FISCALIZAÇÃO
Uma bomba sem controle
Fiscalização feita pelo exército não impede o roubo de dinamites
Alessandra Mello
O controle da fabricação de todo tipo de material explosivo no Brasil é de responsabilidade do exército e deveria seguir normas rígidas, principalmente no que diz respeito ao comércio, para garantir a possibilidade de rastreamento. Mas, na prática, não tem funcionado bem. Ano passado 1,06 tonelada de explosivos foi roubada e até hoje não foi recuperada. Também foram roubados 11,7 mil metros de cordel detonante e 728 embalagens de explosivos, incluindo bananas de dinamite.
O exército não tem diretorias de Fiscalização de Produtos Controlados em todos os estados. Ao todo as 12 diretorias existentes respondem por todos os estados e pelo Distrito Federal.
Ano passado, cerca de 100 quilos de dinamite foram roubados de uma empresa responsável por pesquisas e sondagens de gás na região. Nem a Polícia Civil nem o exército sabiam da existência de tanto material explosivo na sede da empresa. No Rio de Janeiro, na operação feita no final do ano passado, para a ocupação da Vila Cruzeiro, foram encontradas 123 bananas de dinamite. Em Contagem, uma banana de dinamite foi encontrada na rua, em plena luz do dia, em um bairro residencial. No mesmo mês, garis da Prefeitura do Rio encontraram seis bananas de dinamite em uma lixeira, em bairro da Zona Norte.
Vistorias Questionado sobre os assaltos envolvendo uso de explosivos e sobre as medidas para regular a fabricação e o uso desse material, o exército afirmou em nota que a “fiscalização é exercida com a realização de vistorias e por meio do controle do fabricante, do comerciante e daqueles que utilizam explosivos e seus acessórios, que devem estar registrados, bem como da autorização para a circulação dos produtos, consubstanciada com a emissão de documento denominado guia de tráfego”. A nota diz também que “compete, ainda, ao exército estabelecer as condições de acondicionamento dos explosivos durante o seu transporte”.
Um dos diretores da Federação dos Trabalhadores da Indústria Extrativa de Minas Gerais, José Osvaldo de Souza disse que há nas empresas uma grande preocupação com a segurança do trabalhador que atua diretamente com explosivos, os chamados “blasters”. “Mas não consigo enxergar nas empresas uma preocupação com a segurança do material explosivo para evitar que ele seja roubado e usado para outros fins. Ninguém se preocupa muito com o fato de que esse material pode ser usado como arma”, comenta Osvaldo.
Em Minas, foram registrados no ano passado roubos de material explosivo nas cidades de Campo Belo (172 quilos de pólvora), no Centro-Oeste, e em Luminárias (100 quilos de explosivo granulado e 700 metros de cordel), no Sul do estado. Em novembro, um grupo armado roubou 275 quilos de dinamite de uma pedreira de Jundiaí, interior de São Paulo. A pedreira não tinha esquema de segurança nem câmeras para garantir a segurança. Na mesma semana do roubo, foram registrados assaltos com explosivos a caixas eletrônicos da região de Jundiaí. A quantidade levada daria para explodir um estádio de futebol.
Explosões assustam o país
Nos últimos nove meses, nada menos que 112 caixas eletrônicos e agências bancárias em vários estados foram destruídos por assaltantes com dinamites e outros artefatos explosivos
Alessandra Mello
Atentados terroristas não são comuns no Brasil. Se fossem, o país estaria em apuros, pois não há controle rigoroso por parte do exército e das polícias civis sobre a fabricação, venda e armazenamento de material explosivo de todasorte. Um reflexo disso é o aumento sem precedentes de casos de explosões de caixas eletrônicos e agências bancárias por todo o Brasil. Os principais alvos são cidades do interior, principalmente no Nordeste, onde o número de atentados dessa natureza não para de crescer, levando terror para a população. Levantamento feito pelo Estado de Minas com base em informações sobre ataques a caixas com uso de explosivos, principalmente dinamite, publicadas em agências de notícias revela a ocorrência de pelo menos 112 casos nos últimos noves meses.
Esse número seria bem maior se houvesse uma estatística centralizada sobre os ataques, mas, como a investigação é de responsabilidade das polícias dos estados, não há um balanço consolidado sobre as ocorrências pelo país. O avanço do uso de explosivos para a prática de roubos já preocupa a Polícia Federal, que teme que o know-how no uso desse material se expanda e passe a ser usado com outros fins, como assassinatos e invasões de presídios.
A situação é assustadora e pode piorar. Se boa parte dos explosivos roubados de pedreiras e fábricas no ano passado tiverem como destino assaltos a agências bancárias, os casos devem aumentar de maneira exponencial. Somente em 2010, foi furtada mais de uma tonelada de explosivos em todo o Brasil.
