DESTAQUE DE CAPA
Petrobras prevê aumento da gasolina. Mantega nega
O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, voltou atrás e admitiu ontem que poderá subir o preço dos combustíveis nas refinarias, o que acabaria sendo repassado aos postos de gasolina. Ele lembrou que não há aumento desde 2009, apesar de o preço do barril de petróleo, só nos últimos dois meses, ter saltado de US$ 100 para US$ 122 no mercado internacional. Nas bombas, o consumidor do Rio já está pagando mais de R$ 3 pelo litro de gasolina - 23,6% a mais do que a média de 2009. Sem saber das declarações de Gabrielli, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que "não está prevista nenhuma alta da gasolina no Brasil". Recentemente, a Petrobras chegou a anunciar que importaria gasolina para atender a demanda crescente.
Divergência oficial
Gabrielli afirma que gasolina subirá se petróleo ficar em US$122; Mantega diz que não há alta prevista
Wagner Gomes, Martha Beck e Ramona Ordoñez
Gabrielli alegou que uma variação muito grande de preços no mercado internacional prejudica a margem de lucro das refinarias. Na manhã de ontem, o barril do petróleo do tipo Brent atingiu a sua maior cotação em dois anos e meio, a US$123, por causa da crise na Líbia. Dois meses atrás, de acordo com o próprio Gabrielli, o valor não passava de US$100.
- Se se confirmar a estabilização do preço do petróleo no plano internacional em torno de US$122, vamos ter de alterar o preço da gasolina no Brasil. Nós não sabemos se os preços vão se consolidar nesse nível, mas, se consolidarem, evidentemente teremos compressão em nossa margem e precisaremos ajustar o preço doméstico - afirmou Gabrielli, logo após participar de um encontro com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Consumidor já paga mais nas bombas
O presidente da estatal lembrou que o preço da gasolina pura da Petrobras (tipo A), sem etanol, está inalterado desde maio de 2009, em torno de R$1 o litro. Nas bombas, no entanto, o preço é mais alto e vem subindo por causa de repasse de encargos com impostos estaduais, custo de distribuição e aumentos constantes no preço do álcool anidro, que é misturado à gasolina na proporção de 25%.
Gabrielli disse ainda que no próximo dia 15 chegará ao país uma carga reserva de importação de petróleo. Se essa carga não for suficiente para suprir a demanda, a companhia poderá fazer um novo pedido, já que a Petrobras está no limite de sua capacidade de produção. A demanda por gasolina aumenta à medida que o preço do álcool sobe nas bombas.
- Se a demanda (por gasolina) se contrair e se a oferta de etanol aumentar, fazendo o preço do etanol cair, haverá menos demanda e não precisaremos importar - disse.
Apesar de a Petrobras não reajustar seus preços para as refinarias desde 2009, os consumidores estão pagando mais caro pela gasolina e o diesel nas bombas. No Rio, na semana passada, postos vendiam a gasolina a R$3,098 o litro, 23,6% a mais do que a média de R$2,502 de 2009. O mercado de distribuição é livre, não tem os preços controlados.
Horas depois, porém, o ministro Mantega contradisse Gabrielli, ao afirmar que não há nenhuma previsão de alta nos preços da gasolina no país.
- Não estou preocupado com a alta da gasolina porque não há alta da gasolina. Não está prevista nenhuma alta da gasolina no Brasil. Ela não vai subir - afirmou o ministro.
Mantega também comentou a elevação dos preços do etanol por causa da entressafra:
- O álcool subiu porque todo ano neste período ele sobe, por causa da entressafra. Todo mundo sabe. E também é devido a chuvas mais demoradas que prejudicaram a colheita. Mas, a partir de abril, a safra começa a ser colhida, aumenta a oferta e, a partir de maio, o preço passa a cair.
Protesto contra alta chega ao Twitter
A declaração de Gabrielli, de que o preço da gasolina pode aumentar, causou revolta no Twitter. Os internautas estão organizando um boicote aos postos BR, utilizando o marcador boicotepostosbr. O termo é o terceiro mais falado no Brasil, na lista dos Trending Topics do microblog. O primeiro termo mais citado, absoluto há mais de três dias, também relacionado ao preço dos combustíveis, é combustível mais barato já.
