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segunda-feira, 18 de abril de 2011

16 de abril de 2011 - CORREIO BRAZILIENSE



VISÃO DO CORREIO

Mais do que paliativos para o Entorno
Está prevista para segunda-feira a volta da Força Nacional de Segurança (FNS) ao Entorno do Distrito Federal. A solução é paliativa. A tropa de elite montada pela União com efetivos estaduais das polícias Militar e Civil, além do Corpo de Bombeiros, já atuou na região, de outubro de 2007 a outubro de 2009. Não resolveu o problema da violência, hoje epidêmica, conforme parâmetro definido pela Organização Mundial de Saúde (OMS): 10 ou mais assassinatos por grupo de 100 mil habitantes.
A tropa começará a agir por Águas Lindas de Goiás, 55ª entre as cidades brasileiras com mais de 10 mil moradores em registros de homicídios, segundo ranking do Mapa da Violência 2011, elaborado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz a partir do banco de dados do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde, no período 1998-2008. Apenas nos três primeiros meses deste ano, foram mortas 29 pessoas no município, contra 17 em igual trimestre de 2010.
O quadro se reproduz na vizinhança. Com a mesma base de comparação, os homicídios em Luziânia passaram de 36 para 52; em Valparaíso de Goiás, de 24 para 30. Lembre-se que, em Luziânia, um serial killer matou sete adolescentes entre dezembro de 2009 e março de 2010, numa sequência de crimes que chocou o país. Pois a cidade está novamente envolta em mistério macabro, com a investigação de cinco assassinatos brutais, cujas vítimas terminaram degoladas.
A cada 10 dias ocorrem 19 homicídios no Entorno, quase dois num espaço de 24 horas. Em 15 dos 19 municípios que formam a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride), o número de assassinatos cresceu 26% nos três primeiros meses deste ano, em relação a 2010. Perderam a vida 36 pessoas mais, num total de 173. Na média, as ocorrências policiais em geral aumentaram 20% nessa área, habitada por 1 milhão de pessoas, em sua maior parte carentes de toda sorte de serviço público.
Passa da hora de o Estado se fazer presente de modo permanente e efetivo. Em 23 de fevereiro, os governos de Goiás e do DF implantaram um Gabinete de Gestão Integrada de Segurança do Entorno do Distrito Federal. A integração é, de fato, a única forma de conter a criminalidade e assegurar atendimento social à população. Mas várias vezes foi ensaiada, sem jamais migrar do plano das intenções para o da realidade. Enquanto isso, a situação se agrava, inclusive na capital da República, impotente diante do cerco patrocinado pela bandidagem.
Brasília, aliás, exige mais atenção. Aqui, o número de roubos e furtos no comércio cresceu mais de 35% na última década, com uma ocorrência a cada 96 minutos. Isso, apesar de os comerciantes se precaverem cada vez mais, com gastos crescentes em segurança privada. Mas nem atrás das grades consegue-se controlar os criminosos. Na madrugada de 27 de março, seis presos de alta periculosidade fugiram de uma ala de segurança máxima da Papuda. Não bastassem as falhas estruturais e a falta de efetivo e de monitoramento, o sistema penitenciário tem deficit de 3,2 mil vagas, com 18 detentos, em média, ocupando celas com capacidade para oito. Pior: nem os menores infratores recebem o devido trato, pois o Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje) tem mais do que o dobro da lotação: 380 internos em 160 vagas.


SR. REDATOR

Nomeações
Ao contrário do que é sugerido na matéria “O corte é para os outros” (14/4, pág. 18), a nomeação de concursados para o cargo de Analistas de Planejamento e Orçamento (APOs) não supre a necessidade somente do Ministério do Planejamento, mas de toda a administração pública federal. As nomeações foram anunciadas de forma transparente pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior, em coletiva de imprensa em 9 de fevereiro. Essa informação foi transmitida à reportagem do Correio, mas não publicada. Também não está correta a informação de que seria necessária a publicação de uma portaria do ministério para autorizar as nomeações dos APOs, já que este ministério tem essa prerrogativa.
» Gioconda Bretas,  coordenadora da Comunicação Social do Ministério do Planejamento
NR: a reportagem mantém as informações publicadas.



ESSA VIOLÊNCIA TAMANHA!

Thelma Alves De Oliveira

Coordenadora do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente, órgão vinculado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, foi secretária de Estado da Criança e da Juventude.
O anti-herói juvenil revela a sua face mais aterrorizante espelhada no lixo cultural, onde as manifestações do individualismo, narcisismo, hedonismo têm mais valor do que a coletividade. Para satisfazer necessidades particulares, vale tudo e o lugar do outro não tem representação. Esse é um modelo societário equivocado e vencido. Longe de ser construído solitariamente em mentes perturbadas, é forjado no dia a dia das relações, das desigualdades, da intolerância, no caldo cultural que alimenta a violência.
A tragédia da Escola de Realengo no Rio de Janeiro comoveu e mobilizou o país, deixando no ar um pedido de reflexão. Jacob Levy Moreno, criador do psicodrama, dizia que uma resposta gera 100 perguntas. Um fato desse, por si só, provoca inúmeras indagações. Mesmo sem respostas, exige discussão. Registro algumas ponderações, devido à necessidade de buscar explicações, de aliviar a dor e de compreender tantos outros processos gestados no cotidiano das casas, das instituições, dos bairros que carregam expressões de violência tão desproporcionais como essa, assim como os assassinatos de jovens pobres (negros) na periferia das cidades, os corpos encontrados nas valetas, as execuções por grupos de extermínio, as brigas de gangues, a ação de policiais despreparados...
Hannah Arendt diz que o homem não nasce humano, torna-se humano com a educação. Um processo de conhecimento, socialização e representação cultural, de humanização dos sujeitos. Ou seja, uma responsabilidade não só da família, da escola. De toda a sociedade que produz conhecimento, dissemina ideias, atribui sentido e significado aos acontecimentos, repassa valores, e, de alguma forma, influi sobre o que se pensa e o que se faz, seja pela ação, omissão ou inércia.
Esse não deve ser interpretado como uma ação isolada de um único homem. Foi também, mas não só. Um homem que de alguma forma não pôde filtrar as ideias, não soube significar os fatos, nem interpretar os acontecimentos; que produziu um abismo entre ele e o mundo real e criou seu leito de morte e o de todos que estiveram no meio do caminho.
Muitas explicações apareceram: fanatismo religioso, bullying, quadro psicótico, etc. Seja qual for o motivo, esses processos estão presentes no contexto e seus efeitos afetam a todos. Mesmo um “surto psicótico” não se processa apesar do ambiente.
É preciso encarar e admitir a impotência ou limitação em prever ou prevenir atos dessa natureza. Há um espaço de intervenção para evitar o crescimento dos aparatos de segurança como única solução possível. Principalmente em atitudes que podemos assumir e fazer repercutir em nosso espaço de convivência e em nossas relações pela construção de uma sociedade menos violenta.
Chama atenção um jovem afastado da escola há 10 anos escolher esse espaço para significar os sentidos e a falta deles em sua vida. Isso faz refletir sobre o papel socializador da escola, que deve considerar o que acontece nela além da informação, do conhecimento e do desenvolvimento cognitivo. Ela ocupa um lugar essencial na formação dos sujeitos e na construção da sociedade. Por isso, necessita repensar seu olhar para além dos conteúdos programáticos das disciplinas, tornar-se um lugar de convivência e de aprendizado dos valores que devem orientar esse processo de socialização e produção cultural. Que esse repensar não implique em reforçar o aparato de segurança.
Não será aprisionando cada vez mais as pessoas que conseguiremos um ambiente menos violento. Não se trata de recolher as crianças, mas de retirar os fatores desencadeantes de violência de seu cotidiano. A verdadeira proteção se faz com igualdade social, política pública inclusiva e atitudes dos adultos baseadas no exemplo, na confiança, no apoio e no limite.
O que está reservado aos jovens? A cultura do aprisionamento e da punição. Estratégias de combate ao crime organizado e ao tráfico de drogas, desarmamento, educação de qualidade, oportunidades de inclusão são bem-vindos. Parques, praças, convívio social saudável, produtivo, criativo. A violência precisa ser trocada pela esperança de vida e confiança no futuro.
Que a dor da perda e a incompreensão da tragédia em Realengo possam ter algum sentido e trazer às famílias, ao Estado e à sociedade a coragem e a determinação de entregar aos nossos filhos um ambiente de paz, a ser construído não pelo outro, mas por cada um de nós.








