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quarta-feira, 8 de junho de 2011

08 de junho 2011 - VALOR ECÔNOMICO


MERCADO AÉREO
Ministro defende iniciativa privada nos aeroportos

Tarso Veloso | De Brasília

O ministro da Secretaria de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, afirmou ontem, durante audiência pública no Senado, que a melhoria do mercado aéreo brasileiro depende das concessões dos aeroportos à iniciativa privada. O BNDES, em parceria com a SAC, vai definir os modelos dos contratos de concessão e quais aeroportos serão privatizados, além dos três anunciados pelo governo na terça-feira - Viracopos (Campinas-SP), Guarulhos (SP) e Brasília (DF). Os editais de Galeão (RJ) e Confins (BH) devem ser publicados no inicio do ano que vem.
Para Bittencourt, o crescimento do setor aéreo brasileiro, de 10% ao ano nos últimos sete anos, obriga o governo a chamar a iniciativa privada para investir. "Temos que trazer o capital privado para colocar dinheiro nos aeroportos. A concessão somente das áreas comerciais dos aeroportos não era atrativa. Por isso, resolvemos deixar a operação de voo com o setor privado."
O melhor investimento a ser realizado, segundo Bittencourt, é na estrutura já feita. "Devemos tirar da infraestrutura o que ela pode nos dar. É esperado um aumento de 30% na capacidade geral com os investimentos planejados em expansão", disse.
Ele disse que o objetivo da privatização mediante concessão é fazer da Infraero uma empresa de sucesso. Os dois modelos preferidos para os contratos são as Sociedades de Propósito Específico (SPEs) e outorgas. A ideia de licitar blocos com aeroportos superavitários e deficitários foi praticamente descartada devido à dificuldade para montar grande número de lotes atrativos.
Nas concessões por meio de SPEs, a Infraero terá até 49% do capital e o sócio privado 51%, no caso dos três aeroportos citados. Não há, por enquanto, uma definição sobre o papel da Infraero nessa sociedade nem da duração do prazo de concessão.
O grau de interferência da estatal aeroportuária será fundamental para definir o sucesso do projeto. "Queremos saber se esses 49% vão mandar nos 51%. Quanto ao prazo de concessão, só nos interessa se for mais de 30 anos", disse o representante de uma grande empreiteira. O presidente da Infraero, Gustavo Matos do Vale, defendeu a divisão acionária de 49% para a estatal. "Com os 49%, continuaremos administrando os aeroportos e poderemos prestar serviços e cobrar por eles. E vamos ter a certeza que as coisas vão continuar com um padrão", disse.
O ministro da Aviação informou que além do leilão de Viracopos, Brasília e Guarulhos, cujos editais serão divulgados no fim deste ano, o governo pretende publicar os editais de privatização do Galeão (RJ) e de Confins (BH) no inicio de 2012. "O sistema de SPE é muito bom e vai melhorar a gestão da Infraero. Poderemos absorver as melhores práticas de administração dos nossos sócios privados e usá-las em nossos próprios empreendimentos", disse Bittencourt.
O prazo para o início das obras dos aeroportos concedidos preocupa o setor privado. "Com as obras começando no segundo semestre de 2012, teremos que suprir a demanda do país com puxadinhos", disse uma fonte do setor aéreo. O ministro disse que, em 2014, durante a Copa do Mundo, a estrutura será suficiente para atender à demanda. "As obras programadas para ficarem prontas após 2014 terão algumas partes já em funcionamento durante a Copa.”.


