logo me mandaram para a casa de um general. Passei mais de 10 anos servindo mulher de general. Elas acham que a gente é escravo. Fiz faxina, lavei calcinha, cueca, engomei camisa…”, contou ontem ao Correio um taifeiro que preferiu não se identificar.
Aos 55 anos, o taifeiro passou pela casa de mais de 12 generais e chegou a ser preso depois de enfrentar a esposa de um superior que queria controlar suas atividades. “Fico com pena dos colegas que precisam passar por tudo isso que passei. Não tem folga nem fim de semana. Passei vários natais na casa de general recebendo visitas.”
Relatos como esse foram incluídos na ação encaminhada à Justiça. Segundo o promotor militar Jorge César de Assis, várias irregularidades foram constatadas no trabalho dos taifeiros. “Ao contrário de outros militares, eles precisam se submeter a exames médicos periódicos e sofrem vários tipos de humilhação.” Na ação, o Ministério Público afirma que essa situação afronta a Lei de Improbidade Administrativa. “Esses militares são pagos com dinheiro público para cumprir tarefas particulares”, afirma o promotor, destacando que o processo está apenas começando. “A decisão favorável mostra que os nossos argumentos foram bons e suficientes para convencer o juiz”, destaca.

Multas
O ato da juíza suspende portarias internas que regulavam o trabalho e estabelece multa caso a União não comprove as providências adotadas — o valor ainda não foi estipulado. Em relação à Marinha, a magistrada ressalta que não há norma interna autorizando o uso dos taifeiros, embora a prática exista.
A União tentou extinguir a ação alegando que o Ministério Público Militar não poderia propor ação coletiva. Em seguida, argumentou que uma decisão de abrangência nacional só poderia ser tomada por um juiz no Distrito Federal. Os dois argumentos foram vencidos no despacho da juíza.
O Ministério da Defesa informou, por meio da assessoria de imprensa, que ainda não foi notificado da decisão em questão. “No entanto, a par da medida judicial, o assunto já se encontra em análise no âmbito da pasta. O MD pretende, em breve, disciplinar a matéria administrativamente com o objetivo de fixar critérios para o emprego de taifeiros em imóveis residenciais sujeitos à administração militar,” diz a nota. Já a Advocacia-Geral da União (AGU), responsável pela defesa das Forças Armadas, afirmou que vai recorrer ao Tribunal Regional Federal.

MEMÓRIA
Denúncias em Brasília

O Correio Braziliense denunciou em 2008 situações de constrangimento, humilhações e abusos que teriam sido vividas por militares em casas de generais das Forças Armadas onde prestavam serviço. Embora sejam cozinheiros e copeiros, eles desempenhavam ações de conservação doméstica, como a limpeza do chão e dos vaso sanitário, e a ida a supermercados para compras.
O grupo relatou ao jornal e a um procurador militar as situações a que foi submetido. Todos trabalhavam nos blocos G e H da 102 Norte, uma quadra nobre de Brasília onde estão concentrados os apartamentos funcionais dos generais. Os militares mostraram fotografias em que apareciam fazendo tarefas domésticas e ressaltaram que sofriam constantes ameaças de punições.
Outro problema destacado foi o atraso nas promoções. À época, o Centro de Comunicação Social do Exército afirmou que os taifeiros tinham os encargos previstos na legislação e nas instruções gerais para organização, habilitação e promoção dessa qualificação militar. Informaram ainda que as atividades estavam previstas nas normas e que estavam concentradas em tarefas inerentes à cozinha. (AR)


VULCÃO CHILENO
Cinzas atingem o Sul do Brasil

Voos para países do Cone Sul foram cancelados em Guarulhos (SP)
As cinzas do vulcão chileno Puyehue, em erupção desde o último sábado, voltaram a provocar transtornos ontem em todo o Cone Sul e chegaram ao Brasil. Às 20h30, um comunicado da Força Aérea Brasileira (FAB) dava conta de que a nuvem de cinza vulcânica forçou o fechamento do Aeroporto de Bagé e levou à expedição de aviso de restrição aos pilotos (Notam). A medida tem por finalidade divulgar antecipadamente a informação aeronáutica de interesse direto e imediato para a segurança aérea.
Segundo a FAB, a camada de nuvem está a 1,5 mil metros do solo e atinge o teto de 7,5 mil metros. As previsões indicavam que as cinzas poderiam atingir Porto Alegre no fim da noite de ontem, caso as condições meteorológicas fossem mantidas. A evolução do fenômeno é acompanhada pelo Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), a partir de informações recebidas do Volcanic Ash Advisory Centres da Argentina (VAAC) — o instituto responsável pelo monitoramento da situação na região. O CGNA tem coordenado o tráfego aéreo, de modo que os aviões evitem voar pelas áreas afetadas.
Em Buenos Aires, os 300 voos — domésticos e internacionais dos aeroportos Ezeiza e Aeroparque — tiveram que ser cancelados. A nuvem vulcânica também atingiu o Uruguai e provocou a suspensão da maioria dos voos do aeroporto internacional de Montevidéu. Antes mesmo da chegada da nuvem de cinzas ao Brasil, os passageiros brasileiros já tinham sido atingidos pelo novo caos aéreo: pelo menos 20 voos que tinham Buenos Aires como procedência ou destino não decolaram. Voos entre cidades brasileiras e Montevidéu, Punta del Este, Santiago e Assunção também foram prejudicados.
À noite, a Gol divulgou nota informando o cancelamento de todos os voos da empresa para o Rio Grande do Sul em razão da nuvem de cinzas. Entre 21h de ontem e 10h de hoje, a TAM também suspendeu os voos com origem e destino em Porto Alegre. As viagens para os aeroportos de Buenos Aires e Montevidéu também estão canceladas até meio-dia de hoje. Em seu site, a companhia disponibilizou números de telefone para que os clientes se informem sobre a situação, sujeita a rápidas mudanças.
Uma reunião de ministros de Economia da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) marcada para hoje, na capital argentina, foi adiada por tempo indeterminado, em decorrência do cancelamento dos voos. Ainda de manhã, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou que não viajaria mais. O presidente uruguaio, José Mujica, também cancelou a viagem a Buenos Aires.

