DESTAQUE DE CAPA
Vice é alvo de inquérito no STF por suspeita de corrupção em porto
Investigação apura distribuição de propina por empresas em Santos na década de 90
Michel Temer nega ter recebido suborno e questiona conclusões obtidas pela polícia e pela procuradoria
BRENO COSTA - FERNANDO RODRIGUES
DE BRASÍLIA
O vice-presidente Michel Temer é investigado em inquérito no Supremo Tribunal Federal sob a suspeita de participar de um esquema de cobrança de propina de empresas detentoras de contratos no porto de Santos (SP).
O caso chegou ao Supremo em 28 de fevereiro e na semana passada seguiu para a apreciação da Procuradoria-Geral da República, que poderá determinar a realização de novas diligências.
A Folha teve acesso ao inquérito, que está no STF porque Temer tem foro privilegiado como vice-presidente. Os documentos do caso informam que os crimes sob investigação são corrupção ativa e corrupção passiva.
A Procuradoria da República em Santos pediu que o caso fosse remetido ao tribunal em 15 de setembro, durante a campanha eleitoral.
Presidente nacional do PMDB, Temer já havia sido escolhido para formar chapa com Dilma Rousseff (PT).
No texto enviado ao STF, a procuradora Juliana Mendes Daun diz que "Temer figura efetivamente como investigado neste apuratório".
O vice-presidente nega ter recebido suborno e critica o trabalho da polícia e da procuradora. Em 2002, o então procurador-geral da República Geraldo Brindeiro determinou o arquivamento de um processo administrativo preliminar sobre o caso.
Mesmo assim, a Polícia Federal instaurou um inquérito em 2006, já com citação ao nome de Temer como eventual beneficiário de pagamento de propinas.
Segundo a Folha apurou, a Justiça ordenou a quebra de sigilo fiscal de suspeitos e autorizou a investigação a instalar escutas telefônicas.
PLANILHAS
A polícia reuniu indícios de que empresas distribuíram propinas para vencer concorrências para exploração de áreas do porto de Santos, administrado pela Codesp (Companhia de Docas do Estado de São Paulo).
O órgão, hoje comandado pelo PSB, era área de influência política do PMDB e de Temer, então deputado federal.
Foi o partido que indicou o presidente da Codesp entre 1995 e 1998, Marcelo de Azeredo, o primeiro alvo das investigações da polícia.
Em 2000, a ex-mulher de Azeredo, Érika Santos, entrou com processo de dissolução de união estável na Vara da Família em Santos.
Nesse processo, ela juntou planilhas e documentos que indicavam, segundo o inquérito, o repasse de propinas que teriam sido pagas por duas empresas, Libra Terminais S/A e Rodrimar S/A.
O dinheiro, segundo as planilhas, foi entregue a Azeredo, a uma pessoa chamada apenas de "Lima" e a alguém identificado nos papéis como "MT". A PF e a Procuradoria dizem que "MT" é Temer.
Documento reproduzido pela procuradora Daun indica que eles receberam indevidamente R$ 1,28 milhão, o equivalente a 7,5% do contrato da Libra para exploração de dois terminais do porto. Segundo a polícia, Temer ficou com metade do valor.
Colaborou MÁRCIO FALCÃO, de Brasília
PAINEL DO LEITOR
Janio de Freitas
Jamais fui interpelado pela Procuradoria da República sobre "quantidade injustificável de telefonemas do então juiz Nicolau dos Santos Neto". Jamais servi no Planalto na gestão FHC.
No governo Collor, tive contato com presidentes de Tribunais Regionais do Trabalho por motivo funcional. Os processos de nomeações do Poder Judiciário -de ministro do STF a juiz classista- passavam por mim, no Gabinete Militar.
Eu os preparava para despacho do ministro da Justiça com o presidente da República. Nada mais razoável que me ligasse com o presidente do TRT-SP. Jamais tratei de obras, verbas ou coisa parecida.
A ilação de Janio de Freitas ("Dia de silêncios", Poder, 3/4) é infundada, leviana e inexplicável. Da primeira vez que tratou do assunto, já se vão alguns anos, coloquei à sua disposição minhas declarações de Imposto de Renda e extratos bancários. O jornalista preferiu seguir a linha das acusações irresponsáveis e mentirosas.
Quanto à volta do Haiti, não entendi as conclusões do colunista. Ultrapassei em três meses o prazo previsto para a missão. Fui convidado pelo chefe do Departamento de Operações de Paz da ONU e pelo secretário-geral da entidade para permanecer no cargo.
