Crise derruba Palocci; Dilma põe senadora novata na Casa Civil
A presidente Dilma Rousseff demitiu Antonio Palocci, 50, após cinco meses e sete dias de governo. Gleisi Hoffmann (PT-PR). Indicado pelo ex-presidente Lula para ser o principal operador político da gestão Dilma, Palocci teve a credibilidade corroída pelas reportagens da Folha que mostraram a multiplicação de seu patrimônio em quatro anos e o faturamento de R$ 20 milhões de sua consultoria somente em 2010.
PROTESTO DOS ÍNDIOS
Piloto de avião retido em aldeia escapa
Aeronave, pertencente a uma empresa de táxi aéreo, tinha sido retida por índios ianômamis há uma semana
Índios protestavam contra uma possível nomeação política para o Distrito Sanitário Yanomami e Ye'kuana
RODRIGO VARGAS - DE CUIABÁ
Um evento inesperado interrompeu ontem o protesto dos índios ianomâmis que havia mais de uma semana mantinham retido um avião Cesna fretado pela Funasa em uma aldeia de Barcelos, no Amazonas. O piloto da aeronave, Tássio Sousa, aproveitou um descuido dos manifestantes e decolou no início da manhã em direção ao aeroporto de Boa Vista (RR).
Os índios protestavam contra a possível nomeação de uma servidora do Ministério da Saúde para a chefia do DSEI-Y (Distrito Sanitário Yanomami e Ye'kuana). A fuga ocorreu por volta de 5h30 da manhã, enquanto os índios dormiam, diz Dário Kopenawa, um dos líderes da etnia. "O piloto conseguiu pegar a chave, tirou as pedras e paus que bloqueavam a pista e foi embora", relata.
Segundo ele, o piloto "não estava preso, não era maltratado e não sofria ameaças". "Não sei o que ele pensou, pois estava numa boa. O protesto envolvia só o avião." Mesmo sem o instrumento de barganha, a manifestação vai continuar, diz o ianomâmi. "Estamos revoltados com o que aconteceu [fuga do piloto]. Agora vamos a Brasília para tentar falar com o ministro da Saúde", disse. A Roraima Táxi-Aéreo, proprietária do avião, confirmou o retorno do piloto e da aeronave a Boa Vista.
"INDICAÇÕES POLÍTICAS"
Em carta encaminhada na semana passada ao ministro Alexandre Padilha (Saúde), os ianomâmis se declararam "muito indignados" com "indicações políticas" para o DSEI-Y. "Qualquer nomeação de cargo que não passe por uma consulta das comunidades Yanomami e Ye'kuana não será aceita", dizia um trecho da carta. A queixa diz respeito à possível nomeação de Andréia Maia Oliveira, assessora da coordenação regional da Funasa, para a chefia do distrito. A indicação, segundo os índios, foi feita pelo senador Romero Jucá (PMDB).
O senador nega participação no processo. Em nota à Folha, o Ministério da Saúde disse que o secretário especial de Saúde Indígena, Antônio Alves, mantém contato com os índios para "verificar os pontos de reivindicação", mas afirmou que as nomeações são "atribuição exclusiva do governo federal".
QUESTÃO AGRÁRIA
Após mortes, Força Nacional inicia operação hoje no Pará
Efetivo apoiará polícias locais contra crimes
FELIPE LUCHETE - DE BELÉM
Uma força-tarefa federal começa hoje a atuar em áreas do Pará, do Amazonas e de Rondônia para reforçar a segurança. A operação foi determinada pela presidente Dilma Rousseff, após cinco pessoas serem assassinadas em menos de 10 dias em zonas rurais da região Norte. Participarão Polícia Federal, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal e das Forças Armadas. Segundo o Ministério da Justiça, eles apoiaram as polícias locais. O efetivo não foi divulgado.
