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segunda-feira, 18 de abril de 2011

16 de abril de 2011 - CORREIO BRAZILIENSE


 
DILMA NA CHINA
Um novo estilo nas viagens internacionais
Especialistas avaliam que diferença de postura entre a presidente e Lula traz avanços para a imagem do Brasil no exterior

» Marcelo da Fonseca

A comparação é inevitável. Os discursos espontâneos, as brincadeiras e as quebras de protocolo deram lugar a uma ação mais metódica, pronunciamentos lidos à risca e postura mais cautelosa, sem improvisos. Os presidentes que tiveram um relacionamento mais próximo com Luiz Inácio Lula da Silva podem sentir falta da figura carismática do petista durante as visitas internacionais, mas, para especialistas, a mudança é positiva e o estilo de Dilma Rousseff traz avanços para a imagem do Brasil no exterior.
“O jeito da Dilma é bem diferente do que estamos acostumados a ver. E as pessoas de outros países que estavam acostumadas com as características mais informais de Lula vão perceber isso rapidamente. O ex-presidente tem um carisma muito grande, mas se por um lado ele chamou atenção por sua espontaneidade, também incorreu em alguns erros por causa da mesma característica. Já Dilma tem um perfil mais reservado, porém muito assertivo e firme, o que é ótimo para o Brasil no contexto internacional. A diminuição das luzes sobre a presidente pode proporcionar relações bem pensadas e acordos baseados nos interesses da nação”, afirma o coordenador do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, Danny Zahredinne.
O ex-presidente, recebido como “superstar” em muitos países e elogiado por conseguir projetar o Brasil comercialmente, recebeu críticas pelas ações intuitivas em alguns casos e com muitos improvisos. As tentativas de acordos com o Irã, contrariando a grande maioria de países do G-20 e a condenação do golpe em Honduras, em 2009, gerou situações constrangedoras para a diplomacia brasileira. “Depois de conquistar grande popularidade até mesmo no cenário externo, o ex-presidente Lula extravasou em muitos aspectos que não deveria. Em certas situações, o Brasil ficou em situação delicadíssima, quando tomamos o lado de países que não deveríamos. Dilma se mostra muito técnica no início das relações com outros países, bem centrada e sem muito estardalhaço”, disse o cientista político Gaudêncio Torquato.

Semelhanças
A diferença na atitude da presidente e seu antecessor não reflete uma grande mudança nas posturas adotadas por Dilma no início do mandato. Assim como Lula, que em janeiro de 2003 visitou a Argentina, ela começou sua trajetória de visitas internacionais pelo país vizinho e deixou claro o grande interesse nas relações com as nações sul-americanas. Na China, primeira viagem fora do continente, a presidente reforça os laços com economias consideradas importantes para os interesses nacionais, priorizando os grandes parceiros.
“Apesar das diferenças nas personalidades, vejo na Dilma os fundamentos básicos muito parecidos do governo anterior. O alinhamento com potências médias, sem deixar de lado qualquer país considerado importante comercial e politicamente. A Ásia é hoje um local de grande interesse e, assim como no governo Lula, continuamos nos aproximando cada vez mais de países que antes eram deixados de lado”, explica Zahredinne.


HISTÓRIA
Os arapongas também eram espionados
Durante um encontro de mulheres em 1980, no Rio, militares descobriram que militantes de esquerda vigiavam suas ações

Edson Luiz

Acostumados a espionar, os órgãos de informações do regime militar temiam ser investigados por movimentos de esquerda. O assunto mereceu a primeira referência em 1980, quando os arapongas monitoravam uma reunião de mulheres no interior do Rio de Janeiro e acabaram filmados por uma das participantes. Depois, o tema foi novamente debatido durante reunião da comunidade de inteligência do governo em que foi discutido o atentado ao Riocentro, em 1º de maio de 1981.


