INFRAESTRUTURA
Infraero defende aeroporto
Um dia após divulgação de estudo que prevê esgotamento até a Copa 2014, estatal garante capacidade para Mundial
Giovanni Sandes
Após um dia em silêncio, ontem a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) garantiu que o Aeroporto Internacional do Recife será capaz de atender demanda da Copa 2014. A Infraero se posicionou através de nota e evitou bater de frente com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), que na última quinta-feira publicou estudo prevendo o esgotamento do aeroporto até o Mundial.
O JC mostrou na edição de ontem que, segundo o Ipea, em 2014 o Aeroporto do Recife terá uma movimentação de 700 mil passageiros acima da sua capacidade, que é de 8 milhões por ano. Pernambuco tem um dos 10 aeroportos considerados em “situação preocupante” no estudo. Além disso, o aeroporto recifense é um dos três no País sem qualquer projeto de ampliação de capacidade.
Mesmo a única obra incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Copa, a construção de uma nova torre de controle por R$ 19,8 milhões, atrasou 9 meses. Deveria sair em junho próximo, mas ficou para janeiro de 2012, com entrega em janeiro de 2013.
Ontem à tarde, em nota distribuída à imprensa, a Infraero atribuiu ao superintendente regional da Infraero, Fernando Nicácio, a “garantia” de que “todas as demandas relacionadas à capacidade operacional do Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes – Gilberto Freyre – estão asseguradas para confirmar o Recife como uma das subsedes da Copa de 2014.”
De acordo com o texto, “pátio, pista e todos os serviços aeroportuários estão à altura do grande evento, já que o terminal de passageiros ainda reserva muita capacidade operacional ociosa.” A Infraero ainda convocou a imprensa para uma entrevista coletiva na próxima segunda-feira.
Apesar do teor da nota e da coletiva marcada para a semana que vem, a Infraero garante que não se trata de uma resposta ao estudo do Ipea, mas de uma ação planejada previamente para “manter a sociedade bem informada” sobre o aeroporto.
Governo promete acelerar obras
BRASÍLIA – O ministro-chefe da Secretaria de aviação Civil, Wagner Bittencourt, garantiu que a demanda nos aeroportos em virtude de eventos como a Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas de 2016 será atendida. Ele afirmou que o governo está trabalhando para adotar medidas para acelerar as obras nos aeroportos. Bitencourt não quis detalhar quais medidas poderão ser adotadas.
Questionado se parcerias com a iniciativa privada estão entre as alternativas cogitadas pelo governo, ele respondeu positivamente. Bittencourt participou, ontem pela manhã, de uma reunião com a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, o ministro dos Esportes, Orlando Silva, além de representantes da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) e da Agência Nacional de aviação Civil (Anac). Ele afirmou que tratou-se de uma reunião de rotina e disse que o relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que apontou problemas nos aeroportos não foi discutido.
O ministro não deixou claro se o governo realmente considera a possibilidade de utilizar terminais provisórios durante a Copa e as Olimpíadas. Afirmou apenas que todos os aeroportos serão adequados e que eventualmente outras soluções podem ser adotadas Ele afirmou que a intenção do governo é aumentar a capacidade dos aeroportos não apenas no curto prazo, mas também a longo prazo.
VERBAS
Levantamento realizado pela Associação Brasileira das Empresas de Transporte Aéreo Regional (Abetar) estima que serão necessários investimentos de R$ 2,4 bilhões entre 2011 e 2015 para adequar um grupo de 174 aeroportos regionais para atender ao crescimento da demanda nesses terminais. O número foi apresentado ontem pelo representante da entidade, Anderson Correia, durante o Seminário Internacional de Concessão de Aeroportos, que acontece em São Paulo.
Segundo o especialista, o levantamento completo, com a necessidade de cada aeroporto, será encaminhado pela associação ao Ministério do Turismo. Correia explica que esse conjunto é composto, principalmente, de aeroportos municipais e estaduais, mas também conta com aeroportos administrados pela Infraero, como Vitória e Cuiabá, que não estão contemplados no pacote de investimentos previstos para atender à Copa do Mundo que acontecerá no País em 2014.
