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segunda-feira, 18 de abril de 2011

18 de abril de 2011 - FOLHA DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
PODER
Corte de verba prejudica vigilância das fronteiras
Queda do número de agentes da PF ameaça ações de combate ao narcotráfico
Posto policial é fechado na fronteira com o Peru; em Ponta Porã, agentes federais compram combustível fiado

KÁTIA BRASIL
DE MANAUS

RODRIGO VARGAS
ENVIADO ESPECIAL A PONTA PORÃ

O corte no orçamento da Polícia Federal para este ano afetou a fiscalização em regiões de fronteiras e as ações de combate ao narcotráfico e contrabando de armas.
O dia a dia das operações foi prejudicado devido à suspensão dos gastos com diárias para delegados e agentes, segundo os policiais.
Há relatos de problemas estruturais, como o fechamento de um posto na fronteira com o Peru, e da falta recursos para manutenção de carros, compra de combustíveis e coletes à prova de bala.
A redução vem na esteira do contigenciamento no Orçamento da União, determinado por decreto assinado em fevereiro pela presidente Dilma Rousseff.
No Ministério da Justiça, com orçamento previsto de R$ 4,2 bilhões para 2011, o corte foi de R$ 1,5 bilhão.
Agentes relataram à Folha que os cortes comprometeram a Operação Sentinela, feita com a Força Nacional de Segurança e a Polícia Militar nos Estados.
A ação combate crimes como tráfico internacional de drogas, entrada de armas, contrabando e imigração ilegal. Houve redução do efetivo desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul.
No Brasil, a atuação da PF nas fronteiras abrange uma linha de 16.399 km.
Projetos como o Vant, de fiscalização com um avião não tripulado, devem atrasar. No Pará, uma patrulha que monitorava o rio Amazonas em Óbidos foi retirada.
No Amazonas, o posto de Eirunepé, próximo ao Peru, não está funcionando desde o mês passado.
O superintendente da PF no Estado, Sérgio Fontes, disse que na fronteira com a Colômbia e o Peru a Operação Sentinela será levada apenas "até onde der". "O corte foi muito severo."

FIADO
Em Mato Grosso do Sul, a redução no efetivo chegou a 60% nas delegacias da PF de Corumbá e Ponta Porã, na fronteira com o Paraguai. Segundo agentes federais, foram suspensas blitze preventivas nas rodovias.
Policiais que atuam em Ponta Porã descreveram à Folha um cenário crítico.
Carros estão parados por falta de manutenção e equipes estão comprando combustível fiado.
Com o contingenciamento, a maior parte do efetivo vindo de outros Estados teve de deixar a cidade. O sindicato dos policiais diz que a delegacia opera hoje com menos da metade do pessoal em relação a 2010.
Na fronteira do Rio Grande do Sul, outro importante ponto de combate à entrada de armas, também houve redução no número de policiais, segundo os agentes.
"Onde trabalhavam dois agentes, agora tem um", disse Paulo Paes, que preside o sindicato local dos policiais.
Em Porto Mauá e Porto Xavier, há quatro agentes para cobrir 150 km do rio que separa o Estado da Argentina.
Centenas de caminhões atravessam diariamente a fronteira, mas na prática o trabalho dos agentes se resume ao controle de migração.
Colaborou GRACILIANO ROCHA, de Porto Alegre





OUTRO LADO
Orçamento menor não impede ações, afirma ministro

DE MANAUS

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que o corte orçamentário foi necessário "para a estabilidade do país". A Polícia Federal é subordinada ao ministério.
Cardozo negou, na sexta-feira, em Manaus, que haja problemas na fiscalização da PF nas fronteiras. "Não há nenhuma operação bloqueada. A Polícia Federal está trabalhando em ritmo normal. Portanto, não há problema."
Ele disse ainda ter "certeza absoluta" de que o corte não afetará "a prioridade do governo Dilma Rousseff, que é a segurança pública".
"É evidente que nós temos que fazer adequações, mas não há paralisação de atividade em hipótese nenhuma. Verba nós temos, não é a ideal, mas nós temos que buscar suprir a deficiência de verba com aquilo que é mais importante, a integração."
Cardozo falou que há discussões sobre um plano integrado com Forças Armadas, Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar nos Estados de fronteira, além da colaboração internacional dos países de fronteira.
O prazo de implantação do projeto de avião não tripulado na Amazônia passou para agosto, segundo o ministro.
A Folha procurou a direção da PF, mas o órgão informou que não se posicionará sobre os cortes.
Sobre as operações e os problemas na sua atuação, disse que poderia responder apenas hoje. (KB)


CIÊNCIA
Brasil quer enviar sua primeira sonda a asteroide em 2015
Projeto, ainda com financiamento incerto, envolve institutos e universidades de quatro Estados do país
Ideia é pesquisar esse astro rochoso do Sistema Solar e também estudar os efeitos da radiação no espaço

SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

Cientistas de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Brasília querem enviar ao espaço uma sonda para estudar um asteroide e fazer experimentos durante a viagem.
O asteroide _ chamado de 2001-SN263_ fica a 11 milhões de km na aproximação máxima da Terra e tem duas "luas" ao seu redor.
A sonda deve ser obtida por uma parceria com a Rússia. Mas o desenvolvimento dos seus instrumentos está a cargo da UFABC (Universidade Federal do ABC).
Lá, pesquisadores de engenharia espacial estão fazendo equipamentos capazes de analisar a composição química do asteroide.
Isso é importante porque esses astros podem guardar informações sobre a origem do Sistema Solar.
"Os equipamentos já estão desenhados", diz Annibal Hetem, da UFABC.
O projeto também envolve experimentos da USP.
"Queremos testar a resposta de moléculas biológicas ao ambiente espacial, especialmente à radiação", diz o astrobiólogo Douglas Galante, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências da USP.
A parte da análise dos dados ficaria com a Unesp (Universidade Estadual Paulista).
De acordo com o físico Othon Winter, a universidade já está investindo em infraestrutura e pessoal técnico para receber as informações que viriam do espaço direto para Guaratinguetá.

SEM RECURSOS
O problema é que a fonte de recursos para o projeto, orçado em US$ 40 milhões, ainda está incerta. E, para alcançar o asteroide, a sonda deve ser lançada em 2015.
"O Brasil já faz estudos teóricos sobre dinâmica orbital e processamento de dados de outras sondas", explica Marco Antonio Chamon, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Os recursos poderiam vir de agências de fomento ou da AEB (Agência Espacial Brasileira)_ que não prevê voos para o "espaço profundo".
Hetem, da UFABC, é mais otimista. "Mesmo que a sonda não decole, já ganhamos formando pessoal na área."

colaborou DOUGLAS LAMBERT.
ANÁLISE
Projeto pende por apoio no programa espacial do país

SALVADOR NOGUEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A ideia de despachar uma sonda brasileira a um asteroide é uma forma inteligente de pegar um atalho na exploração do espaço profundo e assumir uma posição de importância internacional.
O estudo dos asteroides é um assunto quente na ciência planetária, não só por relevar segredos da formação do Sistema Solar, mas também pelo perigo que esses objetos trazem para a Terra.
Há dois problemas, entretanto, que dificultam o projeto. O primeiro é o lançamento. Para cumprir o objetivo, a sonda deve sair em 2015, e o Brasil tem tradição em atrasar seus objetivos espaciais.
O segundo problema é a falta de entusiasmo de quem deveria encabeçar o projeto. O Inpe já manifestou desinteresse por missões além de observação da Terra. E a AEB não planeja esse esforço.
A ideia é boa. Mas alguém com cacife precisa abraçá-la.

FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO


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