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terça-feira, 21 de junho de 2011

21 de junho 2011 - ESTADO DE SÃO PAULO


No primeiro teste da articulação, PMDB cobrará de Ideli 48 cargos pendentes
Dirigentes do partido reúnem-se hoje com a ministra das Relações Institucionais para debater nomeações não concretizadas desde o início do governo, quando uma lista de 55 nomes foi entregue ao então ministro da Casa Civil Antonio Palocci

João Domingos / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Unido, o PMDB tem hoje programado o seu primeiro encontro com a nova responsável pela articulação política do governo, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), para cobrar 48 nomeações no segundo e terceiro escalões prometidas desde o início do governo e que ainda estão pendentes.
O partido aproveitará a reunião para lembrar a necessidade de liberação de emendas parlamentares, o que é garantia de voto certo nos projetos de interesse do governo.
Participarão do encontro com Ideli Salvatti os líderes do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), e do governo no Senado, Romero Jucá (RR) - o chamado "trio da cobrança" - além do presidente da sigla, senador Valdir Raupp.
O PMDB tem 80 deputados. Na votação do salário mínimo de R$ 545, foi o partido mais fiel, à frente do próprio PT.
Já na votação do Código Florestal na Câmara, o partido deu uma surra no governo, pois o então ministro Antonio Palocci (Casa Civil) não havia dado resposta ao pleito de 50 cargos.
Na última sexta-feira foram atendidos dois pedidos do PMDB: a nomeação de Oscar Jucá, irmão do senador Romero Jucá (RR), líder no Senado, e Marcelo Mello, afilhado do PMDB de Goiás, para diretorias da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Desde que o partido iniciou a disputa com o governo pelos cargos, as bancadas no Senado e na Câmara passaram a trabalhar unidas, sem as velhas rixas que as marcaram no passado por causa do preenchimento de cargos. Tanto é que uma lista de 55 nomes entregue ao Planalto ainda em fevereiro foi feita de comum acordo entre as duas partes.

Liquidado. Até agora, da relação apresentada pelo PMDB, a presidente Dilma Rousseff aproveitou sete indicações, considerando as duas feitas na sexta-feira: Geddel Vieira Lima para a Diretoria de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Orlando Pessuti para uma vaga no Conselho de Administração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Elias Fernandes para a diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Flávia Grosso para o comando da Zona Franca de Manaus e Colbert Martins para uma diretoria da Embratur.
As maiores pressões do partido para as novas nomeações recaem sobre os ex-senadores José Maranhão (PB) e Leomar Quintanilha (TO), para os quais são pedidas diretorias em bancos oficiais, e Valter Pereira (MS), que poderá ocupar uma diretoria do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Eunício Oliveira (CE), exige a nomeação de Cesar Augusto Pinheiro para a diretoria de Infraestrutura do Dnocs. O partido quer ainda duas diretorias do BNDES, manter Pedro Alcântara na diretoria Administrativa da Chesf, uma diretoria do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) para Mauro Benevides Filho, filho do deputado Mauro Benevides (CE), e uma diretoria da Petroquisa para Marcos Melo.

Liderança. De acordo com informações do Palácio do Planalto, Dilma deverá escolher o senador Eduardo Braga (AM) para o cargo de líder do governo no Congresso. Com isso, ela recompensará Braga, tido como responsável pelos mais de 80% dos votos que obteve no Amazonas na eleição presidencial, deixando de lado o deputado Mendes Ribeiro Filho (RS), candidato ao cargo, mas desgastado depois da votação do Código Florestal.
"Nós esperamos que o líder seja o Mendes Ribeiro. Seria importante para a Câmara. Mas essa é uma decisão da presidente", afirmou o líder Henrique Eduardo Alves, resignado. Os deputados do PMDB argumentam que escolha de mais um senador para o cargo põe a Câmara em desvantagem. /COLABORARAM CHRISTIANE SAMARCO E EUGÊNIA LOPES


ESPAÇO ABERTO
Pacífico, mas não desarmado

*Luiz Eduardo Rocha Paiva - O Estado de S.Paulo
"Não se pode ser pacífico sem ser forte" Barão do Rio Branco (referência de estadista e diplomata)

O Brasil pretende alcançar o status de potência global e a Nação precisa ter consciência de que essa posição implica tomar atitudes no cenário internacional, não só no campo diplomático, mas também no militar, onde os custos costumam ser altos. No âmbito interno, sendo uma democracia, a sociedade terá poder para pleitear um nível de bem-estar compatível com a pujança econômica do País, em via de ser uma das cinco maiores economias do mundo. Tal grau de desenvolvimento implicará o consumo de recursos em montante e diversidade que exigirão explorar sem ingerência estrangeira as riquezas nacionais, algumas escassas noutras partes do mundo e vitais à sobrevivência de potências globais. Além disso, também precisará garantir o acesso a fontes externas de matérias-primas em face da dificuldade de satisfazer as crescentes aspirações e necessidades da Nação, explorando apenas os recursos internos, parte dos quais serão produtos de exportação ou reserva estratégica. O cidadão deve estar ciente de que essas exigências são comuns a todas as potências globais e fontes de conflitos de interesses.
Portanto, um Brasil potência mundial deveria ter Forças Armadas (FAs) aptas, de fato, a defender a Pátria e apoiar a política exterior - suas missões mais relevantes. A primeira requer capacidade de proteger o patrimônio e o território, dissuadindo ameaças e, se preciso, revidando agressões. A segunda implica dispor de forças de pronto emprego, a fim de compor uma força expedicionária, seja autônoma para garantir interesses vitais próprios, seja subordinada a organismos internacionais para atender a compromissos externos do País; e, também, de forças aptas a participar de missões de paz e humanitárias, sendo estas últimas as únicas disponíveis, ainda assim com restrições.
Porém o Brasil cometeu o erro estratégico de importar a visão das potências ocidentais, nascida após a queda da URSS, de que as FAs deveriam preparar-se para enfrentar novas ameaças - terrorismo, crimes ambientais, crime organizado, violações de direitos humanos e de minorias, desastres naturais, litígios étnicos, sociais e religiosos - e também para missões de paz e humanitárias. É a nefasta servidão intelectual, que não contextualiza conceitos do Primeiro Mundo à realidade brasileira. Ora, com a queda da URSS, os países europeus e os EUA deixaram de ter uma ameaça militar a seus territórios e passaram a se preocupar apenas com as que afetam seus interesses imperialistas em todo o mundo. O Brasil, ao contrário, tem ameaças ao seu patrimônio na Amazônia Verde, cuja soberania é discutida mundialmente, e na Amazônia Azul, ambas vulneráveis e com riquezas cobiçadas por potências contra as quais não temos a menor capacidade de dissuasão. Falta de visão e servidão intelectual das lideranças, aliadas à submissão ao politicamente correto (máscara da tibieza moral), ao não apontar as reais ameaças e sua magnitude, desviaram o País do que deveria ser o foco das estratégias de defesa. Ora, contra novas ameaças, para que mísseis, canhões, forças blindadas, caças e submarinos? Resultado: FAs raquíticas, obsoletas e sem um projeto integrado que oriente sua evolução. É intenção dos EUA e aliados que as FAs da América do Sul deixem a defesa externa em suas mãos, voltando-se para as novas ameaças e liberando-os para a concretização de interesses prioritários. Quem nos protegeria dos novos protetores?
O Ministério da Defesa é um interlocutor fraco no núcleo decisório do Estado, onde prevalece o Ministério das Relações Exteriores (MRE) que, incoerente com o status pretendido para o País, endossa a ideia de Brasil potência da paz, cuja atuação restrita ao soft power seria suficiente para uma forte influência internacional, dispensando um poder militar compatível com seu perfil estratégico. O MRE advoga a assinatura de acordos do interesse das potências dominantes, que restringem o desenvolvimento científico-tecnológico e militar ou põem em risco a soberania em áreas estratégicas nacionais. Ora, a vocação pacífica do Brasil está na Constituição como guia de nossas relações internacionais, mas não obriga o País a estar desarmado. A Carta Magna estabelece que soberania e independência são objetivos nacionais e que o presidente da República tem de sustentar a integridade do Brasil, imposições que implicam um poder militar compatível com os desafios de um mundo onde o poder subordina o direito.
A necessidade de atribuir alta prioridade ao fortalecimento das FAs teria de ser esclarecida à Nação, mas a liderança nacional visa o retorno político imediato, mesmo comprometendo a segurança das gerações vindouras. A indigência militar e científico-tecnológica do Brasil só será revertida com alto e permanente investimento nesses setores. A transformação do País numa das cinco maiores potências militares, num lapso de duas décadas, deve ser política de Estado, pois antes desse horizonte temporal seremos um dos cinco maiores PIBs do planeta. Alcançado esse patamar, a única ameaça militar à segurança do território e à exploração soberana do patrimônio, interesses inegociáveis do País, viria de conflitos com os EUA, isolados ou coligados a outras potências. China e Rússia, embora já se projetem sobre o entorno brasileiro, seriam dissuadidas pelos EUA de ameaçar, de per si, militarmente o Brasil.
A razão indica e a experiência comprova que não existe grandeza comercial que seja durável se não puder unir-se, necessariamente, a uma potência militar (Tocqueville). O Brasil potência da paz é um ator de peso apenas em agendas como a econômica e a ambiental, sendo irrelevante em questões que exijam não discursos utópicos e bravatas, mas uma postura de potência real, sem delicadas adjetivações.