No Vale da Esperança é proibido adoecer

Wanderley M.D. Fernandes

Cirurgião, docente de medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), membro do Grupo de Estudos da Saúde do Partido Verde
Enquanto os políticos discutem o Código Florestal e ruralistas e ambientalistas se manifestam na Esplanada dos Ministérios, a reforma agrária, há anos, não passa de discursos inflamados. Considerada essencial para o desenvolvimento econômico e social do país, ainda é, entre outras, a que polariza as atenções desde 1962, quando foi criada a Superintendência de Política Agrária (Supra).
A Constituição de 1988 garantiu a desapropriação do latifúndio improdutivo para o desenvolvimento socialmente justo e igualitário do povo brasileiro. As nossas desigualdades no campo estão entre as maiores do planeta: 1% dos proprietários detém cerca de 50% das terras rurais.
Os movimentos campesinos pró-reformas reivindicam que o governo federal implemente medidas complementares aos simples assentamentos, garantidos a subsistência do agricultor e os direitos universais de atenção à saúde. Por incrível que pareça, em pleno século 21, a realidade é bem diferente.
No estado de Goiás, a 250km da capital da República, vemos o Pré-Assentamento Florinda, no Vale da Esperança, onde 103 famílias assentadas em condições de total desamparo reúnem aproximadamente 500 brasileiros, entre adultos, idosos e crianças.
Iniciado em 2007, famílias convidadas foram listadas e acampadas na beira da estrada, rente às cercas da propriedade a ser desapropriada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Nas barracas de plástico e ripas de madeira se amontoavam na esperança de dias melhores. As condições de sobrevivência eram mínimas. Lama ou poeira, as constantes do dia a dia. Ainda assim, resistiam.
Um ano depois foi permitida a entrada nas terras da fazenda. Daí passaram mais dois anos na absoluta miséria rural. A esperança os alimentava, sem notícias sobre o futuro. Em outubro de 2010, a terrra foi dividida.
Em suas próprias glebas, sobrevivem em barracas de pedaços de madeira e lonas, excluídos do básico de saneamento, numa resiliência apreendida de antepassados destemidos. A comida vem da pesca no Rio Paranã e da cultura de subsistência. O gás de cozinha custa R$ 70 o botijão. A bebida, água das minas da serra. Cestas básicas do governo até que chegam, mal distribuídas a cada quatro meses, mais ou menos, mas nem todos as conseguem obter.
A escola mais próxima dista 45km do assentamento. As crianças acordam às 4h da manhã, caminham cerca de 5km na estrada de terra, depois pegam um ônibus que roda mais de uma hora e meia. Estudam das 8h às 13h. À tarde refazem o caminho de volta, chegando em casa próximo das 17h. Banham-se nas águas frias coletadas das que descem das minas das montanhas, comem o que tiver e vão dormir. Por vezes, encontram cobras no meio dos lençóis ou debaixo das camas.
Sem energia, à noite algumas barracas são iluminadas por velas ou lamparinas, e não poucas vezes os assentados se assustam com animais de toda espécie tentando comer o pouco dos alimentos guardados para o dia seguinte.
Na ausência total de assistência médica, quando “sentem alguma coisa” se utilizam das próprias crenças. Dizem que lá “é proibido adoecer”. Para febre, chá de raiz de mama cadela. Ferimentos, tratam com mel da casca de pacarí. Em caso de dores, usam garrafada de manacá ou sumo da rama de folhas do melão de São Caetano. No insuportável, chamam o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu ), na linha telefônica 192, ou o Corpo de Bombeiros da cidade mais próxima. Sempre relutam. Quando decidem atender, esperam-nos à beira do asfalto, distante do assentamento 50km. Se os doentes estão em condições, andam até lá; se não, são carregados pela estrada de terra e cascalho. O transporte é inviável: a gasolina custa R$ 5 o litro.
Uma senhora de 62 anos, quando ainda vivia acampada fora da fazenda, “enfermou de asma”. Tratava tomando goles da banha de fígado de arraia — depois de exposto ao sol por três dias, e “passando tintura de baba-timão nos peitos”. Na crise forte, quando não conseguia mais respirar, chamava o Samu ou os Bombeiros. Se prometiam atender, era levada nos braços de parentes pelos 50km de estrada de terra, na lama ou na poeira, até a beira do asfalto. Na imensa dificuldade para “encontrar fôlego”, por várias vezes desmaiava. Não suportou por muito tempo tamanha aflição. Procurou uma rezadeira e se curou com simpatia: criar uma tartaruga na sala de casa. Assim o fez, e “nunca mais teve falta de ar, faz três anos”.
Isso ainda acontece no país que a 7 de abril passado comemorou o 63º ano do Dia Mundial da Saúde, a 47 anos de proclamada a Lei do Estatuto da Terra e que em 5 de outubro próximo completará 23 aniversários a Constituição Federativa que criou o Sistema Único de Saúde (SUS).


COLUNAS

ARI CUNHA
VISTO, LIDO E OUVIDO
Com Circe Cunha
Desde 1960

Presidente Dilma Rousseff
A todo instante aparece alguém para dizer que a presidente Dilma Rousseff foi revoltada do Brasil, torturada e sofrida com o correr dos tempos. Entende-se que a própria presidente dá o assunto como páginas passadas. Sofreu, aprendeu. Manteve o pensamento firme. Mostra o comportamento, e depois de tudo que passou chegou a ser a primeira mulher a receber a faixa presidencial. É muito merecimento e valor humano. Dessa forma tem o crédito, inclusive com a posição adotada como ministra-chefe da Casa Civil de Lula da Silva. Não manifestou opinião pessoal, aprendeu mais sobre o Brasil. Os louros que colhe são a alforria de quem não parou de pensar nem de querer bem ao país. Não engana a ninguém. Fala abertamente. Pode fazer silêncio, logo interpretado por quem merece. E que se comporte daí por diante, ou explique as razões a seu ver sobre o que ocorre. Jamais se negou a ouvir pensamento alheio, ainda que seja contra a posição de chefe do governo. Explica razões do Brasil e não recebe admoestações. A autoridade é mantida, e o ponto de vista, “por dentro feito talo de macaxeira”, no dizer do filósofo de Mondubim. Não aceita calada. Explica as razões e ouve o pensamento do outro lado. No campo internacional, aparece, discute, explica o ponto de vista do país. Ainda que haja países em que as mulheres não têm essa condição de vida. A presidente Dilma Rousseff não procura degrau superior. É colocada onde o anfitrião a coloca. Simples, porém enérgica na explanação do que diz, e no pensamento que defende. Depois disso, as reuniões internacionais perderam o ramerrão habitual. Pensamentos são ouvidos pelo claro tom com que são falados. Entrando em detalhes, a diplomacia acompanha com sabedoria. Não usa punhos de renda. Para o Brasil, a diplomacia é meio de comunicação e discussão dos temas. Sem ofensa a qualquer país, mostra a singeleza do pensamento brasileiro. Certo que é diferente de países que sofreram ataques e dependência de séculos de outras raças dominantes. No primeiro encontro dela na China, usou a postura de presidente. A faixa presidencial foi a garantia de ter subido pelo voto dos brasileiros. O uso mostra a razão da ascendência com o apoio dos patrícios de todas as classes. Falou, defendeu seu posto de vista e recebeu da China mais do que pensava. O que ficou para estudos foi além do que havia sido solicitado. A China se chegou mais do que se calculava. Demonstra a confiança que os chineses têm no governo do Brasil.

A frase que foi pronunciada

“A amizade multiplica as coisas boas, e divide as más.”
» Camiseta de ciclista que circulava perto do Buriti.


Dura lex
» A principal tarefa da Defensoria Pública da União é advogar para os pobres. Isso não lhe dá o direito de lotear terreno do Setor Bancário Sul para fazer de estacionamento para os funcionários. Outro tribunal fez o mesmo no estacionamento em frente ao Parque da Cidade.

Acentuação
» A professora Suely Gehre explicava a importância da acentuação. Todo o fundamento do cristianismo poderia ter sido diferente. O mandamento é que amássemos uns aos outros. Sem o acento seria amassemos.

Boiando
» Hélio de la Peña disputava a nado premiação entre Copacabana e Leblon. Questionado sobre a concorrência, deu o veredito: o coco é o pior deles.

Investigar
» Discussão sobre ponte no Lago Norte deve ser feita primeiro com os moradores, que são os maiores interessados. O argumento de uma ponte ser rota de fuga para ladrões é paroquiano demais para ser levado a sério. O que é necessário verificar é a razão de na ML3, entre os conjuntos 2 e 3, a área que deveria servir para a saída da ponte estar habitada. Mesmo tendo sido desapropriada para esse fim. Dona Terezinha Bleyer era a proprietária.
Certo
» Importante discussão foi feita com estudiosos no assunto. A UnB, em Planaltina, promoveu uma jornada contra o uso de agrotóxicos. Defendeu o Código Florestal e a reforma agrária. O resultado do trabalho vai estar mesmo nas mãos do professor Fernando Carneiro. Ele é professor da UnB e assessor da Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados.

De volta
» Mais um projeto interessante do senador Jayme Campos. Ele sugere que bancos abram crédito para família de detento. A fundamentação é que, ao retornar para casa, o ex-detento, vendo a família estabilizada, aumentará a alegria.

Mais perto
» Senado Verde é uma iniciativa do plano estratégico da Casa. A impressão do Jornal do Senado em papel reciclado ficou até mais agradável em relação ao tato e ao visual. Está mais próximo do papel-jornal.

Ufal
» Quem estiver curioso para saber por onde anda Heloísa Helena aí vai a resposta. Dando aulas de enfermagem na Universidade Federal de Alagoas (Ufal). No Hospital Universitário de lá, o curso Lideranças Educadoras vai indo de vento em popa.

História de Brasília
Mais um pioneiro vai embora. Desta vez, o Osvaldão do Guará. O Osvaldão simpático, briguento, justiceiro, que dirige abraçando o volante de um DKW chapa-branca, com seus parcos 200 quilos. Viu Brasília desde o começo, tem sua boa dose de trabalho dada à capital federal, e agora volta ao Rio com meu jogo de chaves tchecas. (Publicado em 7/4/1961)


NAS ENTRELINHAS
Leonardo Cavalcanti

Não era de se esperar que o PSD trouxesse alguma novidade ao cenário político. É um partido que nasce velho, nos personagens e no discurso. Mas bem que o eleitor merecia uma boa nova, né, não?

O bloco de anteontem
Halum, Heleno, Silas, Armando, Neri Geller, Arolde, Junji, Dorner, Jânio Natal, Áureo e Mussi. Não se trata de uma escalação de time de terceira divisão, pelo menos do futebol brasileiro. Os 11 camaradas acima são os mais novos integrantes do PSD, o Partido Social Democrata, lançado oficialmente na última quinta-feira, em Brasília. É bem provável que você não os conheça.
Eles são deputados federais e fazem parte daquilo que se convencionou chamar de baixo clero, o conjunto de políticos pouco ou nada conhecidos, tanto em relação ao exercício do poder quanto à produção de ideias. Saíram das fileiras do DEM, PP, PPS, PMN, PSC, PCdoB, PRP, PRB, PDT, PMDB, PRTB e PV. Outros 21 deputados, de nomes mais comuns, fizeram o mesmo.
Capitaneados pelo nobre prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, os políticos do PSD pretendem ajudar Dilma Rousseff a governar. Mas não querem ficar atrelados ao Palácio do Planalto. O que isso significa é difícil saber na prática. Será governista, mas com cara e jeito de oposição? Ou oposicionista, com jeito e cara de governo? Um partido com dois amos, como na comédia de Carlo Goldoni.

