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segunda-feira, 20 de junho de 2011

20 de junho 2011 - CORREIO BRAZILIENSE


DESTAQUE DE CAPA – SAÚDE
Um em cada cinco pacientes internados em hospitais do DF vem do entorno

Quase 20% dos pacientes que precisam de tratamento de longa duração na rede pública de saúde do Distrito Federal não são de Brasília.


FORÇA DE PACIFICAÇÃO
Choque de ordem no Morro da Mangueira
Polícia ocupa a favela para a instalação de UPP e traz serviços públicos, como a fiscalização sanitária

Sem disparar um tiro, a Polícia do Rio de Janeiro invadiu ontem o Morro da Mangueira, na Zona Norte, para a instalação da 18ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na cidade. A ocupação começou
às 6h e, pouco antes das 11 horas, uma bandeira do Brasil e outra do governo do estado foram instaladas no alto de uma caixa d"água no Morro dos Telégrafos. Pelo menos 750 policiais civis, militares, federais e fuzileiros navais participaram da operação. O Bope entrou na favela por uma área conhecida como buraco quente, onde funcionava uma boca de fumo.
Seis blindados da Marinha subiram o morro. Helicópteros, caminhões, motos, reboques, ônibus e ambulâncias também foram mobilizados para a operação. Enquanto as equipes vasculhavam a Mangueira, nem mesmo moradores puderam entrar na favela. O trânsito na Avenida Visconde de Niterói e no viaduto de acesso à comunidade chegou a ser interditado. Algumas lojas do comércio local abriram normalmente.
Homens da Corregedoria da PM e da Defensoria Pública participaram da operação para atender a população em caso de queixas de abusos cometidos por policiais. Bombeiros e médicos passaram o dia de prontidão caso houvesse a necessidade de atender feridos.
A ocupação policial na Mangueira abriu caminho para outros serviços públicos. Equipes da Vigilância Sanitária iniciaram a fiscalização do comércio e agentes da Secretaria de Obras do município também começaram a demolir construções irregulares. Carros da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Automóveis percorreram a comunidade para apreender veículos roubados, enquanto agentes verificavam antecedentes criminais de suspeitos.

Cinturão
A nova unidade fechará uma espécie de cinturão de segurança que está sendo criado diante do complexo do Maracanã, onde serão realizados jogos da Copa do Mundo de 2014 e disputas das Olimpíadas de 2016. Os planos da Secretaria de Segurança preveem ainda a ocupação das comunidades Morro dos Telégrafos, Candelária e Tuiuti. Com a inauguração da 18ª UPP (veja quadro), a secretaria fechará um conjunto de favelas que compreende todo o Complexo da Tijuca. A pacificação dessa região beneficiará indiretamente cerca de 550 mil pessoas, segundo o governo do estado.
Diretamente, a pacificação do Complexo da Mangueira beneficiará em torno de 21 mil moradores. "Hoje (ontem) foi devolvido um território a aproximadamente 20 mil pessoas", disse o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, durante coletiva. "Ninguém está dando o jogo como ganho", completou, lembrando que 55 mandados de prisão foram cumpridos nos últimos dois meses no morro.
Beltrame destacou ainda que é melhor "ocupar uma área sem ter nenhuma baixa, com o compromisso permanente de ir atrás (dos criminosos que fugiram), do que entrar numa situação (inadequada) e colocar a população em risco". "A saída dessas pessoas para outros lugares os deixa vulneráveis porque saem das áreas onde tinham o domínio", ressaltou.
O secretário de Segurança afirmou que "problemas existem e vão continuar", mas "o trabalho tem índices quantitativos e qualitativos que são animadores". Até o início da noite de ontem, 32 veículos e 300 trouxinhas de maconha foram recolhidos no Morro da Mangueira. Dois menores foram apreendidos e um adulto foi preso com entorpecentes.



Áreas policiadas

Com a operação no Morro da Mangueira, 18 comunidades do Rio de Janeiro passam a ter UPPs. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do estado, 315 mil pessoas são beneficiadas diretamente pela política e cerca de 1,5 milhão indiretamente.

