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sexta-feira, 15 de abril de 2011

15 de abril de 2011 - O GLOBO


DESTAQUE DE CAPA
Governo afrouxa controles para garantir obras da Copa

O governo pretende fixar no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2012. Que será enviado hoje ao Congresso, regras mais flexíveis para a realização das obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas no país. A LDO, a primeira proposta pela presidente Dilma Rousseff, deve dar tratamento especial a obras ligadas aos dois eventos - como aeroportos, estradas e metrôs - para que tenham mais agilidade e trâmites mais curtos. Na prática, isso vai afrouxar o controle sobre esses empreendimentos, e deve alterar as regras para licitações. O relator da LDO, deputado Márcia Reinaldo Moreira (PP-MG), defendeu regras especiais para obras da Copa e das Olimpiadas: “Quando paralisa, quem é prejudicado é a sociedade. E, nas obras da Copa, já estamos ganhando puxão de orelha (sobre atrasos).” Nove dos 13 aeroportos das cidades brasileiras que vão sediar os jogos da Copa de 2014 não terão suas obras concluídas a tempo, alerta um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A estimativa é que o prazo seja de sete anos para as reformas. O Ipea alerta a ainda para o fato de que os terminais logo terão sua capacidade esgotada, porque a demanda cresce rapidamente.


INFRAESTRUTURA
Ipea: aeroportos não ficam prontos para Copa
Segundo levantamento, obras estarão inacabadas em nove dos 13 terminais das cidades que vão sediar jogos em 2014

Geralda Doca

BRASÍLIA. Nove dos 13 aeroportos das cidades brasileiras que vão sediar os jogos da Copa em 2014 não estarão preparados a tempo para o evento, pois levará um prazo de sete anos para que as obras sejam terminadas. A conclusão é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que avaliou os prazos médios das obras de infraestrutura no Brasil, considerando as fases de projeto, licença ambiental, licitação e obra, sem contar o tempo que o Tribunal de Contas da União (TCU) gasta para analisar e emitir pareceres.

Com inauguração prevista para 2013, conforme cronograma oficial, o Ipea estima que somente em 2017 as obras ficarão prontas nos seguintes aeroportos: Manaus, Fortaleza, Brasília, Guarulhos, Salvador, Campinas e Cuiabá. A maior parte deles ainda está em fase de projeto. Um pouco mais adiantados, Confins (Belo Horizonte) e Porto Alegre terão os trabalhos concluídos apenas em 2016.
A situação só não é pior porque o Ipea excluiu Natal das contas. Na capital do Rio Grande do Norte, ainda será construído o novo aeroporto de São Gonçalo do Amarante - que será concedido à iniciativa privada - e o edital não foi oficialmente lançado.
Já Curitiba, se nada der errado, ficará dentro do prazo previsto pelo governo, em 2013. O mesmo deve ocorrer com o Galeão (Tom Jobim), com previsão de finalização da obras para o fim 2012.
O estudo, de autoria do pesquisador Carlos Campos Neto, concluiu que as obras de infraestrutura no Brasil levam em média um prazo de 92 meses para serem concluídas. São 12 meses na elaboração do projeto; 38 meses na liberação da licença ambiental, seis meses para licitação e 36 meses para realização da obra.
No texto, o autor aponta ainda que a Infraero, que administra 67 aeroportos, não tem condições de realizar as obras sem passar por um "choque de gestão". Para desembolsar os R$5,6 bilhões previstos para os aeroportos da Copa, entre 2011 e 2014, a estatal terá que investir R$1,4 bilhão por ano - mais que triplicar o valor médio aplicado no setor nos últimos oito anos, que foi de R$430,3 milhões. Mantido o ritmo, aplicará apenas R$2,5 bilhões ao fim do período. Até o fechamento desta edição, a Infraero não havia se pronunciado sobre o estudo.
O texto lista obras paradas pelo TCU devido a irregularidades há cerca de quatro anos e que a estatal ainda não conseguiu resolver, como os terminais de Goiânia e Vitória. Havia problemas também com Guarulhos, mas as intervenções foram retomadas no ano passado com ajuda do Exército.
Uma alta fonte do governo avalia que a situação é crítica, devido ao simbolismo da Copa - oportunidade para atrair turistas estrangeiros, incrementar a aviação executiva (jatinhos) - e ao forte deslocamento de passageiros dentro do país.
- A presidente Dilma está preocupada e não aceita o argumento defendido pelos responsáveis (pelos aeroportos) de que o movimento durante a Copa será pequeno (600 mil visitantes estrangeiros) e concentrado em apenas dois meses - disse um interlocutor.
Em entrevista ao GLOBO há três semanas, o novo presidente da Infraero, Gustavo Vale, afirmou que se a Copa fosse hoje, não teria problema nos aeroportos, pois, a despeito do forte crescimento da demanda, há espaços ociosos durante muitos horários diurnos e noturnos. Por isso, defendeu, será possível direcionar o tráfego extra gerado pelos jogos.

