DESTAQUE DE CAPA
Até ministros do STF rejeitam horário fixo para os tribunais
Não só desembargadores e servidores do Judiciário reagiram à decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de fixar um horário para o atendimento ao público nos tribunais do país. Dois ministros do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski, também se opuseram ao CNJ, argumentando que os tribunais devem ter autonomia administrativa e financeira. Na semana retrasada, o CNJ determinara o atendimento ao público das 9h às 18h, mas anteontem, sob pressão, recuou e permitiu uma parada para a “siesta” no almoço. Mesmo assim, Marco Aurélio insistiu: “O Brasil é um país continental. Há de se atender às peculiaridade. Creio que há coisas muito mais importantes para o conselho se ocupar.” O presidente do Colégio dos Presidentes dos Tribunais de Justiça, Marcus Faver, disse que, mesmo com o passo atrás do CNJ, pretende recorrer ao STF, alegando que a norma é inconstitucional.
Judiciário não acerta os ponteiros
Ministros do STF também reagem à decisão do CNJ de fixar horário para trabalho nos tribunais
Carolina Brígido e Chico Otavio
BRASÍLIA e RIO. Pelo menos dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) têm restrições à decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que determinou o horário de funcionamento dos tribunais brasileiros para atendimento ao público. Na opinião de Marco Aurélio Mello e Ricardo Lewandowski, os tribunais devem ter autonomia administrativa e financeira.
Semana retrasada, o CNJ estabeleceu expediente de 9h às 18h, sem intervalos, nos tribunais de todo o país. Na última terça-feira, sob pressão de presidentes de tribunais e servidores, o órgão recuou e liberou o intervalo de almoço para "respeitar costumes locais". Depois da primeira decisão, juízes reclamaram que em estados da Região Nordeste havia o hábito da sesta após o almoço, em função do calor excessivo. Mesmo com a flexibilização da regra imposta pelo CNJ, porém, os ministros do STF criticaram:
- Eu fico perplexo. Tem-se na Constituição a autonomia administrativa e financeira dos tribunais. Desautorizar os tribunais no campo administrativo é enfraquecer esse ramo da administração responsável pela paz social - disse Marco Aurélio, que considera importante o respeito pelos costumes locais: - O Brasil é um país continental. Há de se atender às peculiaridades. Creio que há coisas muito mais importantes para o conselho se preocupar.
O ministro Ricardo Lewandowski lembrou-se de ter dado uma liminar em caso semelhante. Em agosto de 2007, ele suspendeu a decisão do CNJ que fixou o horário de funcionamento do Tribunal de Justiça de Sergipe, de 7h às 13h. Na ocasião, ele citou o artigo 96 da Constituição Federal, que permite aos tribunais o direito de definir seu próprio funcionamento. Ontem, o ministro não quis comentar a decisão recente do CNJ. Como cabe recurso ao STF, Lewandowski não quis adiantar sua posição no eventual julgamento. Mas lembrou:
- A Constituição estabelece com muita clareza que os tribunais têm autonomia - afirmou.
CNJ libera intervalo de almoço
O presidente do Colégio Permanente dos Presidentes dos Tribunais de Justiça, desembargador Marcus Faver, disse ontem que, mesmo com o recuo do CNJ em relação à resolução que regula o expediente no Judiciário, permitindo agora um intervalo para o almoço "em razão da insuficiência de recursos humanos e de costumes locais", mantém a posição de arguir a inconstitucionalidade da medida. Ele apresentará essa proposta aos presidentes dos tribunais em encontro no dia 12 de maio, na Bahia. Para ele, o CNJ não tem poderes para fixar horários:
- A nova decisão do Conselho Nacional de Justiça, alterando a resolução 88/2009, adotou exatamente o que eu pregava, e nada tem a ver com o horário de trabalho de juízes, mas sim de funcionários dos tribunais. A decisão anterior do CNJ era uma imposição manifestamente inconstitucional, porque não respeitava o disposto no artigo 96 da Constituição, que atribui competência privativa dos tribunais para fixar o horário de seu funcionamento e dos respectivos órgãos. E em alguns estados, como Amazonas, Piauí, Acre, Rondônia e outros, onde o calor é intenso, tudo para de funcionar entre 12h e 15h.
Faver argumentou que, nesses estados, os tribunais começam o expediente às 7h, interrompem as atividades às 12h e as retomam após às 15h, quando a temperatura cai.
