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quinta-feira, 7 de abril de 2011

07 de abril de 2011 - CORREIO BRAZILIENSE


DESTAQUE DE CAPA - CAIXA DE PANDORA
Pandora, uma novela sem data para acabar

Após uma crise nervosa, Deborah Guerner deixa o julgamento. A promotora discutiu com seus advogados e com o marido: houve gritos, xingamentos e ameaças
Revelado ao país pela Operação Caixa de Pandora, o maior escândalo de corrupção da história de Brasília pôs em evidência ontem três de seus personagens: o ex-procurador-geral de Justiça Leonardo Bandarra, a promotora Deborah Guerner e a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF). Em julgamento no Conselho Nacional do Ministério Público, o relator do processo defendeu pena máxima - a expulsão do serviço público - para Bandarra e Deborah, acusados de corrupção, extorsão e formação de quadrilha. Um pedido de vista suspendeu a sessão, que já durava oito horas, após dois conselheiros acatarem integralmente o voto do relator. O caso, agora, só deve ser retomado em 17 de maio. De volta à cena, Jaqueline - que não aparecia em público desde a divulgação do vídeo em que ela e o marido são flagrados recebendo dinheiro do delator do esquema, Durval Barbosa - foi à Câmara dos Deputados e anunciou que não vai renunciar ao mandato. Seu destino está nas mãos do Conselho de Ética da Casa em processo que pode resultar na cassação da parlamentar.


DIREITOS HUMANOS
Passe livre para a Comissão da Verdade
Segundo Maria do Rosário, não há mais resistências no governo à apuração de crimes praticados durante a ditadura. Nem mesmo das Forças Armadas

» Edson Luiz
A ministra da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, afirmou ontem que não há mais divergências institucionais dentro do governo em torno da Comissão da Verdade, que será criada para investigar crimes ocorridos durante a ditadura. A ministra esteve na Câmara, onde falou sobre vários temas, menos sobre as declarações polêmicas do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). Maria do Rosário afirmou que o Brasil vai seguir as orientações da Organização dos Estados Americanos (OEA), que determinou o acesso das famílias de desaparecidos políticos a informações referentes à Guerrilha do Araguaia.
Maria do Rosário falou sobre os programas de sua secretaria, ressaltando que os cortes de 10% no Orçamento não vão atrapalhar a pasta, que tem a intenção de formar parcerias. O tema dominante no encontro foram as declarações de Bolsonaro, criticadas pela maioria dos deputados da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias, em que a ministra fez a sua exposição. Ela, porém, se esquivou do assunto. “Toda manifestação racista tem que ser rejeitada, mas, sobre um ou outro parlamentar, não cabe a mim vir aqui se manifestar”, disse Maria do Rosário. Bolsonaro é suplente da comissão.

Homenagem
A ministra afirmou ainda que ela e seus colegas da Defesa, Nelson Jobim; da Justiça, José Eduardo Cardozo, e de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, estão discutindo a tramitação da Comissão da Verdade no Congresso. A ideia é nominar a lei, depois de aprovada, de Rubens Paiva, parlamentar que desapareceu no Rio de Janeiro em 1971, depois de ser preso por policiais. “Estamos compondo uma coisa mais clara sobre a comissão. Vários países fizeram isso e, depois, ela se transformou em comissões de conciliação nacional”, afirmou a ministra.
Maria do Rosário admitiu que existem resistências em torno da Comissão da Verdade, mas ressaltou que não seria por parte dos militares. “Elas (as resistências) são pontuais e isso faz parte da democracia”, disse. “É natural que exista uma resistência e ela não é institucional.” Segundo ela, todo governo está trabalhando pela criação da comissão, incluindo as Forças Armadas. “As Forças são parte da força democrática brasileira”, acrescentou Maria do Rosário, observando que a população brasileira tem direito de saber a verdade sobre o que aconteceu durante a ditadura. A comissão vai investigar crimes contra os direitos humanos praticados durante o regime da época.
O Brasil também vai seguir o que recomendou a Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da OEA, que determinou a reparação de 70 familiares de desaparecidos políticos durante a Guerrilha do Araguaia, segundo Maria do Rosário. Além disso, a Corte mandou que o Brasil revele mais informações sobre o episódio, medida que, conforme a ministra, vem sendo feito há algum tempo, atendendo uma decisão da Justiça Federal de Brasília.

