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quinta-feira, 7 de abril de 2011

06 de abril de 2011 - FOLHA DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
PODER
STJ anula grampos e ameaça operação da PF contra corrupção
Decisão invalida as provas obtidas a partir de escutas na Castelo de Areia, que apurou fraudes em obras públicas
Por 3 votos a 1, corte entendeu que grampos não poderiam ser feitos com base em denúncia anônima; cabe recurso

MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou ontem todas as provas obtidas a partir das interceptações telefônicas da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal, uma das mais amplas investigações de corrupção em obras públicas no país.
A decisão compromete a investigação de executivos da construtora Camargo Corrêa acusados de crimes financeiros, pagamentos de propinas a agentes públicos e fraudes em licitações. A empreiteira sempre negou as acusações.
A partir de grampos foi feita, por exemplo, a quebra do sigilo bancário de suspeitos.
Ainda cabe recurso no próprio STJ, mas o Ministério Público vai esperar a decisão ser publicada para avaliar quais medidas serão tomadas.
Por 3 votos a 1, os ministros da 6ª Turma do STJ entenderam que apenas uma denúncia anônima motivou a autorização judicial das interceptações, o que seria irregular. Para eles, a permissão do juiz Fausto de Sanctis para a instalação dos grampos ocorreu de forma indiscriminada, genérica e sem a devida fundamentação.
A ministra Maria Thereza de Assis Moura, relatora do caso, e os ministros Celso Limongi e Haroldo Rodrigues sustentaram que a denúncia anônima serve para que a autoridade policial comece a buscar provas, mas não respalda a quebra de sigilo.
O julgamento da validade das interceptações da Castelo de Areia se arrastava desde setembro do ano passado.
A defesa de três executivos da Camargo Corrêa recorreu com dois habeas corpus pedindo que os grampos e os desdobramentos deles fossem considerados ilegais.
Ontem, Limongi retomou o caso. O ministro fez críticas à atuação do Ministério Público e da Polícia Federal.
"Se a PF desrespeita a norma e se o Ministério Público passa por cima da irregularidade, não pode nem deve o Judiciário conceder beneplácitos", afirmou.
Para o ministro, os grampos provocaram "verdadeira devassa" na vida dos suspeitos. O ministro Og Fernandes foi o único que votou pela legalidade das provas e pela continuidade da ação penal.
Ele defendeu que o acesso a dados telefônicos era indispensável para a investigação e que não só a denúncia anônima motivou a operação. Para ele, agentes da PF realizaram diligências preliminares antes de pedirem as escutas e a quebra de sigilo.
A defesa da Camargo Corrêa comemorou a decisão. Segundo o advogado Celso Vilardi, toda a operação está anulada. "A operação é uma sucessão de ilegalidades e hoje o STJ reconheceu e disse que não vai permitir que os fins justifiquem os meios." A PF não se manifestou.
A suspensão das ações contra diretores da construtora foi determinada em 2010 pelo então presidente do STJ, Cesar Asfor Rocha. Ele entendeu que seria melhor travar a apuração até a decisão final sobre a validade das provas.
A operação foi deflagrada em março de 2009 com busca e apreensão nos escritórios da construtora e nas casas de diretores. Foram encontrados documentos com indícios de pagamentos de propinas, fraudes a licitações e doações ilegais a políticos.
Decisão marca virada em uso de grampos
Para especialistas, invalidação de escutas pode levar à anulação de provas obtidas em outras investigações policiais
Escuta feita sem que tenha sido realizada apuração anterior fere direito constitucional, diz professora da USP

FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO
FILIPE COUTINHO
DE BRASÍLIA