Em entrevista, o presidente da Petrobras disse também que a aquisição da Gas Brasiliano pela estatal, em maio do ano passado, está em fase final de avaliação e que ele só vai se pronunciar depois disso. O negócio está sendo analisado pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp). Logo após a reunião com Alckmin, Gabrielli disse que a Petrobras tem plano de investir US$33 bilhões no estado nos próximos quatro anos, mas cobrou agilidade na liberação de licenças ambientais aos projetos da companhia.
Gabrielli disse ainda que a estatal deverá iniciar até o fim deste mês as operações de um gasoduto que ligará a unidade de tratamento de gás em Caraguatatuba a Taubaté, no interior paulista, e que está atento ao aumento da demanda por gás natural de indústrias e de usinas termelétricas em São Paulo.
INVESTIGAÇÃO
Parlamentares chamam ministro para falar de Jirau
Audiência pública reunirá líderes sindicais e empresariais
Cristiane Jungblut
BRASÍLIA. Depois de uma comissão de senadores visitar as obras da hidrelétrica de Jirau, em Rondônia, o Senado aprovou ontem nova medida para discutir os atuais problemas nas obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) aprovou a realização de audiência pública com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e com representantes de empresários e trabalhadores para analisar a situação, inclusive do ponto de vista de segurança das construções.
A proposta é para que Lupi fale sobre o assunto numa audiência conjunta da CAS e da Comissão de Direitos Humanos (CDH). O requerimento nesse sentido foi apresentado pela senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) na CAS, sendo que o senador Cyro Miranda (PSDB-GO) havia apresentado requerimento semelhante na CDH. Mas ainda não há data.
Além de Lupi, devem discutir as obras do PAC o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Paulo Safady Simão; o Chefe do Departamento de Engenharia e Construção do Exército, Ítalo Fortes Zavena, os presidentes da CUT, Artur Henrique, e da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), o Paulinho; e o Sindicato das Empresas Construtoras, Luiz Fernando Reis.
- É importante que essa audiência seja o mais rapidamente possível - defendeu Ana Amélia.
A preocupação dos parlamentares, inclusive governistas, com os problemas nas grandes obras do PAC já chegou ao Palácio do Planalto. No último fim de semana, uma comissão de senadores visitou o canteiro de obras de Jirau e conversou com trabalhadores e empresários. Na volta, o senador Jorge Viana (PT-AC) fez um relato ao secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sobre o estado do canteiro depois do tumulto.
O petista está propondo a ação da Polícia Federal para averiguar o que ocorreu e uma presença mais efetiva do Estado em Jirau. A avaliação dos senadores é que o estrago no local foi maior do que o noticiado.
- O pior dos mundos é não ter esclarecimento do que ocorreu. É preciso a presença do poder público lá dentro - disse Jorge Viana.
CARLOS ALBERTO SARDEMBERG
E a falha do governo?
Nouriel Roubini ainda é celebrado como o economista que antecipou o colapso financeiro de 2008. E teria feito isso porque não caiu no canto de sereia do pensamento econômico dominante na época, liberal, pró-mercado, pela livre circulação dos capitais. Isso estava gerando bolhas, não crescimento real, dizia Roubini. Mas ele também previu, na sequência da crise, que os Estados Unidos passariam por uma longa recessão que duraria até hoje, abril de 2011. Errou. A economia americana está crescendo em um ritmo anual de 3,5%, em recuperação há vários meses.
O profeta do colapso também previu que o crescimento chinês cairia drasticamente, para algo perto dos 5% ao ano. Errou de novo. A China cresceu 9,1% em 2009 e 10,3% no ano passado.
Nesse caso, prevalece a tese de que a crise de 2008/2009 foi um colapso bancário - consequência de práticas imprudentes, falta de regulação e de fiscalização - e não a liquidação de um sistema econômico pró-mercado e da doutrina que o justifica.