No Pará, a operação terá sedes em Marabá, sudeste do Estado, onde quatro pessoas foram mortas, e Altamira e Santarém, no oeste, onde a taxa de homicídios também é alta, segundo o ministério. Segundo a Comissão Pastoral da Terra, o clima de tensão na região fez com que ao menos nove famílias deixassem o assentamento agroextrativista de Nova Ipixuna, perto de Marabá.
Nesse assentamento, foi morto em 24 de maio o casal de extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva. Quatro dias depois, foi encontrado no mesmo assentamento o corpo de Eremilton Pereira dos Santos. A polícia diz que não há vínculo entre os crimes e não informa detalhes sobre as investigações. Ontem, foram divulgados retratos falados de dois suspeitos do assassinato do casal, baseados em relatos de duas testemunhas.
Na mesma região, em Eldorado do Carajás, a polícia apura o assassinato do lavrador Marcos Gomes da Silva, ocorrido na semana passada. Segundo a CPT, mais duas pessoas estão ameaçadas na cidade -um deles é Dejesus Martins Araújo, que lidera um acampamento e disse à polícia ter visto dois encapuzados que mataram Silva.
TRAGÉDIA DO VOO 447
França encerra resgate e deixa 74 corpos no mar
Segundo associação de parentes das vítimas do voo 447, outros 104 foram resgatados em operação encerrada sexta
Corpos retirados do mar nas últimas semanas devem chegar à França para identificação na semana que vem
ANA CAROLINA DANI - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
REYNALDO TUROLLO JR. - COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A França encerrou a operação de resgate dos corpos das vítimas do voo 447 (Rio-Paris). O Airbus A330 da Air France caiu no Atlântico em 31 de maio de 2009, matando as 228 pessoas a bordo. Segundo o presidente da Associação dos Familiares de Vítimas do Voo 447, Nelson Marinho, o governo francês informou que, dos 228 corpos, 74 não serão resgatados.
Na época do acidente, 50 corpos foram retirados do mar. Na operação encerrada agora, foram mais 104. As autoridades francesas alegam, segundo Marinho, que os demais estão despedaçados. "Isso não é justificativa, porque pedimos restos mortais. Não esperávamos corpos inteiros", disse Marinho. "Vão ficar 74 famílias sem ter [um túmulo] aonde ir."
O embaraço legal dessa decisão, afirma, é que as famílias que não tiveram parentes resgatados terão de pedir à Justiça uma certidão de morte presumida, documento que leva de seis meses a dois anos para ficar pronto. O Instituto de Investigações Criminais da Policia Militar da França confirmou que a operação de resgate foi finalizada na sexta-feira passada, mas não revelou o número exato de corpos resgatados -disse apenas que foram "cerca de cem".
IDENTIFICAÇÃO
Os corpos retirados do mar nas últimas semanas devem chegar à França para identificação em meados da semana que vem. Os restos mortais estão sendo transportados a bordo do navio Ile de Sein.
A identificação será feita por médicos legistas e especialistas criminais da PM. No início de maio, as equipes que trabalhavam no navio conseguiram, com a ajuda de um robô, içar dois corpos, que foram enviados a um laboratório privado. Os especialistas conseguiram extrair o DNA das vítimas, apesar de elas terem passado quase dois anos a 3.900 metros de profundidade. As autoridades francesas aguardam agora os dados pessoais de todas as vítimas para concluir a identificação.
INVESTIGAÇÃO
Até hoje, as causas do acidente não foram esclarecidas. Ha duas semanas, o BEA, órgão francês que investiga o acidente, divulgou parte das gravações das caixas-pretas do Airbus A330.
Os dados só permitiram confirmar que defeitos nas sondas pitot, que medem a velocidade das aeronaves em voo, deflagraram os eventos que levaram à queda. O relatório final deve ser divulgado no início do ano que vem.
ENCHENTES EM RR
Medo de desabastecimento causa corrida a postos e supermercados
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BOA VISTA (RR) - O risco de desabastecimento de alimentos e combustível está provocando uma corrida a postos e supermercados de Boa Vista. O Estado de Roraima está isolado por via terrestre.