Esperteza
Como o personagem da peça italiana O servidor de dois patrões, o PSD é um partido que nasce um tanto atrapalhado. Na ficção, Arlequim quer ser esperto, mas acaba envolvido em confusões ao aceitar trabalhar para dois empregadores, na esperança de ganhar mais. É que ninguém consegue ser eficiente nessa espécie de jogo. Um dos patrões — ou, pior, os dois — pode ficar insatisfeito com o serviço.
Por ora, a maior insatisfação é a do DEM, a legenda que perdeu mais parlamentares para o PSD — incluindo a senadora Kátia Abreu. Os demistas — ainda prefiro chamá-los de pefelistas — apelidaram a nova legenda de Partido Sem Decência ou Partido Sem Direção. A raiva não é para menos. Até Índio da Costa, aquele vice de José Serra na eleição de 2010, debandou para a nova legenda de Kassab.
Kátia e Índio são dois exemplos de que o PSD, por ora, não deve cair nos braços de Dilma. Os dois saíram do DEM por perda de espaço e conflitos com líderes regionais. Assumiram a campanha de oposição à Dilma como adversários ferrenhos. No caso de Kátia, ela chegou a ser cotada para ocupar o cargo de vice-presidente na chapa PSDB-DEM. Índio, por sua vez, atacou os petistas como poucos.
Como aparecer agora ao lado de Dilma? A explicação sai da cabeça de Kassab. “Estamos à disposição da presidente Dilma para ajudá-la. Queremos que o seu governo dê certo, mas isso não significa estarmos atrelados. Campanha é campanha, governo é governo”, disse o prefeito. Como Kassab pode ajudar Dilma? Indicando alguém do PSD para um posto na Esplanada? Bingo.

Mesmice
O novo PSD não é, nem será, muito diferente do PTB, do PDT ou mesmo do PV da ex-senadora Marina Silva. As três legendas têm integrantes no governo e na oposição. No governo Luiz Inácio Lula da Silva, marcaram posição contra uma ou outra política, mas nunca quiseram de fato complicar a vida dos filiados que conseguiram espaços na Esplanada dos Ministérios. Por que reclamar de companheiros?
Não era de se esperar que o PSD trouxesse alguma novidade ao cenário político brasileiro. É um partido que nasce velho, no discurso e nos personagens, mesmo que alguns desconhecidos. E, no primeiro momento, tal coisa poderia apenas dizer respeito aos próprios filiados. Mas bem que o eleitor merecia uma boa nova, né, não?

Outra coisa
A intenção do PSD é chegar em julho com 50 deputados, 18 a mais do que tem hoje. Se tal número tiver um pé na realidade, até quando o DEM vai aguentar o ataque em suas fileiras?


BRASÍLIA-DF
Luiz Carlos Azedo

Com Leonardo Santos

Câmbio, emprego e inflação
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não tem um plano B para a economia. Muito menos o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que o mercado gostaria de ter como interlocutor de suas críticas à política econômica. Na verdade, o rumo da economia está sendo dado pela presidente Dilma Rousseff, que é economista e despacha com Mantega sem a presença de Palocci.
O governo Dilma foi surpreendido pela crise no Oriente Médio, que infla as esperanças de democratização dos países árabes, mas provoca alta do petróleo e bagunça ainda mais a economia mundial. E também pelo tsunami no Japão, que puxa para baixo a recuperação da economia asiática, com exceção da China, que é um caso à parte. Ambos complicaram os esforços do governo para segurar o preço do dólar e, ao mesmo tempo, evitar que a inflação saia do controle.
Diante da situação, a prioridade é controlar a inflação. O câmbio, não. Apesar de prejudicar as exportações brasileiras, a queda do dólar ajuda a conter a alta dos preços dos manufaturados. A opção de atacar os dois problemas ao mesmo tempo, com um violento ajuste fiscal, implicaria em baixar as taxas de crescimento e, em consequência, o nível de emprego. Essa não é a opção do governo, embora a indústria nacional fique no sufoco.

Linha Amarela
O ex-prefeito Cesar Maia fechou sua aliança com o ex-governador Anthony Garotinho (PR) para a disputa da prefeitura do Rio de Janeiro. Encabeçada pelo deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), teria como vice a deputada estadual Clarissa Garotinho, filha do político campista. Maia faz um raciocínio tortuoso para analisar as eleições no Rio, apartando a Zona Sul do resto da cidade. Segundo ele, o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes sempre perderam as eleições na Zona Sul. A aliança Maia-Garotinho supostamente seria muito forte no subúrbio do Rio.

Infiéis
Um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) avalia que dificilmente a Corte deve mudar o artigo da Lei de Fidelidade Partidária que abre a brecha da criação de uma nova legenda para que os políticos possam trocar de agremiação sem a perda de mandato. Criada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a lei já foi referendada pelo STF.

Mulheres
Os dois principais postos da Justiça Eleitoral nas eleições de 2012 deverão ser ocupados por duas mulheres. A Corregedoria Nacional da Justiça Eleitoral ficará sob o comando da ministra Nancy Andrighi, que assume a vaga do ministro Aldir Passarinho, que se aposenta na próxima segunda-feira. Já a Presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve ser ocupada pela ministra Cármen Lúcia, que assume o posto após o ministro Ricardo Lewandowski deixar a cadeira.

Volta
A presidente Dilma Rousseff encerra hoje a sua visita à China e deve chegar ao Brasil amanhã. Antes de embarcar, porém, pretende visitar um dos mais belos cartões-postais chineses — o Exército de Terracota, também chamado de Guerreiros de Xian.

Nova aliança
O PCdoB acaba de entrar na administração do prefeito Gilberto Kassab (foto), do PSD. O partido, aliado da presidente Dilma Rousseff e tradicional parceiro do PT, ocupará a nova secretaria criada para cuidar da Copa do Mundo de 2014. Foi indicado ao cargo o secretário de Organização do PC do B de São Paulo, Gilmar Tadeu Ribeiro Alves. O PMDB também fará parte da equipe de Kassab: empresário, o ex-deputado federal Bebeto Haddad, presidente do diretório municipal da legenda, assumirá a Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação.

Remédios
O deputado Antônio Reguffe (PDT-DF) apresentou um projeto de lei na Câmara propondo a isenção de impostos para medicamentos vendidos no Brasil. Segundo o parlamentar, o país é o campeão mundial em taxação de remédios, com uma média de 33,9% de tributação, enquanto que nas demais nações, a média é de 6,3%

Transição
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva participa hoje de mais um encontro organizado pelas lideranças do PV que integram o Movimento Transição Democrática. A reunião, desta vez, será em Fortaleza (CE). O grupo defende que o PV passe a se relacionar com seus filiados de forma participativa e interativa integrando-os aos processos de decisão, inclusive para a eleição das suas direções municipais, estaduais e nacional.

Convenção
O PSDB do Rio de Janeiro realiza hoje sua convenção estadual. O partido até agora não tem um nome competitivo para disputar a Prefeitura do Rio.

Serviços
O procurador-chefe da Procuradoria Regional da República da 1ª Região, Alexandre Camanho, está deixando o posto para assumir a Associação Nacional de Procuradores da República. Investigou os promotores Leonardo Bandarra e Deborah Guerner na operação Caixa de Pandora e acompanhou os julgamentos do ex-governadores José Roberto Arruda e Joaquim Roriz no Tribunal Regional Eleitoral.


POLITICA

DILMA NA CHINA
Culpa dos países ricos
Presidente atribui a pressão pelo aumento dos preços às nações mais desenvolvidas por causa do excesso de liquidez internacional. Ao mesmo tempo, vende o Brasil como uma meca das oportunidades financeiras

Denise Rothenburg
Enviada especial

Boao — Na esperança de angariar a confiança e, se possível, mais investimentos nas cidades brasileiras, a presidente Dilma Rousseff aproveitou o penúltimo compromisso oficial ontem na China para vender o Brasil a uma seleta plateia como a meca das oportunidades, “democrática e de respeito aos direitos humanos”. Ao mesmo tempo, jogou no plano externo a culpa das preocupações econômicas que rondam o país e condenou as políticas de restrições de gastos que sempre são propostas em situações de incertezas. “A experiência do Brasil nos últimos anos demonstrou de forma inequívoca a importância do crescimento com melhora na distribuição de renda”, deixando nas entrelinhas, segundo diplomatas, a perspectiva de que é possível crescer sem rigorosos invernos nos investimentos.
Em seu discurso no Fórum Econômico de Boao, na Ilha de Hainan, a mesma que serviu de palco à reunião do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — na última quinta-feira, Dilma citou as perspectivas de negócios na exploração do pré-sal, da ampliação do sistema energético com o etanol e da necessidade de investimentos em infraestrutura para a Copa do Mundo e as Olimpíadas.
E quanto à ameaça inflacionária — sobretudo em economias exportadoras de commodities (produtos de origem primária), como é o caso do Brasil — e às dificuldades de segurar o deficit fiscal, a culpa é dos países ricos, conforme colocou a presidente brasileira num discurso recheado de termos econômicos, como requeria o plenário repleto de professores e analistas do mercado financeiro.
“A expansão da liquidez por parte dos países avançados pressiona a inflação mundial e aprecia as moedas de vários países, sobretudo dos exportadores de commodities, ao mesmo tempo em que promove a insegurança alimentar e a energética em outras nações. De outro lado, a lenta e instável recuperação econômica dos países avançados dificulta a redução do deficit fiscal e da dívida pública daquelas economias”, disse Dilma, jogando no plano externo as incertezas. “Essa situação levou os analistas a uma resposta um tanto simples: adotar políticas restritivas tanto nos países emergentes para controlar a inflação quanto nos países avançados para promover uma rápida consolidação fiscal”, completou.
Essa foi a primeira vez em que um chefe de Estado do Brasil participou do Boao Forum (o nome oficial do evento), criado em 2001 e conhecido como o “Davos da Ásia” — uma referência ao encontro europeu. Este ano, o anfitrião, Hu Jintao, convidou todos os países integrantes do Brics — o primeiro-ministro da Índia, Mohhonag Singh, que não pôde comparecer por compromissos assumidos antes. Além deles, compareceram o primeiro-ministro da Espanha, José Luis Zapatero; de Cingapura, Lee Hsien Loong; da República da Coreia, Kim Hwang-sik; e da Ucrânia, Nikola Azarov, mais ministros, autoridades e até celebridades chinesas, como o jogador de basquete mais alto do mundo, Yao Ming.