A decisão do Superior Tribunal de Justiça que anulou os grampos da Castelo de Areia é um marco para a corrente jurídica que prega a ilegalidade da adoção de interceptações telefônicas a partir de denúncias anônimas, segundo especialistas ouvidos pela Folha.
O Ministério Público agora vai examinar o texto do julgamento para avaliar quais provas do caso ainda poderão ser aproveitadas.
O subprocurador que representou a instituição no julgamento de ontem afirmou que é preciso avaliar os cuidados para evitar a anulação de provas em investigações criminais.
A professora de direito penal da USP Janaína Paschoal afirma que o julgamento de ontem não é inovador, "mas dá muita força para a tese de que o uso de interceptações telefônicas a partir de denúncias anônimas, sem o emprego de apurações preliminares, fere um direito fundamental previsto na Constituição Federal".
O criminalista Alberto Zacharias Toron, defensor do suíço Kurt Paul Pickel, acusado no processo de atuar como doleiro, afirmou que "a decisão do STJ manifesta a prevalência dos valores democráticos sobre a prepotência e a tirania daqueles que querem conduzir investigações à revelia da lei".
A procuradora Karen Kahn, responsável pela denúncia da Castelo de Areia, disse que é "difícil" saber quais provas vão se sustentar após a decisão do STJ.
"Como as buscas e apreensões, a princípio, decorreram de dados colhidos nas interceptações, fica difícil dizer que as provas vão se sustentar. Praticamente uma é decorrência da outra. Mas, para verificar essa possibilidade, é necessário analisar a decisão do STJ", afirmou.
Para a procuradora, "o que pode ser aproveitado são as provas produzidas antes das interceptações e o que não é derivado dos grampos".
Karen disse que, apesar da decisão do STJ, mantém a posição de que os grampos foram legais e não houve ilegalidades nas apurações.
De acordo com a procuradora, o julgamento não levou em conta uma delação premiada que antecedeu a Castelo de Areia e apontou indícios que justificaram as escutas telefônicas.
"Se tivesse que atuar novamente, faria exatamente a mesma coisa", disse.
O subprocurador-geral da República Moacir Mendes, que representou o Ministério Público Federal na sessão de julgamento de ontem, afirmou que "o caso serve para avaliar a necessidade de sempre se cercar de todos os cuidados na investigação de 1ª instância, para que um enorme trabalho de apuração não se perca".


Brasil "corrigiu seus caminhos", diz Dilma a militares
Torturada na ditadura, presidente afirma que Forças hoje possuem "apego a suas obrigações constitucionais"
Presidente estreou em função de comandante em chefe e recebeu medalhas de Marinha, Exército e Aeronáutica

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
BRENO COSTA
DE BRASÍLIA

Presa e torturada pela ditadura militar (1964-1985), a presidente Dilma Rousseff estreou ontem sua condição de comandante em chefe das Forças Armadas.
Em cerimônia de apresentação dos novos oficiais-generais do Exército, no Planalto, ela disse que o país "corrigiu seus próprios caminhos".
"Um país que conta, como o Brasil, com Forças Armadas caracterizadas por um estrito apego a suas obrigações constitucionais é um país que corrigiu seus próprios caminhos e alcançou um elevado nível de maturidade institucional", disse Dilma a 70 oficiais-generais.
Antes da solenidade, ela recebeu as medalhas da Grã Cruz da Defesa, da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, na presença do ministro Nelson Jobim (Defesa) e dos respectivos comandantes.
Em discurso, Dilma não fez mais menções à ditadura e não citou a Comissão da Verdade para apurar abusos cometidos após 1964. O projeto de lei de criação da comissão tramita na Câmara.
"O Brasil precisará de Forças Armadas equipadas, treinadas e modernas", disse Dilma, defendendo a necessidade de uma "força de dissuasão convincente". E reforçou: "A Defesa não pode ser considerada elemento menor da agenda nacional".
Jobim disse que "os militares ficaram muito satisfeitos", e o comandante do Exército, Enzo Peri, considerou o discurso "excelente".
Ele explicou o porquê: "A presidente disse tudo o que nós queríamos ouvir. Apesar da prioridade ao combate à miséria, com o qual todos concordamos, ela falou em soberania e em capacidade de dissuasão, fundamental para todos nós [militares]".
O ministro, o comandante e o Planalto desmentiram que teria havido "insubordinação" dos militares que, ao se apresentarem a Dilma, não bateram continência. "Isso é coisa de imaginação muito fértil", reagiu Peri. "Pura fofoca", acrescentou o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito.
Oficiais batem continência para o presidente quando há o "toque do comandante em chefe", de corneta. Ontem, não houve isso. As instruções do Cerimonial distribuídas aos oficiais foram iguais às usadas no governo Lula. Diziam que o cumprimento deles à presidente, ao vice Michel Temer e a Jobim deveria ser aperto de mão.
Apesar de Dilma ter defendido Forças "equipadas e treinadas", os movimentos do governo não sinalizam nessa direção. A Defesa foi uma das áreas mais atingidas pelo corte no Orçamento. Perdeu R$ 4,38 bilhões.