Nos últimos dois anos, nenhum aeroporto melhorou
O problema, afirma uma fonte, é que o sistema hoje já não atende à demanda atual, o que significa que a brecha para recuperar o tempo perdido continua mínima. O levantamento do Ipea mostra que nos dois últimos anos nenhum aeroporto dos 20 analisados melhorou suas condições: o número de terminais em situação crítica (operando acima da capacidade) subiu de 11 para 14, com a taxa de ocupação saindo de 164,3% para 187,2%. Ou seja, 14 dos 20 estão em situação de estrangulamento, operando acima de suas capacidades.
No documento, o Ipea reforça que a alta da demanda não foi acompanhada pela infraestrutura aeroportuária (nos últimos oito anos, foram investidos R$8,798 bilhões). O valor saiu de R$502,67 milhões em 2003 para R$1,2 bilhão em 2010. Nesse período, o volume de passageiros cresceu 116,7%.


PARCERIA ESPACIAL
Empréstimos para salvar Cyclone 4
Ucrânia pede ajuda financeira para honrar projeto espacial com o Brasil

Roberto Maltchik

BRASÍLIA. Sem dinheiro para bancar a parceria espacial com o Brasil, o governo da Ucrânia obteve aval do Parlamento para contrair empréstimos em bancos internacionais e, com isso, impedir o fracasso do plano de lançar da base de Alcântara, no Maranhão, o Cyclone 4, foguete em construção na ex-república soviética. A partir de agora, o governo ucraniano buscará financiadores para tapar o buraco no caixa da Alcântara Cyclone Space (ACS), binacional criada para gerenciar o projeto espacial, orçado em cerca de R$1 bilhão.
Além de renovar as perspectivas do programa Cyclone 4, a mudança no Código Orçamentário da Ucrânia diminui o constrangimento esperado para a visita ao Brasil do presidente Viktor Yanukovich, prevista para maio. Em 2010, a Ucrânia deveria injetar US$95,9 milhões na ACS. Entretanto, os depósitos alcançaram apenas US$7,3 milhões (7,6%). A Ucrânia chegou a pedir ajuda financeira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), apoio que foi negado por ferir a legislação brasileira.

Desidratada e criticada por sua contaminação política, a ACS já adiou em dois anos a previsão do lançamento do primeiro modelo de teste, agora marcado para 2012. Nos bastidores do programa, fala-se que o prazo dificilmente será cumprido. A ACS não informa o tamanho da diferença entre os aportes realizados por Brasil e Ucrânia.
Dirigida até 25 de março pelo vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, a empresa acumula gastos administrativos, como R$224,2 mil em automóveis. No início do ano, técnicos da Aeronáutica chegaram a sugerir ao ministro da Ciência e Tecnologia, Aloízio Mercadante, que abortasse o projeto. Segundo nota divulgada pela ACS, o novo aporte de recursos da Ucrânia deve ocorrer no fim de maio, mas a empresa estatal não divulga o valor. Mercadante encomendou ao novo presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Marco Antônio Raupp, um amplo diagnóstico sobre o funcionamento da ACS. O governo ainda não indicou o substituto de Amaral.