Programas sociais
Dilma se referiu ao controle inflacionário como ingrediente da recuperação econômica, mas foi enfática ao dizer que o objetivo de todo o esforço tem que ser o desenvolvimento e a inclusão social. “Sobretudo entre os mais pobres”, emendou Dilma. Ela passou então a discorrer sobre o portfólio de programas sociais brasileiros, em especial o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e o Luz Para Todos.
Em seu propósito de apresentar os chamados valores nacionais, a presidente fez críticas indiretas ao regime do anfitrião, Hu Jintao. “Combinamos estabilidade econômica, crescimento acelerado, projeto estratégico de desenvolvimento, impulso à ciência, tecnologia e inovação, inclusão social de distribuição de renda, estado de direito de democrático, estabilidade política, compromisso com os direitos humanos e com a sustentabilidade ambiental e um profundo sentimento de autoestima de nosso povo”, afirmou, diante de uma plateia ciente de que a China tem elevados índices de poluição e continua sob forte censura nos meios de comunicação.
No plano político, Dilma deixou claro ainda que prega o meio termo na governança global: “O mundo do século 21 requer criatividade para forjar novos laços. Ásia e América Latina podem e devem ampliar parcerias. Não buscamos modelos únicos, nem tampouco unanimidades. Os consensos que se tentaram na história recente sob a égide do mercado ou do Estado e que, supostamente, nunca falhariam, mostraram-se frágeis como um castelo de cartas”, disse Dilma, referindo-se ao Brasil como um país num grande momento para investimentos e parcerias público-privadas.

Sem fins lucrativos
O Boao Forum for Ásia (BFA) é uma entidade não governamental que reúne, uma vez por ano, chefes de Estado asiáticos e convidados, como acadêmicos e analistas para troca de experiências. A primeira reunião foi em 2001. O tema deste ano é Desenvolvimento Inclusivo: Agenda Comum e Desafios.


ARSENAL EM PERIGO

Nas mãos da justiça
Confira a quantidade de armamentos que estão nos fóruns devido a processos em andamento

» Esfera estadual
— 731,3 mil armas e acessórios
— 661,4 mil cartuchos

» Esfera federal
— 135,7 mil armas e acessórios
— 4,6 mil cartuchos
Obs.: Na contagem, entram também armas brancas, como facas e punhais.

Direto para a ilegalidade
Veja alguns roubos em fóruns ocorridos neste ano

» Bacabal (MA)
Cento e trinta e duas armas de fogo foram furtadas do Fórum de Bacabal em fevereiro, além de uma viatura. A suspeita é de que funcionários estejam envolvidos, já que não houve arrombamentos.

» Arapiraca (AL)
Pelo menos 140 armas foram furtadas do fórum da cidade alagoana. A Corregedoria do Tribunal de Justiça estadual e a Polícia Civil iniciaram uma investigação para entender como funciona o esquema de desvio. Acusados começaram a ser presos em março.

» Uberlândia (MG)
Em fevereiro, 49 armas foram furtadas da Vara da Infância e Juventude de Uberlândia. Investigações apontam que o desvio dos artefatos pode ter começado em meados de 2009.


Acordos fechados
Confira a lista dos principais negócios firmados entre Brasil e China durante a viagem presidencial.

Parque industrial
A ZTE, fabricante chinesa de equipamentos de comunicação, promete investir US$ 200 milhões para construção de um parque industrial, um centro de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, uma plataforma de distribuição de equipamentos, um centro de treinamento e um call center em Hortolândia (SP). A previsão é de que 2 mil empregos sejam gerados. Já a Huawel planeja gastar US$ 350 milhões para a construção de um centro de pesquisa em tecnologia em Campinas (SP).

Tablets
A gigante Foxconn pretende investir US$ 12 bilhões, segundo o governo brasileiro, para a construção de uma fábrica de montagem de iPads, da Apple. A expectativa é a criação de 100 mil vagas no mercado de trabalho.

Aviões e soja
O governo chinês autorizou a venda de 35 aviões da Embraer, modelo EMB 190, no mercado local. Deve render US$ 1,4 bilhão à empresa brasileira. Além disso, empresários devem investir US$ 350 milhões para o processamento de óleo de soja na cidade de Barreiras (BA) e mais US$ 300 milhões para a produção de equipamentos de tecnologia da informação em Goiás.



DILMA NA CHINA
Um novo estilo nas viagens internacionais
Especialistas avaliam que diferença de postura entre a presidente e Lula traz avanços para a imagem do Brasil no exterior

» Marcelo da Fonseca

A comparação é inevitável. Os discursos espontâneos, as brincadeiras e as  quebras de protocolo deram lugar a uma ação mais metódica, pronunciamentos lidos à risca e postura mais cautelosa, sem improvisos. Os presidentes que tiveram um relacionamento mais próximo com Luiz Inácio Lula da Silva podem sentir falta da figura carismática do petista durante as visitas internacionais, mas, para especialistas, a mudança é positiva e o estilo de Dilma Rousseff traz avanços para a imagem do Brasil no exterior.
“O jeito da Dilma é bem diferente do que estamos acostumados a ver. E as pessoas de outros países que estavam acostumadas com as características mais informais de Lula vão perceber isso rapidamente. O ex-presidente tem um carisma muito grande, mas se por um lado ele chamou atenção por sua espontaneidade, também incorreu em alguns erros por causa da mesma característica. Já Dilma tem um perfil mais reservado, porém muito assertivo e firme, o que é ótimo para o Brasil no contexto internacional. A diminuição das luzes sobre a presidente pode proporcionar relações bem pensadas e acordos baseados nos interesses da nação”, afirma o coordenador do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais, Danny Zahredinne.
O ex-presidente, recebido como “superstar” em muitos países e elogiado por conseguir projetar o Brasil comercialmente, recebeu críticas pelas ações intuitivas em alguns casos e com muitos improvisos. As tentativas de acordos com o Irã, contrariando a grande maioria de países do G-20 e a condenação do golpe em Honduras, em 2009, gerou situações constrangedoras para a diplomacia brasileira. “Depois de conquistar grande popularidade até mesmo no cenário externo, o ex-presidente Lula extravasou em muitos aspectos que não deveria. Em certas situações, o Brasil ficou em situação delicadíssima, quando tomamos o lado de países que não deveríamos. Dilma se mostra muito técnica no início das relações com outros países, bem centrada e sem muito estardalhaço”, disse o cientista político Gaudêncio Torquato.

Semelhanças
A diferença na atitude da presidente e seu antecessor não reflete uma grande mudança nas posturas adotadas por Dilma no início do mandato. Assim como Lula, que em janeiro de 2003 visitou a Argentina, ela começou sua trajetória de visitas internacionais pelo país vizinho e deixou claro o grande interesse nas relações com as nações sul-americanas. Na China, primeira viagem fora do continente, a presidente reforça os laços com economias consideradas importantes para os interesses nacionais, priorizando os grandes parceiros.
“Apesar das diferenças nas personalidades, vejo na Dilma os fundamentos básicos muito parecidos do governo anterior. O alinhamento com potências médias, sem deixar de lado qualquer país considerado importante comercial e politicamente. A Ásia é hoje um local de grande interesse e, assim como no governo Lula, continuamos nos aproximando cada vez mais de países que antes eram deixados de lado”, explica Zahredinne.


CÂMARA
Um cochilo de R$ 435 mil
Responsáveis pela reforma de apartamentos funcionais se esquecem de avisar a CEB que seria necessário reforçar a rede elétrica. Atraso na entrega fará a Casa pagar mais uma cota de auxílio-moradia

Ivan Iunes

Um erro da Câmara dos Deputados na reforma de 144 apartamentos funcionais resultará em prejuízo de pelo menos R$ 435 mil aos cofres públicos. Somente às vésperas de finalizar as obras nos dois primeiros edifícios, a Câmara se deu conta de que não havia pedido a ligação definitiva da luz pela Centrais Elétricas de Brasília (CEB). As reformas foram tocadas com instalações provisórias e precárias. Como o prazo acordado entre o parlamento e a empresa para o serviço soma um mês, todo o cronograma de obras foi atrasado. Os deputados, que deveriam estar nos apartamentos desde o início do mês, receberão ao menos mais um pagamento do auxílio-moradia, no valor de R$ 3 mil.
Os imóveis têm como endereço a SQN 302 e sofreram modificações ao custo de R$ 451 mil cada um — o custo total da reforma será de R$ 65 milhões. Os primeiros 48 seriam entregues no início do mês, mas o problema elétrico manteve os deputados em espera — e com o contracheque reforçado. De acordo com a Quarta Secretaria da Casa, a obra pôde funcionar com as instalações precárias porque o maquinário não puxava energia excessiva. Mas, para ativação dos elevadores e eletrodomésticos dos deputados, a avaliação é de que a “gambiarra” não suportaria o consumo. No contato inicial com a CEB, a empresa pediu 85 dias para finalizar a instalação, o que turbinaria o prejuízo para quase R$ 1,25 milhão. A pedidos da Câmara, no entanto, a estatal aceitou reduzir o prazo para um mês.
Em carta aos 48 deputados que devem se mudar para os dois edifícios, o quarto-secretário da Casa, Júlio Delgado (PSB-MG), explicou que a cochilada atrasou a entrega e que os parlamentares terão de esperar pelo menos até o início de maio para se mudarem. “Nosso compromisso era para abril, mas, quando estávamos fazendo a faxina final, a pintura, subindo os móveis, percebemos que as ligações elétricas não suportariam. Foi o que comuniquei aos moradores”, resumiu Delgado.