O documento confidencial, ntitulado Evolução de atividades subversivas – novas formas de atuação, mostrava que os integrantes da área de informações do I Exército que espionavam manifestações no interior do Rio de Janeiro também eram espionados. “Agentes de órgãos de segurança, por ocasião de cobertura de eventos políticos ideológicos realizados em Nova Iguaçu, estariam sendo fotografados”, relata o informe, que identifica uma médica e seu marido como os autores das gravações. Foi o primeiro caso observado pelo governo. De acordo com o documento, ela usava uma microfilmadora, operada de dentro de um carro.
O fato ganhou impacto dentro da comunidade de informações. Em uma reunião realizada em 7 de maio de 1981, foi entregue a cópia de um documento produzido pelo Exército que avaliava o atentado do Riocentro, ocorrido na semana anterior. Na ocasião, uma bomba explodiu, matando um sargento e ferindo um oficial durante um show em comemoração ao dia do trabalhador. O documento fazia um alerta para que o assunto — a espionagem feita esquerda — fosse difundido para os Centros de Informações do Exército (CIE), da Aeronáutica (Cisa), dos comandos e das brigadas militares, além da Polícia Federal. Hoje, a peça encontra-se no Arquivo Nacional com outros 35 mil documentos entregues pelo Cisa à instituição, que abriu o acervo no início da semana.

Assunto esgotado
“Há muito tempo os OI (órgãos de informações) vêm detectando levantamentos de seus agentes, e até mesmo de organizações de militares, por elementos de esquerda, com o objetivo único de desmantelar ou destruir o ‘aparato repressor’”, alerta o integrante do Exército que fazia parte da comunidade de informações. “Esses fatos são motivos de preocupação deste comando, que, a respeito, expediu um sumário de informações pelo Info nº 214-I, de abril de 88”, acrescenta o relatório, ressaltando que o documento foi difundido por todas as unidades militares e que, “em absoluto”, o assunto deveria ser esgotado.
O informe apresentado durante a reunião da comunidade de informações em nada esclarece o atentado do Riocentro, a não ser o fato de o Exército ter imputado a movimentos de esquerda o incidente. No documento, os militares revelavam a seus colegas que o fato deveria ser desvendado, mas culpam a imprensa pela repercussão dos fatos, afirmando que a intenção era desmoralizar os órgãos de informações. “Os militares são apresentados como terroristas, acusados e condenados sem qualquer prova ou fundamento e sem nenhuma chance de defesa, dentro da técnica de orquestração”, diz o documento.


DESARMAMENTO
Do fórum para o crime
Neste ano, ao menos 202 armas que faziam parte de processos foram furtadas das varas criminais espalhadas pelo país. Uma média de dois artefatos saem, por dia, do Judiciário e vão parar na clandestinidade.

Renata Mariz
Ana Elisa Santana

Um verdadeiro arsenal de guerra está nas mãos do Judiciário brasileiro. São quase 900 mil armas, 650 mil cartuchos e 18 explosivos. Longe dos depósitos aparentemente seguros localizados nas grandes cidades, fóruns de municípios médios e pequenos sofrem com assaltos constantes desses materiais. Bandidos furtaram, somente em 2011, pelo menos 202 revólveres, pistolas ou fuzis, segundo dados levantados pelo Correio. A média é de duas armas que saem diariamente das mãos da Justiça direto para o crime. E as estatísticas devem ser bem maiores, já que muitas corregedorias estaduais entendem que as informações referentes ao assunto são sigilosas.
Pelos dados obtidos, porém, fica evidente que o local preferencial desse tipo de crime são as cidades pequenas devido à falta de estrutura. A Justiça do Rio de Janeiro, por exemplo, que guarda 551 mil armas, ou 75% de todo o material estocado na esfera estadual do país, deixa a custódia do material a cargo da polícia. Locais menores, porém, não contam com qualquer tipo de auxílio. Caso de Uberlândia (MG), de onde foram furtadas, há menos de dois meses, 49 armas de fogo. “A gente está saturado, não tem local adequado para arquivos, depósito. Além disso, não há cofre onde possamos armazenar esses objetos”, queixa-se o juiz Paulo Fernando Naves de Resende, diretor do Fórum Abelardo Senna, na cidade mineira.
Ele destaca que a falta de espaço nas varas dificulta o armazenamento seguro não só de armas, mas de todos os produtos apreendidos por ligação com o crime — como veículos ou até mesmo gaiolas com pássaros contrabandeados. A guarda dos objetos é necessária porque devem ficar vinculados aos processos enquanto eles tramitam no Judiciário. Mas os dados de furtos chegaram a um nível tão alarmante que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) recomendou, há cerca de um ano, que os juízes mandassem a arma para destruição, feita pelo Exército logo depois da perícia.
“É claro que, em um caso de tribunal de júri, sabemos que é preciso conservar a arma, às vezes ela tem de ser levada ao julgamento. Mas, nos outros casos, nossa recomendação é que o juiz agilize a destruição para evitar desvios”, afirma Felipe Locke, conselheiro do CNJ. O magistrado de Uberlândia até gostaria de se livrar o quanto antes das armas, mas aponta uma morosidade no processo para remeter o armamento ao Exército. “Precisaria haver uma unidade coletiva para todas as varas ou um serviço de segurança adequado nos fóruns. Hoje, a vigilância é feita por empresas terceirizadas”, critica Resende.
Em Arapiraca (AL), o furto de 130 armas levou a Corregedoria do Tribunal de Justiça de Alagoas a determinar inspeção em todos os fóruns para verificar as condições de armazenamento do material. Além disso, uma investigação da Polícia Civil foi aberta. Coordenadora da área de controle de armas do Instituto Sou da Paz, Alice Ribeiro aponta a necessidade de criar padrões mínimos de segurança dos estoques de armas no país — mantidos por fabricantes, pelas lojas, por órgãos estatais e pelas próprias entidades envolvidas na campanha do desarmamento. “Lutamos para que, em todos os locais, haja marretas capazes de inutilizar as armas logo depois da sua entrega. Já fazemos isso em alguns lugares, a ideia é que se expanda”, destaca Alice. Para ela, os fóruns de cidades pequenas são locais críticos de desvios.