“Isso virou uma bola de neve”, adverte o delegado da Polícia Federal do Rio Grande do Norte Francisco Martins da Silva, que investiga a atuação de quadrilhas especializadas em roubo de dinamite e assaltos com explosivos a caixas eletrônicos no Nordeste. Segundo ele, é grande a facilidade de acesso a artefatos explosivos. Com isso, também há um aprimoramento das técnicas usadas pelas quadrilhas e bandos responsáveis pela expansão das explosões de caixas eletrônicos por todo o país.
“O sucesso do uso em roubos de banco pode estimular os bandidos a usarem esse método em outras situações. Daí o perigo que corremos será muito grande”, afirma o delegado, que defende a criação de um grupo especial com a participação das polícias de todos os estados, inclusive a PF, para impedir essas ações. Somente este ano, em sete dos nove estados nordestinos, foram registrados 35 casos de arrombamentos com uso de explosivos, mais da metade das ocorrências do ano passado (64). Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte são os estados com maior número de registros.
Mas o Sudeste também tem sido alvo desse tipo de crime. Em Minas Gerais, já foram dois casos este ano, nas cidades de São João da Barra (Sul de Minas) e João Monlevade (Região Central). Na região de Campinas, no interior de São Paulo, até março foi registrado um caso de caixa eletrônico roubado com o uso de explosivos a cada quatro dias. No início deste mês, Holambra, cidade turística próxima a Campinas, foi alvo de mais uma ocorrência. Quatro caixas eletrônicos da cidade, de pouco mais de 10 mil habitantes e conhecida pelas suas belas plantações de flores, foram destruídos com explosivos.
Rotina Na Região Sul e no Centro-Oeste a rotina de explosões se repete. No Rio Grande do Sul foram 11 atentados a caixas eletrônicos com explosivos. Este ano, a cidade de Nova Roma, no interior do estado, foi o mais recente alvo. A polícia acredita que novos ataques devem acontecer, pois no fim do ano passado, em novembro, cinco homens armados invadiram uma pedreira em Gravataí (RS) e roubaram 273 quilos de dinamite. Quantidade suficiente para a prática de pelo menos 273 ataques, segundo afirma o delegado do Departamento Especializado em Investigação Criminal da polícia gaúcha, Juliano Ferreira.
O delegado não quis dar detalhes da investigação, mas alertou para a precariedade no controle de material explosivo e disse estar preocupado com essa nova modalidade de roubos. “Começou com assalto a banco. Logo, logo vão explodir lojas, presídios, prédios e por aí vai. “Para ele, ainda não ocorreu nenhuma morte por sorte, pois nas cidades do interior, alvo preferencial dos bandidos, a maioria das agências bancárias está instalada no andar térreo de prédios residenciais. “Esse é o novo cangaço brasileiro. No lugar de armas, explosivos.”
Relato de terror
Gerente de banco do interior da Bahia, J., de 44 anos, conta que um caixa eletrônico da sua agência foi alvo ano passado de um atentado que quase jogou ao chão todo o prédio. Segundo ele, os bandidos “erraram a mão” na quantidade de explosivos e danificaram grande parte da agência. “Por sorte, ninguém ficou ferido.” Mas esse não foi o único atentado. Ele conta que depois disso um novo ataque estava programado. Só não se concretizou porque o plano foi abortado pela PM, que interceptou o carro dos bandidos cheio de dinamites. “Ser gerente de banco em cidades do interior do Brasil virou profissão de risco”, diz.
COLUNA
Em dia com a política
Bertha Maakaroun
Agora é que são os outros quinhentos
Carismas à parte, Dilma será julgada por seu governo, e este, pelas alianças que se estabeleceram, será muito parecido com o de Lula
O governo Dilma acaba de completar os 100 dias. A popularidade continua em alta. Até aqui a presidente tem sido brindada com uma lua de mel com os órgãos da grande imprensa. A tônica dos elogios de grande parte destes "analistas" seria um distanciamento do governo de Dilma do governo Lula. Nessa toada existe mais um desejo do que um fato. Diferenças existem e existirão. Dilma não é Lula e as realidades sobre as quais governam não são as mesmas. Aliás, esse tipo de "análise" mais confunde do que esclarece. São os mesmos "analistas" que passaram oito anos dizendo que Lula ia bem porque governava como FHC. A política econômica era igual e Bolsa Família era o Bolsa-Escola, etc, etc. Quando as eleições chegaram e os dois projetos foram confrontados, os eleitores votaram com o projeto de Lula e não o acharam igual ao de FHC. Lula era igual a FHC. Agora Dilma é diferente de Lula... Que alguns analistas digam isto, vá lá. Mas que a oposição acredite, é algo perigoso.