- Fico satisfeito que o CNJ tenha respeitado a Constituição e as peculiaridades regionais. Reitero que isso nada tem a ver com os juízes, que atendem as partes nos tribunais, mas estudam os processos e redigem as sentenças e acórdãos geralmente quando estão em casa, fora do expediente.
REGIME MILITAR
Documentos da Aeronáutica revelam detalhes da repressão na ditadura
Papéis repassados ao Arquivo Nacional relatam espionagem de militantes
Jailton de Carvalho
BRASÍLIA. A supervisora do Núcleo de Acervos do Regime Militar do Arquivo Nacional, Vivien Ishaq, afirmou ontem que é impressionante o número de pessoas espionadas pelo serviço de inteligência da Aeronáutica durante a ditadura militar. Ela chegou a esta conclusão depois de analisar parte dos 50 mil documentos repassados pela Aeronáutica ao Arquivo Nacional ano passado. Os documentos estão, desde ontem, liberados à pesquisa. Parte dos papéis - que dizem respeito à vida pessoal de ex-militantes políticos - só pode ser acessada por eles ou por pessoas devidamente autorizadas pelos investigados.
- A quantidade de relatórios e de infiltrados (entre os movimentos de esquerda) é muito grande. Sobre o que você imaginar tem relatório. Tem gente que diz: "Achei que fazia as coisas na clandestinidade. Agora vejo que estava sendo monitorado" - afirmou Vivien.
Entre os papéis estão relatos sobre a Guerrilha do Araguaia, organizações como a VAR Palmares e Colina, que tiveram a participação da presidente Dilma Rousseff, e até sobre o Exército Vermelho japonês. Num vasto painel da história da ditadura, os arquivos abrangem praticamente todos os episódios relacionados à esquerda e à repressão, no período entre a década de 60 e o início dos anos 90. Um dos documentos aponta o Araguaia como área de potencial foco guerrilheiro mesmo antes da descoberta da guerrilha do PCdoB na região.
Entre os registros também constam comentários sobre necessidade de se "neutralizar" alguns militantes de esquerda mais atuantes. Para Vivien, o termo pode ser interpretado como uma clara ordem para matar. Segundo ela, agora é fácil conferir se as ordens foram mesmo cumpridas. Bastaria confrontar as informações do relatório com o destino conhecido de cada militante mencionado nos registros internos. Nos novos arquivos, estão ainda atas das reuniões do Conselho de Segurança Nacional.
Para Vivien, os papéis indicam o grau de conhecimento e comprometimento de parte da cúpula militar com a repressão política. Até hoje alguns militares sustentam a versão de que os presidentes daquele período desconheciam o grau de violência da repressão contra adversários do regime. A tortura seria obra clandestina de setores da extrema direita. Os papéis foram recebidos pelo Arquivo Nacional em fevereiro do ano passado. Os documentos foram digitalizados e devidamente registrados, antes de liberados à consulta pública.
A massa de documentos chegou ao Arquivo a partir de uma ordem expedida pela Casa Civil em 2005, quando a área era chefiada pela presidente Dilma. Toda estrutura do Estado foi orientada a fazer levantamento sobre eventuais arquivos produzidos durante a ditadura. A partir daí, os documentos deveriam ser repassados ao Arquivo Nacional. A Aeronáutica foi o primeiro órgão a cumprir as ordens. O Arquivo Nacional aguarda agora a contribuição de outras áreas do governo, entre elas o Ministério da Educação.
PROGRAMA SEMANAL
Como Figueiredo, Dilma terá 'Semana da Presidenta'
Emissora, cuja concessão foi dada no fim do governo Lula, fará programa semanal para divulgar ações do governo
Silvia Amorim
SÃO PAULO. A presidente Dilma Rousseff vai ganhar, a partir do próximo sábado, um programa semanal na TV aberta inspirado no antigo boletim criado no regime militar "Semana do Presidente", que ficou famoso no governo Figueiredo. A iniciativa é do canal Rede Brasil de Televisão (RBTV), que recentemente obteve concessão do Ministério das Comunicações para operar em São Paulo.
O programa, segundo a emissora, mostrará a semana de Dilma: reuniões, eventos e viagens. Será transmitido para mais de 500 municípios nos 27 estados do país. Usará, em sua maioria, conteúdo e imagens cedidos pela NBR, a TV estatal a cabo que transmite 24 horas, via satélite, os atos do governo federal.
