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segunda-feira, 13 de junho de 2011

13 de junho 2011 - FOLHA DE SÃO PAULO


Fifa impõe parceiros às sedes da Copa-2014

A Fifa e o comitê que representa a entidade no Brasil estão pressionando cidades-sedes da Copa-2014 a contratar empresas patrocinadoras da entidade, informam Filipe Coutinho e Fernanda Odilla. Em e-mail, o diretor de marketing da Fifa no Brasil, Jay Neuhaus, diz esperar que um fabricante de brindes faça parte de todas as licitações e avisa que, se outra firma for contratada, haverá um custo extra de 17%


EMPRÉSTIMOS
Juízes são investigados por uso ilícito de verba
Associação é acusada de vender imóvel para abater dívida de ex-presidentes
Atual diretoria da Ajufer tenta anular a operação de R$ 115 mil, ocorrida em 2010; caso é apurado pelo TRF

DE SÃO PAULO

A Ajufer (Associação dos Juízes Federais da 1ª Região) vendeu uma sala comercial em Brasília e está sendo acusada de ter usado o dinheiro para abater empréstimos pessoais tomados na Fundação Habitacional do Exército por três ex-presidentes da entidade de magistrados. Em assembleia virtual no dia 31 de maio, 79 juízes autorizaram a atual diretoria, presidida pelo juiz Roberto Veloso, a anular a operação e oferecer notícia crime ao Ministério Público Federal contra a gestão anterior, sob a alegação de que houve "destinação ilícita dos recursos".
Em 12 de fevereiro de 2010, Moacir Ramos, então presidente da Ajufer, e a ex-presidente e diretora financeira Solange Salgado assinaram instrumento particular de promessa de compra e venda de uma sala no edifício Business Point, em Brasília, por R$ 115 mil. O comprador é um advogado, com endereço comercial no mesmo prédio. Dias depois, Ramos e Solange autorizaram três transferências, no total de R$ 130 mil, para a fundação do Exército. Documento firmado por diretores da fundação atribui a Ramos a orientação para amortizar R$ 40 mil da dívida de Solange e R$ 40 mil da dívida de Charles Renaud Frazão de Moraes, ex-presidente da Ajufer -R$ 50 mil abateriam dívida de Ramos.
A venda do imóvel sem autorização de assembleia foi realizada quando a fundação já havia suspendido os empréstimos à Ajufer. Uma auditoria em 2009 na fundação apontara indícios de fraude. A fundação é uma entidade privada ligada ao Exército, integra o Sistema Financeiro da Habitação e oferece empréstimos a servidores de governos e do Judiciário.
No final de 2010, uma sindicância de magistrados identificou contratos fictícios, firmados por dez anos entre a Ajufer e a fundação. Foram usados nomes de associados que desconheciam a fraude, e até de laranjas. A fundação cobra na Justiça uma dívida de R$ 21 milhões da segunda maior entidade de juízes federais, que atua no DF e em 13 Estados.
Na consulta eletrônica, 85 juízes autorizaram a diretoria a "não reconhecer a dívida oriunda de contratos fraudulentos" e a imputar os débitos a quem assinou os documentos. O caso é investigado na esfera administrativa pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília.
(FREDERICO VASCONCELOS)


Juíza nega ter se beneficiado com venda de sala

DE SÃO PAULO

A juíza Solange Salgado diz que o uso de dinheiro da venda da sala para abater dívida é tentativa de vinculá-la a um esquema fraudulento. "Vislumbro uma tentativa ilícita de vinculação de pessoas que nada têm a ver com o esquema fraudulento e numa época em que os protagonistas já sabiam que o fato estava sendo descoberto", diz. "Não me beneficiei de qualquer valor, muito menos do valor da venda da sala."
Solange diz que participou da assembleia no dia 31 e votou pela investigação. Afirma que vai pedir a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos envolvidos, inclusive os dela. Charles Moraes diz que paga seu empréstimo normalmente, com desconto em folha. Ele, que deixou a presidência da Ajufer em dezembro de 2008, diz que não teve participação na venda da sala. Afirma que ficou surpreso ao receber cópia do documento com a orientação para abater sua dívida. Diz não ter como saber se isso ocorreu.
A Folha não conseguiu ouvir Moacir Ramos. Em abril, ele afirmou que, "por questão estratégica", não deveria mais se manifestar.