DOCUMENTOS
Até o segundo clichê levantou suspeitas
Relatório apontava comunistas na redação do GLOBO

Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. Documentos do serviço de inteligência da Aeronáutica revelam que a redação do GLOBO foi alvo de espionagem na ditadura militar. Relatórios dos agentes da repressão apontavam a presença de comunistas até em cargos de comando no jornal. Os papéis, que eram mantidos em segredo, estão franqueados ao público no Arquivo Nacional, em Brasília, e fazem parte de um pacote de 50 mil registros reservados entregues ao Arquivo pela Aeronáutica ano passado.
"Esta Agência tomou conhecimento que elementos com ideias e atitudes estranhas vêm tomando conta de postos chaves no setor redacional do periódico carioca O GLOBO. São tidos, estes elementos, como agitadores e subversivos", diz informe confidencial escrito em 7 de julho de 1972. Intitulado "Elementos suspeitos no O GLOBO" , o documento foi produzido pela Aeronáutica no Rio.
No relatório constam nomes, telefones residenciais e características físicas de cada um dos jornalistas classificados como subversivos. Um dos supostos comunistas tinha "a seu cargo ler todas as matérias e se achar que não estão boas, manda o repórter reescrever, modificando-a a seu gosto". Um outro seria um copidesque "tipo bonitão, que está sempre de óculos escuros, mesmo à noite". Na galeria de retratos traçados pelo espião consta um comunista de "estatura média, gordo, barrigudo, deselegante e dando a impressão de elemento sujo".
Os arapongas espionaram o coquetel de inauguração da sucursal do GLOBO em Salvador em junho de 1973. Na festa, no Hotel da Bahia, "ocorreu um verdadeiro desfile de elementos esquerdistas que militam no jornalismo em Salvador". Os arapongas estavam atentos às conversas: "Dos assuntos tratados nessa reunião social, tiveram preferência: liberdade de imprensa, sucessão presidencial e TV Bahia", diz o documento.
Na caçada aos comunistas do GLOBO, os espiões parecem surpresos com a descoberta de uma segunda edição do jornal num mesmo dia. "O jornal O GLOBO tem publicado esporadicamente notícias que divergem de uma tiragem para outra, com a designação de 2º clichê", diz o informe dos arapongas. Trata-se da segunda edição em que o jornal acrescenta informações novas às reportagens, prática comum no Brasil e no exterior.


VIOLAÇÕES DOS DIREITOS HUMANOS
Justiça condena ex-ditador argentino
Ex-presidente Reynaldo Bignone e dois agentes são sentenciados a prisão perpétua

BUENOS AIRES. Os tribunais argentinos condenaram ontem à prisão perpétua o ex-delegado de polícia Luis Patti, o ex-ditador Reynaldo Bignone (1982-1983) e o ex-agente de inteligência do Exército Martín Rodríguez por violações dos direitos humanos cometidas durante o último governo militar (1976-1983). Foi o quarto julgamento realizado este ano envolvendo crimes da ditadura.
Desde a anulação das leis de Obediência Devida e Ponto Final, as chamadas leis do perdão, em 2005, a Justiça argentina já condenou 204 militares e civis que participaram de sequestros, torturas e assassinatos de opositores do regime militar.
Outros 13 julgamentos deverão ser realizados nos próximos anos, nos quais 370 pessoas passarão pelo banco dos réus. O caso de Patti é inédito no país. Após a redemocratização da Argentina, o ex-delegado, de 57 anos, foi prefeito de um município da província de Buenos Aires e deputado nacional. Durante muitos anos, Patti utilizou sua imunidade parlamentar para evitar processos judiciais.