Quinze minutos aos sábados, com reprises no domingo
O programa "Semana da Presidenta" terá de 15 a 20 minutos de duração e irá ao ar todos os sábados, às 18h, com duas reprises no domingo. Em seu site, a emissora afirma chegar a "20 milhões de lares em todo o território nacional".
- Não temos interesse em ser uma TV chapa branca. Nosso compromisso é levar informação aos telespectadores, divulgando o que faz nossa presidenta durante seu mandato. O programa semanal não tem patrocínio, não temos intuito de misturar informação com faturamento neste caso - afirmou o presidente da RBTV, Marcos Tolentino.
A emissora foi criada em 2007 e, desde então, na região metropolitana de São Paulo, operava por meio de um canal arrendado. O canal próprio só chegou no fim do governo Lula, em 18 de novembro de 2010, quando portaria do Ministério das Comunicações concedeu o uso do canal 50 em UHF à RBTV, também chamada de Rede Brasil.
A concessão pública esteve envolvida no imbróglio da criação da TV para o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, prometida por Lula à categoria e viabilizada no final de sua gestão.
O processo para concessão do canal ao sindicato que Lula presidiu na década de 80 estava emperrado na Câmara dos Deputados porque o canal designado à Fundação Sociedade, Comunicação e Trabalho, ligada ao sindicato, o 45 em UHF, de São Caetano do Sul, era ocupado pela emissora de Tolentino. O empresário conseguiu emperrar a tramitação do processo na Comissão de Ciência, Tecnologia e Comunicação por quase um ano e meio, até o governo destinar a ele outro canal.
No dia seguinte à publicação da portaria com a concessão a RBTV, a tramitação da TV dos Metalúrgicos foi reiniciada. O então ministro das Comunicações, José Artur Fillardis, explicou na época que havia sido feito um remanejamento de frequências na capital paulista, por conta da TV digital, que abriu espaço para canais novos.
A Rede Brasil informou que o programa de Dilma não tem patrocínio, seja de empresas estatais ou privadas, e que consultou a NBR sobre a realização do programa.
A TV estatal confirmou que a RBTV entrou em contato, mas disse que o tratamento a ser dado à emissora será igual a todas as demais. Segundo a NBR, a Rede Brasil poderá usar as imagens produzidas pelo governo e que são exibidas no canal a cabo. Qualquer veículo de comunicação pode captar o material e usá-lo em sua programação.
ACORDOS COMERCIAIS
Mais exportações com aviões e carne suína
Setores foram os principais beneficiados
SÃO PAULO. Os dois principais acordos comerciais firmados pela presidente Dilma Rousseff em sua visita à China, que envolvem contratos de venda de aviões da Embraer e abertura de mercado para a carne suína brasileira, devem representar um incremento razoável nas exportações das empresas diretamente beneficiadas, mas terá peso modesto na corrente de comércio entre os dois países, que fechou 2010 em US$56,3 bilhões, com um salto de US$20 bilhões sobre 2009.
Os contratos fechados pela Embraer garantem encomendas firmes de 20 jatos E-190, cujo valor total alcançaria US$860 milhões. Se os chineses exercerem outras 15 opções de compras incluídas nos documentos, as vendas somarão US$1,5 bilhão. Além disso, a Embraer conseguiu prorrogar uma joint-venture com a estatal chinesa Avic 2 para produção de jatos Legacy.
Festejada por Pedro Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Suína, como o fim de um impasse que já durava cinco anos, a abertura do mercado chinês ao produto brasileiro deve acontecer aos poucos. Com apenas três frigoríficos autorizados a vender para o país, a expectativa da entidade é que a China responda por um terço das exportações até 2016, o que equivaleria a vendas anuais de US$430 milhões.
Menos animado, José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que os chineses acenaram "apenas com boas intenções":
- O produtores brasileiros de suínos estão felizes, têm uma avaliação positiva. Mas, por enquanto, é apenas uma fresta, não uma porta para que entrem na China. Eles abrem para os porquinhos, mas quem garante que vão comprar? (Ronaldo D"Ercole)
O balanço do encontro
O que o Brasil levou
Carne suína: Abertura para as exportações brasileiras de carne suína in natura, começando por três dos 26 frigoríficos vistoriados pelos chineses.