Finalmente, quanto à palestra sobre 31 de março de 1964, não iria ferir os princípios da hierarquia e da disciplina após 45 anos de serviço e no mais alto posto da carreira. Minhas palavras não iriam modificar os fatos, apenas contar a verdade aos mais jovens.
AUGUSTO HELENO PEREIRA , general do Exército, ex-comandante da Força de Paz da ONU no Haiti (Brasília, DF)
RESPOSTA DO JORNALISTA JANIO DE FREITAS -
Não afirmei que o general Augusto Heleno Pereira foi interpelado (a Procuradoria da República constatou). A invocação dos juízes classistas já foi feita e mostrou-se inconvincente. Palácio do Planalto, no caso, refere-se à secretaria ligada à Presidência. Não o relacionei com obras, mas com o ex-juiz Lalau, nem com motivo financeiro. Dois generais brasileiros voltaram por problemas com a ONU. Um é conhecido. Daí a questão.
PAINEL
RENATA LO PRETE
Por que não eu? Se a Secretaria da aviação Civil acabar nas mãos de Márcio Fortes (PP), o Planalto sabe que terá (mais um) conflito a administrar com o PMDB.
OPINIÃO
Ponte aérea
Carlos Heitor Cony
RIO DE JANEIRO - Os jornais não deram destaque, nenhum deles contou a história do servo-croata que passou horas detido no aeroporto do Galeão. Ele visitara o Corcovado, se esborrachara nas escadas que dão acesso ao Cristo, teve de colocar grampos metálicos na cabeça do fêmur, meses depois tentou voltar para casa.
Ao passar pelo detector de metais, o servo-croata apitou por todos os poros. Sem falar português, foi levado para uma sala, despido e pesquisado. Convocaram uns cães que farejaram o cara de alto a baixo. Mais sofreria se um policial, que fizera um curso não sei onde, não entendesse o que ele tentava explicar.
Viajo com alguma frequência e tenho motivos para não gostar desses detectores de metal, nem confiar neles. Alguns apitam contra mim, denunciando-me o isqueiro, as chaves, algumas moedas no bolso, coisas assim.
Pior mesmo é que tenho um pente que comprei há anos em Toledo, na Espanha. Tem uma parte metálica onde fica embutido o pente propriamente dito. Às vezes apita, às vezes não. Outro dia, no aeroporto de Roma, ele apitou com estridência -o que me valeu severa inspeção. Temi que chamassem os cães para me farejar.
Nos aeroportos nacionais, o pente já criou problemas. Mas pelo menos viajo tranquilo, sabendo que o detector cumpriu sua missão. O diabo é quando ele não apita.
Se não me denunciou, o detector de metais deve ter dado bobeira com outros passageiros. Durante as viagens, costumo vigiar os motores do avião, as asas, os ruídos, as nuvens, a cara dos tripulantes. E acrescento um item às minhas preocupações, fiscalizando os companheiros de bordo.
Numa viagem da ponte aérea, o cidadão ao meu lado abriu sua pasta e dela caiu uma peixeira, daquelas fininhas e compridas, que Lampião usava na cintura.
TENDÊNCIAS | DEBATES
Energia nuclear no Brasil pós-Fukushima
É natural que países sem recursos energéticos lancem mão da opção nuclear, mas a dotação de recursos do Brasil permite outra estratégia
*Ildo Sauer
Após duas décadas de hibernação dos planos nucleares, no final do governo anterior foram anunciadas a conclusão de Angra 3 e mais quatro usinas, possivelmente às margens do rio São Francisco. A previsão de investimento é da ordem de R$ 8 bilhões por unidade, atingindo R$ 40 bilhões para a instalação de 6.800 MW.
O país dispõe de capacidade tecnológica, de recursos humanos e de conjunto de recursos naturais para expandir a oferta de energia elétrica, em dados aproximados: 150 mil MW de potencial hidráulico remanescente, em adição aos 100 mil MW já desenvolvidos e em desenvolvimento; 143 mil MW eólicos; 15 mil MW de biomassa, mormente bagaço de cana; 17 mil MW em pequenas centrais hidrelétricas; 10 mil MW em cogeração e geração descentralizada por gás natural.
Isso tudo sem as possibilidades decorrentes da repotenciação e da modernização de usinas antigas e dos programas de racionalização do uso de energia. A energia eólica vem apresentando uma curva de aprendizado tecnológico notável, no mundo e no Brasil, conforme demonstrado pelas contratações recentes, com custos declinantes, já competitivos com a opção nuclear.