19 de dezembro de 2008: Santa Marta
16 de fevereiro de 2009: Cidade de Deus

18 de fevereiro de 2009: Jardim Batam

10 de junho de 2009: Chapéu Mangueira/Babilônia

23 de dezembro de 2009: Pavão/Pavãozinho/Cantagalo

14 de janeiro de 2010: Tabajaras/Cabritos

26 de abril de 2010: Providência

7 de junho de 2010: Borel

1º de julho de 2010: Formigas

28 de julho de 2010: Andaraí

17 de setembro de 2010: Salgueiro

30 de setembro de 2010: Turano

25 de novembro de 2010: Vila Cruzeiro

30 de novembro de 2010: Morro dos Macacos

31 de janeiro de 2011: São João/Matriz/Quieto

25 de fevereiro de 2011: Coroa/Fallet e Fogueteiro

25 de fevereiro de 2011: Prazeres/Escondidinho

19 de junho de 2011: Morro da Mangueira

750 Quantidade de homens que participaram da ocupação do Morro da Mangueira, entre policiais civis, militares, federais e fuzileiros navais


Traficantes há 30 anos

Berço de uma das mais tradicionais escolas de samba, o Morro da Mangueira foi imortalizado por Nelson Sargento, Beth Carvalho, Cartola, Nelson Cavaquinho, Jamelão e outras dezenas de bambas. A favela surgiu de alguns barracos nas terras do Visconde de Niterói e passou a ser conhecida como Morro dos Telégrafos. Pouco depois, foi instalada ali perto uma indústria com o nome de Fábrica de Fernando Fraga, que produzia chapéus e que, em pouco tempo, passou a ser conhecida como fábrica das mangueiras, já que a região era uma das principais produtoras da fruta no Rio de Janeiro.
Não demorou muito para que a Fábrica de Fernando Fraga mudasse para Fábrica de Chapéus Mangueira. O novo nome era tão forte que a Estrada de Ferro Central do Brasil batizou de Mangueira a estação de trem inaugurada em 1889. A elevação ao lado da linha férrea também começou a ser chamada de Mangueira, enquanto o antigo nome de Telégrafos permaneceu para identificar apenas uma parte do morro. Atualmente, Telégrafos, Pindura Saia, Santo Antônio, Chalé, Faria, Buraco Quente, Curva da Cobra, Candelária e outros são pequenos núcleos populacionais que formam o complexo do Morro de Mangueira.
No início da década 1980, a comunidade já era amplamente dominada pelo poder dos traficantes. Ao longo dos anos, investigações da polícia mostraram a influência dos criminosos na escola de samba. Em janeiro de 2008, a Operação Carnaval, da Polícia Civil, buscava o traficante Tuchinha, que, naquele ano, assinava o samba da escola com um codinome. Durante as investigações, a polícia encontrou uma passagem secreta que ligava a quadra da Mangueira a casas da favela.


NOTAS

ACIDENTE AÉREO
Piloto com licença vencida
O empresário Marcelo Mattoso de Almeida, 48 anos, que pilotava o helicóptero que caiu, na última sexta-feira, em Porto Seguro (BA), estava com a habilitação vencida desde julho de 2005, segundo o site da Agência Nacional de Aviação Civil. Três das sete pessoas que estavam a bordo da aeronave continuam desaparecidas: o piloto; Jordana Kfuri Cavendish e Mariana Noleto, nora do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Ontem, o Comando da Marinha do Brasil encontrou destroços do helicóptero. Mergulhadores encontraram a cabine da aeronave. As buscas estão sendo feitas em uma área de aproximadamente sete quilômetros quadrados.