Aviões: Retomada de compra de aviões da Embraer. Venda de 25 aviões E190 da Embraer para a China e possibilidade de a fabricante de aeronaves brasileira produzir o Legacy na China.
Foxconn: Anúncio de US$12 bilhões em investimentos da tawainesa Foxconn, que é fornecedora da Apple e a maior exportadora da China. A empresa também vai produzir tablets no Brasil.
ONU: Aceno com apoio à candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU.
O que a China pode cobrar
Economia de mercado: Os chineses podem pressionar o Brasil no futuro pelo reconhecimento do país como economia de mercado.
Trabalhadores: A possibilidade de a China mandar trabalhadores próprios para trabalhar nas obras dos investimentos chineses no Brasil.
Trem-bala: Uma remuneração maior pelo investimento chinês no projeto.
Terras: A permissão para que estrangeiros voltem a comprar terras no Brasil.
Petróleo: Além de comprarem áreas para exploração de petróleo, a liberdade para os chineses exportarem o produto, tomando decisões sobre preços e condições de venda.
PANORAMA POLÍTICO
Ilimar Franco
Primeiro aeroporto privado no Nordeste
O Rio (Galeão) e São Paulo (Viracopos) perderam. O primeiro aeroporto, de carga e passageiro, a ser concedido à iniciativa privada será o de São Gonçalo do Amarante (RN). O TCU aprovou ontem o modelo de edital. A Anac deve publicar na última semana de abril o edital de concorrência. O líder do PMDB, Henrique Alves (RN), relatou que serão investidos R$1 bilhão na construção e na operação do novo aeroporto.
Negócios
As principais áreas de interesse da missão comercial chinesa que virá ao Brasil no mês que vem são: energia, infraestrutura para as Olimpíadas de 2016 e inovação tecnológica. E o Brasil quer ter relações bilaterais com a China.
COPA 2014
Cada hora ele fala uma coisa
Blatter muda de opinião e diz em El Salvador que preparativos para o Mundial não preocupam a Fifa, um dia após o governo federal pôr as cidades-sede contra a parede
Fábio Juppa*
Em política, a coerência é volúvel de acordo com a ocasião. Que o diga o presidente da Fifa, Joseph Blatter, que há 15 dias condenou o andamento das obras para a Copa de 2014 e ontem, em visita a El Salvador, disse que a questão não era problema para a Fifa diante dos "informes positivos" que havia recebido sobre os preparativos. A declaração soou ainda mais surpreendente um dia depois de a presidente Dilma Roussef, em viagem oficial à China, ter dado um ultimato a prefeitos e governadores das cidades-sede, e a órgãos federais pelos atrasos nas intervenções em aeroportos, portos, estádios e de mobilidade urbana.
Segundo Blatter, o Brasil informou recentemente à Fifa que houve avanços nos preparativos e os esforços estão concentrados "não somente na construção de estádios, mas também de aeroportos e hotéis de diferentes regiões". Na entrevista concedida na capital San Salvador, o dirigente foi questionado sobre o problema da segurança pública, numa provável referência ao massacre de Realengo. Em resposta, eximiu a Fifa de qualquer responsabilidade durante o Mundial, e fez uma analogia com a Copa de 2010.
- É um problema das autoridades brasileiras. A Fifa não tem ingerência sobre segurança - advertiu. - Quando o mundo inteiro disse que não poderíamos ir à África do Sul, que não havia segurança, estádios, qual foi o resultado? Tivemos uma Copa limpa.
Novo Maracanã
A mudança repentina de opinião de Blatter é curiosa num momento em que o governo federal já não esconde a preocupação com o descumprimento dos acordos firmados em janeiro de 2010 na Matriz de Responsabilidade da Copa. Cinquenta por cento dos projetos de mobilidade urbana, por exemplo, foram reprogramados. Sete cidades ainda não assinaram contrato com a Caixa Econômica para financiamento das intervenções, e cinco - Brasília, Recife, São Paulo, Cuiabá e Manaus - ainda não definiram o conceito dos projetos; a terça parte das obras nos aeroportos estão atrasadas em até sete meses, e no caso das obras em portos, os cronogramas de Rio e Manaus, com conclusão para o início de 2014, preocupam.