A própria opção fotovoltaica, conectada à rede de distribuição, tende a repetir o sucesso da eólica. Várias combinações entre esses recursos são possíveis para suprir a energia disponibilizada pela alternativa nuclear proposta, todas elas com custos de cerca da metade da opção nuclear, economizando mais de R$ 20 bilhões em investimentos para o mesmo benefício energético.
O desenvolvimento de 70% da capacidade hidráulica e de 50% do potencial eólico permitiria gerar anualmente cerca de 1,4 bilhão de MWh de fontes inteiramente renováveis, produção superior ao 1,1 bilhão de MWh requerido para atender a demanda brasileira prevista para a década de 2040, considerando uma duplicação do consumo per capita anual, para 5 MWh (semelhante ao padrão atual de Itália e Espanha), quando, segundo o IBGE, a população se estabilizará em torno de 220 milhões.
Há uma tendência natural de complementaridade das disponibilidades energéticas entre os ciclos hídrico e eólico. Além disso, eventual complementação com usinas térmicas, com suprimento flexível de combustível para operação em períodos hidroeólicos críticos, permitiria aumentar a confiabilidade e reduzir os custos.
É natural que países destituídos de recursos energéticos, como Japão, Coreia, França, ou mesmo Índia e China, lancem mão da opção nuclear como principal alternativa. Mas a dotação de recursos do Brasil permite outra estratégia.
A construção de usinas nucleares, por si só, não garante avanços significativos no domínio da tecnologia nuclear. A consolidação de nossa capacidade nuclear, inclusive para geração elétrica, depende de planejamento, projeto, desenvolvimento e construção de reatores, especialmente de pesquisa, no país. Há dois projetos para tanto.
O primeiro é o reator experimental de 50 MW, de iniciativa da Marinha, projetado e cujos equipamentos foram construídos e estão estocados há 20 anos. Ele deveria, finalmente, ser montado e operado, podendo testar tecnologia de convecção natural, base da segurança passiva, capaz de garantir o resfriamento do núcleo mesmo na ausência de energia elétrica.
Outro é o reator de alto fluxo de nêutrons, para teste de materiais, apoio a pesquisa em agricultura, biologia e medicina e produção de radioisótopos, caros e em falta.
O investimento estimado para os dois projetos é de cerca de R$ 1 bilhão, 5% dos custos economizados com o cancelamento do plano atual de geração nuclear e sua substituição por outras fontes, renováveis, sustentáveis e sem deixar como herança carga radioativa a exigir cuidados das gerações futuras.
*ILDO SAUER, doutor em engenharia nuclear pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos EUA), é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Energia da USP e diretor de energia da Fiesp. Foi gerente do projeto do Circuito Primário do Reator Nuclear da Marinha (1986-1989).
FOCO
Cunhado de Bolsonaro, soldado afirma que deputado não é racista
Ele não entendeu pergunta feita sobre casamento com afrodescendente, diz militar
JOHANNA NUBLAT
DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA
Diego Torres Dourado, conhecido por soldado Torres, 23, fez ontem uma pausa no trabalho para defender o polêmico deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), seu cunhado.
"Foi um equívoco, ele não entendeu a pergunta", disse Torres em frente à sede do Comando da Aeronáutica, a poucos metros do Congresso.
Em entrevista ao programa "CQC", da TV Bandeirantes, ao ser questionado pela cantora Preta Gil sobre o que faria se seu filho se apaixonasse por uma negra, ele disse: "Não vou discutir promiscuidade. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados".
O deputado depois disse que entendeu ser uma pergunta sobre relacionamento gay. Após repercussão negativa, afirmou ser casado com uma afrodescendente e ter como sogro um "negão".
Torres diz que é irmão por parte de pai de Michelle, mulher de Bolsonaro. "Meu pai é da minha cor. A Michelle tem a pele um pouco mais clara", disse, em entrevista acompanhada pela Aeronáutica.
O soldado descarta racismo da parte do cunhado. "Já estive várias vezes com ele. Ele nunca foi preconceituoso, porque ele não é."
MERCADO
Diretor do BNDES vai para aviação civil
Dilma escolhe Wagner Oliveira para dirigir secretaria que terá poder de transferir aeroportos à iniciativa privada
Vinculada à Presidência da República, Secretaria de Aviação Civil, que foi criada em março, terá status de ministério
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA
A presidente Dilma Rousseff escolheu o diretor do BNDES Wagner Bittencourt de Oliveira para comandar a Secretaria de Aviação Civil, órgão que terá poderes para transferir à iniciativa privada o direito de explorar os aeroportos e que foi criado há duas semanas por meio de medida provisória.