Critérios
Com o atraso nos cronogramas, os primeiros dois edifícios serão abertos aos novos moradores no fim do mês. Mais dois serão entregues no início de junho e os últimos dois, até o início de julho. Depois de finalizadas as obras nos seis prédios, a Câmara pretende iniciar a reforma de outros dois na mesma quadra.
Os primeiros 48 deputados federais a se mudarem para os apartamentos funcionais foram escolhidos por critérios adotados pelo antigo quarto-secretário da Câmara, Nelson Marchezelli (PTB-SP). Os próximos quatro edifícios seguirão parâmetros adotados no início da atual legislatura. A preferência será de deficientes físicos, parlamentares com família residindo em Brasília ou veteranos de Congresso. “Não tive ingerência na primeira lista. Nas outras, criamos critérios. Finalizando a reforma dos prédios, lutaremos para desocupar outros dois blocos, para que eles possam entrar em reforma”, afirma Delgado. Hoje, a lista de espera por um apartamento funcional da Câmara conta com 250 deputados federais.


Câmara
Cenário incerto para o IR
Base e oposição ensaiam 57 emendas à medida provisória que atualiza a tabela do Imposto de Renda

Ivan Iunes

As 57 emendas apresentadas à medida provisória que corrige a Tabela do Imposto de Renda são um indicativo de que o Planalto terá de fazer esforço extra para evitar uma derrota na votação da matéria. O texto enviado pelo Palácio do Planalto prevê um índice de 4,5% por ano até 2014, mas tanto oposição quanto governo reclamam da correção proposta pela equipe econômica. Entre as emendas apresentadas, há sugestões de parlamentares alinhados ao Planalto e da oposição. As pedidas vão de 5,5% até 54%, essa última feita pelo PSol.
Depois de colecionar o primeiro revés no parlamento na aprovação da MP que concedeu benefícios à indústria automobilística, na quarta-feira, o governo já se movimenta para tentar controlar o apetite da base, turbinado pela oposição. Uma articulação até então improvável entre as bancadas governista e oposicionista trabalha sobre uma proposta única de reajuste, mais generoso do que o oferecido pelo governo. Em princípio, o diálogo com o Planalto está em aberto, mas dificilmente o governo conseguirá o mesmo cenário de tranquilidade que encontrou na aprovação do salário mínimo, em fevereiro.
O PSDB quer 5,9% e acusa o governo de aumentar a carga tributária por meio de um reajuste ínfimo. O petista Carlos Zarattini (SP) aponta o crescimento acelerado da inflação para pedir 5,5%. O DEM quer a tabela corrigida pela inflação, proposta semelhante à do pedetista José Antônio Reguffe (DF), que pede ainda mais 1% ao ano, para recompor perdas salariais. A movimentação do governo e da oposição tem como motivação as bases eleitorais, em especial a classe média, que seria mais onerada pela correção. Com o ajuste da tabela abaixo da inflação, ela pagaria mais impostos, diminuindo o peso dos reajustes salariais concedidos nos últimos anos, especialmente para o funcionalismo público.

Procissão
De acordo com o líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (PT-SP), já existe uma procissão de parlamentares do partido interessados em fazer parte do diálogo. “Há uma tentação no Congresso em ampliar benefícios. A base do governo terá de conversar com o governo para tornar isso realidade. Não é algo que se faça à revelia com o governo”, freia Teixeira. Em reservado, o próprio líder do governo na Casa, Cândido Vaccarezza (PT-SP), admite que a votação será o teste mais árduo do governo no primeiro semestre. Como a MP foi editada no fim de março, o Congresso tem até meados de agosto para converter o texto em lei. Depois deste prazo, ela caduca e tem de ser editada novamente.


ELEIÇÕES
1,4 milhão de "sem-títulos"
TSE divulga o número de brasileiros que tiveram o documento cancelado por ausências em três eleições

Diego Abreu

Mais de 1,4 milhão brasileiros tiveram o título de eleitor cancelado nesta semana pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por terem deixado de votar e de justificar a ausência nas três últimas eleições. Os dados, divulgados ontem, mostram que somente 62 mil pessoas regularizaram a situação no prazo de dois meses aberto pela Justiça Eleitoral, encerrado na quinta-feira.
A partir de 6 de maio, os eleitores que tiveram o título cancelado ficarão impedidos de exercer uma série de direitos, previstos somente para quem está em dia com as obrigações eleitorais, como tirar e renovar documentos como passaporte e CPF. Também serão proibidos de se inscrever em concurso, de assumir cargo público, de obter empréstimos e até de receber salário, no caso dos servidores do governo.
De acordo com o TSE, 11.276 títulos serão cancelados no DF, onde somente 413 eleitores procuraram os cartórios nos últimos 60 dias para regularizar a situação. Com 336,8 mil títulos anulados, São Paulo é o estado com o maior número de cancelamentos. Na sequência, aparecem Rio de Janeiro (136 mil), Minas Gerais (122,8 mil) e Bahia (102,6 mil).

Falta
A legislação eleitoral estabelece que as ausências no primeiro e no segundo turno de um pleito são consideradas como falta a duas eleições para efeito de cancelamento. O número oficial de títulos anulados será divulgado pelo TSE no início de maio, já que os cartórios eleitorais que não fizeram o recadastramento por meio eletrônico terão até 25 de abril para encaminhar os dados completos.
A partir de 6 de maio, os nomes irregulares poderão ser consultados nos cartórios eleitorais. Entre os 1,4 milhão de cancelamentos, não estão incluídos os eleitores que têm de 16 a 18 anos e nem aqueles com mais de 70, para quem o voto é facultativo.
Para regularizar a situação, basta o cidadão comparecer a qualquer cartório eleitoral e preencher o Requerimento de Alistamento Eleitoral (RAE). É preciso levar identidade e título de eleitor.


HISTÓRIA
Os arapongas também eram espionados
Durante um encontro de mulheres em 1980, no Rio, militares descobriram que militantes de esquerda vigiavam suas ações

Edson Luiz

Acostumados a espionar, os órgãos de informações do regime militar temiam ser investigados por movimentos de esquerda. O assunto mereceu a primeira referência em 1980, quando os arapongas monitoravam uma reunião de mulheres no interior do Rio de Janeiro e acabaram filmados por uma das participantes. Depois, o tema foi novamente debatido durante reunião da comunidade de inteligência do governo em que foi discutido o atentado ao Riocentro, em 1º de maio de 1981.
O documento confidencial, intitulado Evolução de atividades subversivas – novas formas de atuação, mostrava que os integrantes da área de informações do I Exército que espionavam manifestações no interior do Rio de Janeiro também eram espionados. “Agentes de órgãos de segurança, por ocasião de cobertura de eventos políticos ideológicos realizados em Nova Iguaçu, estariam sendo fotografados”, relata o informe, que identifica uma médica e seu marido como os autores das gravações. Foi o primeiro caso observado pelo governo. De acordo com o documento, ela usava uma microfilmadora, operada de dentro de um carro.
O fato ganhou impacto dentro da comunidade de informações. Em uma reunião realizada em 7 de maio de 1981, foi entregue a cópia de um documento produzido pelo Exército que avaliava o atentado do Riocentro, ocorrido na semana anterior. Na ocasião, uma bomba explodiu, matando um sargento e ferindo um oficial durante um show em comemoração ao dia do trabalhador. O documento fazia um alerta para que o assunto — a espionagem feita esquerda — fosse difundido para os Centros de Informações do Exército (CIE), da Aeronáutica (Cisa), dos comandos e das brigadas militares, além da Polícia Federal. Hoje, a peça encontra-se no Arquivo Nacional com outros 35 mil documentos entregues pelo Cisa à instituição, que abriu o acervo no início da semana.

Assunto esgotado
“Há muito tempo os OI (órgãos de informações) vêm detectando levantamentos de seus agentes, e até mesmo de organizações de militares, por elementos de esquerda, com o objetivo único de desmantelar ou destruir o ‘aparato repressor’”, alerta o integrante do Exército que fazia parte da comunidade de informações. “Esses fatos são motivos de preocupação deste comando, que, a respeito, expediu um sumário de informações pelo Info nº 214-I, de abril de 88”, acrescenta o relatório, ressaltando que o documento foi difundido por todas as unidades militares e que, “em absoluto”, o assunto deveria ser esgotado.
O informe apresentado durante a reunião da comunidade de informações em nada esclarece o atentado do Riocentro, a não ser o fato de o Exército ter imputado a movimentos de esquerda o incidente. No documento, os militares revelavam a seus colegas que o fato deveria ser desvendado, mas culpam a imprensa pela repercussão dos fatos, afirmando que a intenção era desmoralizar os órgãos de informações. “Os militares são apresentados como terroristas, acusados e condenados sem qualquer prova ou fundamento e sem nenhuma chance de defesa, dentro da técnica de orquestração”, diz o documento.



ECONOMIA

CONJUNTURA
Salário mínimo de R$ 616,34 em 2012
Valor fixado pelo governo na LDO é calculado com base em inflação menor do que a esperada pelo mercado

Gabriel Caprioli
Tiago Pariz

O governo deu uma nova amostra de que fala um idioma completamente diferente do mercado financeiro quando o assunto é a inflação. Na proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2012, encaminhada ontem ao Congresso Nacional, o Ministério do Planejamento incluiu a previsão de salário mínimo de
R$ 616,34 para o ano que vem, baseado numa estimativa de inflação aquém do ritmo de alta dos preços e abaixo do que esperam os analistas.
O valor de 2012 prevê um acréscimo de 13,08% em relação aos atuais R$ 545. O cálculo foi feito com base na expansão do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes (7,5% em 2010) e do reajuste de preços estimado em 5,58% para o fim de 2011. Essa projeção, no entanto, é inferior aos 5,96% estimados pelas instituições consultadas pelo Banco Central para o fim do ano e abaixo dos 6,31% acumulados nos últimos 12 meses pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que serve de parâmetro à correção salarial.
O otimismo foi atribuído pela ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, à aposta feita pelo governo na desaceleração dos reajustes de preços no segundo semestre deste ano. “A projeção é de que a gente consiga reduzir a inflação no segundo semestre. É a nossa aposta neste momento”, afirmou. O Banco Central não faz projeções para o
INPC e estima alta de 5,6% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) este ano. Historicamente, o INPC registra percentuais superiores ao IPCA porque leva em consideração um peso maior dos alimentos no orçamento doméstico.