CLÁUDIO HUMBERTO
Voo da tartaruga
A Infraero fará licitação em maio para ampliar e renovar o aeroporto internacional Eduardo Gomes, em Manaus (AM) para a Copa de 2014. A obra, de US$ 206 milhões, deveria ter começado em janeiro de 2009.
MUDANÇAS
Congresso do PC definirá os rumos de Cuba
Mil delegados participam do primeiro congresso em 14 anos para definir uma atualização econômica na ilha caribenha
HAVANA – O 6º Congresso do Partido Comunista de Cuba (PCC), que terá início hoje com um desfile para comemorar os 50 anos da invasão da Baía dos Porcos (quando o país repeliu a invasão de exilados apoiados pelos Estados Unidos), vai definir os caminhos que serão tomados pela ilha comunista. Cerca de mil delegados discutirão o que o presidente Raúl Castro chamou de “atualização” do modelo cubano, com medidas para se chegar a uma economia capaz de suprir as necessidades de mais de 11 milhões de cubanos sem perder as conquistas sociais.
Este é o primeiro congresso desde 1997 e o primeiro sem a presença de Fidel, que renunciou ao cargo de primeiro secretário devido a problemas de saúde desde 2006. “Ou mudamos o curso ou afundamos”, disse Raúl, ao anunciar a reunião dos membros do PCC.
Algumas das cerca de 300 propostas de mudanças que serão discutidas pelos mil delegados foram anunciadas no ano passado e já começaram a ser implementadas. Talvez a mais polêmica seja a demissão de 500 mil empregados estatais, como forma de reduzir os custos. Embora esteja sendo implementada, ela segue em passo lento e muitos apostam que a meta possa ser reduzida.
Entre os mil delegados do congresso, que vai até terça-feira (19), predominam os analistas econômicos. Também será eleito um novo Comitê Central, que atualmente tem quase 100 membros, que deve renovar a cúpula: o Escritório Político (19) e o Secretariado (10).
Único partido legal no país, o PCC elege a cada congresso o primeiro e o segundo secretários – os irmãos Fidel e Raúl Castro desde sua fundação em 1965.
Ontem, Fidel publicou um texto por ocasião do 50º aniversário da invasão da Baía dos Porcos, pelo qual culpa o sistema capitalista e absolve o então presidente dos EUA, Dwight Eisenhower, que preparou a operação fracassada. Aprovada por Eisenhower e assumida por seu sucessor John F. Kennedy, a operação, na qual participaram 1.400 exilados anticastristas treinados e armados pela CIA, começou no dia 17 de abril e foi derrotada em menos de 72 horas.
“Eisenhower não era um criminoso nato. Parecia, e talvez fosse, uma pessoa educada e de boa conduta de acordo com os parâmetros da sociedade em que vivia e não era um militar brilhante, mas um profissional sério e metódico”, escreveu no artigo “A Batalha de Girón” (como a invasão é chamada pelos cubanos), publicado na imprensa oficial local ontem.
A invasão da Baía dos Porcos deixou 161 mortos nas fileiras de Castro e 107 na dos invasores – 1.189 prisioneiros foram trocados por US$ 53 milhões de dólares em remédios e alimentos em 1962.
OFENSIVA
Há impasse militar na Líbia, admite Obama
Presidente americano afirma que, apesar de impasse entre forças rebeldes e do líder Muamar Kadafi, EUA não precisam mudar conduta nas operações realizadas pela Otan
CHICAGO – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, admitiu ontem que um “impasse militar” existe em campo na Líbia entre os insurgentes e as forças de Muamar Kadafi, mas afirmou que os EUA e seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) evitaram uma “carnificina por atacado” e que o governante líbio está sob crescente pressão para deixar o cargo.
