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quarta-feira, 8 de junho de 2011

08 de junho 2011 - JORNAL DO COMMERCIO


NUVEM INCÔMODA
Um dia de transtornos vulcânicos
Cinzas do Puyehue, que entrou em erupção no Chile, chegaram ao Rio Grande do Sul e levaram à suspensão de voos

Elas criaram um pequeno caos aéreo, com dezenas de voos cancelados (veja reportagem na página 26) – mas não puderam ser vistas a olho nu. As cinzas do vulcão Puyehue, chegaram ontem ao Rio Grande do Sul, três dias após o início da erupção, no Chile.
O fechamento dos aeroportos de Buenos Aires (Argentina), Assunção e Ciudad del Este (Paraguai), Montevidéu (Uruguai) e Santiago (Chile), entre outros, forçou a suspensão de voos das empresas Tam e Gol e de outras companhias com origem ou destino nessas cidades – inclusive partindo de Porto Alegre. A medida foi tomada por precaução: nuvens vulcânicas como a do Puyehue são compostas por material que lembra o vidro e que pode derreter em contato com as turbinas de um avião, provocando o apagamento dos motores. Para agravar a situação, o mau tempo em São Paulo também levou ao desvio de voos com destino à cidade (veja na página 26).
Ontem mesmo, a situação começou a se normalizar. No final da tarde, os dois aeroportos de Buenos Aires, Ezeiza e Aeroparque, foram reabertos. No entanto, segundo especialistas, o vulcão poderá ficar ativo pelos próximos 15 dias, o que pode causar novos impactos à malha aérea.

Partículas podem ter se incorporado a gotas de chuva
No Rio Grande do Sul, as cinzas passaram pela Fronteira Oeste, Zona Sul, Região Central e Noroeste, mas não deu para ver. Estavam a cerca de 10 quilômetros de altitude, acima das nuvens normais de chuva. De São Paulo, o pesquisador Saulo Freitas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), explicou que, na erupção, o Puyehue lançou partículas de todos os tamanhos. As maiores caíram pelos arredores do vulcão. Imperceptíveis, as que entraram no espaço aéreo gaúcho eram as mais miúdas:
– A partícula está muito alta, ela vai caindo lentamente, mas vai cair sobretudo no oceano. Pode sujar algumas áreas de campo ou uma parte das cidades, mas, até onde estamos acompanhando, como a erupção foi muito alta, os impactos na superfície brasileira serão poucos. Provavelmente, a olho nu, notaremos o céu um pouco cinzento, mas com pouca intensidade – explicou.
Como ontem choveu nas regiões sobrevoadas pela nuvem de cinzas, também é provável que as partículas tenham se incorporado às gotas. Nesse caso, pode ter havido um pequeno aumento na acidez da chuva, mas sem prejuízos às plantações ou à saúde. Não está, porém, completamente descartado que as partículas cheguem ao solo no Estado.
– Se houver cinzas no chão amanhã (hoje), vai ser pouco, mas não podemos prever – disse Freitas.
No final da tarde de ontem, a nuvem de cinzas já chegava ao Paraná.


Além da fuligem, mau tempo
Chuva e ventos fortes em aeroportos de São Paulo complicam ainda mais as operações aéreas no país

A nuvem de fuligem do vulcão chileno somada ao mau tempo em São Paulo na tarde de ontem transtornaram a vida dos passageiros no Brasil. Guarulhos e Congonhas, os dois mais movimentados do país, tiveram voos cancelados ou transferidos para outros terminais devido à forte chuva e a rajadas de ventos que passaram de 100 km/h.
Em Guarulhos, pelo menos 26 voos foram desviados para terminais nas proximidades, inclusive para Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Congonhas chegou a ficar fechado por 17 minutos, até as 18h03min. Depois, voltou a ter as operações suspensas por 16 minutos até as 18h29min.
Nove aviões foram desviados para Viracopos. Mas em Campinas, o tempo também complicou as operações. O vento forte chegou a derrubar escadas de embarque que seriam encostadas em aviões.
O mau tempo também complicou as operações no Salgado Filho. O aeroporto de Porto Alegre ficou fechado para pousos e decolagens entre 14h e 14h30min e das 16h40min as 17h10min e depois reabriu, operando por instrumentos. Até as 23h, o terminal acumulava 18,4% dos voos domésticos atrasados e 10,7% cancelados. Entre as operações internacionais o transtorno foi maior, em razão das suspensão de voos para o cone sul. Dos 10 voos internacionais previstos para ontem, oito foram cancelados.
A fuligem do vulcão chileno também foi motivo para companhias aéreas suspenderam voos para Foz de Iguaçu, no Paraná.
Como algumas rotas internacionais têm escalas domésticas, os cancelamentos ainda afetaram a malha nacional. Embora Ezeiza e Aeroparque, ambos em Buenos Aires, tenham reaberto à tarde, as companhias brasileiras decidiram manter as aeronaves no solo – em nome da precaução. Conforme a TAM, haveria “riscos para a operação de voos nestas rotas”. A companhia cancelou 39 voos.

Chuva ajudou a limpar atmosfera no Estado
À noite, a TAM acrescentou que espera normalizar hoje o tráfego com Foz do Iguaçu, Buenos Aires, Santiago, Assunção e Ciudad del Este. Também serão programadas partidas extras para esses destinos como forma de compensar os cancelamentos. Ontem à tarde, Aerolíneas Argentinas e a chilena Lan retomaram a ligação com o Brasil.
Conforme o tenente-coronel aviador Flavio Antonio Coimbra Mendonça, do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos da Força Aérea Brasileira, a nuvem de fuligem é formada por um material que, em contato com as turbinas, pode apagar os motores.
A fuligem do vulcão chileno, que viaja pelo Cone Sul de oeste a leste, por enquanto, não leva risco ao aeroporto Salgado Filho, na Capital, avalia o meteorologista Flávio Varone, do 8º Distrito de Meteorologia:
– A chuva também ajudou a limpar a atmosfera.