Carioca, Oliveira é diretor das áreas de Infraestrutura, Insumos Básicos e Estruturação de Projetos no banco estatal, do qual é funcionário desde 1975.
Engenheiro formado pela PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica) em 1974, também já ocupou os cargos de secretário do ministério da Integração Nacional, superintendente da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e presidente da Companhia Ferroviária do Nordeste.
Vinculada à Presidência da República, a Secretaria de Aviação Civil terá status de ministério.
Toda a estrutura da aviação civil, hoje sob o ministério da defesa, será transferida para a secretaria.
O órgão responderá por Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e Infraero (que administra os principais aeroportos).
A nova secretaria terá 129 cargos -entre o gabinete, a secretaria-executiva e outras três secretarias que ainda não estão definidas.
MP editada em março cria cem vagas efetivas para controladores de tráfego aéreo e permite a prorrogação, até 2016, dos contratos de 160 controladores temporários que seriam dispensados no mês passado.
NOMES
Antes de decidir por Oliveira, Dilma tentara convencer o presidente do grupo Safra, Rossano Maranhão, a assumir a secretaria.
Maranhão, no entanto, não poderia assumir o cargo neste momento, e o governo desistiu.
Os nomes do ex-ministro das Cidades Márcio Fortes e do presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, também foram cogitados.
A decisão da criação do órgão havia sido antecipada pela Folha em janeiro.
Rombo em aeronave leva EUA a recomendar teste em Boeing-737
Buraco de 1,5 metro é aberto em fuselagem; empresa encontra problemas em três unidades
Medida vai afetar 175 unidades dos 737/300, 737/400 e 737/500; no Brasil, Webjet opera com modelo
DO "NEW YORK TIMES"
Depois do incidente que abriu um buraco de 1,5 metro em um Boeing-737 da Southwest na sexta nos EUA, a Agência Nacional de aviação norte-americana anunciou ontem que vai recomendar às companhias aéreas que testem esses modelos para averiguar possíveis falhas e rachaduras na fuselagem.
A medida deve ser aplicada inicialmente em 175 unidades no mundo -80 estão registradas nos EUA. No Brasil, a Webjet opera com os aviões.
O pedido foi feito depois que a Southwest encontrou rachaduras em três 737 da sua frota em inspeção posterior ao incidente no voo com 118 passageiros na semana passada.
A empresa cancelou 600 voos durante o fim de semana para inspecionar 79 aviões.
A Boeing indicou a necessidade de verificação nos Boeing-737/300, 737/400 e 737/500. As investigações devem abranger unidades com mais de 30 mil ciclos (pouso e decolagem).
O Conselho de Segurança de Transportes dos EUA afirmou que o buraco no voo de sexta-feira foi causado por pequenas rachaduras em juntas da aeronave.
A empresa havia identificado e consertado, 11 meses atrás, 21 rachaduras na fuselagem da aeronave envolvida no incidente. A unidade tinha 39 mil ciclos e 46 mil horas de voo.
Especialistas em manutenção de aeronaves afirmam que pequenas rachaduras não são raras em jatos mais antigos.
"Segurança é nossa prioridade número um", afirmou o secretário de Transportes, Ray Lahood, em nota.
"O incidente da sexta foi sério e pode resultar em mais ações, dependendo do resultado da investigação."
Em 2008, a Agência Nacional de aviação dos EUA multou a Southwest em US$ 10,2 milhões por falhas de manutenção preventivas contra pequenas rachaduras nos Boeings-737.
Um porta-voz da empresa disse que envia os relatórios de manutenção para o órgão. "Se tivéssemos alguma coisa para nos preocupar, certamente teríamos avisado."
Impacto no país será mínimo, dizem empresas
DE BRASÍLIA
O efeito do recall da Boeing na aviação brasileira será mínimo, diz Ronaldo Jenkins, diretor técnico do Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias).
Hoje, poucas companhias operam com o 737 alvo de inspeção. A mais dependente é a Webjet, que informa que apenas três de seus aviões se encaixam no recall e que "nova inspeção será realizada imediatamente após a emissão das instruções pela Boeing".
A Anac recomendou reforçar a inspeção da fuselagem dessa aeronave e diz que acompanhará o caso.