Por outro lado, na própria saída da crise, governos e bancos centrais do mundo todo recorreram a políticas de forte intervenção do Estado na economia - estatizando empresas para impedir a quebradeira, salvando bancos com injeção de dinheiro público e imprimindo dinheiro para financiar pessoas e empresas. Não eram as políticas preferidas pelo pensamento econômico dominante antes da crise, mas vieram bem a calhar.
E, então, quem estava certo, quem estava errado? Depende das circunstâncias, do momento e do país.
Tomem o Brasil. O ministro Guido Mantega, representando uma corrente de pensamento de economistas, analistas políticos e jornalistas, sustenta que toda a história recente, da crise à recuperação dos emergentes, confirma que o neoliberalismo é um fracasso. Vai daí, acrescenta, confirma-se a doutrina neokeynesiana, logo interpretada como uma licença para a ampla intervenção do governo sobre a economia.
Mas desde quando a economia brasileira era tão aberta e neoliberal como, digamos, a americana? Não houve colapso bancário no Brasil porque as instituições financeiras, reguladas e limitadas pela economia travada, simplesmente não podiam emprestar tanto dinheiro para tanta gente, a juros tão baixos, como ocorria nos EUA.
Não tivemos bolha, certo, mas também não tivemos uma longa expansão econômica sustentada pelo crédito abundante e barato, como os EUA tiveram do final do século passado para o início deste. Lá, o crédito acabou sendo irresponsável, concedido com dinheiro inexistente, para devedores sem condições de pagar. Logo, o problema lá era limitar e controlar as ações dos bancos.
Aqui, era e é contrário. Juro muito barato lá, muito alto aqui. Empréstimos demais lá, e de menos aqui. Precisamos de mais e não de menos crédito de bancos privados. Tínhamos e temos muito crédito de bancos públicos com dinheiro subsidiado pelos contribuintes.
Nos EUA, o governo entrou em empresas, como a General Motors, para impedir sua falência. Aqui, o governo, antes da crise, já estava em muitas empresas estatais e privadas. Lá, companhias e bancos privados fracassaram, precisaram de dinheiro público. Aqui, o governo agora quer mandar em empresas privadas que funcionam muito bem, como é o caso da intervenção na Vale.
Lá foi falha de mercado, aqui era e é de governo. Permanece o enorme problema da ineficiência do Estado nos setores em que é dominante e controlador.
Reparem o nosso keynesianismo. A presidente Dilma diz que vai conceder aeroportos à gestão privada, porque o governo não dá conta disso, e ao mesmo tempo patrocina a intervenção numa empresa privada campeã.
Não é por causa do novo pensamento econômico. É simplesmente porque diversos setores do governo e da base governista querem uma parte dos lucros e dos investimentos da Vale.
Mantega e seu pessoal sustentam que o Estado precisa ter instrumentos - de gastos a controle de capitais e empresas - para orientar o mercado na direção correta. Ora, porque o governo não orienta na direção correta os Correios, a Infraero, a administração dos portos, a construção de estradas, e a educação, a saúde e a segurança públicas? O governo falha nisso tudo, sua obrigação, e depois seus teóricos querem colocar a culpa no neoliberalismo?
Vamos falar francamente. O Brasil se equilibrou, cresceu e superou a crise porque conquistou a estabilidade macroeconômica (nos fundamentos clássicos), beneficiou-se da onda de crescimento global, via comércio aberto e fluxo de capitais, e pegou uma carona especial na ascensão da China. E porque tinha pouco crédito bancário, aqui não uma virtude, mas uma carência que acabou ajudando.
O que precisamos hoje? Combater a inflação para preservar a estabilidade. O resto é conversa importada e que justifica políticas oportunistas. Ou alguém acredita que entregar estatais ao PMDB e pelegos sindicalistas é o novo keynesianismo? O governo agora quer mandar em empresas privadas
INVESTIMENTOS EM AEROPORTOS
Coutinho diz que BNDES poderá apoiar aeroportos
Novo financiamento seguirá mudança do governo no setor
Henrique Gomes Batista
Um dia após a confirmação de que o diretor do BNDES Wagner Bittencourt de Oliveira será o ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil, o presidente do banco, Luciano Coutinho, afirmou que a instituição poderá financiar investimentos em aeroportos. Hoje o BNDES não atua nesse segmento, que é monopólio da Infraero. A estrutura aeroportuária do país é uma das maiores preocupações para a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016 no país e já há terminais totalmente saturados pelo crescimento da demanda doméstica por voos.