O ex-delegado foi preso pela primeira vez em 2007. Pouco depois, o Supremo Tribunal de Justiça ordenou sua libertação, argumentando que Patti tinha imunidade parlamentar. Oito dias depois, foi novamente detido, já que o Congresso conseguiu aprovar o fim de sua proteção. A partir de agora, ele deverá continuar detido numa prisão comum, como exigiram os advogados da acusação. Seu caso inclui, entre outros crimes, o desaparecimento de pessoas na região de Garín Escobar, na província de Buenos Aires. Patti também foi considerado responsável pelas mortes do ex-deputado nacional Diego Muñiz Barreto e de Gastón González.
— Hoje (ontem) derrotamos a impunidade que existia há tantos anos — disse Manuel González, filho de uma das vítimas.

ONGs aguardam desfecho de dezenas de processos
Nos últimos meses, os tribunais argentinos foram cenário de condenações históricas. Em dezembro de 2010, o ex-ditador Jorge Rafael Videla, primeiro presidente do último governo militar do país, foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato de 31 presos político na província de Córdoba.
Durante o processo, Videla, de 85 anos, voltou a defender a atuação dos militares na década de 70. Videla assumiu sua responsabilidade e assegurou que seus “subordinados se limitaram a cumprir ordens”. Para ele, a Argentina viveu uma  “guerra não clássica, irregular”, cujo “signo de distinção foi a imprecisão, porque não se pode determinar quando começou”.
Este ano, as organizações de defesa dos direitos humanos esperam comemorar o desfecho de dezenas de outros casos.  Em 28 de fevereiro passado, pela primeira vez desde o retorno da democracia, sete figuras de peso da última ditadura militar, entre elas Videla, começaram a ser julgadas pela implementação de um “plano sistemático de roubo de bebês”, filhos de presos políticos desaparecidos. Em 2011 também são esperados os julgamentos de militares que participaram do chamado Plano Condor (mecanismo de ação conjunta entre as ditaduras de Cone Sul) e de autoridades civis, entre elas o ex-governador da província de Buenos Aires Ibérico Saint Jean, acusadas de terem participado da repressão a opositores da ditadura.


ANCELMO GOIS

Novela dos caças
Num papo com Dilma, na China, depois da reunião dos países Bric, Dmitri Medvedev, o presidente russo, apelou para que os jatos Sukhoi, de seu país, voltem a ser considerados na novela da compra de caças pela FAB. Dilma prometeu incluir o pedido nas discussões de cooperação entre os dois países.

Só que...
Para alguns diplomatas, foi uma educada desculpa para não ter de revelar que a FAB não avaliou bem os jatos russos.

Aliás...
Luciano Coutinho, presidente do BNDES, ouviu na China de executivos do Banco de Desenvolvimento da Rússia que o país deles gostaria de ter uma fábrica da Embraer lá.


