DESTAQUE DE CAPA
Já sem apoio do PT, Palocci promete explicação pública
Dirigentes do partido pedem saída do ministro e articulam substituição
Reunida ontem, a Executiva Nacional do PT não deu qualquer declaração de apoio ao ministro Antonio Palocci (Casa Civil) e decidiu esperar uma explicação pública dele sobre o aumento de seu patrimônio quando era deputado federal e coordenador da campanha presidencial de Dilma Rousseff. Dirigentes chegaram a anunciar que o PT divulgaria resolução deixando claro que a crise que envolvia Palocci é uma questão do governo, e não do partido. Mas o Palácio do Planalto interveio, evitando o documento. A operação do Planalto não conseguiu impedir, porém, que quatro dirigentes do PT defendessem a saída imediata do ministro. O secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, admitiu que a situação é delicada e eu Dilma pediu explicações ao ministro, o que pode ocorrer hoje. Reservadamente, petistas já falam em nomes para substituir Palocci.
IMPASSE NO CAMPO
Mais um acampado é morto em emboscada
Marcos Gomes da Silva, de Eldorado do Carajás, foi assassinado quando era levado para hospital, já baleado
Fábio Fabrini* e Roberto Maltchik
MARABÁ (PA) e BRASÍLIA. Em meio à onda de assassinatos na Amazônia, mais um agricultor foi morto ontem no Pará. Em Eldorado do Carajás, no sudeste do estado, cidade-palco do massacre que vitimou 19 sem-terra em 1996, foi assassinado Marcos Gomes da Silva, de 33 anos, morador do acampamento Nova Sapucaia, em processo de regularização pelo Incra. Ele foi executado a tiros numa emboscada armada numa estrada vicinal.
A Polícia Civil descartou a ligação com conflitos agrários, mas a Comissão Pastoral da Terra (CPT), que acompanha casos de violência no campo, argumenta que é cedo para conclusões.
Mulher de vítima testemunhou execução
Marcos trabalhava na construção de uma ponte perto de sua casa quando, por volta das 16h de quarta-feira, foi abordado por dois homens e baleado na barriga. Ele caiu num riacho, conseguiu se esconder no mato e esperou que a dupla fosse embora para pedir socorro a um vizinho. Somente por volta das 21h, os acampados conseguiram uma picape para levá-lo à sede de Eldorado do Carajás - segundo o depoimento de testemunhas, não havia telefone em condições de uso no local. Os criminosos, encapuzados, fincaram uma estaca na estrada, obrigando o motorista do veículo a parar no caminho. Marcos foi retirado à força e morto diante da sua mulher e de mais três pessoas.
- Quando já iam tirando ele, deram um tiro e depois outro tiro. O rapaz do carro pediu: "Não façam isso!". Mas eles mandaram a gente voltar com o carro - contou o coordenador do acampamento, Dejesus Martins Araújo.
Marcos foi deixado no local. Somente na manhã seguinte, os acampados seguiram para Eldorado do Carajás e acionaram a polícia. Não há caminhos alternativos para a sede do município. O corpo foi encontrado na mata por volta das 8h, com a orelha esquerda arrancada e quase degolado.
- A gente fica chocado. Nunca recebemos ameaça no acampamento. Os vizinhos que são encostados em nós são todos amigos. A terra tem um antigo proprietário, mas ele não fez reivindicação - disse Martins.
O superintendente da Polícia Civil em Marabá, Alberto Teixeira, informou ontem que, a partir dos depoimentos colhidos, não é possível associar o crime a conflitos agrários. Segundo ele, Marcos não tinha inimigos, não fora vítima de intimidação e, desde que chegou a Eldorado, ninguém havia reclamado o terreno que ocupava. Entre a primeira e a segunda emboscada, explicou o delegado, não relatou nenhuma desavença ou informação que favorecesse a identificação dos criminosos. Há a possibilidade de que alguém tenha avisado o momento em que o agricultor seria levado a Eldorado do Carajás.
- Pelos fatos, se ele tivesse algum problema, teríamos a informação. Vamos agora verificar a vida pregressa dele: se tinha passagem com a polícia, pendência da Justiça, demanda trabalhista - adiantou o delegado, acrescentando que, em caso de conflito agrário, seria mais provável que o coordenador do acampamento fosse abatido.
Marcos era maranhense e morava só com a mulher, Maria Francisca, em Nova Sapucaia, um acampamento ligado à Federação dos Trabalhadores da Agricultura no Pará (Fetagri-PA). Ele não tinha nenhuma função de liderança no local.