Queda de placa faz aeroporto mudar ala
Após o desabamento de uma placa de acrílico que feriu uma funcionária da Gol no domingo, a Infraero do Maranhão afirmou que vai pôr, em até dez dias, uma nova estrutura no aeroporto de São Luís. Há mais de dez dias o terminal foi interditado pelo risco de queda do teto, e as operações são feitas em tendas e no antigo prédio do aeroporto. O aeroporto deverá ter estruturas metálicas cobertas com lonas e climatizadas para servir de sala de embarque e saguão de passageiros. O Ministério Público investiga tanto as causas da interdição do terminal de São Luís como as providências tomadas para melhorar o conforto dos passageiros.
MUNDO
ONU bombardeia base de presidente da Costa do Marfim
Helicópteros das Nações Unidas dispararam mísseis contra quatro alvos de Gbagbo, que se recusa a sair
É a segunda vez em três semanas que a ONU se agrupa com rebeldes para um ataque militar a um chefe de Estado
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
Helicópteros da ONU dispararam ontem mísseis contra quatro alvos, incluindo um palácio de governo, do presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, em Abidjã, maior cidade do país.
A ação é a segunda em pouco mais de duas semanas em que forças sob a chancela da organização se aliam a rebeldes para um ataque militar a um chefe de Estado.
Na Líbia, uma aliança liderada por países ocidentais bombardeia tropas do ditador Muammar Gaddafi.
Em ambos os casos, a justificativa principal é a mesma: necessidade de proteger civis. No caso da Costa do Marfim, é também uma resposta a um ataque recente das forças de Gbagbo que resultou em 11 soldados feridos.
Gbagbo (pronuncia-se "bagbô") recusa-se desde novembro a ceder o cargo para o oposicionista Alassane Ouattara, cuja vitória na eleição presidencial é aceita pela comunidade internacional.
Desde a semana passada, oposicionistas rumaram a Abidjã para depor Gbagbo.
O ataque da ONU foi liderado por tropas francesas agindo sob o manto da organização e alvejou, além do palácio, uma residência oficial e duas bases militares.
Há relatos conflitantes sobre o número de helicópteros na ação, variando de um a três. Não há informações sobre vítimas. A ação foi pedida pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
A ONU tem 10 mil soldados no país desde 2004. Um porta-voz da organização declarou que uma resolução do Conselho de Segurança aprovada na semana passada autoriza o uso de força.
O presidente dos EUA, Barack Obama, pediu a saída do presidente marfinense.
ATAQUE FINAL
A resolução prevê que sejam utilizados "todos os caminhos para cumprir o objetivo de proteger a população da violência, o que inclui a proteção do uso de armamento pesado contra civis".
Segundo a missão de paz, Gbagbo preparava-se para um ataque em bairros residenciais em Abidjã antes de ser alvejado pelos mísseis.
No último fim de semana, no entanto, foram as forças ligadas a Ouattara que tiveram de responder a acusações de um massacre na cidade de Duekoue (oeste). Alguns relatos falam em mais de mil mortos, número negado pelo líder oposicionista.
Naquele episódio, no entanto, a ONU não tomou nenhuma atitude, o que deu argumento a Gbagbo de que haveria parcialidade da comunidade internacional.
Na cidade de cerca de 3 milhões de habitantes, centro econômico do maior exportador de cacau do mundo, moradores aguardam apreensivos pelo confronto final.
Nas primeiras horas de hoje (horário local), explosões e tiros eram ouvidos na direção do palácio presidencial, segundo a TV estatal RTI. A residência de Gbagbo estava cercada por oposicionistas.
Japão decide jogar água radioativa no oceano
Líquido contaminado corresponde ao volume de 3 piscinas olímpicas
Segundo especialistas, a radiação deve se diluir no mar sem maiores danos se a água for despejada aos poucos
DE SÃO PAULO
Engenheiros japoneses começaram ontem a despejar no mar cerca de 11,5 milhões de litros de água radioativa -contaminada durante o processo de resfriamento dos reatores nucleares da usina Fukushima 1.
O volume de água despejada corresponde ao conteúdo de três piscinas olímpicas cheias. A quantidade de radiação medida está 100 vezes acima do limite legal.
O objetivo da Tepco, empresa dona da usina, é esvaziar o excesso de água menos radioativa (em alguns locais da usina a água tem radiação 10 mil vezes acima do limite) possibilitando a instalação de um sistema permanente de resfriamento dos reatores.