*GENERAL DA RESERVA, PROFESSOR EMÉRITO E EX-COMANDANTE DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO, É MEMBRO DA ACADEMIA DE HISTÓRIA MILITAR TERRESTRE DO BRASIL


NACIONAL
Sarney critica sigilo em obras da Copa de 2014
Presidente do Senado quer mudar MP enviada pelo governo que trata das licitações para eventos esportivos

Rosa Costa / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Em declaração com potencial de desgastar o Planalto, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), manifestou-se ontem contra qualquer sigilo no orçamento das obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. O governo alega que não há na Medida Provisória 527 nenhum trecho que impeça a fiscalização pelos órgãos de controle e sustenta que o sigilo só protege parte da licitação como estratégia para baratear custos.
"Eu acho que nós devemos encontrar uma maneira de retirar esse artigo da MP, uma vez que ele dá margem inevitavelmente a que se levantem muitas dúvidas sobre os orçamentos da Copa", disse Sarney, referindo-se à medida provisória, cujo texto-base foi aprovado pela Câmara na semana passada. Os deputados ainda terão de examinar cinco destaques à proposta, que só deve chegar ao Senado no início de julho.
Aprovado sob a denominação de Regime Diferenciado de Contratações (RDC), o dispositivo foi criticado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, para quem não se pode ter despesa pública protegida por sigilo. Gurgel classificou o item de "escandalosamente absurdo".
Para Sarney, o Senado deve encontrar uma maneira de retirar esse artigo da MP. "Não vejo nenhum motivo para que se possa retirar a Copa das normas gerais que têm todas as despesas da administração pública", afirmou.

Divergências. O líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), e o senador Walter Pinheiro (PT-BA) discordam sobre a saída ideal para concretizar a retirada do dispositivo. Dias defende a devolução da MP ao governo, por considerá-la "comprovadamente inconstitucional". "A devolução significaria a defesa da instituição, que tem sido atropelada por MPs dessa natureza." O tucano se comprometeu a votar rapidamente o projeto que vier a substituir a MP.
Já Pinheiro elogiou da tribuna a iniciativa de Sarney. "Isso fortalece a tese de que devemos ter tudo de forma transparente, principalmente algo que envolva obras", justificou. Mas apontou como saída a adoção de um acordo com a presidente para que ela vete as partes que tratam do sigilo no processo de licitação.
O petista explicou que o veto impediria a rejeição da medida e consequente atraso nas obras da Copa do Mundo. "Não podemos derrubar a MP como um todo."

MPs. Em outro foco de tensão, Sarney desafiou a resistência do governo com relação às mudanças no rito de tramitação das medidas provisórias. Ele anunciou que, se a proposta de emenda constitucional preparada pelos senadores não for aprovada pela Câmara, vai devolver ao governo as medidas provisórias que chegarem à Casa faltando menos de dez dias para perder a validade. "Se nós não chegarmos a uma conclusão, eu não lerei nenhuma MP que chegar ao Senado dez dias antes de seu vencimento", ameaçou.
O texto relatado pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) sobre a mudança do rito das MPs está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), aguardando o aval do governo para que sejam examinadas as emendas recebidas no plenário da Casa. Pela proposta, a Câmara passará a ter 50 dias para votar uma MP e o Senado, 45 dias. Hoje os deputados praticamente utilizam o prazo de 120 dias, encaminhando o texto ao Senado na véspera da perda de validade.




OPINIÃO
Exercício da razão

Dora Kramer

Desde que o PT virou governo, raras vezes se vê uma liderança do partido produzir uma análise da conjuntura clara, substancial e proveitosa.
Isso não porque entre os petistas não existam formuladores competentes. Existem vários. Ou melhor, existiam quando o partido era oposição e eles costumavam destoar da estridência de uns e do sectarismo de outros.
Depois de 2003, os que não se recolheram a atividades regionais encamparam o projeto de poder de tal forma que substituíram a capacidade (ou a liberdade) de interpretação pela necessidade de se expressar por bordões meramente governistas.
Marcelo Déda, governador reeleito de Sergipe, em entrevista à edição de ontem do jornal Valor Econômico, recupera a embocadura da linhagem dos formuladores petistas com uma avaliação consistente sobre partido e governo. Afirma o sentimento partidário sem perder o senso crítico.
Sobre a reunião de Guido Mantega com os governadores para discutir a reforma tributária Déda diz o seguinte: "Sentamos à mesa e percebemos que não era nada de reforma. Era uma nova regulação do ICMS. Então, vamos chamar o bicho pelo nome, porque não sabemos se morde ou não. Foi uma valsa vienense mal executada".
Veto presidencial à distribuição dos royalties do pré-sal: "Um veto presidencial tem de ser apreciado pelo Congresso. Esse trunfo é favorável a nós. O veto não caiu porque não foi votado e quem segura o veto é a gaveta do Sarney".

Articulação política: "Precisa refletir a ação do presidente. O que sustenta a articulação política é o interlocutor no Congresso saber que aquele ministro tem mandato do presidente para resolver questões e encaminhar problemas".

PT e o governo: "O PT não pode perder de vista que é o partido da presidente e que tem a primeira das responsabilidades na garantia da estabilidade, mas a presidente é o árbitro da governabilidade. O PT tem de entender isso e não fomentar a instabilidade".

PT e os cargos: "Hoje o PT aparece mais na mídia pedindo cargos que apresentando propostas. Devemos reivindicar nosso espaço, mas precisamos qualificar nossa relação com o governo".

PT x PMDB: "Ceder é um verbo que não existe nem no dicionário do PMDB nem no do PT. Como grandes partidos, costumam ocupar mais espaço e não recuar naquele que já conquistaram. O problema não é de nenhum dos dois partidos, é da presidente como juíza da ocupação desses espaços".

Caso Palocci: "Se no início tivessem sido dadas explicações e negociada uma explicação ao Congresso, talvez houvesse capacidade de gerir a crise. Trabalhou-se como se o tempo fosse um aliado e quando se mostrou um inimigo a situação estava perdida".
Partidário, sem perder a civilidade nem ceder à bajulação, Marcelo Déda é raridade por algo que deveria ser trivial: o exercício da razão.

Financiador. Novidade mesmo no caso dos aloprados não é o fato de Aloizio Mercadante saber da trama. Isso ficou patente à época quando o coordenador da campanha dele ao governo de São Paulo, em 2006, foi um dos envolvidos na compra de um dossiê contra José Serra.
Novidade é a revelação de que Orestes Quércia (falecido em 2010) foi um dos financiadores da operação e, portanto, dono ao menos em parte do dinheiro (R$ 1,7 milhão) encontrado pela polícia com os petistas e de cuja origem nunca se soube.

Tempos estranhos. O deputado Chico Alencar constata que "algo está fora da ordem nacional, além dos jabutis nas medidas provisórias", e enumera os exemplos.
"Aldo Rebelo virou guru dos ruralistas; Sarney Filho, líder dos ambientalistas; José Guimarães, petista aplaudido por Ricardo Teixeira e Joseph Blatter; Luís Adams, advogado-geral da União, defende Anistia dos torturadores (de Dilma), e a presidente se alia a Sarney e Collor para manter sigilo eterno dos documentos oficiais."
E conclui: "Ásperos tempos de sinais trocados, cartas embaralhadas e coerência política em franca extinção".