Regras do sigilo
O Ministério da Justiça baixou uma portaria, publicada na edição do Diário Oficial, facilitando o acesso aos documentos sobre o regime militar, que vinha sendo restrito em alguns casos. Pela decisão do ministro José Eduardo Cardozo, papéis públicos envolvendo servidores no exercício do cargo devem ser liberados, mantendo apenas o sigilo em torno de documentos com informações pessoais. O ministério recebeu uma série de reclamações sobre o uso de tarjas nos nomes de autoridades que tinham funções públicas.


NOTAS
Deu no www.correiobraziliense.com.br

BNDES quer dar recursos extras a aeroportos
Com a indicação do diretor de Infraestrutura, Wagner Bittencourt, para a Secretaria de aviação Civil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pode ampliar sua participação no financiamento de obras em aeroportos no país, disse ontem o presidente do banco de fomento, Luciano Coutinho. A situação dos terminais é uma das principais preocupações do governo na preparação para grandes eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. “Sem dúvida podemos dar um apoio mais forte”, disse Coutinho. “Aeroporto, no mundo inteiro, é uma atividade muito rentável. Tem capacidade de sustentação e de suportar financiamento. Não vemos isso como problema, mas como oportunidade.”


LÍBIA
Kadafi envia carta amistosa a Obama
Ditador chama presidente norte-americano de "nosso filho" e pede o fim dos bombardeios

Com um tom muito diferente da agressividade corriqueira das declarações públicas, o ditador líbio, Muamar Kadafi, escreveu uma carta ao presidente Barack Obama, pedindo a intercessão do americano para cessarem os ataques ao país. No texto, ele chama Obama de “nosso filho” e diz que deseja vê-lo reeleito em 2012. “Ainda rezamos para que você continue como presidente dos EUA. Você é um homem que tem coragem para anular uma ação errada”, afirmou o líder líbio. As palavras amistosas não parecem ter convencido Washington. A Casa Branca respondeu que pretende ver ações concretas, como o fim da violência, e não apenas palavras de Kadafi.
“Falar é diferente de atuar”, disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. A secretária de Estado, Hillary Clinton, por sua vez, reforçou as exigências para iniciar o diálogo com o ditador líbio. “A respeito da carta, penso que o senhor Kadafi sabe o que ele deve fazer”, disse, em entrevista. “Precisa haver um cessar-fogo, sua forças têm que se retirar das cidades que tomaram à força. Precisa haver uma decisão sobre sua saída do poder e sua saída da Líbia.” Na carta, Kadafi argumenta que a campanha da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) atingiu a Líbia mais moralmente do que fisicamente. Ele denunciou uma intervenção política, além de militar, da aliança atlântica. “Como você (Obama) bem sabe, a democracia e a construção de uma sociedade civil não podem ser conseguidas com mísseis e caças, ou apoiando membros armados da Al-Qaeda em Benghazi”, disse.
Diante da violência crescente e do impasse político na Líbia, um novo possível mediador apresentou-se ontem. Após participar de um evento promovido pela Microsoft, em Washington, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que não descarta contribuir para resolver a crise. “Se alguém, a minha presidente ou alguém, achasse necessário, e falasse: ‘Bom, o Lula pode contribuir’, eu contribuiria tranquilamente”, disse a jornalistas. Antes, ele havia esclarecido que tem “discordância política e ideológica” com o ditador líbio. No entanto, ressaltou que, aparentemente, isso não atrapalharia a mediação.
A Otan admitiu ter enfrentado dificuldades para atingir as forças do governo líbio. “Elas empregam táticas não convencionais, se misturam nas estradas com o trânsito normal e usam civis como escudos para poder avançar”, disse o contra-almirante britânico Russ Harding, comandante adjunto da Operação Protetor Unificado. Segundo ele, há dificuldades para destruir tanques em zonas habitadas. “Como não estamos autorizados a empregar forças terrestres, temos um limite físico.”