O governo aprovou a ação, justificando que trata-se de "uma medida de emergência inevitável", segundo o porta-voz do governo Yukio Edano.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, lançar a água contaminada no mar é menos prejudicial que deixá-la no solo.
"Eles não tinham alternativa. A outra possibilidade seria despejar essa água em terra, mas aí o impacto ambiental seria muito maior", disse Edson Kuramoto, presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear.
Segundo o professor Aquilino Senra Martinez, da Coppe-UFRJ, a radiação se diluirá no mar sem causar maiores danos desde que a água seja lançada aos poucos.
Outro 1,5 milhão de litros de água radioativa (meia piscina) serão lançados ao mar após o esvaziamento inicial.
VAZAMENTOS
Ontem, operários da Tepco jogaram um corante leitoso na água radioativa dentro da usina para descobrir todos os locais de vazamento. O Japão também pediu à Rússia um navio militar especializado em descontaminar água do mar.
Desbocado, Martelly se uniu à elite haitiana
DE CARACAS
Michel Martelly, 50, o presidente eleito do Haiti, é um carismático cantor de kompa -o ritmo mais popular do país, que lembra a lambada- e costumava subir ao palco sem papas na língua, mesmo para criticar políticos tradicionais.
Foi explorando a imagem de "outsider" que o Tèt Kale (careca) comandou a mais profissional campanha à Presidência, arrebatando os jovens.
O cantor se define como de centro-direita e, na campanha, se aproximou da elite tradicional haitiana e de novos grupos de poder estrangeiros, como a gigante da telefonia de capital irlandês, Digicel.
O estilo desbocado e por vezes agressivo atrai tanta crítica como os supostos laços com setores do duvalierismo -dos ex-ditadores Duvalier, pai e filho.
Entre as suas propostas mais polêmicas está a reativação das Forças Armadas haitianas.(FM)
COTIDIANO
França acha restos mortais nos destroços do Airbus
Governo inicia em um mês operação para retirar partes do voo 447 do mar
Ministra confirmou que vários corpos foram achados, mas não quis dar detalhes antes de informar as famílias
ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
A França anunciou ontem que identificou restos mortais de passageiros entre os destroços do voo 447 localizados no domingo. Dentro de um mês, vai iniciar uma delicada operação para retirar corpos e peças do fundo do mar, dois anos após o acidente que matou 228 pessoas.
"Nossa prioridade será localizar e tentar explorar as caixas-pretas do A330", disse Jean-Paul Troadec, diretor-geral do BEA, órgão que apura as causas do acidente, em entrevista coletiva -as peças são essenciais para se determinar o que ocorreu.
"Se não foram danificadas no choque, há chances de que possam ser exploradas, apesar de estarem submersas há quase dois anos."
Essa fase será inteiramente financiada pelo governo. Na coletiva, o BEA mostrou imagens feitas por submarinos Remus de parte dos novos elementos, como asa, motores e trem de pouso.
As fotos confirmam, segundo os investigadores, a análise feita pelo BEA de que não houve explosão durante o voo e de que a aeronave teria tocado intacta a água.
O anúncio da localização dos destroços foi feito anteontem, dez dias depois do lançamento da quarta fase de buscas, iniciada no dia 25.
Os investigadores indicaram que estão concentrados numa superfície de revelo plano de 200 m x 600 m, a 3.900 m de profundidade, um pouco mais ao norte da última posição conhecida do Airbus antes do acidente.
CORPOS
A ministra dos Transportes, Nathalie Koskiuko-Morizet, confirmou que vários corpos foram achados, mas nem ela nem os investigadores quiseram dar detalhes antes de informarem as famílias.
O resgate dos corpos deve dividir familiares. Em Paris, o presidente da associação Entraide et Solidarité, Jean-Baptiste Audousset, disse à Folha que nem todos querem que sejam retirados, pois "não se sabe em que estado podem ser encontrados".
Para ele, a boa notícia é que os destroços estão concentrados numa área pequena, o que relança esperanças de achar as caixas-pretas. No Brasil, familiares ainda não foram avisados formalmente sobre a descoberta de restos mortais, só sobre a localização de destroços.
"É uma falta de respeito divulgar isso publicamente, mas não avisar aos familiares. Mexe com a estrutura emocional de 178 famílias que não encontraram os corpos de seus mortos", disse Newton Marinho, irmão de Nelson Marinho Filho, uma das vítimas do voo 447.
Colaborou FELIPE CARUSO, do Rio
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