Ontem, o superintendente do IPHAN do Rio, Carlos Fernando Andrade, anunciou parecer favorável à intervenção na cobertura do Maracanã, ponto mais polêmico do novo projeto executivo do estádio que será apresentado ao TCU e a CGU em Brasília, no próximo dia 19. Como a estrutura da atual cobertura foi condenada por técnicos brasileiros e estrangeiros, o que inviabiliza seu aproveitamento, a nova, segundo Carlos Fernando, será de lona tensionada.
- Tenho evitado chamar de demolição. Prefiro substituição - disse. - A atual cobertura será substituída por um novo anel, de lona.
No entanto, em Los Angeles, onde apresentou o projeto do Maracanã numa feira de estádios, a secretária estadual de Esportes, Márcia Lins, afirmou que o projeto final da cobertura só será aprovado na próxima semana. A indefinição, segundo ela, é entre o totalmente de lona, descrito pelo superintendente, e outro, que preserva a cobertura atual e projeta uma parte de lona sustentada por uma estrutura tubular, que seria montada sobre a cobertura atual. Este último, segundo o superintendente, foi descartado após pelo menos cinco pareceres técnicos.
O valor final das reformas do Maracanã, orçadas inicialmente em R$705 milhões, só será apresentado no dia 15 de maio, também em Brasília.
- A cobertura estará dentro do orçamento. Não vai ser superior ao valor estipulado por lei - afirmou a secretária, por telefone, referindo-se ao valor total de R$1,05 bi permitido pela Lei das Licitações.
AVIAÇÃO
GE quer vender ao Brasil tecnologia ecoeficiente para aviões
Danielle Nogueira
A GE Aviation Services, divisão da americana General Electric para serviços de aviação, quer trazer para o Brasil uma nova tecnologia de controle de tráfego aéreo que permite otimizar rotas, encurtando distâncias dos voos e proporcionando economia de combustível. Batizada de Performance Based Navigation (PNB), a tecnologia identifica a menor distância entre os pontos de partida e aterrissagem da aeronave e traça corredores alternativos para os voos. Aí, basta que os pilotos sigam as coordenadas da nova rota. A expectativa da GE é que a PNB descongestione o espaço aéreo brasileiro, ajudando a superar os gargalos do setor no país. A tecnologia será apresentada hoje em seminário promovido pela empresa na sede da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
Com o trajeto menor, o consumo de combustível também cai. Na Austrália, por exemplo, onde a PNB está sendo usada há 18 meses no Aeroporto de Brisbane, as distâncias percorridas pelos aviões foram reduzidas em 28,6 mil quilômetros. Com isso, constatou-se uma economia 400 mil quilos de combustível e uma diminuição de 1,1 milhão de quilos de CO2 desde o início da implantação do sistema. A tecnologia também já está em uso no Aeroporto de Cusco, no Peru.
A iniciativa da GE se insere em um movimento mais amplo de busca por tecnologias ecoeficientes. Em fevereiro passado, a TAM anunciou a compra de 22 aviões A320neo, equipados com um motor que permite uma economia de 15% no consumo de combustível. Também está em fase de testes em aviões da companhia um biocombustível à base de óleo de pinhão manso.
A Gol, por sua vez, integra desde 2009 um grupo internacional que busca desenvolver querosene de aviação à base de energia renovável, o Sustainable Aviation Fuel Users Group (Safug). A americana Boeing faz parte do esforço.
ORÇAMENTO
Obama propõe corte de despesas de US$4 tri
Redução seria feita em 12 anos e incluiria saúde e defesa, além de eliminar benefícios fiscais aos mais ricos, dados por Bush
Fernando Eichenberg
WASHINGTON. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou ontem um ambicioso plano de corte de despesas públicas de US$4 trilhões no período de 12 anos. O valor é semelhante ao orçamento do Estado para o ano fiscal de 2011, estimado em US$3,7 trilhões. A oposição republicana - que por pouco não provocou uma paralisação administrativa do governo na semana passada por causa do impasse na aprovação do orçamento público - pretendia uma redução de gastos de US$5,8 trilhões em um prazo menor, de dez anos.
- Temos que viver de acordo com as nossas possibilidades, reduzir nosso déficit e voltar a um caminho que nos permita pagar nossas dívidas, e temos de fazê-lo de forma que se protejam a recuperação econômica e os investimentos de que necessitamos para crescer, criar emprego e avançar para o futuro - disse Obama em um discurso na Universidade George Washington.