REGIME MILITAR
Para ver Carter, d. Paulo driblou igreja e governo
Papéis revelam como o cardeal e o presidente dos EUA se encontraram à revelia dos militares

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / GENEBRA

Jimmy Carter, presidente dos Estados Unidos entre 1977 e 1981, manteve amplo contato com dissidentes brasileiros durante o regime militar e buscou formas de se reunir com vozes contrárias ao governo. É o que revelam documentos que estavam guardados pelo Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra. Um desses dissidentes era d. Paulo Evaristo Arns, cardeal-arcebispo de São Paulo. Cartas e conversas entre os dois revelam o objetivo mútuo de forçar o regime a se abrir.
No domingo, o Estado revelou o teor de documentos que fazem parte de um arquivo de mais de 3 mil páginas mantido pelo Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra. Os papéis detalham a atuação de d. Paulo para denunciar a tortura durante a ditadura.
O diálogo entre o religioso brasileiro e o presidente americano sobre a situação no Brasil começou em 1977. Em 29 de outubro daquele ano, o cardeal enviou uma carta alertando Carter sobre a repressão, com uma lista de nomes de pessoas que haviam desaparecido. D. Paulo relata uma situação crítica. "Nos últimos anos, eu tenho tido o triste privilégio de dar conselhos pastorais e conforto a muitos parentes e amigos de prisioneiros políticos que desapareceram", escreveu a Carter, lembrando que entre eles estava até um cidadão americano, Paulo Stuart Wright.
Poucas semanas depois, Carter responderia, informando que adiara sua visita ao Brasil, prevista para aquele ano, para 1978. Mas deixou claro que estava preocupado com a situação no País. "Esses casos enfatizam a importância do Estado de Direito, com seu direito a habeas corpus e processos devidos por cortes civis independentes", observou Carter.
A carta ainda mostra o prestígio do cardeal brasileiro. "Seu trabalho em nome da dignidade humana me faz sentir honrado de dividir o campo com você na Universidade Notre Dame", escreveu Carter.




Manobras. O encontro prometia ser delicado e ao mesmo tempo explosivo. Uma primeira tentativa foi a de incluir São Paulo no itinerário de Carter, o que daria a possibilidade de um encontro com d. Paulo. Mas essa possibilidade foi abandonada.
O Rio acabou escolhido como alternativa para o encontro. Mas, para impedir a denúncia, o governo e parte da Igreja fizeram questão de montar uma reunião entre Carter, d. Paulo e cinco arcebispos, vários dos quais tinham posições favoráveis ao governo militar. O encontro não seria a ocasião adequada para d. Paulo revelar a repressão. Mas a diplomacia americana encontrou uma forma de driblar o protocolo. Cyrus Vance, então secretário de Estado norte-americano, pôs d. Paulo no carro que levaria Carter ao Aeroporto do Galeão. O trajeto foi a ocasião que d. Paulo precisava para fazer suas denúncias.
Durante o trajeto, ele não trataria apenas do Brasil, mas reivindicaria uma posição dos EUA mais favorável à população dos países no Terceiro Mundo. O cardeal apresentou um memorando responsabilizando a Casa Branca pela proliferação de regimes militares, criticando as multinacionais e alertando sobre a situação de milhões de pessoas pelo mundo oprimidas por sua posição política, base religiosa ou raça.
No Galeão, Carter foi friamente recebido por militares, em uma rápida cerimônia de despedida. D. Paulo evitou as câmeras e deixou o local antes da decolagem do avião de Carter. O porta-voz do Itamaraty garantiu à imprensa que o presidente americano não mencionara os temas de direitos humanos nos encontros oficiais. Para a imprensa estrangeira, a Casa Branca desmentiu a versão e confirmou que o tema havia sido central na viagem.



Nos relatórios, a estratégia para provar torturas
Organizadores negociaram publicação das revelações nos Estados Unidos, para garantir difusão mundial das denúncias

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
GENEBRA


Mapa das torturas. Roteiro traça o caminho por onde os
organizadores passariam para coletar as evidências dos crimes
Os documentos guardados desde os anos 80 pelo Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, revelam a meticulosa preparação durante anos, sempre sob o receio de serem descobertos pelo regime militar, do trabalho de d. Paulo Evaristo Arns, do reverendo Jaime Wright e uma série de colaboradores que culminaram no Brasil: Nunca Mais e a revelação dos nomes de 444 torturadores e de 240 locais em que esses crimes eram praticados por agentes do Estado.
Papéis obtidos pelo Estado mostram que os organizadores do trabalho previam um cronograma detalhado de como reuniriam as provas dos crimes no Brasil. Nada ocorria por acaso ou sem uma estratégia. Orçamentos detalhados previam gastos com xerox e máquinas de escrever, entre outros, seis anos antes da publicação da obra, em 1985.
Em um dos relatórios, os organizadores traçam a rota de viagens que fariam pelo País para coletar as evidências dos crimes de tortura. Os trechos eram marcados de acordo com o meio de transporte a ser usado: avião, ônibus ou carro. As cidades de São Paulo, Rio, Juiz de Fora, Brasília e Belém estavam no roteiro elaborado pelos religiosos.
Em outro documento, os organizadores alertavam para o risco de serem pegos, enquanto membros do próprio Conselho Mundial de Igrejas - o financiador do projeto - admitia que a tarefa estava sendo "de alto risco para muitas pessoas".
Uma das estratégias dos organizadores do material foi a de negociar a publicação das revelações nos Estados Unidos, o que garantiria a difusão internacional das denúncias de torturas. As cartas mostram o interesse de editoras americanas pelo trabalho de d. Paulo e pelo que chamaram de uma coleta de "grande valor para a história do século 20".

Dilma. Num dos documentos, a então estudante Dilma Vana Rousseff Linhares conta que, em 1970, foi "torturada física, psíquica e moralmente" depois de ter sido detida. Segundo sua revelação nos processos que estão com o Supremo Tribunal Militar (STM), ela teria sido torturada "durante vinte e dois dias". Dilma, na época com 22 anos, repetiria que os depoimentos foram prestados "mediante coação física, moral e psicológica".
Num outro processo, Dilma apontou como um dos militares presentes às sessões em que foi torturada o então capitão Maurício Lopes Lima. No ano passado, em entrevistas, o então tenente-coronel reformado negou ter participado das sessões em que Dilma foi torturada.

Repercussão
O impacto da publicação, em 1985, surpreendeu até os financiadores do projeto. O Conselho de Igrejas apontou que a obra mudaria a forma pela qual os brasileiros olhariam para seu País.


Financiamento de ação era desconhecido
Kenneth Serbin ressalta que, até revelação feita pelo ''Estado'', ''ninguém havia falado no volume de dinheiro envolvido''

Roldão Arruda - O Estado de S.Paulo

Para o historiador e brasilianista Kenneth Serbin, professor da Universidade de San Diego, na Califórnia, os documentos inéditos divulgados pelo Estado sobre a maneira como o cardeal Paulo Evaristo Arns coletou fundos para financiar projetos destinados a denunciar violações de direitos humanos na ditadura militar, constituem uma importante contribuição para o estudo daqueles episódios.
"Já era bem conhecido o apoio que o Conselho Mundial de Igrejas ofereceu aos projetos de d. Paulo. Não se conhecia, porém, os detalhes da operação de financiamento, revelados agora pelos documentos que estavam guardados em Genebra", disse ele. "Ninguém havia falado na quantidade de dinheiro envolvido e na forma como foi utilizado. São informações importantes para os historiadores."
Serbin é autor do livro Secret Dialogues: Church-State Relations, Torture, and Social Justice in Authoritarian Brazil, lançado em português com o título Diálogos na Sombra. O foco de suas pesquisas é justamente o diálogo e as tensões entre lideranças da Igreja Católica e autoridades militares nos anos da ditadura.
A expectativa do historiador é que os documentos pesquisados em Genebra possam revelar também quais foram as fontes do dinheiro obtido pelo cardeal e que lhe permitiu por em andamento uma das mais vigorosas ações de resistência à ditadura.
"Os recursos podem ter vindo apenas dos fundos normalmente mantidos pelo Conselho Mundial de Igrejas. Mas, considerando a quantidade de contatos que d. Paulo fazia, como diz a matéria do Estado, é possível supor que tenham tido mais de uma fonte. Quem, afinal, ofereceu aqueles US$ 329 mil? Foram diferentes igrejas? Havia alguma organização governamental envolvida?"
O historiador também observa que o cardeal Arns não era a única liderança eclesiástica que trabalhava para obter fundos destinados a financiar a resistência ao regime. "O arcebispo de Olinda e Recife, d. Hélder Câmara, também fazia contatos no exterior. Seu trabalho ainda não foi bem detalhado, mas sabe-se que existia, assim como o de outros padres e bispos."
Em relação aos microfilmes que acabam de ser encaminhados ao Ministério Público Federal pelo Conselho Mundial de Igrejas e que serão digitalizados e colocados à disposição de pesquisadores, Serbin diz que já não constituem novidade para quem tem acesso a arquivos históricos nos Estados Unidos e Europa.
"No Brasil, se algum pesquisador quiser consultar as páginas dos 707 processos da Justiça Militar que serviram de base para o livro Brasil: Nunca Mais, precisa ir até o arquivo Edgar Leuenroth, da Unicamp, e folhear as cópias xerocadas. No exterior, porém, algumas bibliotecas têm cópias desses microfilmes há bastante tempo. No início da década de 2000, um grupo de estudiosos, do qual eu fazia parte, tentou obter cópias desses microfilmes para bibliotecas brasileiros, mas não obteve recursos. Ninguém mostrou interesse em financiar o projeto. É irônico e ao mesmo tempo trágico saber que as instituições brasileiras serão as últimas a ter acesso a esses microfilmes."