O advogado da Pastoral da Terra em Marabá, José Batista Afonso, disse que o delegado está se precipitando:
- A Polícia Civil tem mania de concluir antes de investigar. Não estamos dizendo o que foi, mas há, sim, a possibilidade de um conflito por terra ter motivado o crime. O acampamento se formou numa área de assentamento, já regularizada, cujas terras, aos poucos, foram se concentrando nas mãos de médios proprietários. Essas famílias, então, ocuparam o local.
Procurado, o Ministério do Desenvolvimento Agrário não se pronunciou sobre o caso. A Polícia Federal informou que, por ora, não recebeu nenhuma determinação do Ministério da Justiça para que participe da investigação.
Eldorado do Carajás fica na mesma região de Nova Ipixuna, onde o casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo foi morto em 24 de maio. Nas últimas semanas, quatro ativistas foram assassinados na Amazônia. O governo reconheceu, na terça-feira, não ter condições de garantir a segurança de todos os líderes que correm risco.
* Enviado especial
Para Kátia Abreu, mortes no campo são crimes comuns
Senadora classifica como "oportunismo" o tratamento dado aos assassinatos
Carolina Benevides
No dia em que mais um trabalhador rural foi morto no campo, a senadora Kátia Abreu (TO) classificou de "oportunismo" o tratamento dado às mortes, que, segundo ela, são crimes comuns. Nas últimas semanas, cinco ativistas foram assassinados.
- Isso é oportunismo. É querer usar uma situação trágica, inaceitável para todos, e culpar uma lei ambiental ou o Código Florestal - disse Kátia, que é presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). - É lamentável, mas a segurança pública tem sido um problema nacional. Em 2009, a CNA pediu ao Ministério da Justiça um plano de combate às invasões de terra e nada foi feito.
Líder da bancada ruralista, o deputado federal Moreira Mendes (PPS-RO) disse lamentar as mortes, mas também classificou os episódios como "oportunismo". Para ele, o destaque que o governo vem dando às mortes é uma estratégia para desviar a opinião pública da crise envolvendo Antonio Palocci, ministro da Casa Civil:
- Assassinatos ocorrem todos os dias em todos os lugares do Brasil, com velocidade muito maior. Há uma tentativa de confundir a opinião pública por conta dessa história do Palocci.
Em relação ao Código Florestal, que agora tramita no Senado e vai ser analisado por três comissões, Kátia disse que o ideal seria votá-lo antes do recesso de julho:
- Esse prazo de 180 dias não é necessário, acho lamentável. Há uma insegurança no campo que se arrasta por mais de dez anos, e a insegurança jurídica faz com que produtores se retraiam.
Kátia ressaltou ainda que "anistia não existe" no texto aprovado pela Câmara.
- Entendo que anistia é suspender a cobrança de multa sem pedir contrapartida. Então, anistia não existe.
Governo iniciará mega-ação policial na Amazônia
Até Forças Armadas farão parte da operação para evitar novos assassinatos no Pará, no Amazonas e em Rondônia
Chico de Gois
BRASÍLIA. Uma reunião entre a presidente Dilma Rousseff, quatro ministros e os governadores do Pará, do Amazonas e de Rondônia definiu que uma grande ação policial será desencadeada nesses três estados que vêm enfrentando violência no campo, com o assassinato, nos últimos dez dias, de líderes ambientalistas. Pelo plano traçado, participarão da ofensiva a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal, a Força Nacional de Segurança e até mesmo as Forças Armadas.
Não está definido de que forma os militares agirão nem as cidades onde atuarão. De acordo com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, caberá aos governadores solicitar a presença das tropas e depois, em comum acordo, definir as áreas onde elas serão necessárias. O objetivo dessa ação coordenada, segundo Cardozo, é coibir novos homicídios e, ao mesmo tempo, fazer a apuração imediata dos crimes já ocorridos. A operação já tem nome: Operação Em Defesa da Vida.
Cardozo diz que problema será resolvido desta vez
O ministro afirmou que, na semana que vem ele e os ministros da Defesa, Nelson Jobim, e da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, acompanhados de representantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), visitarão os três estados para apurar a situação de impunidade nesses locais.
- É necessário que tenhamos inquéritos rápidos para apurar homicídios e é necessário que tenhamos também ações judiciais rápidas para que sejam punidos aqueles que praticaram atos ilícitos - disse Cardozo.