TRÁFEGO AÉREO
Vulcão paralisa voos de TAM e GOL

Sérgio Ruck Bueno, Eduardo Laguna e Luciana Seabre | De Porto Alegre e São Paulo

As cinzas expelidas pelo vulcão Puyehue, no Chile, chegaram ontem ao Rio Grande do Sul e seguiam em direção ao Oceano Atlântico, a uma altitude entre 8 mil e 9 mil metros. Segundo o meteorologista Flávio Varone, do 8º Distrito de Meteorologia, a fuligem está cerca de 3 mil metros acima das nuvens que provocam chuva sobre o Estado e há pouca possibilidade de que ela se precipite sobre o solo. O vulcão chileno afetou as operações das companhias aéreas brasileiras TAM e Gol.
Segundo Varone, as cinzas foram transportadas a partir do sul da Argentina por ventos na alta atmosfera e entraram no Rio Grande do Sul pelo oeste, onde encontraram um ciclone extratropical que segue na direção leste. Até a madrugada elas já teriam saído do território gaúcho.
A erupção do Puyehue começou no sábado e levou à evacuação de cerca de 4 mil pessoas no Chile. Na Argentina, as principais zonas turísticas foram cobertas com um manto de cinzas. Foi o caso de Bariloche, em que a energia elétrica e a água foram cortadas.
O aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, operou por instrumentos em função da chuva que durou todo o dia. Devido ao fechamento dos aeroportos de Montevidéu e Buenos Aires, mais atingidos pelas cinzas, onze voos com origem ou destino a Uruguai e Argentina foram cancelados.
A Gol cancelou voos de origens ou destinos afetados pela nuvem de cinzas. A companhia reportou em nota o cancelamento de 19 voos desde a madrugada da terça-feira. Sem previsão para o retorno das operações, a companhia suspendeu as rotas para Santiago, Buenos Aires, Córdoba, Rosário, Montevidéu e Assunção, além de Foz do Iguaçu, no Paraná. A TAM também cancelou voos para Buenos Aires, Assunção, Montevidéu e Santiago.
A Gol informou que tem trabalhado para garantir alimentação e acomodação em hotéis a passageiros em trânsito afetados pela paralisação dessas rotas. Clientes com voos para as regiões atingidas marcados até segunda-feira podem, sem custos, remarcar ou mesmo cancelar a viagem, com reembolso integral da passagem.
Algumas operações, no entanto, começaram a ser retomadas ao longo da tarde. A chilena LAN disse que, após analisar as condições meteorológicas e traçar prognósticos sobre a dispersão das cinzas, restabeleceu os voos para Buenos Aires, Mendoza e Córdoba. A companhia informou que seus voos para Santiago a partir de São Paulo ou Rio de Janeiro não foram paralisados.


AVIAÇÃO
Próxima onda deve ser de fusões intercontinentais
Mas movimento ainda depende de mudanças nas regras dos países

Alberto Komatsu | De Cingapura