Juros estáveis
A aposta em uma inflação menor é reforçada, segundo a ministra, pela estimativa de que a taxa de juros básica (Selic) deverá permanecer, no fim de 2011, em 11,75%. “Se a nossa avaliação é de que a inflação vai ceder na segunda metade do ano, é natural não esperar aumento de juros”, reforçou. Miriam negou, porém, que o parâmetro utilizado na elaboração da LDO seja uma forma de pressionar a autoridade monetária a manter os juros no atual nível. “Os parâmetros usados não têm nada a ver com a autonomia que o BC tem para mexer na Selic e que teve nos últimos anos”, argumentou.
A ministra evocou ainda o discurso de austeridade fiscal e afirmou que a LDO de 2012 reforça o tripé da política econômica adotada pelo governo nos últimos anos (câmbio flutuante, responsabilidade fiscal e meta de inflação), uma vez que determina ao poder público economizar R$ 139,8 bilhões para o pagamento de juros da dívida pública (superavit primário). O valor equivale a 3,1% do Produto Interno Bruto e, segundo a ministra, deve garantir a redução da relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB para 34,9% no ano que vem (a previsão para este ano é de 37,8%). O governo manteve na proposta da LDO o mecanismo que permite o abatimento de 0,9% da meta fiscal, ou R$ 40,6 bilhões, referente aos investimentos que forem feitos no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Mudança sutil
Em relação ao compromisso fiscal de 2011, o Planejamento fez um sutil ajuste. Depois de ter sido atacada por apresentar uma meta nominal de R$ 117,9 bilhões, equivalente a 2,9% do PIB e, portanto, mais frouxa do que os 3,1% determinados pela Lei Orçamentária Anual (LOA), a pasta reduziu de 5% para 4,5% a previsão de alta do PIB. Com a alteração, o valor nominal da meta passou a ser equivalente a 3,07% das riquezas produzidas no país.
Apesar de ser considerado pela ministra um assunto “importante e que precisa ser regulamentado”, o impasse em relação aos restos a pagar acumulados nos últimos anos ficaram fora da LDO de 2012. Segundo Miriam, o governo está finalizando uma proposta que deve ficar pronta e ser encaminhada ao Congresso depois da semana santa. “Não vou detalhar um tema que ainda está sendo fechado. (…) Estamos fazendo uma análise criteriosa sobre o tema e apresentaremos uma definição depois do feriado”, disse.



Despesas bloqueadas

Diante das dificuldades de realizar a redução de custos de R$ 50 bilhões prevista no Orçamento deste ano, o governo quer acabar com as travas para a tesourada nos recursos que serão destinados a 2012. A proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), encaminhada ontem ao Congresso, inclui na possibilidade de bloqueio despesas que até 2011 estavam protegidas dos cortes.
Segundo a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, desde 2004, rubricas classificadas como “ressalvadas” não podiam ser contingenciadas por determinação do Legislativo, apesar de não serem obrigações previstas na Constituição Federal. “As únicas despesas obrigatórias constitucionais são saúde e 18% (do Orçamento) para a educação, mas desde 2004 o Congresso criou as ressalvadas”, explicou. De acordo com Miriam, o mecanismo torna o Orçamento ainda mais rígido porque, na prática, diminui o espaço para redução de gastos.
De 2004 para 2011, os dispêndios que receberam essa proteção aumentaram de R$ 2,4 bilhões para R$ 10,3 bilhões. “Quando tiramos os gastos obrigatórios e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Orçamento de 2011, sobraram R$ 37 bilhões. Desse total, R$ 10 bilhões não podem ser cortados”, afirmou. Diante da ampliação da lista do que é considerado ressalvado, o Planejamento decidiu propor o fim do mecanismo.

Projetos
Entre as despesas que são classificadas como ressalvadas estão recursos para projetos de segurança alimentar, para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e parte do orçamento destinado a projetos do Ministério da Ciência e Tecnologia. A ministra ressaltou, no entanto, que apesar de querer derrubar as travas ao corte dessas despesas, a presidente da República, Dilma Rousseff, comprometeu-se a manter o dinheiro protegido pelas ressalvas à área de ciência e tecnologia.
“Manter recursos para inovação é fundamental para que o país possa atingir o patamar de desenvolvimento que queremos alcançar”, afirmou Miriam. Segundo o Planejamento, os recursos ressalvados para a Ciência e Tecnologia entre 2004 e 2011 aumentaram de R$ 1,886 bilhão para R$ 4,7 bilhões. (GC)


CONJUNTURA
Pescados puxam a inflação da Páscoa
Alta dos peixes nacionais chega a 10,41%. Ajudado por dólar baixo, bacalhau cai 9,35%
Victor Martins

Os pescados vão deixar a Páscoa deste ano mais salgada. No acumulado de 12 meses, o preço do produto disparou 9,79%. O camarão, que costuma acompanhar esse tipo de refeição em alguns pratos da época, subiu 10,41%. A situação só não ficou pior devido ao dólar desvalorizado frente ao real, o que ofereceu um alívio para os que apreciam o bacalhau importado dos mares europeus. O produto ficou 9,35% mais barato desde a última semana santa e pode ser uma alternativa para quem deseja fugir das carnes vermelhas e dos preços mais elevados dos peixes nacionais.
Os pescados nacionais dispararam impulsionados pela dinâmica econômica do país. A ascensão de 30 milhões de brasileiros à classe média, o mercado de trabalho aquecido e o crescimento dos salários acima da inflação permitiram que mais brasileiros tivessem acesso a alimentos diferentes, o que pressionou a demanda. Assim, o peixe se tornou um item obrigatório na mesa do consumidor.
Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, explica que, no caso dos pescados, a inflação não é exclusividade para esse tipo de produto. A seu ver, toda a economia está aquecida e os preços de quase tudo, dos alimentos aos serviços, subiram fortemente no último ano. “Porém, com as medidas adotadas pelo Banco Central — elevação da taxa básica de juros (Selic) e medidas macroprudencias (alternativas) —, o crescimento da demanda tende a perder força. Ela não vai parar, mas vai se expandir a uma velocidade menor, pressionando um pouco menos a inflação”, avaliou.

Sensação
Os chocolates, por sua vez, não devem pressionar tanto o bolso do consumidor neste ano. Os ovos de Páscoa, que estavam em patamar elevado no ano passado, subiram apenas 1,15% nos últimos 12 meses — uma elevação bem inferior à inflação de 6,3% acumulada no período. Ainda assim, o brasileiro queixa-se do preço do produto. Economistas explicam que essa é uma reação natural e não está restrita apenas ao produto à base de cacau. Como itens de peso no orçamento encareceram bastante — acima de níveis toleráveis —, educadores financeiros e especialistas em inflação alertam que o consumidor ficou com uma sensação generalizada de que tudo, indiscriminadamente, ficou mais caro.
A escritora Janaína Rico, 31 anos, é uma das consumidoras que estão tomadas por essa sensação de carestia. Para ela, até o preço do bacalhau, prato tradicional da semana santa, subiu. Ainda assim, não deixou de comprar o produto. “Estou achando mais caro, mas eu tenho que levar. É uma cultura da nossa família”, argumentou. Nesta semana, Janaína comprou 2kg do peixe e pagou R$ 59,80. “Será um almoço para 10 pessoas, são muitos parentes”, ressaltou a mãe de Janaína, Elisabete Rico, 58.
Mas o técnico de processamento Nilson Gomes, 36 anos, ainda está pesquisando preços. Ele pretende comprar ovos de Páscoa, mas está assustado com os valores. “Eu vou olhar com mais calma. Realmente, está caríssimo”, considerou. Por essa razão, Nilson decidiu presentear apenas namorada e os filhos neste ano. O militar José Amparo Corrêa, 40, vai no mesmo caminho. Vai diminuir o consumo dos chocolates nesta Páscoa. “Geralmente, compro cerca de 10 ovos, mas está tão caro que terei de diminuir”, lamentou.


Variação - Em %
Camarão - 10,41
Pescados - 9,79
Bebidas alcoólicas - 5,46
Chocolate - 1,15
Bacalhau - -9,35
Batata inglesa - -25,37


Consumo aquecido

Fábio Monteiro

O consumo das famílias brasileiras ainda está aquecido, mesmo com as medidas de restrição ao crédito adotadas pelo governo desde dezembro do ano passado. Dados do Indicador Serasa Experian de Atividade Econômica divulgados ontem mostram que os gastos familiares cresceram em fevereiro 9,1% na comparação com o mesmo período de 2010. No acumulado do ano, a expansão já é de 8,8%. Com o crescimento ainda em patamares altos, a expectativa do mercado é de que o governo determine restrições adicionais que possam reduzir o ritmo de expansão econômica — que registrou alta de 0,7% no segundo mês do ano — e, consequentemente, ajustar as projeções de inflação às metas estabelecidas para este ano.
Para Luiz Rabi, gerente de Indicadores da Serasa Experian, os dados mostram uma desaceleração muito pequena da atividade econômica nacional. “A redução entre janeiro e fevereiro destse ano foi de apenas 0,1%, o que mostra uma redução muito tímida, que pode demandar ações mais intensas das autoridades monetárias”, disse.
De acordo com o analista da WinTrade José Góes, o efeito das novas regras deve demorar um pouco mais para ser percebido. “O processo é lento e a tendência é que as pessoas comecem a gastar de uma forma mais moderada quando começarem a sentir o aperto no bolso”, analisou.
A professora Fabíola Baquero, 36 anos, está entre os consumidores que movimentaram a economia do país em fevereiro. “Comprei muito, especialmente por causa dos gastos com o aniversário da minha filha”, contou. Mesmo com a inflação subindo e o crédito mais caro, Fabíola disse que sua família não pensou em parar de consumir.