FUNCIONALISMO
Secretaria de RH será esvaziada
Ministra do Planejamento, Miriam Belchior, reforça influência sobre os membros de sua equipe para cumprir o ajuste fiscal

Ana D"Angelo

A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, pretende esvaziar a Secretaria de Recursos Humanos (SRH), comandada desde junho de 2007 por Duvanier Paiva Ferreira, ligado à CUT paulista. Ao mesmo tempo, aumentará os poderes da Secretaria de Gestão. Duvanier, professor do ensino fundamental e ex-assessor político da executiva nacional da CUT, deverá cuidar só das negociações salariais daqui para frente, um grande abacaxi, pois não há margem orçamentária para dar aumentos ao funcionalismo.
Outras atribuições da SRH, como a administração do Sistema Integrado de Administração de Recursos Humanos (Siape), passarão para a Secretaria de Gestão. Ao assumir o ministério, Miriam deparou de imediato com uma agenda emergencial de corte de gastos de R$ 50 bilhões e cercou-se de amigos de sua confiança, nos quais centraliza as decisões do ministério.
Conforme informações obtidas pelo Correio, o gabinete ministerial atribui a Duvanier parte da responsabilidade pelo problema fiscal atual, por ter inchado a folha de pessoal, com reajustes salariais para servidores federais ativos e inativos, em mais de 100%, nos últimos três anos.
Procurada, a ministra não quis se manifestar sobre as nomeações e centralização de decisões. Sobre a desidratação da secretaria de Duvanier, o ministério informou que “nenhum dirigente falará sobre as possíveis mudanças nas secretarias de Recursos Humanos e de Gestão e que, tais mudanças, se e quando ocorrerem, serão no sentido de dar racionalidade a atribuições superpostas em relação às duas secretarias”.
Para a chefia de gabinete e secretaria-executiva, Miriam nomeou as amigas Elaine Paz e Iraneth Rodrigues Monteiro, respectivamente. Mas quem toca a secretaria mesmo é o seu adjunto, Valter Correia da Silva, também amigo da ministra, supervisionando
a de gestão, de recursos humanos, de tecnologia e informática e a Escola Nacional de Administração Pública (Enap).

Pressão
Para a Secretaria de Gestão, o preferido da ministra era o amigo Josemir Mangueira Assis, que já trabalhou com Valter Correia na mesma pasta. Mas ele preferiu ficar na presidência da Empresa Gestora de Ativos (Engea), vinculada ao Ministério da Fazenda. Miriam nomeou então como secretária de Gestão a mulher de Josemir, Ana Lúcia Amorim de Britto, que, em 2010, ocupou o cargo de assessora da diretoria da Dataprev, a empresa de processamento de dados da Previdência.
Embora considerada competente, o estilo centralizador de Miriam Belchior abriu uma fissura nos blocos K e C da Esplanada dos Ministérios, com os funcionários das demais secretarias. O corte de cabeças eleva a tensão no dia a dia de funcionários.
Em razão da ordem do governo para reduzir gastos, a única secretaria intacta é a de Orçamento e Finanças, a SOF, com Célia Corrêa, titular desde maio de 2007, mantida no cargo. A SOF representa o núcleo duro da visão conservadora do ponto de vista fiscal e econômico do ministério, necessário para executar o corte orçamentário de R$ 50 bilhões.