EUA apuram uso de SP como rota para militantes islâmicos
Somali revelou o esquema à polícia federal americana, mas autoridades as brasileiras não foram alertadas
Africano, que agora está preso, ganhava até US$ 75 mil por dia; ele pagava propinas ao passar por aeroportos

ÁLVARO FAGUNDES
DE NOVA YORK
MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO

O governo dos EUA sabe há dois anos que um somali suspeito de ter ligações com grupos terroristas do norte da África operou uma rede de tráfico de pessoas a partir de São Paulo e não avisou as autoridades brasileiras, segundo a Polícia Federal.
A Folha checou a informação obtida nos EUA com dois setores da PF: os que combatem tráfico de pessoas e terrorismo. Não havia nada sobre Ahmed Muhammed Dhakane. Se houvesse, a rede poderia ter sido desmontada, avaliam dois delegados ouvidos sob anonimato.
Foi o somali quem confessou ao FBI (polícia federal dos EUA) e à Justiça do Texas que de 2006 a 2008 enviou pessoas a partir de São Paulo para EUA e Inglaterra.
Ele diz que chegava a ganhar US$ 75 mil (o equivalente hoje a R$ 120 mil). Cobrava no mínimo US$ 3.000 (R$ 4.800) por pessoa. Para não ter problemas, Dhakane diz que pagava propinas a funcionários do aeroporto.
O somali diz que enviava africanos que buscavam trabalho nos EUA e militantes islâmicos de grupos que os EUA classificam de terroristas, como as Cortes Islâmicas e Al-Itthihad Al-Islami.
Os EUA têm um programa de asilo a somalis por conta da guerra civil que desde 1991 matou entre 300 mil e 500 mil pessoas -a estimativa não tem confiabilidade porque o país não tem governo, praticamente, nos últimos 20 anos. É também uma tentativa de conter o avanço islâmico na África e suas possíveis ligações com grupos terroristas, como a Al Qaeda.
Era esse programa que o somali usava para traficar pessoas. Os africanos eram enviados de São Paulo até Guatemala ou México, iam de carro até a fronteira com o Texas e pediam asilo como perseguidos políticos.
O próprio somali tentou entrar nos EUA. Entregou-se em Brownsville, no Texas, em 28 de março de 2008. Pediu asilo e, ao preencher o formulário, começou a se complicar. Respondeu "não" ao ser indagado se pertencera a um grupo terrorista.
Para tentar facilitar a entrada, ele estava com uma garota grávida que diz ter sofrido abusos dele em SP.
Enquanto aguardava na prisão a concessão de asilo, a sua negativa foi desmontada em interrogatórios. Dhakane disse que trabalhou para a organização al-Barrakat como diretor de remessa de dinheiro, de 1997 a 2002.
A al-Barrakat é um conglomerado que cuida da transferência de dinheiro de somalis no exterior, de modo similar aos doleiros brasileiros -ou seja, de recursos que não têm origem legal provada. Os EUA classificam o negócio como terrorista.
Num dos interrogatórios, o somali diz que antes do 11 de Setembro a al-Barrakat enviava quantias superiores a US$ 10 mil. Depois o valor foi reduzido para evitar os mecanismos que tentam barrar a circulação de verba que financia terrorismo.
Pesam sobre ele acusações de ligação com terrorismo, falso testemunho, uso de menor e tentativa de obstruir a Justiça. Se for condenado por todas elas, pode pegar 41 anos de prisão.