OPINIÃO
Sarkozy converte França em gendarme

O presidente Nicolas Sarkozy pisou no acelerador e pôs a França na vanguarda da operação contra o ditador da Líbia, Muamar Kadafi, e contra o presidente usurpador da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo. No primeiro caso, Paris assumiu a liderança ocidental, juntamente com a Grã-Bretanha, trocando de papéis com os EUA. A França quer se livrar da imagem de lentidão na revolução na Tunísia, ex-colônia, e de ter tido relações estreitas com o ditador deposto, Ben Ali. Hoje, a ação na Líbia está sob comando da Otan, da qual os franceses cobram maior empenho para ajudar as forças rebeldes.
Na Costa do Marfim, a situação é diferente: como antiga potência colonial, a França tem responsabilidades. Os militares de Sarkozy intervieram com grande disposição junto com a ONU, abrindo caminho para o fim de um impasse de meses e de uma guerra civil que fez centenas de vítimas. Se for levado em conta que a França tem soldados também no Afeganistão, a nação está hoje em três guerras ao mesmo tempo. Há ainda tropas de paz francesas na Somália, em Burkina Faso e no Mali.
Nos EUA, quando um presidente está em baixa, é comum recorrer a operações de guerra no exterior. Geralmente aumenta em alguns pontos seu índice de aprovação. Mal comparando, é o que tenta conseguir Sarkozy, de olho na reeleição em 2012. Sua popularidade está em 23%, nível mais baixo desde que assumiu. As promessas de campanha, que já não vinham sendo cumpridas, foram pulverizadas pela crise mundial. A economia francesa cresceu apenas 1,5% em 2010, depois do recuo de 2,5% em 2009. O desemprego, 7,5% no primeiro trimestre de 2008, subiu para 9,6% no último trimestre do ano passado.
O UMP, partido do governo, faz água: dois populares ex-ministros decidiram sair, o que foi visto como indício de divisão e potencial perda de votos centristas. Os socialistas retomam o vigor, e o ex-líder François Hollande anunciou que concorrerá à Presidência. Quem está bem nas pesquisas é o ex-ministro socialista Dominique Strauss-Kahn, por enquanto ainda entrincheirado no FMI. O ex-premier Dominique de Villepin, que trocou o UMP pelo partido gaullista, deverá se candidatar. Na extrema-direita, a Frente Nacional ressurge e atrai os franceses que temem o aumento da imigração da Líbia e de outros países do Norte da África.
A política externa foi a saída para Sarkozy tentar melhorar a imagem, aproveitando que a França está este ano na presidência do Grupo dos Oito e do G-20. Mas o que funciona para presidentes americanos funcionará para ele? Sarkozy tem alguns trunfos. A OCDE revisou a previsão de crescimento da França este ano de 1,6% para 2%, mas ainda com desemprego elevado. Entrou em vigor a lei que proíbe o véu islâmico em lugares públicos - uma das bandeiras do presidente, com apoio da maioria do povo francês. E uma pesquisa mostrou que, embora desaprovem amplamente o governo, 57% dos eleitores responderam que os socialistas não fariam melhor.
Há algum espaço para o presidente aumentar as chances de reeleição. O essencial é o desemprego cair para acalmar os sindicatos. E não podem sair pela culatra os tiros na Líbia e na Costa do Marfim.


USO DA FORÇA
Otan pede mais aviões para evitar fogo amigo
Sob críticas dos Brics, aliança tenta convencer países a participar de ação, mas não obtém resposta

Gilberto Scofield Jr.