Como disse Itamar Franco (PPS-MG), a oposição é para se opor. A oposição brasileira parecem estar catatônica. O sucesso do governo Lula e a desgraça que se abateu aos seus mais fortes críticos, vide Arthur Virgílio (PSDB-AM), parece ter deixado a oposição vacilante. É bem verdade que já são três derrotas eleitorais e o governo se dá ao luxo de ter no mínimo dois nomes para a próxima eleição presidencial. Se Dilma for bem, ela é a candidata. Caso contrário, pode escalar o Lula.
O momento da oposição é mesmo ruim. Primeiro existe ainda uma dúvida em quem vai liderá-la. O senador Aécio Neves (PSDB-MG) é hoje o nome posto, mas o futuro ainda é incerto. O tucano paulista José Serra se agarra à ideia de ir a uma terceira disputa. Entre os dois, a balança pende para o mineiro. Mas a disputa não para aí, pois hoje quem controla a maior máquina tucana atende pelo sobrenome de Alckmin. Nesse quadro, Dilma Rousseff nem precisa se esforçar para cumprir a máxima da política romana: dividir para imperar.
Não bastasse o conflito nas hostes tucanas, a batalha entre novos e velhos democratas vai se agravar. O partido se prepara para uma guerra com o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Semana passada abriu processo disciplinar contra Kassab por utilização indevida de sua estrutura partidária. Uma crise que já era grave vai piorar. O conflito de ex-amigos poderá levar a uma aceleração da reconciliação de ex-inimigos. O PSD poderá apressar o seu passo para se fundir ao PSB. Caso o desembarque aconteça, o que está ruim pode piorar. O governo abriria uma brecha na principal praça eleitoral do Brasil e capital do estado, que por anos têm eleito tucanos.
No cenário atual, contudo, os perigos do governo derivam dele próprio. O primeiro é uma certa inércia que parece tomar conta da administração no combate a uma inflação que vai pouco a pouco corroendo o poder de compra dos salários. A inflação já fugiu do centro da meta no ano passado e, este ano, parece seguir o mesmo caminho. Pior ainda com o preço das commodities em alta, a política das taxas de juros se tornam inócuas, quando não contraproducentes. Dilma tem aí uma primeira batalha. Por outro lado, a economia precisa continuar crescendo, pois crescimento gera emprego e emprego gera voto. Entre o dragão da inflação e o fantasma da estagnação, a equipe econômica do governo se debate. Cem dias já se passaram...
Outro problema para Dilma serão as chamadas reformas que o pais espera. A reforma política parece caminhar sem coordenação no Congresso e o revés do ficha limpa no Supremo Tribunal Federal (STF) deixou aqueles que querem diminuir os escândalos na política órfãos de pai e mãe. A reforma tributária outra pauta importante da plataforma de Dilma, ainda não saiu para o debate.
A popularidade de Dilma continua alta. Todo início de governo é assim. Governos conservadores costumam queimar parte de seu capital político inicial para fazer as suas medidas impopulares. Dilma não é conservadora, mas se tiver que tomar medidas corretivas, já perdeu o melhor momento. Daqui para a frente o governo vai ser posto à prova. As obras de infraestrutura que a sociedade e a economia cobram precisam deslanchar. A Copa do Mundo se aproxima e com ela mais obras. Investimentos em estradas, aeroportos, portos, hotéis e melhorias urbanas, somadas aos gastos com educação, segurança pública e saúde geram mais gastos e fazem aumentar a demanda.
Desafios
Os 100 dias já acabaram... e o governo precisa acelerar. Dilma não é Lula, mas a sua alta avaliação está assentada no sucesso do antecessor. Os seus desafios, entretanto, serão maiores que os de Lula, pois a popularidade dele advinha de seu governo, mas também de sua vida pessoal e trajetória política
Carismas à parte, Dilma será julgada por seu governo, e este, pelas alianças que se estabeleceram, será muito parecido com o de Lula. Ambos são desenvolvimentistas. Um se preocupou em combater a desigualdade social e o outro também se preocupará. Um procurou ampliar o consumo interno. O outro também o fará. A política é feita de fatos e de versões, mas ambos têm de ter conexões. Caso contrário, a versão leva às análises errôneas, com resultados desastrosos.
Ignorância em política sempre foi má conselheira. Por isso senhores, façam as suas apostas. Quem acredita que o governo cumprirá as suas promessas, passe ao governo. Quem não... fique com a oposição. Cem dias já passaram...
FONTE: JORNAO ESTADO DE MINAS
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