MUNDO
Dilma e empresários vão à China levar uma coleção de reclamações
Chineses importam matéria-prima e discriminam produtos de maior valor agregado, segundo queixas
País asiático rebate dizendo que o Brasil não cumpriu a sua promessa de tratá-lo como uma economia de mercado

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

A presidente Dilma Rousseff chega à China no dia 11, no que Maria Edileuza Fontenele Reis, subsecretária-geral de Política no Itamaraty, classifica de "primeira visita de peso ao exterior". É verdade, mas está longe de significar apenas a pompa e os salamaleques associados a ocasiões do gênero.
Ao contrário. Dilma leva uma ampla comitiva de cerca de 300 empresários, que aproveitarão a ocasião para despejar as muitas queixas acumuladas contra a China.
Queixas que levaram Cynthia Arnson e Jeffrey Davidow, do Woodrow Wilson Center, a dizer, sobre as relações China/América Latina, que "os padrões de comércio se assemelham aos dos séculos 16 e 17" -isto é, ao período colonial.
Ou seja, a China importa matérias-primas, discrimina produtos de maior valor agregado e exporta bens industriais como peças para turbinas e eletroeletrônicos.
O grande exemplo de discriminação é o da Embraer, que se instalou na China em 2003, para fabricar o seu 145, avião para 50 passageiros. Queria produzir 50 unidades, mas só fez 16 porque o governo chinês disse que não era economicamente viável.
A Embraer pediu autorização, então, para fabricar um aparelho maior, mas ainda não houve resposta chinesa, passados quase quatro anos.
Esse exemplo é esgrimido frequentemente pela indústria brasileira para rechaçar a qualificação de "economia de mercado" que o governo prometeu outorgar à China, em 2004, o que inibiria ações de defesa comercial.
"É muito difícil distinguir em uma empresa o que é privado e o que é público na China. E não há preços definidos pelo mercado", reclama Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
Os chineses, de seu lado, queixam-se sempre de que o Brasil não cumpriu a promessa de tratar a China como "economia de mercado".
O Itamaraty alega que, para fazê-lo, é preciso uma regulamentação do Ministério de Desenvolvimento.
Como parece pouco razoável imaginar que uma mera regulamentação leve sete anos para ser adotada, o lógico é supor que o governo está respaldando discretamente a reclamação empresarial -sensação reforçada pela nutrida comitiva que acompanhará a presidente.
Comitiva que levará números sobre os danos à indústria brasileira causados pela concorrência chinesa.
Estudo da Fiesp mostra que, entre 2000 e 2009, o Brasil teve pesadas perdas nos dois maiores mercados do mundo: US$ 9,3 bilhões nos EUA e US$ 7,3 bilhões na União Europeia, além de US$ 1,6 bilhão no parceiro político prioritário, a Argentina.
O estudo diz também que a competição chinesa resultou em perda de US$ 15,2 bilhões aos produtores brasileiros.
Mesmo assim, a visita de Dilma não terá necessariamente um caráter conflitivo, até porque "não dá para deixar a China de lado", como reconhece pragmaticamente a diplomata Maria Edileuza.
De fato, não dá. Basta citar o exponencial aumento da corrente de comércio: de US$ 2 bilhões em 2000 para os US$ 56 bilhões de 2010.
E o Brasil, com todas as queixas, leva vantagem: teve um saldo de US$ 5,2 bilhões.
Os números, os bons e os ruins, dão razão à embaixadora quando diz que "a relação Brasil/China será marcada pelo binômio competição/cooperação".


Equador expulsa embaixadora dos Estados Unidos
O site WikiLeaks divulgou que ela acusou um chefe policial do país de ser corrupto

FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

O governo do Equador decidiu ontem expulsar do país a embaixadora dos EUA, Heather Hodges, após a divulgação, pelo site WikiLeaks, de uma comunicação oficial na qual a diplomata acusa um chefe policial equatoriano de corrupção.
O anúncio foi feito pelo chanceler equatoriano, Gustavo Patiño, que explicou que Hodges, declarada "persona non grata", não conseguiu oferecer explicações "satisfatórias" sobre o despacho, de julho de 2009.
O Departamento de Estado dos EUA classificou a decisão de "injustificada" e informou que estuda opções para responder a Quito.
A Embaixada do Equador em Washington lançou nota frisando que a expulsão não era uma ação contra o governo Obama.
O governo esquerdista de Rafael Correa, um dos maiores aliados do venezuelano Hugo Chávez, disse estar "pronto" para trabalhar com um outro enviado do governo norte-americano.
No documento revelado pelo WikiLeaks, Hodges afirma que o ex-comandante da Polícia Nacional equatoriana, Jaime Aquilino Hurtado, usou sua influência para "se apropriar de verba pública".
A embaixadora dos EUA diz ainda que Hurtado facilitou tráfico de pessoas e obstruiu a investigação de colegas corruptos.
Hodges comenta que "funcionários da embaixada acreditam" que Correa estava ciente dos desvios de conduta de Hurtado e que o nomeou porque os supostos crimes o fariam "manipulável".
Os EUA foram por anos financiadores das forças de segurança equatoriana, das Forças Armadas aos corpos policiais. Em 2009, Correa expulsou outro embaixador americano, que se opôs a uma investigação que teria como base computadores doados pelos EUA à polícia.


MERCADO
"Reestruturador" assume aviação civil
Dilma quer usar experiência de diretor do BNDES em infraestrutura para acabar com gargalos em aeroportos
Wagner Bittencourt de Oliveira, que também comandou obras do PAC no banco, foi sugerido por Luciano Coutinho

VALDO CRUZ
SHEILA D'AMORIM
DE BRASÍLIA
JANAINA LAGE
DO RIO

Escolhido para a Secretaria Nacional de Aviação Civil, Wagner Bittencourt de Oliveira recebeu de Dilma Rousseff a missão de aprofundar as negociações com a iniciativa privada para reestruturar o setor aéreo e acabar com os gargalos nos aeroportos.
Pesou na decisão da presidente, antecipada ontem pela Folha, o fato de Wagner Bittencourt, diretor de Infraestrutura do BNDES, ser especialista em "estruturação de negócios". Para Dilma, essa experiência será fundamental para reorganizar o setor aéreo.
Apesar de ter participado no banco das discussões sobre infraestrutura aeroportuária, ele não tem experiência direta na área.
O nome de Oliveira, funcionário de carreira do BNDES, foi sugerido a Dilma anteontem pelo presidente do banco, Luciano Coutinho. No mesmo dia, o convite foi feito e aceito.
Ontem, Dilma já teve sua primeira reunião com Oliveira, que tem status de ministro, em almoço no Planalto. Também participaram Antonio Palocci (Casa Civil), Coutinho e Gustavo Matos do Vale, presidente da Infraero.
No encontro, a presidente falou não só sobre a situação dos aeroportos. Também conversou particularmente com Oliveira sobre outras grandes obras, como as hidrelétricas de Jirau, Santo Antonio e Belo Monte.
Na véspera, já discutira com o presidente da Infraero detalhes dos aeroportos, tema classificado como "prioridade zero" para o governo, segundo Matos do Vale.
Dilma decidiu que serão feitas reuniões periódicas para tratar da situação de cada aeroporto separadamente.
Dilma havia criado a secretaria em 18 de março sem ter o nome do titular. O preferido era Rossano Maranhão, ex-presidente do Banco do Brasil e hoje no comando do Grupo Safra, mas ele recusou.
O novo secretário de Aviação Civil estava desde 2006 à frente da diretoria de Infraestrutura do BNDES, responsável pelas obras do PAC. Nessa área, estreitou o relacionamento com Dilma.

PERFIL
Oliveira entrou no banco em 1975. Tem perfil desenvolvimentista, a favor da atuação do governo no estímulo a grandes projetos.
Na gestão Coutinho, passou a lidar com Estruturação de Projetos, área relacionada a concessões públicas.
Além do conhecimento sobre andamento de projetos de grande porte, está familiarizado com as grandes construtoras, tomadoras desse tipo de crédito. Ele é engenheiro metalúrgico, com especialização em finanças e em mercado de capitais.
Bittencourt chegou a se afastar do banco para ocupar os cargos de secretário do Ministério de Integração Nacional, de superintendente da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste) e de presidente da Companhia Ferroviária do Nordeste.
O economista Luiz Eduardo Melin foi anunciado ontem como substituto de Oliveira na diretoria do BNDES.