Enquanto o grupo de países que formam os Brics - Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - criticou a intervenção da Otan na Líbia, e pediu que o uso da força nos conflitos do Norte da África e Oriente Médio seja evitado, o comandante militar da Otan, James Stavridis, solicitou aviões mais precisos para evitar a morte de civis líbios em suas operações, que já provocaram vítimas rebeldes e civis em fogo amigo. Apesar de o chanceler britânico, William Hague, assegurar que a Aliança Atlântica nunca esteve mais unida, nenhum país se ofereceu, na reunião em Berlim, para fornecer os aviões pedidos nem para auxiliar no ataque às tropas de Kadafi - num forte indício de que a estratégia da Otan na Líbia não é consenso entre seus membros.
Desde que os Estados Unidos passaram o comando da operação à Otan, França e Reino Unido vêm fazendo críticas abertas à falta de envolvimento de outros países na ação. Dos 28 membros da Aliança, apenas 14 participam ativamente da operação - acompanhados de outros países como o Qatar, os Emirados Árabes Unidos e a Suécia. Deles, apenas seis realizam ataques contra alvos terrestres do regime. O chanceler britânico, William Hague, afirmou ter esperanças de que outros países ofereçam caças para atacar as forças do ditador, enquanto os rebeldes - sob forte ataque na cidade de Misurata - pedem uma ação mais contundente da Otan.
- Os EUA já estão dando uma grande contribuição, com o apoio logístico. É razoável pedirmos que outros países façam novas contribuições - disse Hague.
Mas numa reunião de portas fechadas, o chanceler francês, Alain Juppé, solicitou à secretária de Estado, Hillary Clinton, que os EUA contribuíssem com mais aviões para a operação. Hillary, no entanto, se mostrou resistente ao pedido.
No início da semana, o Ministro da Defesa francês, Gerard Longuet, disse que apenas os aviões A-10 e AC-130, de posse exclusiva dos EUA, seriam capazes de romper o impasse militar. Apesar de terem passado o comando da operação à Otan, os EUA realizaram 35% das missões aéreas nos últimos dias, mas deixaram a responsabilidade de bombardear alvos militares e tropas de Kadafi a outros países. Oficialmente, funcionários americanos desviaram da questão, afirmando que a Otan não fez um pedido aos EUA por mais caças, e lembrando que o país já participa de diversas outras formas.
Paris e Londres vêm pressionando também, particularmente, Espanha, Itália, Holanda e Suécia para participarem de ataques às tropas de Kadafi. A Espanha já negou o pedido, e a Itália se mostra relutante.
- Tivemos sucesso no início bombardeando tanques, mas estamos encontrando problemas agora que Kadafi está movendo suas tropas para mais perto da população civil - disse uma diplomata ao "Washington Post".
O desentendimento entre os membros da Aliança Atlântica - e o papel discreto desempenhado no conflito pelos EUA - parece estar comprometendo a ação da coalizão na Líbia. Diante da dificuldade de barrar as forças de Kadafi, os rebeldes pedem uma ação mais contundente da Otan. Enquanto isso, grupos como os Brics criticam a intervenção.
Num comunicado, os Bric afirmam que métodos pacíficos devem ser preferencialmente empregados na resolução do conflito, incluindo a participação de organizações locais, como a União Africana.
"Nós compartilhamos o princípio de que o uso da força deve ser evitado. Nós sustentamos que a independência, a unidade e a integridade territorial de cada nação sejam respeitadas", dizem os Brics no comunicado.

Qatar fornece mísseis a rebeldes
Com a longa disputa pelo comando da Líbia e o crescimento no número de vítimas nos combates, cresce entre os líderes dos Brics a sensação de que os esforços diplomáticos para um cessar-fogo devem ser intensificados, incluindo entre os sul-africanos, únicos do grupo que votaram a favor da zona de exclusão na Líbia.
- Mesmo o presidente Jacob Zuma se tornou um dos maiores defensores de uma solução diplomática, esforço que deveria ter sido priorizado desde o início, na opinião do Brasil - afirmou o chanceler Antonio Patriota.
Diante da indecisão da coalizão sobre a estratégia de armar os rebeldes, o Qatar foi o primeiro país a anunciar que está fornecendo mísseis franceses aos insurgentes. O governo do Qatar justificou a decisão afirmando que os insurgentes haviam sido empurrados à luta devido à situação do país, e era preciso ajudá-los a ganhar a guerra.
Paralelamente, o Reino Unido anunciou que o ex-chanceler líbio Moussa Koussa, que fugiu do país no mês passado, foi retirado da lista das sanções econômicas da União Europeia. Na prática, os bens de Koussa no exterior serão descongelados, numa tentativa de incentivar outras deserções.
Com agências internacionais




15/04/2011 07h44 - Atualizado em 15/04/2011 09h25
MUNDO
Governo brasileiro publica decreto com sanções da ONU à Líbia
Autoridades brasileiras deverão cumprir medidas do Conselho de Segurança.
Brasil não poderá vender armas à Líbia e vetará entrada de filhos de Kadhafi.