- Como banco de desenvolvimento temos que apoiar projetos que tenham consistência e temos aqui algumas possibilidades, vamos analisá-las com velocidade e todos aqueles projetos que têm retorno consistente serão apoiados. Aeroportos, no mundo inteiro, são atividades, especialmente os grandes, muito rentáveis que têm capacidade de sustentação e, portanto, capacidade de suportar financiamentos. Não vemos isso como um problema, mas, sim, como uma oportunidade - disse Coutinho.
OPINIÃO
Fukushima deixa lições para o Brasil
As usinas nucleares brasileiras estão entre as mais eficientes do mundo. Servem de referência internacional porque, entre outras questões, o país se preocupou em dominar a tecnologia de construção, operação e manutenção dessas usinas. O Brasil avançou também na produção do combustível. Isso fará com que Angra 3 consiga, por exemplo, gerar mais energia que Angra 2, da qual deveria ser apenas uma cópia.
O fato de as usinas se concentrarem em uma área relativamente pequena (hidrelétricas com a mesma capacidade certamente precisariam ocupar espaços bem maiores) possibilita que o seu funcionamento seja acompanhado com várias lentes de aumento.
Há décadas todo o entorno das usinas é monitorado para se detectar qualquer variação de radioatividade (observando-se a radiação natural). Esse trabalho até contribuiu para a recuperação ambiental das áreas adjacentes.
Em face da preocupação rigorosa com a segurança e os riscos da central nuclear, a possibilidade de acidente passou a ser encarada como remotíssima pelos que, indiretamente, deveriam contribuir para estender esse padrão às estradas de acesso à região. A estrada Rio-Santos vive às voltas com interrupções de tráfego devido a queda de barreiras, deslizamentos, afundamento de pistas, etc. E as poucas vias alternativas são malconservadas.
O problema não é novo, mas um acidente como o ocorrido em Fukushima, no Japão, obriga as autoridades responsáveis pelo setor nuclear a reverem procedimentos e parâmetros relativos à segurança. Especificamente no caso do funcionamento das usinas de Angra, a Eletronuclear, estatal que as administra, cogita reforçar o sistema de fornecimento de energia elétrica para situações de corte na rede principal. Os geradores a diesel não podem estar em locais vulneráveis a intempéries e, ainda assim, é preciso ter uma reserva da reserva, como ficou evidenciado em Fukushima. Uma pequena central hidrelétrica, em rios nas proximidades das usinas, poderá cumprir essa função.
Quanto à retirada das pessoas, na hipótese de situação crítica, a opção marítima, que não fazia parte do plano de emergência, merece agora ser avaliada, com a construção de píeres nas áreas próximas às usinas. No entanto, é fundamental que as vias terrestres estejam sempre desimpedidas. A rodovia Rio-Santos e as estradas estaduais e municipais secundárias não podem continuar sendo mantidas como tal.
Após tantos anos de funcionamento das usinas, os órgãos reguladores deveriam ter a documentação em dia em relação ao licenciamento ambiental e comissionamento das instalações nucleares. Sem isso, a sociedade acaba sendo surpreendida ao saber que algumas compensações para a construção de Angra 3, previstas inicialmente, já não seriam mais obrigatórias.
Ou seja, para que não se repita, em nenhum grau, o acidente de Fukushima deixa lições que devem ser levadas muito a sério no programa nuclear brasileiro.
DOS LEITORES
Dilma e as FFAA
Parabéns à presidente Dilma pelas sábias palavras: “Um país que conta, como o Brasil, com Forças Armadas caracterizadas pelo estrito apego às obrigações constitucionais é um país que corrigiu seus próprios caminhos.” No entanto, teria sido mais sábia e, principalmente justa, se tivesse incluído no seu discurso que, felizmente, hoje, o Brasil conta com uma presidente eleita democraticamente porque também corrigiu seus próprios caminhos políticos, autoritários, de outrora.