PARA ENTENDER
Originais foram para Genebra
Os documentos a que o Estado teve acesso foram mantidos por anos nos arquivos do Conselho Mundial de Igrejas, em Genebra, e revelam os bastidores da ditadura no Brasil. A documentação foi a base para o projeto de d. Paulo Evaristo Arns, que resultou na publicação de Brasil: Nunca Mais, em 1985.
O então secretário-geral do Conselho de Igrejas, Philip Potter, ajudou na coleta de fundos clandestinos para o projeto. Os processos sobre a ditadura eram copiados, enviados para São Paulo, onde eram microfilmados, e seguiam escondidos para Genebra. Quem chegava à Suíça com as informações retornava ao Brasil com dinheiro, escondido, para o projeto.



TRÁFICO
EUA se queixam de ''ausência'' do Brasil no combate às drogas
Americanos cobram mais colaboração nas ações para acabar com as gangues e o tráfico na América Central

Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE/ WASHINGTON

Os Estados Unidos emitiram ontem duas discretas queixas sobre a ausência do Brasil nos esforços de combate ao narcotráfico e à violência na América Central e na África Ocidental. Em ambas as iniciativas, Washington está presente. O Brasil, ao contrário, não aderiu ao chamado Grupo de Amigos da América Central, por meio do qual os países europeus, os Estados Unidos e o Canadá tentam articular uma estratégia conjunta para acabar com as gangues e o tráfico de drogas.
O Brasil igualmente se mostra omisso na iniciativa dos Estados Unidos de cooperar nessas áreas com países da África Ocidental - o destino primário da cocaína transportada pelo território brasileiro.
"A maioria da droga que passa pelo Brasil vai à África Ocidental e, eventualmente, à Europa. Isso pode mudar no futuro. O narcotráfico é bom comerciante e sempre está pronto a buscar uma oportunidade", afirmou o embaixador William Brownfield, secretário-assistente de Estado para o Escritório Internacional de Narcóticos dos Estados Unidos, referindo-se à possibilidade de a droga alcançar o mercado norte-americano. "Para evitar isso, será preciso uma boa colaboração entre os governos do Brasil, dos Estados Unidos e de outros países", completou o embaixador.

Entusiasmo. Segundo o embaixador Brownfield, sem a participação "direta, entusiasmada e positiva" do governo brasileiro, os Estados Unidos e a África Ocidental não terão sucesso em sua iniciativa conjunta na área da segurança cidadã, que envolverá especialmente o combate ao narcotráfico.
O acordo está fase inicial de negociação. O Brasil, por enquanto, não participa dessas conversas. No caso da América Central, a omissão brasileira também é percebida com reservas pelo governo americano.
Em setembro do ano passado, em paralelo à sessão de abertura da Assembleia-Geral das Nações Unidas, houve uma reunião dos países amigos da América Central, com a adesão de novos membros. O governo brasileiro, apesar do seu ativismo em questões latino-americanas, preferiu não participar.
"O Brasil tem excelente relação com países centro-americanos e com os Estados Unidos. Se quiser apostar nessa iniciativa, será bem-vindo", afirmou ontem Arturo Valenzuela, secretário-assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental.

Guatemala. Amanhã, na Cidade da Guatemala, será realizada a reunião de cúpula do Sistema de Integração da América Central (Sica) sobre segurança.
A região se vê dominada por gangues de criminosos e pelo narcotráfico, que encontrou na rota terrestre o melhor meio de alcançar o mercado americano. Esse será o primeiro passo para elaboração de uma estratégia conjunta de combate às gangues, ao tráfico de drogas e de armas, que envolve cerca de US$ 900 milhões em doações já realizadas pelos Estados Unidos, por países europeus e pelo Banco Mundial.
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, estará presente e seguirá, depois, para a discussão de iniciativa similar do Mercado Comum do Caribe (Caricom), na Jamaica.
Segundo Valenzuela, os Estados Unidos iniciaram conversas com o Brasil sobre um possível acordo trilateral com a Bolívia sobre o combate ao narcotráfico.
O país vizinho expulsou os agentes da agência antidrogas americana (DEA, na sigla em inglês) há três anos, com total apoio do governo brasileiro. Desde então, a produção de coca no país aumentou, e seu tradicional destino também mudou.

Queda. Valenzuela e Brownfield insistiram no fato de o consumo nos Estados Unidos ter caído em 50% nos últimos dez anos, em paralelo ao aumento da demanda pela droga no Brasil e na Argentina.
"Temos aí uma frente bem diferente para a cooperação", completou o secretário Arturo Valenzuela.

CAMINHO

WILLIAM BROWNFIELD - SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE ESTADO PARA O ESCRITÓRIO INTERNACIONAL DE NARCÓTICOS DOS EUA

“A maioria da droga que passa pelo Brasil vai à África Ocidental e, eventualmente, à Europa. Isso pode mudar no futuro”




AVIAÇÃO
Anac abre processo para investigar irregularidades

Tiago Décimo - O Estado de S.Paulo

A Agência Nacional de aviação Civil (Anac) informou ontem que abriu processo administrativo para apurar possíveis irregularidades relacionadas ao acidente com o helicóptero.
O foco das investigações é a situação supostamente irregular do piloto, o empresário Marcelo Mattoso de Almeida, de 48 anos. Ele estaria com a habilitação vencida, não teria licença para pilotar helicóptero e a autorização médica teria vencido em agosto de 2006. Pilotos de mais de 40 anos precisam renová-la anualmente.
Almeida também não teria habilitação para pilotar por instrumentos, o que seria fundamental para a operação da aeronave quando houve o acidente, à noite e sob chuva.
Para conseguir liberação para a decolagem do Aeroporto Internacional de Porto Seguro, Almeida usou, segundo a Anac, dados de outro piloto, Felipe Calvino Gomes, de 29 anos. Entrevistado pela Rede Globo, Gomes disse que pilotou o mesmo helicóptero na semana passada, mas negou ter autorizado o empresário a usar seus dados na Anac.
O Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa) também investiga as circunstâncias do acidente.



Achados corpos de namorada do filho de Cabral e piloto
Os dois estavam em helicóptero que caiu na Bahia na noite de sexta-feira; Jordana Kfuri Cavendish continuava desaparecida

Tiago Décimo / SALVADOR e Felipe Werneck / RIO - O Estado de S.Paulo

Os corpos de mais duas vítimas da queda do helicóptero a 250 metros da Ponta de Itapororoca, em Trancoso (na Bahia), foram encontrados ontem. No início da madrugada, foi resgatado o corpo da estudante Mariana Noleto, de 20 anos, namorada de Marco Antônio Cabral, filho do governador do Rio, Sérgio Cabral. No fim da tarde, um pescador encontrou o piloto, o empresário Marcelo Mattoso de Almeida, de 48.
Almeida foi encontrado a cerca de 4 quilômetros do local do acidente e resgatado por uma lancha particular, de um amigo do empresário, que participa das buscas. Até a noite de ontem, a empresária Jordana Kfuri Cavendish continuava desaparecida.
O corpo de Mariana foi encontrado flutuando nos arredores do local do acidente. Foi levado para o Rio às 11h, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) e enterrado às 17h, no Cemitério São João Batista, em Botafogo, zona sul do Rio.
Cabral, o filho e mais cerca de 300 pessoas acompanharam o funeral. A pedido de parentes da estudante, jornalistas não entraram na capela do cemitério - que ficou lotada - e acompanharam de longe o enterro. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, também acompanhou a cerimônia.
Logo após o sepultamento, Cabral divulgou uma nota: "Mariana Noleto fez parte da nossa família durante sete anos. Namorada de um dos meus filhos, Marco Antônio, ela contagiou a todos nós com a sua leveza e alegria. Estudante aplicada, filha cercada de amor e de amigos, Mariana trará sempre à lembrança todo o seu encantamento", escreveu o governador. "A nossa família está triste e presta os mais profundos sentimentos à família da para sempre querida Mariana. Estendo os sentimentos e lamento às famílias dos demais passageiros do helicóptero que sofreu a queda na noite de sexta-feira."
A Assessoria de Imprensa do governador informou que ele estará de licença até o dia 26, por motivos pessoais.
No mesmo cemitério foram sepultadas outras três vítimas: Luca Kfuri, de 3 anos, filho de Jordana; Fernanda Kfuri, irmã de Jordana e ex-mulher do vocalista da banda Biquíni Cavadão, Bruno Gouveia; e o filho do casal, Gabriel, de 2. A babá de Luca, Norma Batista de Assunção, de 49, foi enterrada ontem em Teolândia (BA), a 277 km de Salvador.