Apesar de o governo federal ter adotado ações semelhantes às anunciadas ontem em situações que ocorreram no passado - e que não resolveram o problema da violência no campo no Norte do país -, Cardozo prometeu que agora as coisas serão diferentes.
- Não estamos jogando palavras ao vento. O que foi falado será cumprido - declarou.
O ministro lamentou a morte do lavrador Marcos Gomes da Silva, assassinado anteontem em Eldorado do Carajás (PA). Apesar da violência e diante de uma lista apresentada pela Comissão Pastoral da Terra que aponta mais de 1.800 pessoas ameaçadas de morte no campo, Cardozo reafirmou o que a ministra da Secretaria de Direitos Humanos havia dito no início da semana: é impossível colocar proteção individual para cada uma dessas pessoas.
- A proteção a pessoas ameaçadas entra em uma política global - declarou.
Governadores pedem união entre os entes federativos
Os governadores elogiaram a reunião e destacaram que é preciso união entre os entes federativos para poder superar o problema.
- Se temos alguma chance efetiva de vencer isso, a exigência fundamental é que estejamos juntos- afirmou Simão Jatene, do Pará, que observou que o combate ao crime não tem fronteiras e que os estados não sentem que haverá uma intromissão federal indevida em seus territórios.
- O crime não tem essa história de ser federal, estadual ou municipal. Ele tem de ser esclarecido e punido - defendeu.
Para Confúcio Moura, de Rondônia, houve uma manifestação política clara de que o governo federal e os estaduais querem resolver a questão. Omar Aziz, do Amazonas, disse que, além da força policial, é preciso haver políticas de desenvolvimento sustentável para os estados.
- Não adianta só força policial. É preciso haver regularização fundiária e desenvolvimento sustentável para a região.
"DIÁLOGO POLÍTICO-MILITAR EUA-BRASIL"
Depois de cinco anos, novo diálogo militar com os EUA
Governo americano acena com transferências de tecnologia de armas e outros equipamentos militares
José Meirelles Passos
Estados Unidos e Brasil vão retomar hoje, em Brasília, o diálogo político-militar que estava interrompido há cinco anos. Os desafios de segurança no hemisfério - como as sofisticadas redes do crime organizado, o narcotráfico e o tráfico tanto de armas quanto de pessoas - e as maneiras de enfrentá-los em parceria serão discutidos por diplomatas e militares de ambos os países. Mas o secretário de Estado Assistente para Assuntos Político-Militares, Andrew J. Shapiro, vai colocar sobre a mesa um outro tema que, no fundo, é o que no momento mais interessa ao governo brasileiro: o acesso à tecnologia de armas e outros equipamentos militares dos EUA.
- Há no governo e no Congresso dos EUA um compromisso de se fazer uma robusta transferência de tecnologia ao Brasil, garantindo que os sistemas americanos sejam fornecidos de acordo com as necessidades brasileiras - afirmou Shapiro em entrevista ao GLOBO, anteontem à noite, no Rio de Janeiro.
Autoridades do ministério da Defesa e do Itamaraty terão do outro lado da mesa Shapiro e representantes do Pentágono e também do Comando Conjunto das Forças Armadas americanas. Não se esperam acordos. Mas trocas de ideias para identificar "coisas nas quais possamos trabalhar em conjunto, como parceiros", disse Shapiro.
- Há muitas ideias erradas e impressões equivocadas sobre a transferência de tecnologia. Particularmente em se tratando da concorrência dos caças, é inquestionável o nosso compromisso pela transferência de tecnologia. Minha esperança é a de que possamos falar sobre os aspectos técnicos disso - acrescentou.
Segundo um funcionário do Itamaraty, a expectativa brasileira em relação ao "Diálogo Político-Militar EUA-Brasil" de hoje (o mais recente foi em 2006, em Washington) é a de o governo brasileiro obter "condições ótimas" em termos de acesso tecnológico:
- Não compramos mais apenas os equipamentos militares. Agora estamos interessados em pacotes tecnológicos - disse a fonte.
É Shapiro quem autoriza, ou não, as vendas de armas
Ontem, em discurso na Escola Superior de Guerra, no Rio, Shapiro afirmou que um pacote já aprovado pelo Congresso americano daria ao Brasil acesso expandido à tecnologia americana. E garantiu, sem dar detalhes, que a proposta americana "contém uma oferta sem precedentes para a liberação de tecnologia significativa ao Brasil".