Indicado é desconhecido no setor aéreo

DE SÃO PAULO

Wagner Oliveira é praticamente desconhecido de executivos, analistas e consultores do setor aéreo.
"Não dá para dizer que é um bom nome pois não o conhecemos", diz Adalberto Febeliano, diretor de relações institucionais da Azul.
"Mas ele tem um perfil técnico e, ao que parece, relaciona-se bem com o setor privado. Por isso estamos otimistas."
TAM e Gol não quiseram comentar a nomeação.
A falta de experiência de Oliveira no setor aéreo é vista com certa preocupação por executivos e consultores ouvidos pela Folha. Para um alto executivo do setor, por seu perfil profissional, Oliveira deve focar apenas temas emergenciais. (MARIANA BARBOSA)


Painel
RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Perfil 1 Escolhido para ocupar a Secretaria de Aviação Civil depois que outras opções não vingaram, Wagner Bittencourt havia sido cogitado, de início, para ser o número dois da nova pasta.

Perfil 2 Chamado por Dilma anteontem à noite para discorrer sobre o currículo de Bittencourt, diretor do BNDES, o presidente do banco, Luciano Coutinho, destacou a expertise do indicado em tema estratégico para os planos do governo quanto a aeroportos: concessões.


COTIDIANO
VOO 447
Dilma vai receber parentes de vítimas

A Associação dos Familiares de Vítimas do Voo 447 vai se reunir com Dilma Rousseff e com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, na sexta para pedir que o país participe ativamente na investigação do acidente, que matou 228 pessoas em 2009. A associação reivindica que ao menos um parente de vítima acompanhe o resgate e que os corpos resgatados fiquem sob a tutela do Brasil.
A França anunciou anteontem ter identificado restos mortais junto aos destroços.


TAM é condenada por largar garoto 20 h viajando sozinho
Empresa terá de pagar R$ 30 mil ao adolescente, que tinha 12 anos na época
Segundo o pai, menino passou a noite sozinho em hotel e viajou 520 km de táxi até o destino; TAM não se manifesta

SÍLVIA FREIRE
DE SÃO PAULO

A TAM foi condenada ontem pelo Tribunal de Justiça do Maranhão a pagar uma indenização de R$ 30 mil a um adolescente que passou cerca de 20 horas sozinho em trânsito devido a um problema com um voo, em 2008.
Na época, o garoto tinha 12 anos e saiu de São Luís com destino a Vitória da Conquista (BA). A empresa pode recorrer da decisão. A Folha entrou em contato com a TAM, mas não teve resposta.
Segundo o advogado Gustavo Carvalho, pai do garoto, o filho passou a noite sozinho num hotel de Salvador, pago pela companhia aérea, e foi colocado em um táxi para viajar 520 km, sem dinheiro, entre a capital baiana e Vitória da Conquista. O trajeto leva mais de sete horas.
De acordo com Carvalho, o garoto embarcou em São Luís às 14h do dia 1º de fevereiro e chegou ao destino final só às 19h30 do dia seguinte. A previsão era chegar às 23h40 do mesmo dia.
Ainda segundo o pai, a mãe do garoto, que mora em Vitória da Conquista, lhe telefonou dizendo que o voo não havia chegado ao destino. A empresa não informou onde estavam o avião nem o adolescente, que tinha o celular desligado.
"Passamos a noite em claro, sem saber onde ele estava", disse Carvalho, que atuou como advogado na ação de indenização.
De acordo com ele, em nenhum momento a TAM entrou em contato com os pais para prestar informações.
O advogado disse que o casal só teve notícias do garoto no dia seguinte, quando ele atendeu ao celular. O menino contou que estava num hotel em Salvador e que iria para Vitória da Conquista de táxi.
De acordo com o relato do garoto ao pai, após pousar em Barreiras (BA), depois de uma conexão em Salvador, o avião sofreu pane e não seguiu viagem. Os passageiros foram levados de volta à capital, onde passaram a noite.
"Foi um descaso. Parece que estavam despachando uma mochila", disse o pai. Para ele, a condenação deve ter "caráter pedagógico".
"Imagine uma criança, longe dos pais, em um táxi com um estranho e sem dinheiro. Achei até pouco o valor da indenização", disse. Para o pai, a estrada até Vitória da Conquista é perigosa, cheia de curvas e caminhões.