Rodolpho Heggendorn Donner - Rio
Um estrangeiro que ouvisse o discurso proferido pela presidente Dilma e dirigido às Forças Armadas pensaria que o governo brasileiro dedica sistematicamente parte considerável de seus recursos financeiros para modernizá-las. Não saberia, contudo, que em janeiro o processo de aquisição de novos caças para a Força Aérea voltou para a geladeira, onde reside há mais de dez anos. Um emocionante jogo de cena.
Paulo Frederico Soriano Dobbin - Rio
NOVO RELATÓRIO
Lula: mensalão seria julgado em 2050
Nos EUA, ex-presidente fala em atrasos, caso novo relatório da PF seja considerado
Fernando Eichenberg
WASHINGTON. Após fazer uma palestra no "Fórum de Líderes do Setor Público - América Latina e Caribe", organizado pela Microsoft na capital americana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre o novo relatório da Polícia Federal que confirma a existência do mensalão em seu governo:
- Tem uma peça que dizem que foi o relatório produzido pela PF. Não se sabe se o ministro Joaquim (Barbosa, do Supremo Tribunal Federal) vai receber ou não, se aquilo vai entrar nos autos do processo. Se entrar, todos os advogados de defesa vão pedir prazo para julgar (sic). Então, vai ser julgado em 2050. Então, não sei se vai acontecer. Não tive chance de dar uma olhada no relatório, nem vou olhar. Não sou advogado.
Em relação à exigência feita pelo Ministério Público Federal para que seus filhos e netos devolvam seus passaportes diplomáticos, ele foi lacônico:
- Isso é com o Itamaraty.
Na conferência, Lula defendeu a política de Educação de seu governo e evitou falar sobre os primeiros três meses da presidente Dilma Rousseff no poder.
- Não vou falar porque um jornalista aqui vai escrever "Lula está dizendo o que Dilma tem de fazer" - brincou.
Após o encontro, Lula disse que Dilma não deveria se preocupar com o desempenho inicial:
- Em cem dias a gente está aprendendo os corredores, as cadeiras, a abrir gaveta. (...) Dilma tem o compromisso com o povo brasileiro de um mandato de quatro anos, com direito a mais quatro de reeleição. Ela será julgada em 2014 pelo que fez. Acho que vai ser um governo de sucesso extraordinário.
Lula também foi questionado sobre se teria interesse em atuar como uma espécie de mediador no atual conflito na Líbia entre o Exército do ditador Muamar Kadafi e as forças rebeledes. E respondeu:
- É muito difícil eu falar porque ninguém me chamou. Se a minha presidenta ou alguém achasse necessário e falasse que o Lula pode contribuir, eu contribuiria tranquilamente - disse ele, negando já ter chamado Kadafi de irmão. Em seu discurso da época em que visitou a Líbia, divulgado pela Presidência, porém, ele fala literalmente: "Meu caro irmão Kadafi".
POLÊMICA
Bolsonaro é notificado e reage com ironias
Acusado de racismo e homofobia, deputado diz que seria reeleito hoje; estudantes protestam e pedem punição
Evandro Éboli e Isabel Braga
BRASÍLIA. Acusado formalmente de racismo e homofobia em representações analisadas pela Corregedoria da Câmara, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) parece não se intimidar. Embora garanta não estar em campanha, já faz uma projeção sobre os votos que obteria em 2014, em razão da repercussão de suas polêmicas declarações:
- Não estou em campanha, mas, se a eleição fosse hoje, teria 500 mil votos. Tranquilo - disse Bolsonaro, reeleito para o sexto mandato, em 2010, com 120.646 votos.
Bolsonaro foi notificado ontem pela Corregedoria e tem cinco dias úteis para apresentar sua defesa, o que pretende fazer ainda hoje. Ele repetia que vai surpreender a todos com a relação de testemunhas que irá arrolar para se defender:
- Tenho uma bomba no final dessa história. Tenho que ter minha estratégia. É munição de grosso calibre para matar um pardal - disse ele, que nega ser racista e insiste em dizer que compreendeu mal a pergunta feita a ele, no programa "CQC", por Preta Gil.