Buscas. Segundo o capitão Jorge Cordeiro, da Capitania dos Portos de Porto Seguro, mergulhadores vasculharam os destroços da cabine do helicóptero, encontrada anteontem à noite a 10 metros de profundidade. No entanto, nenhuma vítima foi encontrada dentro do compartimento, que chegou a ser içado.
O trabalho dos mergulhadores da Marinha está sendo auxiliado por dois navios, três lanchas e dois helicópteros. Mergulhadores particulares, contratados pela família de Almeida, também colaboram com as buscas.




Habilitação de piloto de helicóptero que caiu na Bahia estava vencida, diz Anac
Para obter autorização para voar, ele teria usado informações de outro piloto, que está regular
20 de junho de 2011 | 17h 46

Marcela Gonsalves - estadão.com.br

SÃO PAULO - A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou que as habilitações de Marcelo Mattoso de Almeida, provável piloto do helicóptero que caiu na noite da última sexta-feira, 17, na Bahia, estavam vencidas desde 2005. Ele também não possuía certificado de capacidade física (CCF).
A Anac abriu processo administrativo para apurar as possíveis irregularidades referentes ao acidente. A aeronave pertencia à empresa First Class Group Administração e Participação Ltda.
Segundo o Registro Aeronáutico Brasileiro, a situação da aeronave estava regular. Para obter a autorização do voo, foi declarado no plano de voo o código Anac pertencente ao piloto Felipe Calvino Gomes, que está regular nos registros.
Ao final do processo administrativo, as irregularidades encontradas tanto na documentação do piloto, quanto em sua operação, podem gerar multa, suspensão ou cassação de licenças e certificados pela Anac ao operador.

Acidente. O helicóptero Esquilo prefixo PR-OMO decolou do aeroporto da cidade com destino ao condomínio de luxo Jacumã Ocean Resort, na Fazenda Jacumã, ao norte da praia do Outeiro, ainda no distrito de Trancoso. Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), o voo deveria durar dez minutos. A aeronave decolou de Porto Seguro as 18h41 e deveria pousar na Fazenda Jacumã.
Durante o voo, o piloto não fez contato com o controle de tráfego aéreo local. A última visualização radar da aeronave ocorreu ontem às 18h57 (16 minutos após sua decolagem, a aproximadamente 23 km, em direção ao mar, com relação ao aeródromo de Porto Seguro.
Chovia e havia neblina no momento do acidente segundo as autoridades locais. O motivo do acidente está sendo investigado.
Havia sete pessoas à bordo. Até a tarde de hoje, seis corpos foram resgatados. A empresária Jordana Kfuri segue desaparecida.
As buscas com mergulhadores foram reiniciadas às 6h As buscas aéreas coordenadas pelo Salvaero-Recife estão concentradas na área onde a aeronave foi visualizada pela última vez.

Texto atualizado às 19h35.




AVIAÇÃO/NEGÓCIOS
Embraer vende 39 aviões em Paris
Companhia brasileira chega ao milésimo avião da família EMB vendido

Andrei Netto - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / PARIS

A construtora Aeronáutica brasileira Embraer anunciou ontem a assinatura de contratos de venda de 39 aviões da família ERJ/EMB, em uma encomenda avaliada em US$ 1,7 bilhão. Somam-se ao negócio outras 22 opções de compra, que podem elevar o valor total da transação a US$ 2,6 bilhão.
As cifras alçaram a fabricante de São José dos Campos ao primeiro destaque entre os construtores de aeronaves regionais no primeiro dia do 49º Salão Aeronáutico de Bourget (Paris Air show), superando as concorrentes Bombardier, Sukhoi e ATR.
Os aparelhos foram vendidos para as empresas como a SriJava, da Indonésia - o maior contrato, com 20 jatos - a Kenya Airways, do Quênia, Air Astana, do Casaquistão, GE Capital Aviation Services (Gecas) e Air Lease Corp., dos Estados Unidos. Os contratos de venda foram divulgados ontem, em Le Bourget, e representaram um marco para a companhia, quarta maior do mundo. Com o acordo, ela superou a barreira de mil aviões Emb-170/190 vendidos desde 2004. Há ainda 750 opções de compra em curso.
Os modelos E170, E175, E190 e E195, com capacidades que vão de 70 a 122 lugares, equipam 60 companhias aéreas em 40 países. "É uma grande conquista, principalmente se levarmos em consideração que a marca foi atingida apenas sete anos após a primeira entrega", comemorou Paulo César de Souza e Silva, vice-presidente executivo da Embraer para aviação comercial.
Apesar de sua discrição no Salão de Bourget - a Embraer não trouxe aviões para apresentações em Paris -, os anúncios de ontem destacaram a empresa brasileira na comparação com seus rivais diretos, como a canadense Bombardier, a russa Sukhoi e a franco-italiana ATR. Rival histórica da Embraer, a Bombardier anunciou a venda de apenas dez aviões CS100, além de seis outras opções, em um negócio avaliado em US$ 616 milhões. O nome do cliente não foi revelado.

Otimismo. Souza e Silva também disse esperar pela resposta da companhia aérea americana Delta Airlines, que a partir de outubro deve iniciar um processo de renovação da frota, em uma disputa aberta com Airbus, Boeing e Bombardier. "A nossa expectativa é que a Delta decida em outubro. Estão falando em 250 aviões, sendo 100 jatos regionais", afirmou. "Estamos bem na campanha com a Delta, que já voa com nossos aviões."
Apesar do otimismo, a Embraer enfrenta um revés com a companhia americana JetBlue, que em 2003 firmou contrato de US$ 6 bilhões para a aquisição de 100 aeronaves Emb-190, com opções de compra de outras 100. Por causa da crise na empresa, o contrato corre risco deve não ser honrado. Apenas 49 aviões foram entregues.
O sucesso da Embraer, que superou de longe o número de encomendas anunciadas pelos concorrentes diretos, não apagou a expectativa em torno de uma resposta da companhia brasileira sobre seus planos. No meio aeronáutico, há expectativa crescente sobre a decisão da Embraer de renovar sua família ou lançar-se em um novo projeto, de um avião de maior porte - 150 lugares - capaz de competir com certas linhas da Airbus e da Boeing.
Empresas clientes da Embraer, começam a analisar a possibilidade de adotar o A320NEO (New Engine Option), a versão com nova motorização do aparelho mais vendido da Airbus. Nos bastidores do Salão de Bourget, analistas se perguntam sobre os novos projetos da Embraer, que hesita entre a modernização da família EMB, mantendo-se no mercado de aeronaves com 70 a 122 lugares, e a criação de uma nova família, no segmento de 122 a 150 assentos.
Nesse mercado, a construtora franco-germânica Airbus já anunciou a modernização do modelo A320 com o uso de motores mais econômicos. Já a americana Boeing deve confirmar em breve o destino de seus aviões 737. Com base em uma nova configuração do mercado, a Embraer deve tomar sua decisão.
Em entrevista à agência Reuters no domingo, Frederico Curado, presidente da Embraer, reconheceu que a companhia precisa ajustar sua rota. "Estamos sentindo o aumento da competição e não podemos ter ilusão de que podemos ficar de braços cruzados, sem novos planos e está tudo bem", disse. "A expectativa começa a aumentar. Eu continuo achando que até o fim do ano já teremos um direcionamento bem claro."