Frases
"Passamos a noite em claro, sem saber onde ele estava"

"Foi um descaso. Parece que estavam despachando uma mochila"
GUSTAVO CARVALHO
pai do garoto e advogado


ILUSTRADA
16º É TUDO VERDADE

CRÍTICA
"Tancredo" é emocionante aula de história e política
Engajado, Silvio Tendler conduz filme da Era Vargas à redemocratização de 1985

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

"Tancredo, a Travessia" repete a fórmula da história real, alternando as espetaculares manifestações de rua com as competentes articulações de gabinete que em 1985 confluíram para a redemocratização em segurança e em clima de festa.
Velhos filmes, fotos e entrevistas misturam-se a depoimentos recentes de políticos e artistas. É assim que o engajado Silvio Tendler nos leva ao passado.
Todo em preto e branco, o que lhe confere densidade, o filme recupera a história a partir de 1930, indo buscar em Getúlio Vargas o fio da meada do golpe militar de 1964 e os personagens da redemocratização de 1985.
No centro, Tancredo Neves, ministro da Justiça de Vargas, primeiro-ministro no parlamentarismo que garantiu a efêmera posse de João Goulart, a última mão a cumprimentar Juscelino Kubitschek na partida para o exílio.
Na ditadura, recolheu-se a um discreto mandato na Câmara. Diferentemente de JK, foi o único do PSD a não votar em Castelo Branco para a Presidência. Mesmo assim, não foi cassado.
O mineiro Tancredo atravessou décadas, governos e regimes até se transformar no instrumento do fim do autoritarismo, uma revolução sem armas ou sangue, feita na melhor articulação política e embalada pelas ruas.
"Conciliação" foi a palavra-chave da atuação de Tancredo, reforçada por fatos e depoimentos de protagonistas como Fernando Henrique Cardoso, José Sarney, Fernando Lyra e Aécio Neves.
Se faltou alguém, foram Jorge Bornhausen e Guilherme Palmeira que, ao lado de Marco Maciel, capitanearam a dissidência do PDS, o partido do regime militar.
Foi essa Frente Liberal que deu sustentação à insubordinação de Aureliano Chaves e à entrada em cena do próprio Sarney. Fechou-se o cerco.
Assim como o país se uniu pelas Diretas Já, deslizou suavemente para o apoio à Nova República, possível com a eleição de Tancredo pelo colégio eleitoral.
Excluíram-se apenas a linha dura militar, o deputado Paulo Maluf (que Tancredo derrotou na eleição indireta) e, de outro lado, o PT.
O destino e os médicos -como Tendler explora bem- impediram que Tancredo assumisse. Como Getúlio, saiu da vida e entrou para a história. Sarney, que seria transitório, ficou cinco anos.
O filme começa com a comunicação da morte de Tancredo pelo jornalista Antônio Britto, porta-voz da longa agonia. E acaba com Aécio Neves reproduzindo a última frase que ouviu do avô Tancredo: "Eu não merecia isso".
Para quem era jovem demais ou nem tinha nascido, "Tancredo, a Travessia" é uma aula de história, de política e de otimismo.
Para quem viu a história acontecer, é uma emoção, com o hino nacional na voz de Fafá de Belém, "Vai Passar", de Chico Buarque, e "Coração de Estudante", de Milton Nascimento. Ali, o Brasil estava de parabéns. Agora, o filme também.

TANCREDO, A TRAVESSIA
DIREÇÃO Silvio Tendler
QUANDO hoje, às 15h, no Cine Livraria Cultura, em São Paulo CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO bom

FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO

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