- Posso dizer aos senhores que o índice de aprovação para pedidos de licenças, envolvendo a exportação de tecnologia para o Brasil, está acima de 90 por cento. Esse índice é, de fato, igual ao de outros parceiros íntimos dos EUA - afirmou Shapiro à platéia.
Ele chefia um birô no Departamento de Estado com ligação direta com o Pentágono. É ele quem autoriza as vendas de armas e equipamentos militares a outros países. A sua missão é a de "garantir que as prioridades militares dos EUA estejam alinhadas com as suas prioridades em política externa". Shapiro é o braço direito da secretária de Estado, Hillary Clinton, em assuntos de defesa há tempos: antes de assumir o atual posto, um ano atrás ele foi conselheiro dela nesse assunto ao longo de oito anos, no Senado.
O encontro de hoje não resultará em acordos imediatos. Trata-se de uma troca de idéias sobre defesa que, segundo Shapiro, os EUA querem ter com mais frequência com o Brasil, uma vez que o país é "reconhecido como um poder global":
- Alguns especulam que os EUA devem ver a emergência do Brasil como um desafio à influência americana ao redor do mundo e nas Américas. Alguns ainda permanecem desconfiados de laços íntimos com os EUA. De nossa perspectiva, já passou da hora de irmos além dessas montagens falsas e suspeitas de uma era ultrapassada. A noção de que as ascensão do Brasil deve vir às custas dos EUA é reflexo de uma visão obsoleta do mundo - afirmou Shapiro, manifestando-se disposto a aprofundar a parceria, e a "colocar nos trilhos esse diálogo político-militar com o Brasil", com encontros a cada dois anos ou "quando surgir o desejo ou necessidade de um dos lados".
Ao longo de toda a entrevista Shapiro se esmerou em transmitir a sensação de que o governo de Barack Obama pretende, de fato, dar um novo rumo ao relacionamento entre ambos os países, buscando um engajamento mais profundo com o Brasil inclusive na área militar.
Suas palavras soavam como uma clara tentativa de apagar conceitos emitidos durante o governo passado, e que foram registrados em dezenas de telegramas oficiais enviados a Washington pela embaixada dos EUA. Como um de novembro de 2009, por exemplo, dizendo que "dentro da América do Sul o Brasil vê os Estados Unidos como um competidor, e permanece profundamente suspeito de nossos motivos e intenções"; e que, por isso, era difícil haver uma cooperação militar entre os dois países.
NEGÓCIOS & CIA
Flávia Oliveira
Modelo aéreo 1
A MP 527, que cria a Secretaria de Aviação Civil, estabelece como atribuição do órgão transferir a estados e municípios a administração, manutenção e exploração, direta ou indireta, de aeroportos do país. Quem notou foi o deputado Otavio Leite (PSDB-RJ). O artigo, diz, pode apressar a privatização dos terminais, se os estados se cuidarem da licitação.
Modelo aéreo 2
Não será surpresa se, no encontro de hoje, Dilma e Sergio Cabral tratarem da "estadualização" do Galeão antes da privatização. O governador até já defendeu a ideia no mandato de Lula.
Modelo aéreo 3
Otavio Leite apresentou três emendas à MP 517. Numa propõe elevar de 20% para 49% a fatia estrangeira em companhias aéreas nacionais.
TRAGÉDIA DO VOO 447
Associação vai à Justiça contra aviões da Airbus
Cláudio Motta
A associação alemã de vítimas do voo 447 da Air France entrou com uma petição na Justiça francesa denunciando falhas nos sistemas de controle de voo automático da Airbus. De acordo reportagem da revista alemã “Der Spiegel”, os advogados da associação querem que o tribunal obrigue a Airbus a fazer “melhorias técnicas” para que os “sensores de velocidade não possam mais congelar no futuro”. E levanta a possibilidade de toda a frota do A330 e também do A340 ser temporariamente proibida de voar. De acordo com a “Spiegel”, mais de mil aviões seriam afetados. Há dois anos, a queda de um modelo A330 que fazia o voo AF 447 deixou 228 vítimas.
A revista alemã ressalta, ainda, que a principal polêmica envolvendo as causas do acidente está na dúvida se os pilotos reagiram incorretamente quando os sensores de velocidade do lado de fora do avião congelaram e o piloto automático foi desativado ou se alguma falha técnica provocou a queda do avião da Air France.