Nos últimos oito anos, uma onda de consolidação no setor aéreo chamou a atenção pela velocidade e porte das companhias envolvidas. Foram ao menos oito negociações, só para citar as que ganharam mais notoriedade mundial, num ritmo de uma fusão por ano, sempre entre empresas aéreas de uma mesma região. Agora, executivos e especialistas da aviação em todo o mundo são unânimes em dizer que a próxima movimentação deverá ocorrer entre companhias de diferentes continentes.
"A consolidação do setor aéreo tem acontecido entre regiões. O que nós precisamos ver é um segundo passo, que significa consolidação entre uma grande empresa europeia e outra americana. Ou seja, consolidação acima de fronteiras regionais, fusões transcontinentais", afirmou ao Valor, o presidente da Associação Internacional do Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês), Giovanni Bisignani.
De acordo com ele, para que essa nova onda possa ser deflagrada é preciso que os governos mudem regras que atualmente limitam essa nova tendência. "É tempo de os governos verem que estamos entrando numa nova era de mudança", disse Bisignani.
Em setembro de 2003, a fusão entre as europeias Air France e KLM (Holanda) chamou a atenção do mundo com a criação do maior grupo aéreo europeu naquela ocasião. Desde então, mais sete fusões ou aquisições entre empresas aéreas de uma mesma região aconteceram (ver quadro), incluindo a América Latina, com a recente aproximação entre a chilena LAN e a brasileira TAM. O negócio ainda está sob avaliação de autoridades antitruste.
"Atualmente temos em torno de 240 companhias aéreas associadas à Iata. Não há nenhuma indústria no mundo que seja tão fragmentada", afirmou ontem Bisignani, último dia da 67ª edição do encontro anual da Iata, em Cingapura. Em 2012, o encontro será realizado na China.
O presidente da TAM Linhas Aéreas, Líbano Barroso, lembra que a visão da Iata para a aviação global em 2050 prevê a sobrevivência de 10 a 12 grandes grupos transcontinentais de transporte aéreo. "No Atlântico Norte, estão ocorrendo joint ventures. Acho que essa é uma tendência. Agora, se essas joint ventures vão se transformar numa participação societária transcontinental, acho que também pode ser uma tendência", disse o executivo.
O setor aéreo ainda deverá ver alguns movimentos de consolidação regional, na avaliação do presidente da aérea americana de baixo custo JetBlue, Dave Barger. Ele lembra que algumas companhias aéreas estrangeiras estão fazendo investimentos nos Estados Unidos, como a Lufthansa, que é o maior investidor da própria JetBlue.
Sobre os planos de expansão operacional da companhia, o executivo da JetBlue diz que a América do Sul já esteve no radar, mas que, por enquanto, a frota da empresa não permite voos de longa distância. "Nós já tivemos algumas discussões de alto nível sobre como entrar na América do Sul. É possível uma operação no Brasil, mas não a vejo no médio prazo, pois hoje temos a frota errada (com aviões da Airbus A320, mais para voos domésticos)". A JetBlue foi fundada por David Neeleman, também fundador e presidente do conselho de administração da brasileira Azul.