INFRAESTRUTURA
Ministros garantem aeroportos
Miriam Belchior e Wagner Bittencourt contestam o Ipea e asseguram que obras serão aceleradas para a Copa de 2014

Rosana Hessel

Um dia após o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgar relatório alertando sobre riscos de atrasos no cronograma de investimentos nos 13 aeroportos das cidades-sedes dos jogos da Copa do Mundo de 2014, o governo assegurou que as obras serão concluídas em tempo. “Não vamos passar vergonha. O Brasil fará bonito”, disse ontem a ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Ela lembrou que Alemanha e África do Sul, sede das duas últimas Copas, também enfrentaram atrasos, mas “tudo saiu correto”. “No Brasil não vai ser diferente”, garantiu.
O engenheiro Wagner Bittencourt, nomeado para chefiar a Secretaria de Aviação Civil (SAC), que tem status de ministério, se reuniu pela manhã com a ministra Miriam, o ministro do Esporte, Orlando Silva, o presidente da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), Gustavo Vale, e o coordenador do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Maurício Muniz.
Na saída do encontro, o ex-diretor do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) evitou aumentar a polêmica envolvendo o relatório do Ipea, órgão do próprio federal. “Sempre levamos em consideração qualquer subsídio. Toda contribuição é bem- vinda”, disse. O ministro da SAC tentou minimizar a importância da reunião dizendo ser ela “de rotina” e reforçou que o cronograma de investimentos é “adequado” e “deverá atender as necessidades da Copa”.

Aumento de custos
“Estávamos discutindo a estratégia para acelerar as obras dos aeroportos e que elas possam atender a demanda não só da Copa e das Olimpíadas, mas também dos próximos anos”, afirmou. “Estamos discutindo várias medidas. Isso é um planejamento que já vem há algum tempo”, acrescentou. Ele deverá se reunir com a presidente Dilma Rousseff, em viagem na Ásia, ainda este mês para definir as medidas a serem adotadas. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Infraero serão vinculadas à SAC, que ainda não tem sede própria e sim uma sala no Ministério da Defesa.
Uma das preocupações de especialistas com os atrasos nas obras dos aeroportos é o aumento dos custos, que tenderão a mais do que dobrar em função de urgência. A criação da secretaria, inclusive, é justificada para dar mais agilidade ao setor aéreo e conduzir processos de concessão dos terminais aeroportuários à iniciativa privada. Um dos responsáveis pelo relatório do Ipea, Carlos Campos Neto, alertou que, mesmo que ocorram as concessões, o prazo médio para a construção de terminais é de sete anos e meio, ou seja, depois da Copa e das Olimpíadas.
A Infraero anunciou ontem que abriu a licitação para as obras do novo Terminal de Passageiros do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), cujos projetos estão orçados em R$ 44,6 milhões. O diretor de infraestrutura de aeroportos da Anac, Rubens Carlos Vieira, avisou ontem em São Paulo que o edital de concessão do aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal (RN), deverá ser publicado em duas semanas.


BRASIL


DESARMAMENTO
Do fórum para o crime
Neste ano, ao menos 202 armas que faziam parte de processos foram furtadas das varas criminais espalhadas pelo país. Uma média de dois artefatos saem, por dia, do Judiciário e vão parar na clandestinidade.

Renata Mariz
Ana Elisa Santana

Um verdadeiro arsenal de guerra está nas mãos do Judiciário brasileiro. São quase 900 mil armas, 650 mil cartuchos e 18 explosivos. Longe dos depósitos aparentemente seguros localizados nas grandes cidades, fóruns de municípios médios e pequenos sofrem com assaltos constantes desses materiais. Bandidos furtaram, somente em 2011, pelo menos 202 revólveres, pistolas ou fuzis, segundo dados levantados pelo Correio. A média é de duas armas que saem diariamente das mãos da Justiça direto para o crime. E as estatísticas devem ser bem maiores, já que muitas corregedorias estaduais entendem que as informações referentes ao assunto são sigilosas.
Pelos dados obtidos, porém, fica evidente que o local preferencial desse tipo de crime são as cidades pequenas devido à falta de estrutura. A Justiça do Rio de Janeiro, por exemplo, que guarda 551 mil armas, ou 75% de todo o material estocado na esfera estadual do país, deixa a custódia do material a cargo da polícia. Locais menores, porém, não contam com qualquer tipo de auxílio. Caso de Uberlândia (MG), de onde foram furtadas, há menos de dois meses, 49 armas de fogo. “A gente está saturado, não tem local adequado para arquivos, depósito. Além disso, não há cofre onde possamos armazenar esses objetos”, queixa-se o juiz Paulo Fernando Naves de Resende, diretor do Fórum Abelardo Senna, na cidade mineira.
Ele destaca que a falta de espaço nas varas dificulta o armazenamento seguro não só de armas, mas de todos os produtos apreendidos por ligação com o crime — como veículos ou até mesmo gaiolas com pássaros contrabandeados. A guarda dos objetos é necessária porque devem ficar vinculados aos processos enquanto eles tramitam no Judiciário. Mas os dados de furtos chegaram a um nível tão alarmante que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) recomendou, há cerca de um ano, que os juízes mandassem a arma para destruição, feita pelo Exército logo depois da perícia.
“É claro que, em um caso de tribunal de júri, sabemos que é preciso conservar a arma, às vezes ela tem de ser levada ao julgamento. Mas, nos outros casos, nossa recomendação é que o juiz agilize a destruição para evitar desvios”, afirma Felipe Locke, conselheiro do CNJ. O magistrado de Uberlândia até gostaria de se livrar o quanto antes das armas, mas aponta uma morosidade no processo para remeter o armamento ao Exército. “Precisaria haver uma unidade coletiva para todas as varas ou um serviço de segurança adequado nos fóruns. Hoje, a vigilância é feita por empresas terceirizadas”, critica Resende.
Em Arapiraca (AL), o furto de 130 armas levou a Corregedoria do Tribunal de Justiça de Alagoas a determinar inspeção em todos os fóruns para verificar as condições de armazenamento do material. Além disso, uma investigação da Polícia Civil foi aberta. Coordenadora da área de controle de armas do Instituto Sou da Paz, Alice Ribeiro aponta a necessidade de criar padrões mínimos de segurança dos estoques de armas no país — mantidos por fabricantes, pelas lojas, por órgãos estatais e pelas próprias entidades envolvidas na campanha do desarmamento. “Lutamos para que, em todos os locais, haja marretas capazes de inutilizar as armas logo depois da sua entrega. Já fazemos isso em alguns lugares, a ideia é que se expanda”, destaca Alice. Para ela, os fóruns de cidades pequenas são locais críticos de desvios.


Plebiscito perde força

Depois de tanto alvoroço em torno da proposta enviada pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), à Comissão de Constituição e Justiça da Casa, o plebiscito sobre a venda de armas no Brasil começa a perder fôlego. Ontem, o mais recente ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, considerou desnecessária uma nova consulta popular em função da tragédia ocorrida no Rio de Janeiro, onde um rapaz matou 12 crianças em uma escola usando armas ilegais. Ao declarar ser defensor do desarmamento, Fux destacou que o “povo votou errado” ao manter, no referendo de 2005, o comércio de armas de fogo. O ministro defende a aplicação do Estatuto do Desarmamento.
As entidades civis que carregam a bandeira do desarmamento também são todas contrárias a uma consulta popular ainda neste ano. Em parte porque também enxergam, no momento, uma maneira de cobrar a aplicação dos dispositivos previstos no estatuto no que se refere à fiscalização e ao controle por parte das autoridades brasileiras. O outro motivo é que temem perder novamente o debate num eventual plebiscito. “Acho que podemos entrar como da outra vez, quando tínhamos tudo para ganhar, com um cenário favorável, e acabamos perdendo. Acredito, então, que o melhor é deixar essa consulta para daqui um tempo, talvez um ano”, afirma Ignácio Cano, pesquisador da área de violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
No referendo de 2005, mais da metade da população rejeitou a proposta da proibição da venda de armas no país. As organizações não governamentais pretendem, desta vez, ter um preparo maior em torno da mobilização a ser feita, caso uma nova consulta popular seja realizada. Para Antonio Rangel, do Instituto Viva Rio, a hora é de mostrar que muito pouco do estatuto é cumprido. “Do Exército que não fiscaliza a arma que sai da fábrica, passando pelas lojas que fazem o que querem e a Polícia Federal que não investiga o que é apreendido no país, está tudo errado. Não há controle”, destaca Rangel. (RM)


NOTAS
Deu no www.correiobraziliense.com.br


Cinco mortos em bairro de Curitiba
Cinco pessoas foram assassinadas a tiros, na madrugada de ontem, no bairro Uberaba, em Curitiba. Segundo a Polícia Militar, os crimes ocorreram em locais distintos, mas há indícios de que haja relação entre eles. Policiais encontraram 17 cartuchos de pistola 9mm no local do primeiro homicídio, onde dois homens receberam diversos disparos. Outros sete cartuchos da mesma arma foram encontrados mais tarde, onde três pessoas também foram mortas.

Menino baleado em roubo a caixa
Um menino de 7 anos morreu em Grajaú, Zona Sul de São Paulo, durante uma troca de tiros entre vigilantes de um supermercado e homens que roubavam um caixa eletrônico no local. Segundo a Polícia Militar, o crime ocorreu no momento em que a máquina era reabastecida, por volta das 16h de ontem. O menino passava pelo local de bicicleta, quando foi atingido na cabeça por um dos disparos e morreu na hora. Um dos vigilantes também ficou ferido de raspão e foi encaminhado ao hospital. Os assaltantes conseguiram fugir.

Torre de tevê cai e atinge caminhão
Uma pessoa morreu após a queda de uma torre de transmissão de televisão, em Cuiabá, durante um temporal na cidade. O equipamento atingiu a cabine de um caminhão que passava próximo ao local. Ronei Teotonio Cabreira, carona do veículo, morreu na hora, e o motorista, Durval Ferreira da Silva, ficou preso às ferragens e foi levado a um hospital em estado grave. A perícia vai esclarecer se o problema era preexistente ou se foiprovocado pela chuva.