Buenos Aires
De acordo com uma fonte da empresa Aeropuertos 2000, que opera os dois terminais de Buenos Aires — os mais movimentados do país —, uma nuvem de cinzas pairava ontem no céu da capital argentina. “A nuvem está a 9 mil metros de altura e os aviões voam a uma altura média de 10 mil metros”, disse. Nas ruas da capital argentina era possível observar partículas de cinzas sobre os automóveis estacionados. As cidades turísticas de Bariloche e de Villa Angostura — que fica a 40km do vulcão chileno — são as mais afetadas. Os aeroportos da Patagônia estão fechados desde que o vulcão Puyehue entrou em atividade.
No Chile, especialistas avaliaram ontem que a erupção do vulcão mostrava uma tendência à estabilidade. O último relatório do Serviço Nacional de Geologia e Mineração (Sergageomin) advertia, de qualquer forma, que “o processo eruptivo continua e é possível que volte a apresentar um aumento com episódios similares aos já ocorridos ou superiores em intensidade”.


ORIENTE MÉDIO
Brasil resiste a condenar a Síria

O ministro Antonio Patriota sugeriu ontem, em Nova York, que o Brasil poderá mais uma vez divergir dos Estados Unidos e de seus aliados europeus, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, na votação de uma resolução condenando o regime da Síria pela violência contra manifestantes desarmados. Em março passado, o governo brasileiro alinhou-se com Rússia, China e Índia (parceiros na articulação dos Brics), além da Alemanha, e se absteve na aprovação da resolução pela qual o conselho autorizou a intervenção militar na Líbia, em defesa da população civil.
Falando à imprensa na sede da ONU, onde discursou na reunião de alto nível sobre o combate à Aids, o chanceler brasileiro deixou evidentes as reservas do governo Dilma quanto à eficácia de uma condenação ao governo do presidente Bashar Al-Assad. “A Síria é muito central quando se analisa a estabilidade no Oriente Médio”, disse Patriota.
“Eu penso que a última coisa que queremos ver ou fazer é contribuir para exacerbar tensões naquela que consideramos uma das regiões mais tensas do mundo.”
A posição brasileira acompanha o tom da Índia e da África do Sul (que também integra o Brics), porém é mais cautelosa que a da Rússia e da China — ambos os países manifestaram forte oposição ao projeto de resolução, patrocinado por França e Reino Unido, com apoio dos Estados Unidos.
O ministro aproveitou para questionar os resultados da intervenção na Líbia e reiterar as reticências do Brasil à solução militar. “Existe uma preocupação sistêmica, eu diria, sobre a implementação da Resolução 1.973. Os membros do conselho deveriam observar estritamente a linguagem e o espírito nos quais ela foi adotada”, ponderou Patriota.
“Penso que preocupações a respeito da implementação dessa resolução também estão influenciando a forma como as delegações olham para outras medidas que podem afetar outros países da região, e a Síria em particular.” Em especial, o chanceler brasileiro apontou ainda a ausência de apoio no mundo árabe a uma ação contra Damasco, ao contrário do que ocorreu no caso líbio, quando a Resolução 1.973 foi a votação.
O Conselho de Segurança começou a debater ontem o projeto condenando a Síria, que poderá voltar à pauta do organismo mais elevado da ONU a pedido da Agência Internacional de Energia Atômica. Por 17 votos contra seis, além de 11 abstenções, a junta governativa da AIEA decidiu relatar ao conselho as suspeitas sobre a Síria por ter mantido uma instalação nuclear em atividade sem informar o órgão. A existência da unidade veio a público quando ela foi destruída em um ataque aéreo israelense, em 2007.

Líbia
Uma missão do Conselho de Direitos Humanos que visitou a Líbia no fim de abril concluiu que pelo menos 10 mil pessoas morreram no país desde o início da rebelião contra o ditador Muamar Kadafi, em fevereiro. O chefe da delegação, Cherif Bassiouni, afirmou que foram encontrados indícios de crimes de guerra cometidos pelas forças governistas, incluindo ataques a civis e a missões humanitárias, mas relatou transgressões cometidas também pelos rebeldes.
Reunidos em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, para discutir o futuro de uma Líbia sem Kadafi, os países que participam da ação militar ou a apoiam renovaram promessas de ajuda à oposição. A Itália ofereceu US$ 586 milhões, incluindo fornecimento de combustíveis. A França prometeu liberar US$ 420 milhões em receitas de exportação de petróleo líbio, congeladas em obediência a resoluções do Conselho de Segurança. Os rebeldes pedem US$ 3 bilhões para os próximos quatro meses.

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