As críticas da associação de vítimas à Airbus seriam sustentadas pelo especialista Gerhard Hüttig, professor do Instituto de Aeronáutica e Astronáutica da Universidade Técnica de Berlim. Numa simulação, há cerca de um ano, ele observou uma estranha anomalia na reação do avião quando havia perda de sustentação (estolagem). O estabilizador horizontal de compensação teria automaticamente empurrado o nariz do avião para cima.
Em nota enviada ao GLOBO, a Airbus afirmou que o BEA faria recomendação de segurança se tivesse encontrado problema nos aviões durante as investigações. Essa informação seria repassada aos seus operadores, mas isso não foi feito até o momento. A companhia afirma que vem colaborando com a investigação e classifica como especulação as tentativas não relacionadas à investigação oficial.
PRIVATIZAÇÃO DE AEROPORTOS
Avianca quer entrar em concessões
Paulo Justus
SÃO PAULO. A companhia aérea colombiana Avianca pode participar das privatizações de aeroportos no Brasil. De acordo com o presidente da Avianca Brasil, José Efromovich, a entrada da empresa nos leilões de concessão que serão realizados pelo governo dependerá das condições oferecidas pelos editais de cada aeroporto. A ideia é aproveitar a experiência do grupo Synergy, controlador da Avianca, nessa área. Na Colômbia, a AviancaTaca construiu e administra o aeroporto de Bogotá, além de participar da operação de outros aeroportos menores pelo país.
Efromovich disse que a participação do grupo nas concessões que serão leiloadas aqui poderá ser por meio da Avianca Brasil ou mesmo pelo grupo Synergy, que já tem investimentos em infraestrutura. Ele afirma que a empresa está avaliando o caso do aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN).
A Avianca anunciou ontem três novas bases no Brasil: em Ilhéus (BA), João Pessoa (PB) e Natal (RN). Com isso, está ampliando suas operações para 22 cidades brasileiras. A Avianca pretende investir US$1,5 bilhão no país até 2016. Segundo Efromovich, a Avianca quer passar dos atuais 2,5% de participação do mercado para mais de 5% em 2016.
POLÍTICAS SOBRE DROGAS
FHC vai à ONU pedir fim da guerra às drogas
Ex-presidente preside comissão defendendo descriminalização do uso e o fim da proibição de entorpecentes
Fernanda Godoy
NOVA YORK. A guerra contra as drogas fracassou, segundo a Comissão Global de Políticas sobre Drogas. Após lançar um relatório defendendo a descriminalização do uso e o fim do regime de proibição, uma comissão de alto nível - sob o comando do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso - se reúne hoje com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, levando uma petição com mais de 500 mil assinaturas pelo fim dessa guerra e pela transferência de recursos para educação e saúde.
- Por causa da influência dos Estados Unidos e de alguns regimes autoritários, a ONU mantém uma antiga convenção dizendo que o objetivo é o consumo zero de drogas, e a guerra seria o principal instrumento para alcançar isso. Isso é antiquado e tem que mudar - disse Fernando Henrique, que citou o documentário "Tabu", recém-lançado no Brasil.
A Convenção da ONU sobre narcóticos, adotada há 50 anos, prega o combate às drogas. O relatório apresentado ontem defende que os governos adotem experimentos legais que descaracterizem o consumo de drogas como crime e deem apoio às vítimas, como vem sendo feito na Suíça, em Portugal, na Holanda e no Reino Unido.
Os líderes do movimento são nomes de peso como os ex-presidentes Cesar Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México), o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, os escritores Mario Vargas Llosa e Carlos Fuentes, o ex-presidente do Fed Paul Volcker e o ex-secretário de Estado dos EUA George Shultz - pessoas que, na definição de Fernando Henrique, "não são libertárias, são do establishment, mas reconhecem a importância de abrir um debate sobre a questão das drogas".
Primeira reação da Casa Branca é negativa
As assinaturas da petição foram recolhidas na internet pela ONG Avaaz - e o país com o maior número de signatários é o Brasil. "É bom para mim", comentou Fernando Henrique. Mas o objetivo não é legalizar as drogas, e sim descriminalizar, suprimir o cerco policial ao usuário. Eles defendem que os viciados sejam tratados como caso de saúde pública e que se aumentem os investimentos em educação e prevenção.
Fernando Henrique, Gaviria e Zedillo têm percorrido grandes universidades e centros de estudo nos EUA e sabem que a batalha para conquistar a opinião pública do país não será fácil.
- É necessário mais ativismo, mas com seriedade. Nossa bandeira não é "liberar geral", não vai funcionar. As mães de família têm medo das drogas, e têm razão de ter medo - disse o ex-presidente.