INFRAESTRUTURA
Ministros garantem aeroportos
Miriam Belchior e Wagner Bittencourt contestam o Ipea e asseguram que obras serão aceleradas para a Copa de 2014

Rosana Hessel

Um dia após o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgar relatório alertando sobre riscos de atrasos no cronograma de investimentos nos 13 aeroportos das cidades-sedes dos jogos da Copa do Mundo de 2014, o governo assegurou que as obras serão concluídas em tempo. “Não vamos passar vergonha. O Brasil fará bonito”, disse ontem a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Ela lembrou que Alemanha e África do Sul, sede das duas últimas Copas, também enfrentaram atrasos, mas “tudo saiu correto”. “No Brasil não vai ser diferente”, garantiu.
O engenheiro Wagner Bittencourt, nomeado para chefiar a Secretaria de Aviação Civil (SAC), que tem status de ministério, se reuniu pela manhã com a ministra Miriam, o ministro do Esporte, Orlando Silva, o presidente da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), Gustavo Vale, e o coordenador do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Maurício Muniz.
Na saída do encontro, o ex-diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) evitou aumentar a polêmica envolvendo o relatório do Ipea, órgão do próprio federal. “Sempre levamos em consideração qualquer subsídio. Toda contribuição é bem- vinda”, disse. O ministro da SAC tentou minimizar a importância da reunião dizendo ser ela “de rotina” e reforçou que o cronograma de investimentos é “adequado” e “deverá atender as necessidades da Copa”.

Aumento de custos
“Estávamos discutindo a estratégia para acelerar as obras dos aeroportos e que elas possam atender a demanda não só da Copa e das Olimpíadas, mas também dos próximos anos”, afirmou. “Estamos discutindo várias medidas. Isso é um planejamento que já vem há algum tempo”, acrescentou. Ele deverá se reunir com a presidente Dilma Rousseff, em viagem na Ásia, ainda este mês para definir as medidas a serem adotadas. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Infraero serão vinculadas à SAC, que ainda não tem sede própria e sim uma sala no Ministério da Defesa.
Uma das preocupações de especialistas com os atrasos nas obras dos aeroportos é o aumento dos custos, que tenderão a mais do que dobrar em função de urgência. A criação da secretaria, inclusive, é justificada para dar mais agilidade ao setor aéreo e conduzir processos de concessão dos terminais aeroportuários à iniciativa privada. Um dos responsáveis pelo relatório do Ipea, Carlos Campos Neto, alertou que, mesmo que ocorram as concessões, o prazo médio para a construção de terminais é de sete anos e meio, ou seja, depois da Copa e das Olimpíadas.
A Infraero anunciou ontem que abriu a licitação para as obras do novo Terminal de Passageiros do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), cujos projetos estão orçados em R$ 44,6 milhões. O diretor de infraestrutura de aeroportos da Anac, Rubens Carlos Vieira, avisou ontem em São Paulo que o edital de concessão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal (RN), deverá ser publicado em duas semanas.

REVOLTA NO ORIENTE MÉDIO
Brasil oficializa sanções à Líbia
Decreto põe em vigor embargo de armas, congelamento de bens e veto à entrada de Kadafi