Alguns gêneros alimentícios já estão em falta. O Estado importa quase todas as verduras de São Paulo e alguns itens da cesta básica de outros locais, mas a maior parte dos insumos vêm de Manaus (AM).
Dos 50 postos de combustível da capital, cinco estão sem gasolina.
A Defesa Civil informou que está adotando as medidas necessárias para evitar o racionamento de alimentos e combustível e que aguarda o recebimento de barcos cedidos pela Marinha para transportar insumos e pessoas das regiões mais afetadas.
Segundo o órgão, há ao menos 412 desalojados e desabrigados em Boa Vista. Não há dados do interior devido à dificuldade de comunicação.
Roraima enfrenta o inverno mais rigoroso de sua história. O nível das águas do rio Branco, que banha o Estado, chegou ontem a 10,24 metros, superando o recorde de 1976 (9,80 m). O inverno no Estado vai de abril a setembro e é marcado pelas chuvas.
Estradas estão alagadas e quatro municípios do sul (Caroebe, São Luiz do Anauá, São João da Baliza e Rorainópolis) estão debaixo d'água.
VULCÃO CHILENO
Vulcão cancela voos e lota hotéis em SP
Cinzas de erupção no Chile fecharam aeroportos argentinos e afetaram a malha aérea em parte da América do Sul
TAM e Gol tiveram que cancelar 51 voos entre o Brasil e aeroportos de Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai
LUCAS FERRAZ - DE BUENOS AIRES
CRISTINA MORENO DE CASTRO - DE SÃO PAULO
O advogado Daniel Guedes, 30, planejou a viagem de férias a Buenos Aires de modo que hoje de manhã pudesse disputar vaga no mestrado de direito constitucional da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em Natal.
Ele perdeu a prova. Guedes foi um entre centenas de brasileiros que não puderam voltar da Argentina ontem.
As cinzas do vulcão chileno Puyehue, que chegaram na madrugada de ontem a Buenos Aires, deixaram fechados, por quase todo o dia, o aeroporto de Ezeiza, na região metropolitana, e o Aeroparque, na área central.
Por medida de segurança, já que as cinzas podem danificar as aeronaves, todas as decolagens e partidas chegaram a ser canceladas.
Voos entre Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Chile foram afetados. Só no final da tarde, com o tempo melhor, rotas foram retomadas.
TAM e Gol, as duas companhias brasileiras que operam na área afetada pelas cinzas, cancelaram ontem pelo menos 51 voos.
Apenas uma aeronave decolou ontem de Ezeiza rumo ao Brasil. Outra partiu, já à noite, do Aeroparque.
SÃO PAULO
Em São Paulo, passageiros que ficaram sem voo também não tinham onde ficar -faltaram vagas em hotéis.
No aeroporto de Cumbica, 40 voos foram cancelados até as 22h -partidas e chegadas de e para Santiago, Buenos Aires, Montevidéu e Lima, de companhias nacionais e estrangeiras.
O posto da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) ficou cheio. Passageiros se queixavam de falta de informação e pediam vale-alimentação e hospedagem, obrigações das companhias.
Um grupo de argentinos e uruguaios procurou a TAM para pedir hospedagem para 30 pessoas em hotel.
"Não compreendemos por que a empresa não nos assiste e nos manda a um hotel ou dá uma alternativa de viagem", reclamou o advogado José Agustin Pernigotti, 52, que vinha de Nova York e ia para Buenos Aires.
A TAM, assim como a Gol, disse que não conseguiu hotel para acomodar todos.
O Snea (sindicato das empresas) avisou a Anac sobre o problema -passageiros da Grande SP eram orientados a voltar para casa; quem era de outro Estado deveria buscar a casa de parentes.
Havia vagas em hotéis quatro e cinco estrelas em São Paulo, segundo a associação do setor. Já os econômicos e os do entorno de Guarulhos ficaram lotados.
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