SALGADO FILHO
- Como a nuvem atingiu altitudes maiores e chegou mais dissipada ao Rio Grande do Sul, o aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, não deve ter problemas com as cinzas nos próximos dias, avalia o meteorologista Flávio Varone, do 8° Distrito de Meteorologia. A chuva no sobre o Estado também contribui para “limpar” a atmosfera.


Cinzas impressionaram os gaúchos em 1993

Cinzas vulcânicas nos céus do Estado são um fenômeno raro, mas não uma novidade. No dia 21 de abril de 1993, data em que os eleitores optaram em plebiscito pelo presidencialismo como sistema de governo do Brasil, os debates políticos entre os gaúchos cederam lugar à estranheza causada pela nuvem de cinzas.
O material havia sido trazido pelos ventos depois da erupção do vulcão Láscar, no lado chileno da Cordilheira dos Andes, e avançou do oeste do Rio Grande do Sul até Porto Alegre.
– Os automóveis expostos na rua, inclusive o meu, então um Escort XR3, ficaram cobertos por uma fina camada de fuligem de cinza – relembra o químico Assis Piccini, na época diretor técnico da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).
Os receios de que a fuligem provocasse problemas respiratórios ou danos à agricultura se provaram exagerados: três dias depois, a Fepam, a secretaria do Meio Ambiente da Capital e o Instituto de Ciências da Unijuí descartaram essas possibilidades.
– As cinzas são ácidas, podem até corroer folhas e vegetais, mas, pela distância e pela dispersão, chegaram muito fracas. Não lembro de nenhum relato de danos – diz Piccini.
A erupção do Láscar foi tão forte que a coluna de fumaça atingiu 25 mil metros acima do nível do mar. A do Puyehue, que entrou em erupção no sábado, não foi tão alta – atingiu 10 mil metros.

Poeira aumentou procura por lavagem de automóveis
Embora a poeira tenha atingido até Porto Alegre, o aeroporto Salgado Filho permaneceu aberto naquele episódio. Exceto pela sujeira dos carros – reportagem de Zero Hora da época conta que o movimento das lavagens de automóveis cresceu 30% –, a cidade seguiu a rotina do dia da votação.
Depois, o fenômeno voltou a se repetir no Estado em 2008. Com a erupção do vulcão Chaitén, também no Chile, uma fuligem bem dispersa alcançou a região de Santa Vitória do Palmar e do Chuí. A camada de cinzas ficou apenas na troposfera e não pôde ser vista a olho nu. O professor Francisco Aquino, do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), considerou desprezível a quantidade de partículas que chegaram ao território gaúcho.




Força Aérea Brasileira monitora avanço de nuvem de cinzas e coordena desvios do tráfego aéreo
Monitoramento visa evitar que os voos atravessem a área de risco

A Força Aérea Brasileira (FAB) está monitorando o avanço da nuvem de cinzas do vulcão chileno Puyehue e coordenando desvios do tráfego aéreo. Segundo o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), a camada de fumaça está concentrada na faixa de 5.200 a 7.600 metros. A informação foi divulgada no site da FAB.
O CGNA, órgão do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), acompanha a evolução da nuvem por meio de informações trocadas com o Volcanic Ash Advisory Centres, da Argentina, instituto responsável, segundo acordos internacionais, pelo monitoramento da situação na região.
— Recebemos informações a cada três horas ou sempre que houver alguma mudança significativa— afirmou o Major Aviador Antonio Marcio Ferreira Crespo, gerente nacional do fluxo de tráfego aéreo.
O órgão tem coordenado as mudança de destinos das aeronaves, que rumariam para aeroportos sob impacto da nuvem, e também os desvios necessários para que os voos não atravessem a área de risco.

Nuvens perigosas
As nuvens vulcânicas apresentam em seu componente material semelhante ao vidro e que, em contato com as turbinas, pode derreter e provocar danos, até o apagamento dos motores das aeronaves, segundo o Tenente Coronel Aviador Flavio Antonio Coimbra Mendonça, do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA).
— Além disso, há o risco da falta de visibilidade e dos gases tóxicos para as tripulações e passageiros— explica. 


INFORME ECONÔMICO
Maria Isabel Hammes

Aumento nas tarifas
Em breve, a Gol deve aumentar em cerca de 5% os preços médios das tarifas. Isso porque, revela a companhia, até agora, foi feito o repasse da alta de combustível de maneira “muito sensível”. Nos EUA, por exemplo, houve oito reajustes de janeiro a maio.
A companhia apresentou ontem sua primeira aeronave Boeing 737-800 Next Generation (foto abaixo) de 183 lugares configurada com o padrão sky interior. A empresa é a primeira na América do Sul a operar com esse equipamento, que oferece uma cabine mais ampla e com uma iluminação especial em LED, além de mais espaço para as bagagens de mão.
Até o final do ano, a Gol deve receber outras cinco aeronaves como essa. A ideia é substituir a maior parte da sua frota por aviões desse modelo – cem aeronaves com essa configuração deverão chegar até 2015.


USAR OU NÃO
Energia nuclear será debatida hoje

O Grupo Unificado promove hoje, às 17h, debate sobre uso ou não de energia nuclear, com participação do professor Israel Baumvol, PhD em física e professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e de Francisco Milanez, ex-presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). A organização é do professor Ênio Kaufmann. O encontro será na sede da Alberto Bins, 467, em Porto Alegre, só para alunos do Grupo Unificado.


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