O seu pacote "equilibrado" - balanceado entre a diminuição de gastos e o aumento de receitas - elimina importantes benefícios, mas descarta a privatização dos principais programas sociais, e prevê o aumento de impostos, ao qual o Partido Republicano é fortemente contra. Seu objetivo é revogar a redução de impostos para rendas acima dos US$250 mil anuais, instituída no governo George W. Bush, e voltar aos níveis tributários do mandato de Bill Clinton.
- Não podemos bancar cortes de US$1 trilhão para cada milionário e bilionário em nossa sociedade. Eu me recuso a renová-los - sustentou.
O líder republicano na Câmara, John Boehner, prontamente reagiu ao anúncio:
- Acho que o presidente nos ouviu claramente. Se vamos resolver nossas diferenças e fazer algo significativo, o aumento de impostos não fará parte disso - ameaçou.
Proposta tem poucas chances de aprovação
De acordo com o plano de Obama, 75% da redução do déficit viriam de cortes nos gastos, incluindo a diminuição no pagamentos de juros conforme a dívida diminua. Os outros 25%, ou US$1 trilhão, viriam de novas receitas fiscais. Ele também propôs uma economia de US$770 milhões em gastos não relacionados a segurança até 2023 e um aumento no corte dos gastos de defesa para US$400 bilhões no mesmo período. Obama prometeu não comprometer a capacidade das Forças armadas.
A previsão do déficit americano para este ano é de cerca de US$1,6 trilhão, e a dívida pública atual registra US$14,26 trilhões. Segundo as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI), a necessidade de financiamento do EUA para cobrir seu orçamento e pagar suas dívidas corresponde a 28,8% do PIB.
A proposta deve ser o pano de fundo para a briga política e ideológica da campanha eleitoral de 2012. Recém-declarado candidato a um segundo mandato na Casa Branca, Obama apontou a saúde fiscal do país como um dos principais temas da campanha eleitoral em 2012. Sua intenção de cortar gastos públicos se alinha ao discurso da oposição, mas ele acusa o projeto republicano de prejudicar o "tecido social", a classe média e os aposentados.
- Vamos atingir essas metas enquanto protegemos a classe média, nos comprometemos com os idosos e mantemos nossos investimentos no futuro - defendeu.
As chances de aprovação de qualquer uma das duas propostas, no entanto, são pequenas. Enquanto os republicanos devem conseguir o aval a seu plano na Câmara dos Representantes, onde têm a maioria, a medida deve ser rejeitada no Senado, dominado pelos democratas. Devido a esse provável embate, Obama pediu aos dois partidos que trabalhem com ele e se comprometam a combater o déficit. Ele exortou os partidos a indicarem grupos de negociação e estabelecerem uma data, em junho, para um acordo.
Obama precisa do apoio da base liberal dos democratas, que se opõe a cortes nos programas sociais, e tenta mostrar a eleitores independentes e moderados - que muitas vezes determinam o resultado da eleição - que ele está determinado quanto à redução do déficit. Já os republicanos fizeram do corte de gastos uma questão central. Eles ganharam o controle da Câmara dos Representantes no ano passado, graças à força do movimento ultraconservador Tea Party, que defende um papel menor para o governo e uma drástica redução nos gastos. Mas os republicanos estão caminhando para um campo minado da política com a proposta de revisão do Medicare, o seguro de saúde dos mais velhos, já que milhões dependem do serviço e temem qualquer mudança.
Congresso votará aumento no limite da dívida federal
A dívida americana explodiu na última década. Nesse período, impostos foram cortados, programas sociais foram criados e os EUA enfrentaram duas custosas guerras, no Iraque e no Afeganistão. Além disso, a crise global atingiu as receitas do Estado e exigiu mais gastos do governo para estimular a economia. Paralelamente, o envelhecimento da população levará mais pessoas a depender do Medicare e da seguridade social.
Semana passada, democratas e republicanos evitaram, por pouco, um fechamento parcial do governo, ao concordar com um plano de gastos para o resto do atual ano fiscal, que termina em 30 de setembro. A aprovação final é esperada para esta semana. Além disso, o Congresso deve votar nas próximas semanas um aumento no limite da dívida federal - a quantia que o governo americano pode tomar emprestado.
FONTE: O GLOBO
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