Depois da crise, evento marca a retomada do setor aéreo

Andrei Netto - O Estado de S.Paulo
PARIS

Realizado em 2009, o último Salão de Bourget foi definido por especialistas do mercado de aviação civil como "a feira da crise", em razão da turbulência econômica provocada pela quebra do banco Lehman Brothers. Em 2011, o Paris Air Show tornou-se uma boa síntese da retomada do setor em todo o mundo. Mais de 200 aviões já foram vendidos no primeiro dia de mostra, segundo os fabricantes. Não há espaço na área da mostra para exposição de todas as aeronaves.
A crise de 2009 era causada pela ameaça de recessão prolongada. Naquele ano, a perspectiva era de queda de 8% do número de passageiros transportados e de 17% do volume de cargas, segundo pesquisas.
Ameaçadas de fechar seus balanços no vermelho, companhias aéreas de todo o mundo cancelavam pedidos, em compasso de espera. Entre os construtores, como Boeing e Airbus, o momento também era de moderação. Enquanto a americana amargava atrasos nos voos de demonstração do 787 Dreamliner, a europeia postergava a apresentação do cargueiro A400M.
Em 2011 o cenário é muito diferente. A Airbus apresentou o A320neo, que ajudou a catapultar o número de vendas da construtora: 142 no primeiro dia de feira, ou US$ 15 bilhões em negócios. Já a Boeing traz ao salão não apenas o Dreamliner, mas também a nova versão alongada (76,5 metros) do 747, o 747-8, vedete em Paris. Dois clientes, cujos nomes não foram revelados, já formalizaram pedidos de 17 dessas aeronaves, em contratos que somam US$ 5,4 bilhões. No total, a Boeing anunciou a venda de 40 aviões, dos quais seis 777-300 ER, para a Qatar Airways. Segundo a Embraer, o mercado é promissor para aeronaves de pequeno e médio porte, entre 30 e 120 lugares.
Nos próximos 20 anos, segundo cálculos do fabricante brasileiro, a demanda mundial pode chegar a 7,3 mil aviões, ou US$ 320 bilhões.
Parte dessa euforia se deve ao aquecimento do mercado chinês. Só na China, o setor aeronáutico deve apresentar crescimento de 7,5%, pouco superior ao índice da América Latina, 7,2%.


JetBlue vai otimizar frota de jatos Embraer 190
21 de junho de 2011 | 7h 08

REUTERS

21 DE JUNHO - A companhia aérea norte-americana JetBlue anunciou nesta terça-feira revisão de seu cronograma de frota.
A empresa disse que vai otimizar sua frota de jatos Embraer 190 para cerca de 75 unidades.
Além disso, a JetBlue acertou a compra de 40 aviões Airbus A320neo, para entregas após o pedido atual por aeronaves da família A320.

A companhia informou, ainda, que oito aviões A320 que estavam previstos para serem adicionados à sua frota em 2014 e 2015 ficarão para 2017.



RIO
Mangueira terá maior contingente de policiais em uma UPP do Rio
Cerca de 380 policiais farão parte da unidade, que será dividida em quatro bases
20 de junho de 2011 | 19h 06

Pedro Dantas - O Estado de S. Paulo

Em aproximadamente 30 ou 40 dias, as quatro comunidades que serão beneficiadas pela Unidade de Polícia Pacificadora da Mangueira, ocupada no domingo, 20, terão cerca de 380 policiais, o maior número de agentes empregados em uma UPP, superando a da Cidade de Deus (326) e o Morro do Borel (290). Segundo o comandante das UPPs, a unidade será dividida em quatro bases instaladas provisoriamente em contêiner.
O Instituto Pereira Passos da Prefeitura do Rio estima que 22 mil pessoas moram nas favelas da Mangueira e nas vizinhas do Telégrafos, Parque Candelária, Bartolomeu Gusmão e Tuiuti, que também foram ocupadas. Nesta segunda-feira, 20, os órgãos municipais e estaduais promoveram uma faxina nas favelas com o recolhimento de mais de 30 toneladas de lixo, limpeza de valas de esgoto e a derrubada de 74 barracas de vendedores, que funcionavam irregularmente debaixo de um viaduto. A demolição provocou protestos.
"Tenho 56 anos e dependo disto aqui para viver. Estamos aqui por ordem da prefeitura, desde 98. Na época, eles disseram que iam dar quiosques padronizados dentro de um programa de urbanização", disse a vendedora Conceição Aparecida. "O chato é que ontem (domingo) eles avisaram verbalmente. Nós reclamamos e eles entregaram uma notificação. Tivemos que correr para retirar geladeiras e engradados", afirmou Mônica Oliveira, de 45.
O subprefeito da zona norte, André Santos, prometeu que ainda esta semana o projeto de urbanização com os quiosques padronizados estará pronto. "A prioridade é retirar este comércio debaixo do viaduto. Até para fazer o projeto é necessária a demolição. Vamos trabalhar a semana inteira para acelerar a volta destas pessoas ao trabalho", prometeu Santos.
Hoje, o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) distribuiu panfletos com fotos de traficantes do Comando Vermelho, que estão foragidos de favelas ocupadas pela UPP e pelo Exército. O comando da Polícia Militar acredita que as favelas da Baixada Fluminense e da Vila Kennedy (zona oeste) serviram de abrigo para os fugitivos. No entanto, em relação ao tráfico, os moradores adotaram o silêncio. A preocupação agora é com o futuro. Dono de uma birosca na Mangueira, Lúcio Germano, de 30 anos, se preocupa com a falta de emprego causada por remoções e demolições. "Acho que meu movimento pode até aumentar com a UPP, com a chegada de turistas. Agora que eles tiraram aqueles que deveriam sair, o Estado e a Prefeitura precisam resolver a situação das pessoas que ficaram", comentou Germano.
Defensores públicos continuam acompanhando a ação policial. Hoje, até o fechamento desta edição, nenhuma ocorrência de abuso policial foi registrada por eles na região ocupada.



RIO GRANDE DO SUL
Polícia prende bando que alugava armas

A Polícia Civil prendeu ontem 15 integrantes de uma quadrilha especializada no tráfico de armas e drogas, em cinco cidades do Rio Grande do Sul. Além de comercializar os produtos contrabandeados, o grupo costumava alugar espingardas, fuzis e pistolas para assaltantes. Em uma escuta feita durante a investigação, uma mulher que foi presa falava sobre a venda de 18 fuzis da Argentina, a US$ 8 mil cada.


FORÇAS ARMADAS
Marinha faz acordo para compra de helicópteros--empresa
20 de junho de 2011 | 14h 07

REUTERS

A Sikorsky Aircraft anunciou nesta segunda-feira que a Marinha do Brasil fechou acordo junto ao governo dos Estados Unidos para a compra de dois helicópteros Sikorsky S-70B.
Segundo a companhia norte-americana, a Marinha brasileira já havia contratado, em 2010, quatro aeronaves do mesmo modelo, e as entregas dessas unidades devem começar em dezembro deste ano e se estender até o primeiro trimestre de 2012.
"A Sikorsky espera a finalização dos contratos das duas aeronaves adicionais em 2012", afirmou a companhia em comunicado, durante a Paris Air Show, feria de aviação realizada em Le Bourget, nos arredores da capital francesa. A fabricante não revelou valores envolvidos na transação.
O S-70B é um helicóptero de multiemprego que pode ser usado em missões antisubmarino e contra alvos em superfície, afirmou a companhia.

(Por Eduardo Simões)




TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO
Um dia após admitir ''engano'', Otan é acusada de matar mais 15 civis na Líbia
Governo líbio diz que bombardeio em Zurtan tinha como alvo Khoweildi al-Hamidi, um assessor próximo de Kadafi; aliança atlântica reconhece ter lançado o ataque depois de desmenti-lo, mas afirma ter atingido comando de controle do ditador

A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) voltou a ser acusada de matar civis em bombardeios na Líbia. Segundo o governo líbio, ao menos 15 pessoas morreram na madrugada de ontem em um ataque à residência de Khoweildi al-Hamidi, um assessor próximo do líder Muamar Kadafi, em Surman, a 70 km de Trípoli. Na véspera, a Otan tinha admitido pela primeira vez a morte de civis num ataque com mísseis, no sábado.
A Otan, em princípio, negou a nova acusação energicamente. "Não operamos em Surman. Nosso único ataque aconteceu em Trípoli, em um outro horário", disse um porta-voz da aliança atlântica. Ao longo do dia, porém, a coalizão acabou admitindo ter bombardeado Surman. Mas o comando da Otan ressaltou que o alvo era um controle de comando e controle militar.
"Esse bombardeio vai reduzir consideravelmente a capacidade das forças de Kadafi de prosseguir seus ataques bárbaros contra o povo líbio", disse o comandante da operação Protetor Unificado, o general canadense Charles Bouchard, que acrescentou não saber se houve vítimas no ataque de ontem. "Qualquer que seja o lugar no qual Kadafi tente esconder seus centros de comando, nós os encontraremos e os destruiremos."
Segundo o governo líbio, oito mísseis atingiram o complexo por volta das 4 horas de ontem, no horário local. Al-Hamidi é um aliado próximo de Kadafi desde o golpe que o levou ao poder em 1969. Há relatos de que ele comandou o ataque a Zawiya, que pôs fim à resistência rebelde na cidade em março.
O assessor de Kadafi escapou dos ataques porque o prédio do composto que o abrigava não foi atingido, mas, diz o governo líbio, dois de seus netos e uma terceira criança teriam morrido no bombardeio. "Eles (a Otan) estão atacando civis. A lógica é a intimidação", declarou o porta-voz de Kadafi, Ibrahim Moussa. "Eles querem que os líbios desistam da luta e nos desestimular."
Representantes do líder levaram jornalistas ocidentais ao local do ataque. Dois prédios do complexo foram destruídos e um terceiro, parcialmente atingido. As bombas abriram duas grandes crateras no chão. Equipes de resgate com cães farejadores procuravam sobreviventes e ainda havia fumaça no ar, mas uma escola e uma mesquita, localizadas próximas ao composto, estavam intactas.
Na cidade de Sabratha, perto de Surman, médicos mostraram aos repórteres os corpos de ao menos oito pessoas que estariam entre as vítimas do ataque. O hospital era guardado por soldados de Kadafi e havia retratos do ditador nas paredes.
Segundo a agência oficial líbia, Jana, houve também ataques a civis em Sabha, no sul do país. Quatro funcionários da Defesa Civil teriam morrido e dez ficaram feridos ao chegarem ao local de um bombardeio sobre uma área residencial.
No domingo, a aliança atlântica divulgou um comunicado admitindo responsabilidade pela morte de civis em um de seus ataques a Trípoli. "A Otan lamenta a morte de civis inocentes e toma um grande cuidado em seus ataques contra um regime que usa a violência contra seus próprios cidadãos", diz o texto.