Decreto publicado no Diário Oficial da União que circula nesta sexta-feira (15) obriga as autoridades brasileiras a cumprir resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que impôs sanções ao regime do ditador líbio Muammar Kadhafi.
O decreto é assinado pelo presidente da República em exercício, Michel Temer. A presidente Dilma Rousseff está na China, onde participou de um fórum empresarial nesta sexta.
A resolução contém uma lista com nomes de 16 pessoas - sete filhos de Kadhafi e líderes do regime - que deverão ser impedidas de entrar nos países que fazem parte do Conselho de Segurança. Outra lista, com nomes de cinco filhos de Kadhafi e de um comandante das Forças Armadas, trata do congelamento de recursos financeiros e econômicos que estejam nos países.
Outra sanção é o bloqueio de vendas ou  transferências de armamentos ou materiais conexos para a Líbia, incluindo munições, veículos militares e fornecimento de assistência técnica e financeira e treinamento para atividades militares.
Da mesma forma, a resolução afirma que a Líbia não deverá mais exportar equipamentos militares.
As autoridades brasileiras também deverão inspecionar carregamentos vindos da Líbia se tiverem suspeita de que contêm armamentos.
A resolução decidiu ainda enviar a situação da Líbia ao Tribunal Penal Internacional.


Famílias que deixaram região de Fukushima receberão US$ 12 mil
Empresa que administra usina nuclear vai pagar indenizações.
No total, compensações custarão à central US$ 620 bilhões.

Do G1, com agências internacionais *

O Japão aprovou nesta sexta-feira (15) um plano da Tokyo Electric Power Company (Tepco) para pagar uma primeira compensação de 1 milhão de ienes (US$ 12.400) às famílias que foram forçadas a deixar a região da usina nuclear de Fukushima, em consequência da crise nuclear no complexo, provocada pelos desastres naturais de 11 de março.
O valor anunciado pela empresa que administra a central de Fukushima Daiichi tem caráter provisório, pois a Tepco, segundo o governo japonês, deverá disponibilizar um volume muito maior de compensações no futuro devido ao mais grave acidente nuclear da história do Japão.
Segundo o ministro da Economia do Japão, Banri Kaieda, a Tepco vai começar a indenizar as famílias a partir de 28 de abril.
Japonesa exibe um cartaz durante manifestação em Tóquio que pede o desligamento da usina nuclear de Fukushima. (Foto: Toru Yamanaka / AFP Photo)Japonesa exibe um cartaz durante manifestação em Tóquio que pede o desligamento da usina nuclear de Fukushima. (Foto: Toru Yamanaka / AFP Photo)
Kaieda afirmou nesta sexta que inicialmente serão indenizadas as pessoas que viviam a uma distância de até 30 km da central atômica, o que engloba um total de 48 mil famílias.
Mas cerca de 80 mil pessoas que moravam a menos de 20 km da usina foram retiradas de suas casas logo após os desastres naturais de março.
Este primeiro plano de compensações fará a Tepco desembolsar aproximadamente 50 trilhões de ienes (US$ 620 bilhões).
O governo pediu que a Tepco forme um grupo de trabalho para estudar um programa de indenizações, cujos fundos podem ser deduzidos dos lucros da empresa elétrica durante mais de uma década, segundo a imprensa japonesa.
Dezenas de milhares de japoneses ainda não podem regressar às suas casas perto da usina nuclear. Essas famílias estão distribuídas em cerca de 150 abrigos espalhados pelo país, complexos que também receberam as pessoas que perderam tudo por causa do forte tremor e das ondas gigantes que atingiram a costa japonesa..
Na segunda-feira (11), o governo aprovou um outro plano para esvaziar novas regiões próximas à usina nuclear, retirando cerca de 115 mil pessoas. O governo teme que essas áreas foram expostas demais aos efeitos da radioatividade que escapou da central atômica.

A Tepco ainda está se esforçando para estabilizar a usina nuclear, que viu os seus sistemas de refrigeração falharem após um terremoto de magnitude 9 e um tsunami e comprometerem reatores da central nuclear. Esses desastres naturais ainda devastaram parte do país, matando mais de 13 mil pessoas.

FONTE: O GLOBO

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