» Renata Tranches

O governo brasileiro determinou oficialmente a proibição de venda de armas para a Líbia, além do congelamento de bens do ditador Muamar Kadafi e sua entrada no país, bem como a de seus familiares. O decreto foi assinado pelo presidente em exercício, Michel Temer, e publicado na edição de ontem do Diário Oficial. A medida atende à Resolução nº 1.970, aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 26 de fevereiro. Ela impõe aos países membros do Conselho de Segurança — o Brasil ocupa uma vaga temporária — que inspecionem todos os carregamentos destinados, à Líbia para evitar que sejam enviados armas, munição e veículos militares. A resolução proíbe também a entrada ou o trânsito de oito filhos de Kadafi nos países que integram o conselho. Segundo o Ministério das Relações Exteriores (MRE), a publicação da norma no Diário Oficial “internaliza” a medida.
O decreto condena o uso da força contra cidadãos e deplora “a violação flagrante e sistemática dos direitos humanos, inclusive a pressão a manifestantes pacíficos”, expressa “profunda preocupação com a morte de civis” e rejeita “inequivocamente a incitação à hostilidade e à violência contra a população civil”.
O Brasil votou a favor da resolução, aprovada por todos os 15 países-membros do Conselho. O país se absteve, no entanto, na votação da Resolução nº 1.973, aprovada em 17 de março, com 10 votos a favor e cinco abstenções. A medida autorizou a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia e o uso das “medidas necessárias” para proteger os civis. China, Rússia, Índia e Alemanha também se abstiveram. Três dias depois começaram os ataques das forças aliadas contra o regime de Kadafi, agora sob liderança da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Para o professor Márcio Scalércio, especialista em Oriente Médio e professor do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RJ), autor do livro Oriente Médio, ao publicar a medida, o Brasil simplesmente acata a determinação do conselho. “É o mínimo de cumprimento de uma lei internacional”, afirmou, em entrevista ao Correio. Segundo o analista, mais importante é o fato de os países-membros do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — terem manifestado nesta semana preocupação com os ataques aéreos e pedido o fim da guerra civil.

Apoio financeiro
Ontem, Reino Unido, França e Estados Unidos classificaram a saída do coronel Kadafi como algo fundamental para o futuro da Líbia. Disseram ainda ser esse o objetivo principal das operações da Otan. Em um artigo assinado em conjunto e publicado em quatro jornais, o premiê David Cameron e os presidentes Nicolas Sarkozy e Barack Obama classificaram como “impossível imaginar que a Líbia tenha um futuro com Kadafi”. “Não se trata de expulsar Kadafi pela força. Mas é impensável que alguém que tenha tentado massacrar seu povo tenha algum papel no futuro governo líbio”, consideraram.

Também ontem, a secretária de Estado norte-americana,
Hillary Clinton, disse que os países da Otan e seus aliados estão buscando maneiras de financiar os rebeldes líbios. “A oposição precisa de muita assistência, nas áreas organizacional, humanitária e militar”, disse Hillary após um encontro de chanceleres da Otan, em Berlim. A possibilidade havia sido sugerida pelo ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, durante o encontro, no Catar, de um grupo de contato criado para discutir a situação na Líbia.


TURISMO
Voos entre Brasília e Miami podem passar a ser diários a partir de 2012
Com cada vez mais brasilienses viajando para o sul da Flórida, companhias aumentam frequência dos voos no Aeroporto JK. Impulsionados pelo dólar barato, viajantes consomem de roupas e eletroeletrônicos a imóveis

Diego Amorim

A ponte aérea Brasília-Miami consolidou o sul da Flórida como destino preferido dos brasilienses. Os voos diretos iniciados no fim do ano passado aumentaram a quantidade de pacotes fechados nas agências de viagem e despertaram moradores da capital do país para investimentos em solo americano. Coincidência ou não, o número de vistos emitidos na Embaixada dos Estados Unidos também subiu. Diante da demanda aquecida, a American Airlines anunciou que, a partir de 14 de junho, inaugurará o quinto voo semanal, sem escala, partindo do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Representantes do mercado de turismo local apostam que, a partir do ano que vem, as empresas aéreas passarão a oferecer rotas diárias para Miami.
Entre os brasileiros, os moradores do DF são, proporcionalmente, os que mais viajam para a Flórida, segundo as principais operadoras de viagem que atuam na capital federal. De acordo com o gerente regional de Vendas da CVC, Cláudio Vila Nova, é muito comum clientes irem três ou até mais vezes por ano a Miami e a Orlando. Depois dos voos diretos, a média de passageiros que embarcam em Brasília, pela empresa, rumo a esses destinos saltou de 1 mil para 1,2 mil por mês, um crescimento de 20%. “Não há outra definição: a Flórida virou moda. Se antes já era o nosso pacote mais vendido, agora, então, isso só se fortaleceu.”
Na baixa temporada, há pacotes vendidos a partir de US$ 930 — cerca de R$ 1.580 —, incluindo passagens aéreas e quatro noites em quarto duplo. O preço, por pessoa, pode ser parcelado em até 10 vezes sem juros. “É um destino barato e sofisticado. O brasiliense adora dizer que passou o fim de semana na Flórida”, afirma Vila Nova. Na Bancorbras Turismo, após a possibilidade de voar sem conexão, Miami superou Nova York na procura por destinos norte-americanos. “Ficou muito mais atrativo e o preço está relativamente baixo, na opinião dos clientes. Sem contar que o destino é conhecido por ser o paraíso das compras”, complementa Júnior Lins, gerente-executivo da Bancorbras no DF.
Sempre que vai a Miami — já foram pelo menos 10 vezes —, a assistente parlamentar Nicole Victor Rodrigues, 38 anos, leva uma mala grande praticamente vazia, somente com duas ou três mudas de roupa. Ela sabe que dificilmente resistirá à tentação de shoppings e outlets em solo norte-americano. “Vale muito a pena. Sempre vou com um valor em mente para gastar, mas acabo ultrapassando”, confessa a brasiliense, que na última viagem chegou a torrar algo em torno de US$ 5 mil em 15 dias. “A gente surta. Às vezes, entra e compra sem nem avaliar se está precisando mesmo do produto”, completa Nicole, que elogia os voos diretos e adianta que pretende ir mais vezes para a Flórida, acompanhada do marido e da filha, de 9 anos.
Desde 2008, a psicóloga Ana Luiza Favato tem ido a Miami com a família, no mínimo, duas vezes ao ano. “Fomos em janeiro e já temos passagens compradas para julho”, detalha. Atraída pelas compras, pelas praias e pelos amigos que têm apartamento na cidade norte-americana, Ana relata que costuma passar uma semana na Flórida em cada viagem. “De Miami, vamos para Orlando ou para algum outro lugar perto. Da última vez, fizemos um cruzeiro”, acrescenta. O voo direto, diz a psicóloga, deve aumentar a frequência dos passeios com o marido e a filha. “Facilita bastante, é muito melhor do que fazer conexão”, reforça ela, que já pensou em comprar um apartamento em Miami (leia matéria abaixo).