OPINIÃO
Lição política

Rubem Azevedo Lima

Nos anos da ditadura militar, o deputado José Bonifácio, presidente da Câmara Federal, dizia que a melhor bússola de seu comportamento político era o contrário do que falavam os adversários, a seu respeito. "Quando os comunistas me elogiam" — afirmava ele — "tenho certeza que fiz alguma coisa errada".
Ele considerava comunistas quase todos os jornalistas. Recordo entrevista que Tarso de Castro e este repórter fizemos com ele, para um suplemento da Folha de S.Paulo, no começo dos anos 70 do século passado. Castro prepara o gravador para iniciarmos e lhe indaga, de saída: "É verdade que o senhor acha que todo jornalista é comunista?" "Todos, não. Só os que atuam no Congresso" — respondeu.
À época, apesar da vigilância militar sobre a imprensa, a maioria dos jornalistas políticos, de jornais e revistas ainda relativamente livres, não poupava a "redentora", como chamavam o regime de 1964.
Descambava-se, então, para a intolerância, a violência e logo à tortura, mas a imprensa aproveitava todas as brechas, para informar o leitor. Udenista e "revolucionário" de carteirinha, o deputado troçava com a imprensa, mas um agente do SNI (a polícia secreta da ditadura) aproveitou e pouco depois divulgou uma lista de nomes de jornalistas supostamente comunistas, muitos dos quais foram presos.
Hoje, num regime democrático desfigurado, de medidas provisórias e vetos a CPIs, as oposições combalidas lembraram-se da prática de Bonifácio. Ante a prestante maioria do governo, Dilma nomeou mulheres combativas, Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann, aquela mais brigona, mas ambas duras, para comporem seu governo. Oposicionistas argutos festejaram tais nomeações, à la Bonifácio.
Para esses, o elogio de Dilma a FHC foi um gesto para ganhar simpatia do povo e dos adversários. Bonifácio fez o mesmo, para tornar o golpe de 64 simpático ao povão. Pois alguns oposicionistas se dispõem ao confronto desigual no Congresso, até 2014. Esses querem a simpatia tradicional, que o povo dá aos mais fracos, nas lutas justas. Muitos foram na conversa de Bonifácio, então. Hoje, ninguém iria.


FESTA JUNINA
Na casa de Dilma, não vai ter "arraiá"

Leandro Kleber

Ao contrário do seu antecessor, a presidente Dilma Rousseff não fará o tradicional “arraiá” presidencial da Granja do Torto, segundo a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, que não explicou o porquê da decisão. Durante os dois mandatos de Lula, a então primeira-dama, Marisa, organizou pessoalmente as festas juninas que acabaram virando tradição em Brasília. Familiares, amigos, ministros e políticos aliados frequentavam a festa realizada na residência oficial.
“Seria uma boa opção na agenda, pois se trata de uma festa nacional muito importante”, diz o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que participou de algumas das festas nos tempos de Lula. “Se a presidente Dilma fizesse uma e eu fosse convidado, evidentemente iria”, garante.
Nos bastidores do Congresso, porém, comenta-se que um “arraiá”, agora, poderia ajudar a presidente Dilma a “fazer o meio de campo político”. Como a petista está mais empenhada nas articulações, graças à crise Palocci, a festa poderia ser uma oportunidade de aproximação com deputados e senadores da base aliada.
Em 2009, a festa junina no Torto contou com a participação de Dilma, que à época era ministra-chefe da Casa Civil e pré-candidata do PT à sucessão presidencial. A presença da então ministra, que foi vestida a caráter, com chapéu de palha e camisa xadrez, porém, não foi confirmada de início. Ela ficaria em Porto Alegre e só voltaria a Brasília um dia depois do evento.
Mesmo caracterizada, Dilma, que acabara de completar a primeira etapa do tratamento contra o câncer linfático, não acompanhou o casal presidencial e alguns convidados na procissão em homenagem a Santo Antônio, puxada por Gilberto Carvalho, então chefe de gabinete do presidente e hoje ministro da Secretaria-Geral.
Na última festa junina do mandato de Lula, no ano passado, Dilma, lançada candidata oficial últimdo PT à Presidência, não foi. Ela estava em viagem para cumprir agenda na Europa e acompanhou, naquele fim de semana, o velório do escritor português José Saramago em Lisboa.
Com a decisão de Dilma, outra tradicional festa de São João marcada para quarta-feira desta semana em Brasília deverá ganhar ainda mais visibilidade. É a do ex-senador José Jorge, que foi ministro das Minas e Energia no governo Fernando Henrique Cardoso.

A caráter
Seguindo o costume, o casal presidencial recebeu os convidados, em 2010, vestido a caráter. No convite, “pessoal e intransferível”, eles pediram aos convidados que também usassem trajes juninos e levassem um prato típico, doce ou salgado. O arrasta-pé presidencial contava ainda com quadrilha e casamento caipira. Antes de assumir a Presidência, Lula e Marisa faziam festas juninas na chácara deles, a Los Fubangos, em São Bernardo do Campo (SP).