Eficácia contestada. A intervenção na Líbia foi autorizada pela Resolução 1.973 do Conselho de Segurança da ONU para proteger a população dos ataques de Kadafi. Desde março, o coronel enfrenta rebeldes que pedem sua renúncia. Eles controlam o leste do país, mas a ação da Otan não lhes deu uma vantagem substancial no terreno.
China e a Rússia, críticos da ação liderada por França, Grã-Bretanha e EUA, não veem com bons olhos a morte de civis. Ainda ontem, o governo da Itália, com relações históricas e comerciais com a Líbia, manifestou preocupação. "A Otan está colocando sua credibilidade em risco. Não podemos matar civis", disse o chanceler Franco Frattini

Ataque. Três foguetes disparados por forças de Kadafi contra a cidade de Misrata, uma das poucas controladas pelos rebeldes no oeste do país, deixou um adolescente de 13 anos morto e outras duas crianças feridas, disseram moradores da cidade.
Os dissidentes têm conseguido defender a cidade, que desde março está sitiada pelas tropas do coronel. Os rebeldes pedem mais ataques da Otan para avançar para oeste. / AP, REUTERS E AFP

CRONOLOGIA

Afeganistão e Kosovo tiveram morte de civis

2002
Afeganistão. Ataque aéreo americano,matou 44 pessoas, na Província de Uruzgan. O presidente George W. Bush teve de fazer um pedido de desculpas..

2011
Afeganistão. Ataque da coalizão que luta contra forças do Taleban no país matou 14 pessoas na província de Helmand, em maio

1999
Kosovo. Cerca de 500 pessoas morreram em ataques da Otan que atingiram civis durante operação para protegê-los das tropas sérvias



VISÃO GLOBAL
O que fazer com os limões?
Com uma política externa americana incoerente, um governo palestino dividido e fraco e uma direita israelense forte, mas sem vontade política, processo de paz não avança

*Thomas L. Friedman, The New York Times - O Estado de S.Paulo

Embora o presidente Barack Obama e a secretária de Estado Hillary Clinton tenham feito muita coisa boa no campo da política externa, eles atrapalharam bastante as relações entre israelenses e palestinos, conseguindo alienar todas as partes e provocar um avanço zero no processo de paz. Foram incoerentes - ao demandarem um congelamento na construção de novos assentamentos e depois recuarem -, sem imaginação e politicamente fracos.
Por outro lado, os protagonistas com quem trabalharam eram ambos limões - um governo palestino muito dividido para tomar decisões importantes e um governo israelense de direita escorregadio, forte o bastante para tomar grandes decisões, mas que não queria seguir nesse sentido.
Mas você sabe o que se faz com limões? Uma limonada.
A equipe de Obama está numa enrascada. A Autoridade Palestina, que perdeu a confiança em Israel e nos Estados Unidos, pressiona as Nações Unidas para que seja reconhecido um Estado Palestino independente, nas fronteiras de 1967 na Cisjordânia e Gaza. Tão logo consiga isso, a Autoridade Palestina poderá iniciar um movimento global para forçar Israel a retirar seus colonos e forças de segurança, sob pena de enfrentar sanções e perder legitimidade.
Israel obviamente opõe-se à resolução. Os EUA não estão dispostos a apoiar uma resolução unilateral, que alienaria Israel e os judeus americanos. Mas também não quer vetar tal resolução, pois isso complicará sua posição no mundo árabe-muçulmano.
Como alternativa, os EUA vêm trabalhando para que as duas partes retomem as conversações de paz com vistas a um amplo acordo, com base nas condições delineadas pelo presidente Obama em meados de maio - dois Estados para duas populações, tendo as fronteiras de 1967 como ponto de partida, podendo mais tarde haver trocas de terras que israelenses e palestinos concordarem em permutar, ultrapassando os limites fronteiriços. Se as partes não aceitarem isso - e no momento elas resistem - caminhamos para um verdadeiro desastre nas Nações Unidas em setembro.
Que tal um enfoque diferente? Se os palestinos querem retornar o problema integralmente para onde começou - as Nações Unidas - que seja. Mas pensemos com mais amplitude e imaginação. Em 29 de novembro de 1947, as Nações Unidas aprovaram a Resolução 181, dividindo a Palestina em duas pátrias para dois povos - descrevendo-as como "Estados Judeu e Árabe Independentes". Isso é importante. É exatamente assim que a Resolução 181 descreve o desejado resultado da divisão: um Estado "árabe" ao lado de um Estado "judeu". Então, por que não atualizar a Resolução 181 e levá-la ao mais renomado Conselho de Segurança?
Poderia ser uma nova resolução das Nações Unidas: "Este órgão reafirma que a área da histórica Palestina deve ser dividida entre duas pátrias para dois povos. A linha divisória deve se basear nas fronteiras de 1967 - ajustes posteriores serão mutuamente acordados e medidas de segurança serão estabelecidas para ambos os lados. Esta organização reconhece o Estado Palestino como um membro da Assembleia-Geral e exorta ambas as partes a iniciar negociações para resolver todos os outros problemas pendentes". Muito simples.
Cada lado obteria alguma coisa que considera vital desde que dê à outra o que ela deseja. Os palestinos ganhariam um Estado reconhecido e a condição de membro das Nações Unidas, dentro de fronteiras provisórias, com Israel e EUA votando a favor deles. E os israelenses obteriam um reconhecimento oficial do Estado judeu pelas Nações Unidas - com palestinos e árabes votando favoravelmente. Além disso, os palestinos conseguiriam que as negociações tenham por base as fronteiras de 1967 e Israel teria garantias dos EUA de que as fronteiras, no final, seriam estabelecidas de acordo com acertos entre as partes, por meio de troca de terras, de modo que, teoricamente, os 5% da Cisjordânia onde estão 80% dos colonos judeus seriam trocados por partes de Israel antes de 1967.
Ambos os lados terão as condições necessárias para retomar as negociações e levá-las adiante. O primeiro ministro Bibi Netanyahu declarou ao Congresso americano que concordava com uma solução de dois Estados e seus compromissos penosos, mas deseja que Israel seja aceito como um Estado judeu, com fronteiras defensáveis. O presidente palestino Mahmoud Abbas insiste que as fronteiras de 1967 devem ser a base para qualquer negociação, e deseja negociar com Israel na mesma posição de soberania. Ao mesmo tempo, os EUA, em vez de ficarem isolados num canto com Israel, serão reconhecidos pela retomada das conversações - sem o empecilho remanescente da questão dos assentamentos.
"Setembro pode ser um momento de confronto de soma zero, com consequências potencialmente desastrosas, ou um grande avanço transformador, se tudo sair bem", afirma Gidi Grinstein, presidente do Reut Institute, um dos importantes grupos de pesquisa de Israel.
"Israelenses e palestinos estão num jogo para ver quem é o mais valente. A liderança palestina na Cisjordânia não deseja realmente esta resolução, que pode desencadear forças populistas que acabarão por derrotá-las. Os israelenses sabem que bloquear totalmente os palestinos nas Nações Unidas, sem uma contraproposta, poderá ter consequências nocivas num Oriente Médio já tumultuado. Um acordo reconhecendo o Estado palestino e, ao mesmo tempo, acabando com as preocupações de Israel, não só ajudaria ambos os lados a sair do precipício, mas também poderá definir uma solução histórica de dois Estados em 2011. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

*É COLUNISTA


SÍRIA
Assad rompe silêncio, fala em reforma, mas renova ameaças
Opositores acusam ditador de tentar ''ganhar tempo'' com promessa de abertura e milhares voltam às ruas