Naufrágio
Mesmo para quem consegue deixar a Líbia, não há a garantia de alívio imediato. Ontem, um acidente com um barco de refugiados chocou o mundo e expôs a situação de desespero dos imigrantes. A embarcação, com cerca de 200 refugiados a bordo, vinha da Líbia e afundou a cerca de 70km da ilha italiana de Lampedusa. De acordo com o capitão italiano Vittorio Alessandro, porta-voz da guarda costeira da Itália, 48 pessoas foram resgatadas. Os helicópteros ajudaram a localizar 15 corpos. Estima-se que cerca de 150 pessoas tenham morrido, em sua maioria eritreus e somalis. Segundo relatos dos sobreviventes, o barco virou quando o mar estava revolto. No entanto, as autoridades italianas não descartam que uma falha humana também possa ter contribuído para o naufrágio.

"Ainda rezamos para que você continue como presidente dos EUA. Você é um homem que tem coragem para anular uma ação errada”
Muamar Kadafi, em carta endereçada a Barack Obama


PERIGO NUCLEAR
Agora, a esperança é o nitrogênio

» Tatiana Sabadini

O risco de explosão na central nuclear de Fukushima, voltou a subir ontem, quase um mês depois do terremoto que devastou o Japão. Apesar de os técnicos terem conseguido controlar um importante vazamento de água radioativa, foi registrado um nível alto de hidrogênio em um dos reatores, o que poderia causar um acidente de grandes proporções. A Tokyo Eletric Power (Tepco) também luta contra o acúmulo de água nos tanques da usina e, por isso, começou a despejar o líquido contaminado no Oceano Pacífico, o que aumenta os índices de radiação em águas já contaminadas. Os efeitos da crise nuclear na saúde humana e no meio ambiente, no entanto, só devem ser conhecidos em pelo menos dois anos, de acordo com o Comitê Científico das Nações Unidas sobre os Efeitos da Radiação Atômica (Unscear).
O Japão anunciou planos de injetar nitrogênio no reator 1 para evitar uma possível explosão provocada pelo acúmulo de hidrogênio. Depois do terremoto, incêndios provocados pelo elemento químico em contato com o ar causaram danos no edifício externo da usina por duas vezes. A grande preocupação é de que um acidente como esse possa afetar o núcleo central da instalação. “Normalmente, todos os reatores têm um nível alto de nitrogênio como medida de segurança, porque cria uma atmosfera inerte para a reação explosiva. É possível que ele tenha escapado com as primeiras explosões ou haja um novo vazamento”, sugere Carlos Brayner, professor do Departamento de Energia Nuclear da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O vazamento de água no reator 2 foi interrompido pelos técnicos, porém mais de 11 mil toneladas de água radioativa devem ser despejadas no oceano até sábado. A estratégia para esvaziar os tanques e dar início a uma nova fase de resfriamento nos reatores causou polêmica, depois que foram detectados altos índices de iodo e césio no mar perto de Fukushima. O governo japonês precisou pedir desculpas aos países vizinhos por não ter comunicado a ação com antecedência, logo após a Coreia do Sul ter reclamado da falta de informações. A solução encontrada pela Tepco já afetou as exportações no país. A Índia proibiu todas a importações de produtos japoneses por três meses e países como Estados Unidos, China e Brasil limitaram a entrada de alimentos.
As consequências da radiação não são previsíveis e só devem mostrar seus efeitos na população e no ambiente a partir de 2013. “A situação em Fukushima ainda é instável e ninguém sabe o que acontecerá amanhã”, afirma Wolfgang Weiss, presidente do Unscear. Os técnicos do comitê acreditam que, apesar de a radiação ser menor que no acidente em Chernobyl, na Ucrânia m(então parte da União Soviética), ela pode trazer riscos por ter um período de emissão mais longo. O especialista brasileiro concorda.
“É preciso analisar o conjunto dos fatos. Você tem uma contaminação alta, mas ela pode estar concentrada em um local e pode haver uma dispersão desse material radioativo, como na água do mar, por exemplo. A população não tem acesso a esses níveis e quando o indicador normal é estabelecido muito baixo, milhões de vezes acima desse limite podem não significar nada. O problema, realmente, é se eles permanecerem altos por muito mais tempo”, revela Bayner.

Deslocamento expressivo
A força do terremoto de 11 de março causou um deslocamento de 24 metros da placa continental do Japão. A constatação foi feita por sondas especiais da Guarda Costeira japonesa. A mudança dentro do mar foi quatro vezes mais intensa que a constatada em terra, na península de Oshika (província de Miyagi), onde o solo se moveu 5,3 metros. A principal ilha do país, Honshu, também se deslocou 2,4 metros depois do maior tremor já registrado no arquipélago japonês.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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