Obama também disse que não vê a necessidade de retomar a participação direta dos EUA na execução da zona de exclusão aérea sobre a Líbia. Segundo ele, os EUA estão auxiliando seus aliados europeus com inteligência, abastecimento e transporte. Ele reconheceu que no momento existe um impasse militar, mas ressaltou que a operação da Otan ainda não levou nem um mês.
As declarações de Obama foram feitas justamente no momento em que a França, através do seu Ministro da Defesa, Gerard Longuet, afirmou que o governo francês, bem como os da Grã-Bretanha e dos EUA, pensam em passos posteriores à resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ou seja, buscam agora uma mudança de regime na Líbia. Alguns integrantes da aliança atlântica, contudo, manifestaram reservas ontem em fornecer mais aviões para operações de bombardeio contra Kadafi, entre eles a Itália e o Canadá. A Itália afirma que bombardeou a Líbia apenas para neutralizar as Defesas antiaéreas do governante líbio, enquanto o Canadá diz que não pode aumentar sua presença militar sem autorização do Parlamento, uma vez que terá eleições em 2 de maio.
Segundo Obama, Kadafi começa a ficar sem dinheiro e suprimentos. Ele acredita que o líder líbio, no final, será obrigado a entregar o poder e que por isso não é necessária uma mudança na política americana no momento. Já o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, disse esperar que os países da organização forneçam rapidamente mais caças e bombardeiros para as operações. Um encontro informal da Otan, encerrado ontem em Berlim, terminou sem resultados concretos.
Ontem, rebeldes e a ONG Human Rights Watch acusaram Kadafi de usar bombas de fragmentação ao atacar Misrata, terceira maior cidade do país e a única no oeste onde há focos de insurgência. Esse tipo de bomba é de altíssimo risco para a população civil, há mais de um mês sob cerco das forças de Kadafi. Os soldados do governo controlam o centro da cidade, enquanto os rebeldes mantêm posições na região do porto.
Questionada sobre as bombas, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, afirmou não ter conhecimento do assunto, mas disse não se surpreender com qualquer coisa vinda de Gaddafi. “É por isso que os combates em Misrata têm sido tão difíceis”, acrescentou.
Grupos de direitos humanos advertem que a situação na cidade – novamente atacada ontem por tropas do ditador, que deixaram nove mortos – é de crise humanitária, e os hospitais não dão conta do alto número de feridos. A Organização Internacional para Migrações retirou ontem de Misrata, de barco, 1.200 de um total de 8.300 trabalhadores estrangeiros retidos na cidade. A maioria deles sofre de desidratação e precisa de cuidados médicos.
Brasil publica sanções ao governo da Líbia
BRASÍLIA – O governo brasileiro publicou na edição de ontem do Diário Oficial da União as sanções estabelecidas pela resolução 1970, aprovada em 26 de fevereiro pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), oficializando assim o cumprimento das medidas, obrigatórias para todos os membros do órgão.
Desde ontem, o governo brasileiro impôs o embargo de armas à Líbia, o que significa suspender vendas, transferências ou compra de armamentos ou materiais bélicos para o país, incluindo munições, veículos militares e fornecimento de assistência técnica e financeira e treinamento para atividades militares.
O Brasil vai impor ainda a proibição de entrar no País a 16 pessoas, incluindo sete filhos do ditador líbio, Muamar Kadafi, e nomes do alto escalão do regime. Outra lista, com nomes de cinco filhos de Kadafi e de um comandante das Forças Armadas, terão quaisquer fundos financeiros ou econômicos no Brasil congelados. A resolução determina ainda que o Brasil, e os demais membros do CS, cooperem na medida do possível com a retirada dos milhares de refugiados do conflito.
O País se compromete ainda em apoiar uma investigação sobre as violações dos direitos humanos no país africano e o julgamento dos responsáveis pelo Tribunal Penal Internacional. O decreto é assinado pelo presidente da República em exercício, Michel Temer, já que Dilma Rousseff está na China, onde participou de um fórum empresarial ontem.