REFUGIADOS
Novos destinos
Relatório da ONU para 2010 mostra que países em desenvolvimento recebem 80% dos que fogem de conflitos. Revoltas árabes devem complicar o quadro em 2011

Renata Tranches

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) marca hoje a passagem do Dia Mundial dedicado ao tema com uma constatação e um alerta. O relatório anual sobre a situação dos refugiados relativo a 2010 mostra que a rejeição aos estrangeiros e imigrantes nos países industrializados desviou o fluxo do refúgio para os países em desenvolvimento. Hoje, eles acolhem 80% das pessoas sob os cuidados do Acnur. Nesse quadro, o órgão lembra que 2011 será marcado pelo deslocamento de mais dezenas de milhares de cidadãos do Norte da África e do Oriente Médio, afetados pelas revoltas em série em favor da democracia.
Tradicionalmente, pondera o texto, países em desenvolvimento recebem mais refugiados do que os desenvolvidos, mas a diferença nunca foi tão acentuada. Diante dos dados contidos no relatório Tendências Globais 2010, não é difícil prever que a situação tende a se acentuar: além das turbulências no mundo árabe, a crise financeira está fechando portas na Europa.
Na avaliação do representante do Acnur no Brasil, Andres Ramirez, o mais provável é que os conflitos na Líbia, na Síria e mesmo o êxodo de civis da Tunísia se somem a situações que se desenrolam há anos, como a do Afeganistão, ou às guerras civis endêmicas no continente africano. Na Costa do Marfim, milhares de pessoas foram deslocadas no ano passado. Ramirez considera pouco provável que uma solução política no Iraque ou no próprio Afeganistão possa mudar o panorama no curto prazo, com o retorno em massa dos refugiados.
O relatório Tendências Globais 2010 mostra que alguns dos países mais pobres do mundo estão acolhendo uma grande população de refugiados. Muitas vezes, trata-se de economias e sociedades com perfis semelhantes. Para se ter uma ideia, os refugiados da Costa do Marfim costumam deslocar-se para oito vizinhos da África Ocidental que estão entre as nações menos favorecidas.
Outro exemplo de discrepância vem da relação entre o número de refugiados por dólar do PIB per capita de um país. O Paquistão é uma das nações que sente o maior impacto, com 710 refugiados por dólar do PIB per capita. Em seguida vêm a República Democrática do Congo e o Quênia, com 475 e 247 refugiados por dólar, respectivamente. Para comparação, a Alemanha, o país com a maior população de refugiados entre os industrializados, tem apenas 17 por dólar do PIB per capita. Dentro dessa perspectiva, o relatório do Acnur diz que as 20 nações com o maior número de refugiados são países em desenvolvimento. Entre eles estão os 12 menos desenvolvidos.

Rejeição
O cenário futuro tende a recrudescer também por conta da deterioração econômica nos países desenvolvidos, que tem feito aumentar o sentimento antirrefugiado. Ramirez analisa que, quando há um período de bonança, especialmente na Europa, as portas ficam um pouco mais abertas, porque as economias em expansão precisam da força de trabalho e da mão de obra barata que essas pessoas propiciam. Mas a situação volta a se dificultar para os estrangeiros quando a conjuntura econômica regride. "O problema é que não estamos falando de pessoas que estão saindo de seus países para buscar melhoria de vida. São pessoas que estão fugindo e tentando se salvar de um conflito."
O representante do Acnur ilustra com o exemplo da Líbia, onde uma guerra civil está em curso, com direito a intervenção militar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Com o agravamento da crise, milhares de imigrantes e refugiadas de outros países que viviam na Líbia saíram em fuga desesperada pelo mar, em busca de abrigo na ilha italiana de Lampedusa. A tentativa de procurar abrigo em outros países da União Europeia, a partir dali, esbarrou em forte recusa da França, que impediu um trem de refugiados de entrar em seu território e deu início a uma rusga diplomática com Roma. O irônico é que o governo de Paris foi justamente quem encabeçou a campanha na Líbia, dando início aos bombardeios, em março passado.



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