MÔNICA BERGAMO

SUSTO
Um avião da Gol deixou o aeroporto de Salvador na terça às 8h40 e só pousou em Guarulhos às 2h da manhã de quarta. A ventania em São Paulo fez o avião desviar para o Rio três vezes. Na última, às 22h, o avião chacoalhou muito e chegou a perder altura por alguns segundos. Os passageiros entraram em pânico e reclamam da falta de assistência da tripulação. A Gol diz que, "apesar do desconforto, a segurança não foi comprometida".

SUSTO 2
E o voo 1205 da TAM que saiu de Brasília rumo a Congonhas na sexta ficou sobrevoando São Paulo por uma hora. No pouso, arremeteu. Como Guarulhos estava lotado, foi desviado para Viracopos, em Campinas.


FOCO
Menina de foto histórica reaparece após três décadas

MATHEUS MAGENTA - DE SÃO PAULO

Após quase 32 anos, veio a público a identidade de uma menina de cinco anos que virou símbolo da insatisfação com o regime militar (1964-1985) após ser fotografada rejeitando o cumprimento do então presidente João Figueiredo (1979-1985). A informação foi veiculada no "Jornal da Globo", da TV Globo, na última sexta. O registro foi feito em 1979 pelo fotógrafo Guinaldo Nicolaevsky durante uma cerimônia no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Na foto, a garota Rachel Clemens aparece de braços cruzados enquanto o ex-presidente tenta cumprimentá-la com um aperto de mão.
A Folha deixou um recado para Clemens, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição. Em seu blog pessoal, ela conta que não cumprimentou Figueiredo porque não queria fazer algo "obrigada", já que as pessoas ao seu redor insistiram para que ela o cumprimentasse. Apesar de seu relato desmistificar o simbolismo da foto, ela escreveu que ficou "orgulhosa por ter servido de alento para tantos brasileiros" e para "crianças que queriam estar no meu lugar por seus pais estarem presos [pela ditadura militar]".
Ela conta ainda que só percebeu que a foto era famosa em 1986, durante uma aula de história no colégio. Clemens passou a tentar encontrar o fotógrafo, sem sucesso. Em 2008, amigos de Nicolaevsky fizeram uma campanha em blogs e sites para tentar descobrir a identidade da garota, mas ele morreu no mesmo ano sem conhecê-la. Para a filha dele, Bertha Nicolaevsky, o verdadeiro motivo do não cumprimento não diminui a importância histórica da foto.
"Era uma garotinha, que não sabia nada sobre política, obviamente. Mas a imagem, no contexto político da época, significava uma rebeldia contra a ditadura, era um sentimento da época", disse. Segundo ela, o pai morava no Rio de Janeiro, mas se mudou para Belo Horizonte porque foi perseguido em razão da militância no PCB (Partido Comunista Brasileiro). "Ele se mudou por causa da repressão. Por isso, aquela foto representava o que ele pensava, era um repúdio à perseguição política", disse.


PROTESTO INDÍGENA
Líder nega ter mandado prender avião

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM
BOA VISTA (RR)

O líder ianomâmi Davi Kopenawa disse à Folha que nem ele nem seu filho Dario ordenaram a retenção da aeronave pilotada por Tarso de Souza Cruz. Kopenawa disse que estava fora de Roraima na ocasião, e a decisão partiu dos índios da aldeia Watorik. A retenção do avião foi a forma encontrada pelos ianomâmis para protestar contra uma possível mudança na chefia do DSEI-Y (distrito sanitário ianomâmi e ye'kuana), ligado ao Ministério da Saúde. Eles querem a manutenção no cargo de Joana Claudete Schuertz, que desenvolve um trabalho de décadas com os indígenas, e são contra a nomeação de Andréia Maia Oliveira, assessora regional da Funasa-indicada, segundo eles, pelo senador Romero Jucá (PMDB). O Ministério da Saúde não confirmou a nomeação de Andréia Oliveira, e Jucá negou ter indicado a servidora para o cargo.
Colaborou KÁTIA BRASIL, de Manaus


MINHA HISTÓRIA - TARSO DE SOUZA CRUZ, 57
Fuga da selva

(...)Entoando gritos de guerra, os índios arrastaram o avião e amarraram a hélice com cipó (...) A comunicação era mínima (...) Eles só falam algumas palavras em português (...)