Estudate mata  colega no PI
Um jovem de 14 anos matou um colega de classe de 15 anos com um golpe de estilete no pescoço, no Piauí. O menino afirmou que era constantemente humilhado e agredido pela vítima. O garoto afirmou que não tinha intenção de assassinar o colega, mas confessou ter se encorajado após a tragédia que deixou 12 crianças mortas no Rio de Janeiro. O garoto passará por exames psicológicos.


REVOLTA NO ORIENTE MÉDIO
Brasil oficializa sanções à Líbia
Decreto põe em vigor embargo de armas, congelamento de bens e veto à entrada de Kadafi

» Renata Tranches

O governo brasileiro determinou oficialmente a proibição de venda de armas para a Líbia, além do congelamento de bens do ditador Muamar Kadafi e sua entrada no país, bem como a de seus familiares. O decreto foi assinado pelo presidente em exercício, Michel Temer, e publicado na edição de ontem do Diário Oficial. A medida atende à Resolução nº 1.970, aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas em 26 de fevereiro. Ela impõe aos países membros do Conselho de Segurança — o Brasil ocupa uma vaga temporária — que inspecionem todos os carregamentos destinados, à Líbia para evitar que sejam enviados armas, munição e veículos militares. A resolução proíbe também a entrada ou o trânsito de oito filhos de Kadafi nos países que integram o conselho. Segundo o Ministério das Relações Exteriores (MRE), a publicação da norma no Diário Oficial “internaliza” a medida.
O decreto condena o uso da força contra cidadãos e deplora “a violação flagrante e sistemática dos direitos humanos, inclusive a pressão a manifestantes pacíficos”, expressa “profunda preocupação com a morte de civis” e rejeita “inequivocamente a incitação à hostilidade e à violência contra a população civil”.
O Brasil votou a favor da resolução, aprovada por todos os 15 países-membros do Conselho. O país se absteve, no entanto, na votação da Resolução nº 1.973, aprovada em 17 de março, com 10 votos a favor e cinco abstenções. A medida autorizou a imposição de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia e o uso das “medidas necessárias” para proteger os civis. China, Rússia, Índia e Alemanha também se abstiveram. Três dias depois começaram os ataques das forças aliadas contra o regime de Kadafi, agora sob liderança da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Para o professor Márcio Scalércio, especialista em Oriente Médio e professor do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RJ), autor do livro Oriente Médio, ao publicar a medida, o Brasil simplesmente acata a determinação do conselho. “É o mínimo de cumprimento de uma lei internacional”, afirmou, em entrevista ao Correio. Segundo o analista, mais importante é o fato de os países-membros do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — terem manifestado nesta semana preocupação com os ataques aéreos e pedido o fim da guerra civil.

Apoio financeiro
Ontem, Reino Unido, França e Estados Unidos classificaram a saída do coronel Kadafi como algo fundamental para o futuro da Líbia. Disseram ainda ser esse o objetivo principal das operações da Otan. Em um artigo assinado em conjunto e publicado em quatro jornais, o premiê David Cameron e os presidentes Nicolas Sarkozy e Barack Obama classificaram como “impossível imaginar que a Líbia tenha um futuro com Kadafi”. “Não se trata de expulsar Kadafi pela força. Mas é impensável que alguém que tenha tentado massacrar seu povo tenha algum papel no futuro governo líbio”, consideraram.

Também ontem, a secretária de Estado norte-americana,
Hillary Clinton, disse que os países da Otan e seus aliados estão buscando maneiras de financiar os rebeldes líbios. “A oposição precisa de muita assistência, nas áreas organizacional, humanitária e militar”, disse Hillary após um encontro de chanceleres da Otan, em Berlim. A possibilidade havia sido sugerida pelo ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, durante o encontro, no Catar, de um grupo de contato criado para discutir a situação na Líbia.


CIDADES

TURISMO
Voos entre Brasília e Miami podem passar a ser diários a partir de 2012
Com cada vez mais brasilienses viajando para o sul da Flórida, companhias aumentam frequência dos voos no Aeroporto JK. Impulsionados pelo dólar barato, viajantes consomem de roupas e eletroeletrônicos a imóveis

Diego Amorim

A ponte aérea Brasília-Miami consolidou o sul da Flórida como destino preferido dos brasilienses. Os voos diretos iniciados no fim do ano passado aumentaram a quantidade de pacotes fechados nas agências de viagem e despertaram moradores da capital do país para investimentos em solo americano. Coincidência ou não, o número de vistos emitidos na Embaixada dos Estados Unidos também subiu. Diante da demanda aquecida, a American Airlines anunciou que, a partir de 14 de junho, inaugurará o quinto voo semanal, sem escala, partindo do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek. Representantes do mercado de turismo local apostam que, a partir do ano que vem, as empresas aéreas passarão a oferecer rotas diárias para Miami.
Entre os brasileiros, os moradores do DF são, proporcionalmente, os que mais viajam para a Flórida, segundo as principais operadoras de viagem que atuam na capital federal. De acordo com o gerente regional de Vendas da CVC, Cláudio Vila Nova, é muito comum clientes irem três ou até mais vezes por ano a Miami e a Orlando. Depois dos voos diretos, a média de passageiros que embarcam em Brasília, pela empresa, rumo a esses destinos saltou de 1 mil para 1,2 mil por mês, um crescimento de 20%. “Não há outra definição: a Flórida virou moda. Se antes já era o nosso pacote mais vendido, agora, então, isso só se fortaleceu.”
Na baixa temporada, há pacotes vendidos a partir de US$ 930 — cerca de R$ 1.580 —, incluindo passagens aéreas e quatro noites em quarto duplo. O preço, por pessoa, pode ser parcelado em até 10 vezes sem juros. “É um destino barato e sofisticado. O brasiliense adora dizer que passou o fim de semana na Flórida”, afirma Vila Nova. Na Bancorbras Turismo, após a possibilidade de voar sem conexão, Miami superou Nova York na procura por destinos norte-americanos. “Ficou muito mais atrativo e o preço está relativamente baixo, na opinião dos clientes. Sem contar que o destino é conhecido por ser o paraíso das compras”, complementa Júnior Lins, gerente-executivo da Bancorbras no DF.
Sempre que vai a Miami — já foram pelo menos 10 vezes —, a assistente parlamentar Nicole Victor Rodrigues, 38 anos, leva uma mala grande praticamente vazia, somente com duas ou três mudas de roupa. Ela sabe que dificilmente resistirá à tentação de shoppings e outlets em solo norte-americano. “Vale muito a pena. Sempre vou com um valor em mente para gastar, mas acabo ultrapassando”, confessa a brasiliense, que na última viagem chegou a torrar algo em torno de US$ 5 mil em 15 dias. “A gente surta. Às vezes, entra e compra sem nem avaliar se está precisando mesmo do produto”, completa Nicole, que elogia os voos diretos e adianta que pretende ir mais vezes para a Flórida, acompanhada do marido e da filha, de 9 anos.
Desde 2008, a psicóloga Ana Luiza Favato tem ido a Miami com a família, no mínimo, duas vezes ao ano. “Fomos em janeiro e já temos passagens compradas para julho”, detalha. Atraída pelas compras, pelas praias e pelos amigos que têm apartamento na cidade norte-americana, Ana relata que costuma passar uma semana na Flórida em cada viagem. “De Miami, vamos para Orlando ou para algum outro lugar perto. Da última vez, fizemos um cruzeiro”, acrescenta. O voo direto, diz a psicóloga, deve aumentar a frequência dos passeios com o marido e a filha. “Facilita bastante, é muito melhor do que fazer conexão”, reforça ela, que já pensou em comprar um apartamento em Miami (leia matéria abaixo).

Voos cheios
A American Airlines começou a operar no terminal de Brasília em novembro do ano passado. A procura por passagens para Miami surpreendeu a empresa, segundo o diretor de Vendas e Marketing no Brasil, Dilson Verçosa Júnior. Em maio, mais um funcionário vai se juntar à equipe comercial na capital federal. “Superou muito as nossas expectativas. Geralmente, novas rotas levam um ano para se consolidar. Em Brasília, foi rápido”, compara. A taxa de ocupação média tem sido de 72%, sendo que em alguns dias da semana os aviões decolam lotados, o que fez a companhia anunciar o quinto voo semanal durante os três meses de alta temporada. “Até o fim do ano, esperamos conseguir autorização para voo diário”, completa.
A Tam, que passou a oferecer opções para Miami um mês depois que a American, não divulga números regionais, sob a alegação de que são informações estratégicas. Mas, segundo agentes de viagem do DF, os voos também estão cheios e a empresa pretende operar voos diários a partir do ano que vem. Na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), ainda não há solicitação nesse sentido. Em nota, a Tam limitou-se a informar que está “sempre estudando novas oportunidades”. As duas companhias deixam claro que, além dos turistas, os voos têm atendido a uma demanda de viajantes a trabalho, como diplomatas, servidores públicos e empresários. As rotas atraem, ainda, moradores de Goiânia, Palmas e outras cidades do Centro-Oeste e Norte.
O presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens no DF (Abav-DF), Carlos Alberto de Sá, confirma o boom para Miami e sustenta que nos próximos anos Brasília deve receber novos voos internacionais. “Nosso terminal virou um centro de distribuição, a exemplo do Galeão (Rio de Janeiro) e de Guarulhos (São Paulo). As companhias internacionais estão percebendo isso”, afirma. O primeiro voo sem escala para o exterior começou em 2007, com a já consagrada rota da TAP Brasília-Lisboa. Em 2009, a Delta Airlines iniciou voos para Atlanta, nos Estados Unidos. No ano seguinte, chegaram Lan, Taca e American Airlines — além da brasileira TAM ter começado a voar para Miami. Este ano, será a vez da Pluna e da Copa Airlines.

Alta de 62%
Entre 1º de outubro de 2010 e 31 de março deste ano, segundo a embaixada dos Estados Unidos, foram emitidos, em Brasília, 44.142 vistos de turismo ou negócios. No mesmo período do ano anterior, esse número foi de 27.244. O crescimento foi de 62%. Os voos diretos para Miami começaram em novembro do ano passado — não são apenas brasilienses que tiram visto na capital federal.

 FONTE: CORREIO BRAZILIENSE


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