DAMASCO

Após quatro meses de repressão contra distúrbios na Síria, o presidente Bashar Assad voltou ontem a acusar "sabotadores" pelos protestos, mas - pela primeira vez - admitiu a possibilidade de alterar a Constituição e realizar reformas em seu regime. O discurso, proferido na Universidade de Damasco, rompeu dois meses de silêncio do ditador, mas foi incapaz de acalmar os ânimos de opositores. Milhares de sírios voltaram ontem às ruas em manifestações antigoverno.
Embora tenha acenado com a possibilidade de recuar, Assad não anunciou nenhuma medida concreta para reformar o governo - há 48 anos sob um regime de partido único, o Baath. Ontem, novos distúrbios teriam irrompido em Homs, Latakia, Deir Azour, Idleb e Hama, além de subúrbios de Damasco, segundo fontes locais. Jornalistas estrangeiros estão proibidos de entrar na Síria desde o início da onda de repressão. Estima-se que mais de 10 mil pessoas foram presas e cerca de 1.400 mortas desde meados de março.
Em uma fala ambígua, Assad voltou a prometer pulso firme contra "vândalos" e "germes que infectam" a Síria, mas reconheceu que houve "mártires dos dois lados" e lamentou o "sangue derramado de inocentes".
"Estamos hoje em um momento decisivo de nossa história. Desejamos vê-lo como um ponto de transição em relação a ontem, quando sangue inocente foi derramado, para um amanhã no qual retomaremos um cenário de serenidade, liberdade, integridade e solidariedade", disse Assad. "Vimos momentos dramáticos, pagamos um preço dramático."
Líderes da oposição síria acusaram o presidente de tentar ganhar tempo com a promessa de abertura. "Como responderemos a um convite para o diálogo se Bashar (Assad) está dizendo que nossa causa é parte de uma conspiração internacional e suas forças de segurança estão prendendo e atormentando centenas?", questionou Omar Idby, ativista sírio exilado no Líbano.
A Síria está sob intensa pressão internacional depois que a Turquia - um dos poucos aliados de Damasco - exigiu o fim da violência do regime contra opositores.
Grã-Bretanha e França tentam aprovar no Conselho de Segurança da ONU uma resolução criticando as violações do regime sírio, enquanto os EUA já adotam sanções unilaterais contra o governo de Assad.
Fontes do governo americano disseram à CNN, em condição de anonimato, que há evidências de crescente envolvimento iraniano na repressão de Assad a opositores. Segundo reportagem da TV americana, integrantes da Guarda Revolucionária do Irã estariam fornecendo ao regime sírio equipamentos e informação. / LATIMES


Chefe da assembleia da ONU pressiona Itamaraty
No Brasil, presidente da Assembleia-Geral pede apoio contra massacre na Síria; País não mudará de posição, reage Patriota

Lisandra Paraguassu - O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA

O presidente da Assembleia-Geral da ONU, Joseph Deiss, pressionou ontem o governo brasileiro a apoiar a resolução do Conselho de Segurança contra a Síria. Em resposta, o chanceler Antônio Patriota disse que a posição do Brasil está decidida e não haverá apoio a uma proposta dura que não tenha consenso entre os membros do órgão.
Deiss afirmou que a ONU não poderia deixar de se manifestar ante a violência patrocinada pelo presidente sírio, Bashar Assad. Patriota defendeu a alternativa apresentada pelo Brasil, para que seja feita uma declaração do Conselho condenando os ataques aos manifestantes e exigindo mudanças.
A declaração aprovada no Conselho de Segurança seria um tom abaixo de uma resolução. Ao país envolvido, soa como uma advertência. No entanto, não pode ser votada ou vetada e precisa ser adotada por consenso. Até agora, a proposta brasileira não é consenso nem mesmo tem um texto, mas o Itamaraty espera debater e avançar no tema nos próximos dias.
Para a diplomacia brasileira, uma resolução da ONU condenando Assad - mesmo que sem sanções, como foi patrocinada pelos países europeus - pode acuar o presidente sírio e piorar a situação.
Patriota tem conversado sobre a possibilidade de uma declaração no Conselho com os chanceleres de países integrantes do órgão - 15 no total, incluindo os 5 permanentes com direito a veto (EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia e China). O apoio à proposta teria avançado.
A Rússia já declarou que vetaria a resolução, mas que pode apoiar a declaração. Entre os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) essa é a posição mais próxima de um consenso. A Grã-Bretanha também declarou que acha possível conversar sobre o tema.
Já a resolução, apoiada especialmente pelos europeus, teria, de acordo com o governo francês, 9 dos 15 votos. No entanto, se Rússia e China vetarem a proposta, como ameaçam fazer, ela não seria aprovada.



ACIDENTE
Queda de avião mata 44 pessoas na Rússia
Tupolev-134, que saiu de Moscou e levava 52 passageiros e tripulantes, caiu antes de aterrissar em Petrozavodsk

Um avião Tupolev-134 com 43 passageiros e 9 tripulantes a bordo caiu ontem ao tentar um pouso de emergência em uma estrada a 700 metros da cabeceira da pista do aeroporto de Petrozavodsk, no norte da Rússia, matando 44 pessoas. Segundo autoridades locais, oito pessoas foram resgatadas com vida e internadas em hospitais da região - sete permaneciam em estado grave.
O voo 243 da companhia aérea RusAir saiu do aeroporto de Domodedovo, um dos principais de Moscou, às 22h30(15h30, hora de Brasília) e deveria pousar pouco antes da meia-noite em Petrozavodsk, capital da República da Carélia.
Ao que tudo indica, segundo autoridades de aviação russas, um problema técnico deve ter ocorrido pouco antes da aterrissagem, o que teria feito o piloto optar por um pouso de emergência na estrada. Investigadores, no entanto, não descartam outras possibilidades, como erro do piloto ou da falha dos controladores de voo do aeroporto de Petrozavodsk.
Ao tocar no solo, a fuselagem do Tupolev se rompeu e o avião pegou fogo. Os bombeiros do aeroporto conseguiram controlar o incêndio rapidamente e resgatar alguns sobreviventes - entre eles uma criança. Entre as vítimas estava Vladimir Pettay, árbitro da FIFA.
Histórico. O Tupolev-134 é um avião de duas turbinas projetado nos anos 60, ainda durante o período soviético. O modelo, que tem capacidade para até 76 passageiros, voa em mais de 40 países, mas a maior parte da frota é usada mesmo por companhias aéreas da Rússia.
Em 2007, o ministro russo dos Transportes, Igor Levitin, disse que o Tupolev-134 era um avião "ultrapassado" e deveria ser substituído pelos modernos Sukhoi 100 ou por qualquer aeronave similar nos próximos cinco anos. Até hoje, foram registrados 28 acidentes com o modelo, incluindo o de ontem. / REUTERS e AP



PARIS
França planeja extraditar Noriega

A França iniciou ontem o processo administrativo para extraditar o ex-ditador panamenho Manuel Noriega para o país latino-americano. Condenado por lavagem de dinheiro e enriquecimento ilícito na França e nos EUA, Noriega é acusado pela morte de opositores no Panamá.



AMÉRICA LATINA
Presidente colombiano destaca boa relação com Chávez
20 de junho de 2011 | 14h 01

AE - Agência Estado

O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, afirmou hoje que ele e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, estão se comportando "como chefes de Estado responsáveis". Segundo Santos, nos 10 meses que ele está à frente do governo "tudo tem sido lucro" para os dois países.
Em uma entrevista à Rádio Caracol e à Caracol Televisión, Santos disse que espera pela pronta recuperação de Chávez, que está em Cuba, onde passou recentemente por uma cirurgia para tratamento de um abscesso pélvico. "Com o presidente Chávez, vamos gerando confiança" nas relações bilaterais, notou.
O presidente também disse que o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe "tem todo o direito de se defender, porque o tem querido responsabilizar pelo humano e pelo divino". Também insistiu que tem por Uribe apenas respeito e gratidão.
O ex-presidente Uribe (2002-2010) esteve na quinta-feira na Comissão de Acusação da Câmara dos Deputados, em uma apuração em torno de sua suposta participação em um escândalo de espionagem a magistrados da Corte Suprema, jornalistas, ativistas e oposicionistas.
Santos também foi questionado sobre a informação encontrada nos computadores de dois líderes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) mortos, Raúl Reyes e Víctor Julio Suárez, conhecido como "Jorge Briceño" ou "Mono Jojoy". O líder disse que o material ajudou as Forças Armadas a golpear as Farc.
"Se as Farc sabem que temos essa informação, vão mudar de estratégia", avaliou. Reyes foi morto em março de 2008, no território equatoriano, e o "Mono Jojoy" morreu em setembro de 2010, nas selvas do sul da Colômbia. As informações são da Associated Press.







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