Ontem, a primeira reação do governo Barack Obama não foi positiva. O czar da Casa Branca para a luta contra as drogas, Gil Kerlikowske, afirmou que o relatório é "mal direcionado". "Tornar as drogas mais acessíveis - como o relatório sugere - tornará mais difícil manter nossas comunidades sadias e seguras", disse Kerlikowske, por meio de seu porta-voz, citando estatísticas mostrando uma queda de 46% no consumo de cocaína entre adultos nos EUA, nos últimos cinco anos. Segundo dados da ONU citados no relatório da comissão, o consumo de maconha no mundo cresceu 8,5% em dez anos (de 1998 a 2008) e o de cocaína, 27%.
Mas, para Fernando Henrique, a luta pelo apoio da Casa Branca está só começando:
- Os EUA têm um problema de gastos enormes com a questão das drogas, de deficiência de resultados, e um problema internacional, que cria dificuldades com seus vizinhos. Acho que a Casa Branca vai ler melhor nosso documento e ver que ele merece consideração mais séria.
O ex-presidente colombiano Cesar Gaviria destacou a importância do problema do México com os cartéis do narcotráfico.
- Para a América Latina, para os países que estão lutando contra os cartéis, é muito importante que as políticas dos EUA sejam eficazes. O México tem direito a exigir que esse tema seja debatido - lembrou Gaviria.
EDITORIAL
Belo Monte deve servir de bom exemplo
Entre as 40 condicionantes para liberação da licença ambiental para início das obras da hidrelétrica de Belo Monte está a obrigação de o consórcio responsável pelo empreendimento garantir o fornecimento de água potável e tratar os esgotos de 100% dos domicílios urbanos de dois municípios da região: Altamira e Vitória do Xingu.
Não há hoje no Brasil cidade que tenha alcançado esses índices. E no caso da Amazônia, tais objetivos estão ainda mais distantes, pois o índice de esgotos urbanos tratados nos maiores municípios locais não passa de 5%.
A construção da hidrelétrica, que levará cerca de oito anos, absorverá um volume de capital estimado entre R$19 bilhões e R$25 bilhões, dos quais R$3,2 bilhões se destinarão a projetos socioambientais.
A construção de Belo Monte deve criar mais de 20 mil empregos diretos no pico da obra, em 2013. Outros 80 mil indiretos surgirão em decorrência da hidrelétrica.
Para uma região marcada por pobreza endêmica e falta de infraestrutura, Belo Monte será uma grande oportunidade. Rodovias, pontes, hidrovias e atracadouros já estão sendo recuperados para receber máquinas a serem usadas na obra. Existe o compromisso formal do consórcio construtor de adquirir na região o que for possível para abastecer os alojamentos, abrindo mercado para pequenos e médios produtores rurais locais. Um outro compromisso é alfabetizar o máximo possível de trabalhadores (pela primeira vez serão admitidas pessoas analfabetas em uma obra dessa magnitude, exatamente devido à realidade da região, onde é elevada a parcela da população sem qualquer instrução).
Diferentemente de outros grandes projetos programados para regiões pouco desenvolvidas, o governo desta vez teve a preocupação de criar um grupo gestor das iniciativas que poderão transformar toda essa área do Rio Xingu. Não só as atenções de todo o Brasil estarão voltadas para Belo Monte. Ambientalistas dos vários cantos do plano certamente vão acompanhar, passo a passo, o que for feito por lá. Assim, Belo Monte possivelmente se constituirá em modelo de grande projeto capaz de melhorar a qualidade de vida da população local e contribuir para um desenvolvimento sustentável - vale lembrar que os municípios na área de influência da hidrelétrica contarão com uma receita de royalties, que terá de ser destinada a investimentos. Belo Monte isoladamente garantirá dois anos de crescimento da potência instalada de geração de energia elétrica necessária para atender à demanda brasileira. E de maneira a manter limpa a matriz energética do país, no momento em que a opção por novas usinas nucleares está sendo revista, deixando como alternativa a grandes hidrelétricas apenas termoelétricas mais poluentes.
Belo Monte é um empreendimento desafiador sob todos os aspectos. Para a engenharia brasileira, a construção de dois longos canais adutores será uma experiência sem paralelos. Para os investidores, o maior desafio será dar resposta aos que não acreditam que a hidrelétrica constituirá de fato um projeto rentável. E para as autoridades, é essencial que Belo Monte sirva de bom exemplo.
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