Venda de aeronave executiva continua aquecida no Brasil
Volume de negócios no setor é da ordem de US$ 400 milhões a US$ 500 milhões por ano no país

Virgínia Silveira | Para o Valor, de São Paulo e São José dos Campos

O mercado de venda de aeronaves executivas no Brasil está aquecido, com um volume de negócios da ordem de US$ 400 milhões a US$ 500 milhões por ano. Apesar da existência de um estoque alto de jatos de segunda mão e da falta de infraestrutura nos aeroportos para abrigar um número cada vez mais crescente de jatos particulares, o câmbio favorável, preços mais baixos e a facilidade de crédito tem estimulado a compra de aeronaves executivas no país.
"No nosso planejamento para 2011 esperávamos um resultado similar ao de 2010, mas no primeiro quadrimestre do ano as entregas já superaram em 10% as registradas em mesmo período do ano passado", disse Fernando Pinho, presidente da TAM Aviação Executiva, representante da Cessna Aircraft Company, considerada a líder na comercialização de jatos no Brasil.
Das 1225 aeronaves executivas em operação hoje no Brasil, 265 são da marca Cessna, a maior frota da empresa fora dos Estados Unidos. No Brasil, segundo dados da Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral), a frota de jatos executivos registrou crescimento de 21% em 2010 em comparação com 2009, o maior da América Latina. Na sequência vieram Chile (15,3%) e Argentina, (12,4%).
Até 2019, de acordo com estimativas da entidade, a previsão é que seja entregue um total de 775 aeronaves em toda a América Latina, o segundo maior mercado depois dos Estados Unidos. "O Brasil, junto com os demais países do BRICS virou a bola da vez para a venda de jatos executivos. Não estamos esperando um crescimento expressivo de negócios em relação a 2010, mas o mercado ainda está aquecido", disse o vice-presidente da Abag, Ricardo Nogueira.
Para Cássio Polli, diretor da Aerie Aviação Executiva, o crescimento das vendas no Brasil reflete uma mudança de comportamento, pois o jato executivo deixou de ser objeto de glamour e passou a ser encarado como ferramenta multiplicadora de negócios e de tempo. "O câmbio favorável aumentou a procura pelos jatos no Brasil. No mercado de usados os preços caíram entre 40% e 50%. Isso forçou os fabricantes a concederem descontos abaixo do preço de lista que estavam praticando há um ano e meio atrás", explica.
Especializada na compra e venda de aeronaves, em parceria com a Fortune Jet, a Aerie espera um crescimento de 50% nas vendas este ano, algo em torno de 12 jatos com até 10 anos de uso e preços entre US$ 2 milhões e US$ 7 milhões. "Há três anos, um modelo Cessna Citation usado valia US$ 13,8 milhões. Hoje está sendo vendido por US$ 7 milhões", disse.
Na opinião do presidente da TAM Aviação Executiva, a flexibilidade de preços dos novos jatos já não é tão grande hoje como foi em 2009, ano em que a crise derrubou as vendas no setor, e também em 2010, quando a oferta de aeronaves no mercado ainda era considerada alta.
"A flexibilidade em termos de negociação hoje é menor porque o estoque de aeronaves seminovas, embora ainda seja alto, diminuiu bastante e os fabricantes já fizeram os ajustes necessários nas linhas de produção para se adaptar ao novo cenário de negócios", explica.
Entre helicópteros e aviões, a TAM entregou um total de 70 aeronaves no Brasil em 2010, mas até o fim de maio já contabiliza a venda de 55 unidades, sendo 15 jatos, 10 turboélices, 20 monomotores e 10 helicópteros. Os preços das aeronaves mais vendidas, segundo Pinho, variam de US$ 5 milhões a US$ 9 milhões, com capacidade para transportar oito passageiros. Outro fator que tem estimulado as vendas da empresa no Brasil, de acordo com o executivo, é a facilidade de atendimento e apoio ao cliente, através dos seus centros de manutenção.
"Nosso centro de manutenção em Jundiaí (no interior de São Paulo) é hoje o segundo maior centro de serviços autorizado Cessna, com capacidade para atender a 23 aeronaves por dia", afirmou Pinho. Atualmente, segundo ele, a Cessna detém uma participação de 50% no mercado brasileiro de jatos executivos.
Para atender ao aumento crescente da frota de jatos executivos da Cesnna, segundo ele, a TAM investirá no biênio 2011-2012 cerca de R$ 30 milhões na construção de novos centros de manutenção para seus aviões em outras regiões do país. "O nosso cliente não está mais concentrado em São Paulo. A segunda maior frota de Citation está em Minas Gerais e a terceira no Nordeste". A empresa, segundo ele, quer estar mais perto desses clientes que considera como novos entrantes no mercado, pois estão adquirindo suas primeiras aeronaves e tem a necessidade de se deslocar de norte a sul pelo território brasileiro.
Atenta ao crescimento das vendas de jatos executivos no Brasil, a Gulfstream Aerospace Corporation aterrizou na semana passada no país com o firme propósito de ampliar suas vendas no mercado, onde tem hoje 33 aviões da marca em operação. "Nos últimos dois anos duplicamos as nossas vendas no Brasil, que hoje responde por 8% da nossa frota na América Latina", afirmou ao Valor o vice-presidente de vendas internacionais da companhia, uma subsidiária integral da General Dynamics, Roger Sperry.
Em 2010, segundo dados da Associação dos Fabricantes de Aviação Geral (Gama), a Gulfstream ficou em segundo lugar no ranking mundial da aviação executiva em faturamento, com 21% de participação na receita de US$ 18,2 bilhões do setor. A companhia foi a quarta em número de unidades entregues, respondendo por 13% das 763 aeronaves entregues. A Gulfstream fabrica oito modelos, com preços a partir de US$ 15,1 milhões e chegando a US$ 64,5 milhões.