Preta Gil perguntou se ele aceitaria que um filho se casasse com um negro. Em resposta, Bolsonaro disse que não iria discutir promiscuidade.
Estudantes protestam contra Bolsonaro e pastor
Ontem, estudantes e representantes de movimentos sociais em defesa de direitos humanos, gays e negros protestaram contra Bolsonaro na Comissão de Direitos Humanos da Câmara e pediram sua punição. Com cartazes, nos quais Bolsonaro aparecia com um bigode similar ao do nazista Adolf Hitler, gritavam: "Fora Bolsonaro!". O protesto incluiu o repúdio a mensagens postadas pelo deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), também consideradas ofensivas à comunidade negra.
O presidente da Ubes, Yann Evanovick, disse que Bolsonaro cometeu um crime:
- A Câmara abriga um deputado que defende a ditadura, é preconceituoso e homofóbico. Não dá para falar o que quer. Algumas opiniões são crimes, e se ele cometeu crime, tem que ser punido.
PRECAUÇÃO
Voo do Rio para Atlanta volta a ter problemas
Após pane no radar, avião da Delta teve um defeito na asa
O avião da Delta Airlines que teve uma pane no radar ao deixar o Rio na madrugada de segunda-feira voltou a apresentar problemas ontem, segundo o site G1. Desta vez, o voo que saiu do Aeroporto Internacional Tom Jobim teve um problema numa das peças que compõem a asa, na chegada a Atlanta, nos Estados Unidos.
Segundo a Delta, o primeiro problema apresentado pelo Boeing 767-300ER foi reparado e a aeronave, liberada para nova decolagem, na noite de segunda-feira. Segundo a empresa, ao chegar aos EUA, o voo precisou ser desviado para o aeroporto internacional de Orlando, devido ao mau tempo na região de Atlanta. Após algum tempo em terra, a aeronave partiu para seu destino final.
Durante o trajeto entre Orlando e Atlanta, a aeronave apresentou problema numa das peças da asa. Segundo a assessoria da Delta, o defeito não trazia risco aos passageiros. Ao chegar no espaço aéreo de Atlanta, o piloto teve dificuldades de pousar, novamente por causa do mau tempo.
Segundo passageiros, o avião deu muitas voltas e o piloto avisou que faria um pouso de emergência, provocando pânico. Segundo a Delta, devido ao problema na asa e ao mau tempo, o piloto achou melhor avisar para a torre de controle que seria um pouso de emergência. A empresa reitera que foi apenas uma medida de precaução.
Ao pousar, bombeiros e ambulâncias esperavam pelos passageiros no Aeroporto Hartsfield-Jackson, em Atlanta. A empresa afirmou que os aviões da companhia recebem manutenção toda vez que aterrissam num destino. A Delta está apurando se a aeronave já foi liberada para voar novamente.
A empresa informa ainda que os passageiros que tiveram problema na madrugada de segunda embarcaram no mesmo dia numa outra aeronave.
LICENCIAMENTO
Deputada quer proibir novas usinas nucleares
Proposta de emenda constitucional ainda será analisada pela Assembleia Legislativa
A deputada estadual Aspásia Camargo (PV) protocolou na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), esta semana, uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para impedir a construção de novas usinas nucleares no estado. O projeto, que ainda não foi publicado no Diário Oficial nem tem data para ser votado, poderia, segundo ela, inviabilizar as obras de Angra 3.
Enquanto isso, a polêmica em torno do processo de licenciamento de Angra 3 continua. Anteontem, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, negou que tenha sido retirada da licença de instalação da usina a obrigação de a Eletronuclear arcar com a manutenção do Parque Nacional da Serra da Bocaina e da Estação Ecológica Tamoios. A alteração foi revelada pelo GLOBO. Há uma semana, outra reportagem mostrou que a Eletronuclear contratará uma auditoria para reavaliar a segurança das encostas no entorno das usinas Angra 1 e 2.