COMPROMISSO
Em artigo conjunto publicado por quatro jornais – Le Figaro, The Times, Herald Tribune e o Al-Hayat –, Barack Obama, Nicolas Sarkozy e David Cameron reafirmaram seu compromisso com a ação militar chefiada pela Otan. No texto, os presidentes dos EUA e da França e o premiê do Reino Unido afirmam que não se trata de eliminar Kadafi pela força, mas dizem que é impensável que alguém que tenta massacrar seu próprio povo tenha lugar em um futuro governo líbio.
CHILE
Justiça manda exumar corpo de Allende
Juiz determinou a exumação para esclarecer se o presidente, morto dentro do palácio em 1973, foi assassinado ou cometeu suicídio
SANTIAGO - O juiz chileno Mario Carroza ordenou ontem a exumação dos restos do ex-presidente presidente socialista Salvador Allende para esclarecer se ele foi assassinado no golpe de Estado de Augusto Pinochet em 1973 ou se suicidou, como afirma a versão histórica.
O juiz ordenou a diligência depois de aceitar um pedido da família do ex-presidente e a exumação deve ser realizada durante a segunda quinzena de maio, segundo confirmou um porta-voz do Poder Judiciário.
Os restos do ex-mandatário, o primeiro e único marxista a chegar ao poder nas urnas, no dia 3 de novembro de 1970, serão analisados por peritos do Serviço Médico Legal chileno.
Para mim parece relevante para o país e para o mundo que se possa estabelecer de uma vez por todas juridicamente as causas de sua morte e as circunstâncias que a envolveram, que foram de extrema violência, comentou ontem a filha do ex-presidente, a senadora socialista Isabel Allende.
A investigação judicial para determinar as causas da morte de Allende foi aberta no dia 27 de janeiro, depois que a Procuradoria constatou que pelo menos 726 das mais de 3 mil vítimas da ditadura não eram objeto de investigação judicial, entre elas Allende.
Não é que a família tenha mudado de opinião. Não é que agora tenhamos dúvidas que antes não tínhamos, mas apoiamos uma investigação judicial que nunca tinha sido feita, acrescentou Isabel, indicando que seu pai se matou. Isso vai permitir esclarecer definitivamente um aspecto que no curso da história não foi pacífico, afirmou a advogada da família Allende, Pamela Pereira.
Allende foi submetido a uma necropsia no hospital Militar de Santiago depois de sua morte em meio ao bombardeio aéreo e terrestre ao palácio presidencial de La Moneda, em 11 de setembro de 1973. A versão oficial indica que Allende se suicidou em meio ao bombardeio aéreo ao Palácio Presidencial de La Moneda na manhã de 11 de setembro de 1973, atirando contra a sua cabeça com um fuzil que havia ganhado de presente de seu amigo, o ex-presidente cubano Fidel Castro.
Esse ato de tirar a própria vida não ocorreu porque naquela manhã o presidente Allende estava deprimido, foi resultado da extrema violência de toda a situação antes e durante o golpe, disse a senadora socialista chilena.
A declaração de seu médico pessoal Patricio Guijón – que esteve com ele momentos antes de sua morte aos 65 anos e viu o corpo – e a necropsia à qual foi submetido logo depois apoiam a versão do suicídio. Allende também havia advertido que estava disposto a morrer a se render às forças militares lideradas pelo general Augusto Pinochet.
Mas, em 2008, um informe do renomado médico forense Luis Ravanal elaborado com base na necropsia efetuada no ex-mandatário no Hospital Militar afirmou que Allende não tinha se suicidado, e sim assassinado. Em seu relatório, o médico ressalta que a morte de Allende teria sido ocasionada por dois tiros à curta distância de diferentes armas. Ele foi enterrado num cemitério em Viña del Mar. A família foi impedida de abrir o caixão.
FONTE: JORNAL DO COMMERCIO
Nenhum comentário:
Postar um comentário