Voos cheios
A American Airlines começou a operar no terminal de Brasília em novembro do ano passado. A procura por passagens para Miami surpreendeu a empresa, segundo o diretor de Vendas e Marketing no Brasil, Dilson Verçosa Júnior. Em maio, mais um funcionário vai se juntar à equipe comercial na capital federal. “Superou muito as nossas expectativas. Geralmente, novas rotas levam um ano para se consolidar. Em Brasília, foi rápido”, compara. A taxa de ocupação média tem sido de 72%, sendo que em alguns dias da semana os aviões decolam lotados, o que fez a companhia anunciar o quinto voo semanal durante os três meses de alta temporada. “Até o fim do ano, esperamos conseguir autorização para voo diário”, completa.
A Tam, que passou a oferecer opções para Miami um mês depois que a American, não divulga números regionais, sob a alegação de que são informações estratégicas. Mas, segundo agentes de viagem do DF, os voos também estão cheios e a empresa pretende operar voos diários a partir do ano que vem. Na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), ainda não há solicitação nesse sentido. Em nota, a Tam limitou-se a informar que está “sempre estudando novas oportunidades”. As duas companhias deixam claro que, além dos turistas, os voos têm atendido a uma demanda de viajantes a trabalho, como diplomatas, servidores públicos e empresários. As rotas atraem, ainda, moradores de Goiânia, Palmas e outras cidades do Centro-Oeste e Norte.
O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no DF (Abav-DF), Carlos Alberto de Sá, confirma o boom para Miami e sustenta que nos próximos anos Brasília deve receber novos voos internacionais. “Nosso terminal virou um centro de distribuição, a exemplo do Galeão (Rio de Janeiro) e de Guarulhos (São Paulo). As companhias internacionais estão percebendo isso”, afirma. O primeiro voo sem escala para o exterior começou em 2007, com a já consagrada rota da TAP Brasília-Lisboa. Em 2009, a Delta Airlines iniciou voos para Atlanta, nos Estados Unidos. No ano seguinte, chegaram Lan, Taca e American Airlines — além da brasileira TAM ter começado a voar para Miami. Este ano, será a vez da Pluna e da Copa Airlines.

Alta de 62%
Entre 1º de outubro de 2010 e 31 de março deste ano, segundo a embaixada dos Estados Unidos, foram emitidos, em Brasília, 44.142 vistos de turismo ou negócios. No mesmo período do ano anterior, esse número foi de 27.244. O crescimento foi de 62%. Os voos diretos para Miami começaram em novembro do ano passado — não são apenas brasilienses que tiram visto na capital federal.

 FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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