FRACASSA O ACORDO
Costa do Marfim: líder eleito pede Gbagbo vivo
Tropas atacam casa de presidente, mas são repelidas por artilharia pesada. África do Sul e Togo teriam oferecido asilo
ABIDJÃ, Costa do Marfim. O cessar-fogo em Abidjã durou pouco, pelo menos em volta da residência do presidente Laurent Gbagbo, que se recusa a entregar o poder a Alassane Ouattara, eleito em novembro. Nas primeiras horas de ontem, tropas de Ouattara abriram fogo contra a casa, em Abidjã, onde Gbagbo estaria refugiado com a família, numa tentativa de capturá-lo vivo e fazer com que reconheça a derrota na eleição de novembro. Mas as forças opositoras foram repelidas por milícias e soldados que ainda apoiam Gbagbo e que concentram armamento pesado no bunker. O ataque veio quando a França dava por fracassado o acordo para Gbagbo deixar o poder e a ONU pedia acesso urgente às vítimas.
Aparentemente, Gbagbo, exprofessor de História, está contando com um ponto fraco de Ouattara: o vencedor do pleito, intelectual que viveu anos no exterior, sabe que precisa do atual presidente vivo para manter o apoio internacional ao seu governo e não confrontar os 46% do eleitorado que votaram em seu rival. A prova disso seria a ordem dada ontem por Ouattara para que Gbagbo seja capturado vivo. Mas diante da resistência, as forças opositoras tiveram que recuar e se reagrupavam, ontem à tarde, preparando um novo ataque.
— Estão atirando para todos os lados. Carros correm em todas as direções, assim como os combatentes — contou um morador, que viu tanques franceses nas ruas, embora não soubesse dizer se participavam da ofensiva.
Governo acusa França pelo ataque e Sarkozy é criticado Embora um porta-voz do atual governo afirmasse que soldados franceses atacavam a casa, a França negou fazer parte da operação e disse que só atuará a pedido da ONU. As críticas contra o país aumentaram desde segunda-feira, quando tropas francesas e da ONU bombardearam alvos ligados a Gbagbo. Em Paris, mais de cem simpatizantes do presidente protestaram diante da Assembleia Nacional, chamando Nicolas Sarkozy de assassino.
Em Camarões, outra excolônia francesa, motoristas de táxi fizeram manifestação contra a ação militar, enquanto o jornal alemão “Berliner Zeitung” afirmou que a ex-metrópole não conseguiu resistir ao “novo jogo do poder neocolonial”.
— Acusamos a França de tentar matar Gbagbo — disse o porta-voz do atual governo em Paris, Toussaint Alain.
A França estava à frente das negociações, que segundo o chanceler Alain Juppé “fracassaram devido à intransigência de Gbagbo”. Na véspera, suas forças ofereceram um cessar-fogo, mas o presidente negou que fosse deixar o poder, embora assessores negociassem sua saída.
Segundo um diplomata ligado ao governo que pediu para não se identificar, foi apenas uma forma de ganhar tempo. Outros davam uma versão diferente:
— Se Gabgo se recusou a assinar é porque propuseram algo que não é legal — disse o portavoz Ahoua Don Mello. — Querem que ele saia primeiro.
Uma saída possível seria o exílio. África do Sul e Togo já teriam se oferecido para receber Gbagbo, segundo fontes diplomáticas na União Africana e na Etiópia. Outro destino mencionado foi Angola.
Dizendo que a situação em Abidjã é “extremamente preocupante” a Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (OCHA) pediu acesso urgente às vítimas. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha relatou que os hospitais estão superlotados, faltam suprimentos médicos e muitas vezes funcionam sem água ou eletricidade. Além disso, civis enfrentam a falta de água e de comida.
— Nós não temos o que comer, o que beber. Vamos todos morrer — disse uma jovem que se identificou como Mariam. Ontem, a União Europeia adotou mais sanções, proibindo acordos comerciais e empréstimos “com o governo ilegítimo de Gbagbo”.
FONTE: O GLOBO
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