RESUMO
O piloto Tarso de Souza Cruz, 57, passou oito dias na reserva ianomâmi, no Amazonas, depois de ter o avião retido pelos índios. Na última terça-feira, ele conseguiu deixar a aldeia Watorik, na região do Demini, e fugiu para Boa Vista (RR). Casado e pai de três filhos, Cruz é piloto há mais de 30 anos e trabalha em terras ianomâmis desde 1984.
(...) Depoimento a

ANDREZZA TRAJANO - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DE BOA VISTA (RR)

Sobrevoei a pista e não vi nada anormal. Os índios geralmente ficam em malocas distantes e só vão ao posto de saúde atrás de remédios. Pousei e encostei o avião no lugar de sempre. Foi quando eles apareceram. Eram mais de 30 homens, pintados para a guerra, com arco, flecha, espingarda, borduna e facão. O chefe dos guerreiros [José Yanomami] se aproximou e disse: "Avião tá preso". E exigiu a chave. Não fiquei preocupado.
Na semana anterior, haviam retido um outro avião por três dias [em Haxiú], mas depois liberaram, porque foi preciso remover um índio doente para Boa Vista. Só com a roupa do corpo, tirei a carga e uma bolsa com material de higiene, lençol e uma rede pequena que sempre carrego.

GUERRA
Entoando gritos de guerra, os índios arrastaram o avião e amarraram a hélice com cipó. A comunicação era mínima. Eles só falam algumas palavras em português e eu não entendo ianomâmi. Fiquei o tempo todo no posto da Funasa, próximo à pista. As duas enfermeiras disseram que o sequestro fora planejado na véspera, mas não avisaram porque os índios monitoravam o rádio.
O líder Davi Kopenawa Yanomami e seu filho, Dario, que estavam na associação ianomâmi Hutukara, em Boa Vista, ordenaram a retenção do avião via rádio. Um índio que falava português se aproximou e disse para ficar tranquilo, porque não iam fazer nada comigo. Também prometeu comida.
O problema é que eu e as enfermeiras não estávamos acostumados com a comida deles: beiju, açaí, mingau de banana, carne assada, tudo feito sem higiene. Uma enfermeira pediu que eles trouxessem caça para que cozinhasse. No outro dia, mandaram um pássaro. Numa carga destinada a outra tribo havia arroz, farinha e jabá. Foi o que comemos quase todos os dias.
Eu esperava um pedido de remoção de paciente para forçá-los a liberar o avião. Sempre tem algum que quebra a perna ou índia com problema de parto. E eu tinha pressa, porque havia comprado passagem para Brasília, onde minha filha casou no dia 4. Perdi a cerimônia. Mas não tinha jeito. Eles deixaram uma índia e seu bebê recém-nascido morrerem sem permitir o socorro. O Davi e o Dario diziam que aquilo era a luta deles para manter no cargo a chefe do distrito sanitário ianômami e ye'kuana, de quem eles gostam muito.

PLANO
Passei a executar um plano de fuga. Convenci os guerreiros a mudarem a posição da aeronave, que foi amarrada de costas para a pista, e fiz com que se acostumassem a me ver perto do avião. Entrava e fingia que estava procurando papéis, mas ficava testando as chaves que tinha encontrado no quadro da enfermaria. Até que uma chave velha e enferrujada -que vou levar comigo para sempre- funcionou.
O dia seguinte foi de tensão. Eles receberam ordens da Hutukara para interditar a pista com troncos de árvores. Decidi fugir na madrugada da última terça. Levantei às 4h. Removi os galhos, fui tateando, sem enxergar nada. Estava preocupado com a pressão do óleo, que poderia estourar a mangueira. Mas não tinha o que fazer. De repente veio um nevoeiro. Orei e decolei às 5h20, com uma lanterna na boca. Nem vi se tinha algum índio por perto. Foi o amanhecer mais lindo da minha vida.



MUNDO
Euforia econômica na América Latina parece longe do fim

LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

A euforia com a economia na América Latina parece longe de terminar, com o cenário de alta no valor das matérias-primas que os países vendem para a China. Mesmo inflação e taxa de desemprego não aparentam pôr em risco o bom momento.
A única situação que poderia comprometer a economia da América Latina é uma crise no sistema financeiro, mas nem Wall Street está preocupada com isso.
O Instituto Internacional de Finanças estima que os países emergentes vão receber neste ano US$ 1 trilhão em capitais. O valor é 20% superior ao visto em 2010.
"Os países da América do Sul são clientes da China, e os riscos são menores", diz Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia argentino.
"Até se os EUA aumentarem a taxa de juros os países da região ganham, pois muitos, como Brasil e Chile, estão com as moedas locais fortes", afirma o economista chileno Raul Ferro, do Centro para Abertura e Desenvolvimento da América Latina.


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