POSTURA MODERADA
Eleito cresceu no culto do nacionalismo inca

Em sua primeira e fracassada tentativa de ser presidente, Ollanta Humala projetou a imagem de um radical de esquerda nos moldes de Hugo Chávez. Desta vez, ele chamou de falho o modelo econômico de orientação socialista do líder venezuelano, foi atrás de aliados moderados e cortejou Washington. Mas o passado ainda persegue o presidente eleito do Peru.
Muitos peruanos ainda se perguntam se esse político novato, de 48 anos, realmente é um populista simpático aos mercados. Os céticos temem que ele venha a renegar as promessas recentes e iniciar uma mudança revolucionária em uma nação desatenta.
Ollanta Moisés Humala Tasso nasceu em Lima, filho de um advogado obcecado pelo nacionalismo étnico peruano e pelo império inca. Tanto que deu a seus sete filhos nomes incaicos. O de Ollanta (pronuncia-se "oianta") remete a uma obra literária escrita em língua quéchua, "Apu Ollantay", sobre um general inca.
Esse interesse do pai passou ao filho. Não é por acaso que a agremiação fundada por Ollanta se chama Partido Nacionalista Peruano (PNP). Em seus comícios, ele regularmente fazia referência ao passado "glorioso" do império inca, numa provável tentativa de incutir orgulho nacional num país de baixa auto-estima.
Assim como o pai, Ollanta deu a seus filhos nomes incas. Suas duas filhas chamam-se Illariy e Nayra. O filho nascido no ano passado, no começo da campanha eleitoral, chama-se Samín.
Esse apego à herança indígena do Peru certamente não ajudou Humala a obter o apoio da elite econômica do país, majoritariamente branca. Mas fez dele um líder popular nas regiões mais pobres do país, onde ele venceu por ampla margem de votos.
umala é casado com Nadine Heredia, de 35 anos, co-fundadora do PNP. Ela estudou comunicação no Peru e tem doutorado em Ciências Políticas pela Universidade de Paris 1. É comum ouvir no Peru que Nadine é o cérebro por trás de Humala e que ela pode ser candidata à sucessão do marido, daqui a cinco anos. Acredita-se que ela tenha um papel ativo no governo.
Humala tem uma formação mais modesta. Com 19 anos, ele entrou para a academia militar e seguiu carreira no Exército peruano, chegando a tenente-coronel. Posteriormente, fez mestrado em ciências políticas na Pontifícia Universidade Católica de Lima.
No começo dos anos 90, Humala atuou no combate à guerrilha maoísta Sendero Luminoso. Ele foi acusado de abusos contra a população civil, mas acabou inocentado num inquérito, ainda que pesem dúvidas sobre sua atuação à época.
Em 29 de outubro de 2000, Humala liderou uma tentativa de golpe contra o então presidente Alberto Fujimori, cujo governo já era alvo de acusações de corrupção e violação dos direitos humanos. Hoje Fujimori (pai da candidata derrotada por Humala nas eleições de domingo) está preso, condenado a 25 anos. Humala recebeu indulto pela sublevação. Ele defende o movimento como uma defesa da democracia contra o regime então autoritário de Fujimori. Em 2004, Humala, após servir como adido militar na França e na Coreia do Sul, passou à reserva.
Logo em seguida, fundou o PNP, pelo qual concorreu à eleição presidencial de 2006. Surpreendeu ao chegar o segundo turno, quando foi derrotado pelo atual presidente, Alan García.
Agora, em sua postura moderada, Humala promete tornar o Peru "mais justo e menos desigual" com "uma economia que sirva de motor para a inclusão social". Mas sem seguir o caminho chavista da nacionalização de indústrias, afugentar os investidores e confiscar riqueza. Ele elogia a maneira como o Brasil está combatendo a pobreza, ao mesmo tempo em que respeita o livre mercado e a propriedade privada.
O abrandamento da postura esquerdista da campanha de 2006 tem muito a ver com o sucesso atual. Humala formou uma coalizão de moderados, obtendo o apoio do escritor Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura. "Ele não tem mandato para mudanças radicais", diz Steven Levitsky, cientista político americano.


GREVE
Cabral sai da negociação com os bombeiros

Paola de Moura | Do Rio

Pressionado por deputados estaduais e pela sociedade, o governador Sérgio Cabral (PMDB) saiu da linha de frente das negociações com os bombeiros e determinou que o novo comandante-geral da corporação, coronel Sérgio Simões, detém todos os poderes para negociar com os militares. O recado foi dado pelo presidente da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Paulo Melo (PMDB), em discurso realizado na tribuna ontem de tarde. "O comandante esteve no quartel e ofereceu procurar a juíza [Ana Paula Pena Barros, da Auditoria militar do Estado] para negociar a transferência dos presos para quartéis próximos a suas casas e eles não aceitaram", reclamou.O discurso deixou irritados os deputados de oposição que lideram a pressão sobre o governo. "O sentimento que eu tenho é que o governador fugiu da responsabilidade. Ele criou uma ruptura com a corporação na [entrevista] coletiva [de sábado] e depois determina que o comandante resolva? O comandante não tem poder de dar aumento, nem de libertar ninguém", afirmou o deputado estadual, Marcelo Freixo (PSOL), que ontem já tinha recolhido 30 assinaturas de parlamentares na nota de apoio aos bombeiros, incluindo os da base de governo de Cabral. Assinaram a lista os deputados Paulo Ramos (PDT), Wagner Montes (PDT), Zaqueu Teixeira (PT), Gilberto Palmares (PT) e mais 10 outros deputados que apoiam o governador.
Diante da ameaça da oposição de bloquear a pauta da Assembleia, ontem, o governo convocou os parlamentares da base para comparecerem em peso à Casa. "Normalmente, no início da sessão há apenas sete ou oito deputados no plenário. Ninguém exige o quórum mínimo, porque se fosse assim, não haveria sessão nunca", explica a deputada Jandira Rocha (PSOL). "Hoje, vieram mais de 20 da base aliada, para evitar que pedíssemos a contagem".
Desde a entrevista de sábado e a nota divulgada no domingo, quando o governador chamou os bombeiros que invadiram o quartel central da corporação no Rio, acompanhados de mulheres e crianças de "vândalos irresponsáveis", Cabral não fala mais do assunto publicamente e se recusa a responder a perguntas dos jornalistas.
No entanto, na noite de segunda-feira, ele se reuniu com parlamentares da base de apoio para discutir a crise e achar soluções. Nos bastidores, como apurou o Valor, Cabral já admite tentar negociar com a juíza a liberação dos 439 bombeiros.
Ontem, pela cidade, havia carros circulando com faixas e fitas vermelhas presas em sinal de apoio. Também era possível ver panos vermelhos hasteados nas janelas de residências. O Sindicato Estadual dos Professores de Educação (Sepe) decidiu parar em apoio aos bombeiros e convoca uma greve geral dos funcionários públicos.
Enquanto isso, os bombeiros permanecem acampados em frente à Alerj esperando a liberação dos companheiros. "A questão salarial ficou em segundo plano, o que nós lutamos agora é pela liberação dos nossos 439 companheiros. Só depois que eles forem soltos voltamos a negociar", afirma o sargento Narciso, um dos líderes da ocupação. Os bombeiros presos também divulgaram uma nota agradecendo as manifestações e determinando que ninguém seja autorizado a negociar antes da liberação.
Desde abril, os bombeiros fazem manifestações pela cidade pedindo melhores salários. Eles alegam receber o menor salário do país, R$ 1.031,38, sem direito a vale-transporte. Não foram recebidos pelo secretário de Saúde, Sérgio Cortes, a quem, atualmente a corporação é subordinado. O Corpo de Bombeiros faz parte da subsecretaria de Defesa Civil, incorporada à Pasta de Saúde no governo Cabral.
Em 25 de maio, pela primeira vez, foram recebidos pelo secretário de Planejamento, Sérgio Ruy. Naquela época, o secretário disse que os bombeiros receberiam, de janeiro de 2007 a julho de 2010, reajustes anuais que elevariam suas remunerações em 29,73%. Segundo a secretaria, em junho de 2010, nova lei permitiria aumento acumulado em oito anos de 100,8% na remuneração do soldado, que passaria para R$ 2.077,25 em dezembro de 2014, sem contar triênios e gratificações. No entanto, a corporação não está disposta a esperar até 2014 e quer o que o reajuste seja aplicado no salário-base, o que implicaria também em reajustes das gratificações.

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