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quarta-feira, 13 de abril de 2011

13 de abril de 2011 - CORREIO BRAZILIENSE


DESTAQUE DE CAPA - DILMA NA CHINA
Negócio da China, mas nem tanto

Pragmática, Dilma trará de Pequim acordos para construir cidade digital e fabricar iPad no Brasil. O maior alvo da viagem, porém, ficou aquém do esperado: o apoio chinês à pretensão brasileira de ter assento no Conselho de Segurança da ONU não foi explícito.
Jatos da Embraer, exportação de carne suína, iPad, cidade digital... Na área econômica, o brinde com o colega Hu Jintao (foto) sela um balanço positivo da primeira etapa da visita de Dilma. Já na política, ficou evidente o empenho da delegação brasileira para não melindrar os chineses. O resultado foi lacônico: uma discussão apenas superficial da questão dos direitos humanos.

E NO BALANÇO DE PERDAS E GANHOS...

Tecnologia
Investimento de R$ 12 bilhões em cidade digital no Brasil deve abrir 100 mil vagas de emprego

iPad
Empresa chinesa começa a produzir o tablet da Apple em território brasileiro em novembro

ONU
Dilma não conseguiu apoio formal da China à candidatura do Brasil ao Conselho de Segurança


Avanços de um lado, só conversas do outro
Primeira etapa da viagem presidencial ao gigante asiático termina com saldo positivo na área econômica, mas fica sem a defesa efetiva da candidatura brasileira ao Conselho de Segurança da ONU e sem a discussão da questão dos direitos humanos

Denise Rothenburg
Enviada especial

Pequim — A presidente Dilma Rousseff encerra hoje a primeira etapa da visita à China com um saldo mais positivo do que esperava em vários aspectos econômicos e políticos. Mas  não conseguiu escapar, no comunicado conjunto, de reafirmar o compromisso de trabalhar “de forma expedita” pelo reconhecimento do gigante asiático como economia de mercado. Ao mesmo tempo, ela também se viu obrigada a tratar de forma superficial a questão dos direitos humanos.
Em troca, o Brasil obteve o apoio — embora acanhado — em relação às pretensões no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e ouviu dos chineses a promessa de estimular as empresas locais a comprarem produtos de valor agregado no mercado brasileiro. Na área de investimentos, saiu com excelentes perspectivas de implantação de negócios chineses no Brasil, que vão superar a casa dos R$ 12 bilhões. Mas, em relação aos direitos humanos, o comunicado conjunto assinado por Dilma e pelo presidente chinês, Hu Jintao, traz a lacônica afirmação de que “as duas partes fortalecerão consultas bilaterais em matéria de direitos humanos e promoverão o intercâmbio de experiências e boas práticas”.
Dilma, no entanto, tratou de minimizar esse trecho nas 10 laudas do documento, na rápida entrevista que concedeu na noite de ontem, depois de um dia que começou com reuniões em ciência e tecnologia, passou por um fórum empresarial e terminou com o encontro com Jintao e um banquete oferecido pelo presidente chinês à delegação brasileira. “Tivemos a mesma manifestação sobre direitos humanos que tivemos com os Estados Unidos. Todos os países têm problemas de direitos humanos. Nós temos. A nossa posição sobre direitos humanos está expressa na nota conjunta, assim como a posição no caso recente da nossa nota conjunta com os Estados Unidos”, afirmou a presidente, que não discutiu detalhes sobre o tema.
O governo brasileiro, entretanto, comemorou os avanços na área econômica, financeira e comercial e também considerou que a China subiu uma posição no texto sobre a reforma da ONU. “A China e o Brasil apoiam uma reforma abrangente da ONU, incluindo o aumento da representação dos países em desenvolvimento no Conselho de Segurança como uma prioridade. A China atribui alta importância à influência e ao papel que o Brasil, como maior país em desenvolvimento do hemisfério ocidental, tem desempenhado nos assuntos regionais e internacionais, e compreende e apoia a aspiração brasileira de vir a desempenhar um papel mais proeminente nas Nações Unidas”, diz o comunicado conjunto.
O que mais animou as autoridades brasileiras é a expressão “compreende e apoia”. A presidente Dilma disse que não é possível comparar a declaração que assinou com o presidente Barack Obama, em março, em Brasília, à de ontem, com Hu Jintao, mas houve na delegação brasileira quem visse um avanço na posição da China em relação ao que tem pregado os Estados Unidos. Em março, os americanos disseram apenas que apreciavam a intenção brasileira, mas não usaram o verbo “apoiar” escrito no comunicado sino-brasileiro.

Líbia
Dilma chamou a atenção ainda para o fato de que, pela primeira vez, na história da ONU, os países do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — estão no Conselho de Segurança. “Vimos uma aproximação grande e natural e que levou a posição mais correta ao problema da Líbia. Nós todos optamos pela abstenção à zona de voo. Há uma preocupação muito grande em termos essa aproximação, o que não significa que todos teremos sempre a mesma posição”, afirmou, referindo-se à África do Sul, que acaba de entrar no Brics, e votou a favor.
Dilma fez questão de ressaltar ainda a posição de Brasil e da China a respeito da reforma do sistema financeiro internacional: “Vamos insistir no fato de que a governança do FMI e do Banco Mundial não pode sistematicamente consistir em um rodízio entre Estados Unidos e Europa, com os demais países sistematicamente fora. Não temos nada contra os dois. Achamos que eles têm técnicos de excelente qualidade. Agora nós temos técnicos de excelente qualidade. E não existe por quê, dada a correlação de forças na área econômica no mundo, que sejamos sistematicamente excluídos”, afirmou.
Dilma e Hu Jintao se reuniram às 17 h de ontem (6h em Brasília) no Grande Palácio do Povo, sede do Congresso chinês. Lá, a presidente Dilma passou em revista as tropas no grande salão interno, apenas na presença das autoridades dos dois países envolvidos nas negociações governamentais, o que chamou a atenção, já que, em 2004, o presidente Lula passou em revista às tropas numa cerimônia externa, em frente à praça da Paz Celestial. A justificativa foi a de que as solenidades externas só ocorrem a partir de maio, quando a temperatura é mais amena. Mas é fato que a China vem enfrentando muitos problemas de críticas ao regime desde que começaram os conflitos no Egito e, depois, na Líbia.
Tão logo terminou o encontro privado dos dois presidentes, a comitiva brasileira teve uma reunião conjunta com o governo chinês, onde foram assinados acordos tecnológicos (leia mais na página 5) e outros atos empresariais, como o dos aviões da Embraer e os da Sinopec (petrolífera) e da Sinochem (química) com a Petrobras.
O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, avaliou que a conversa entre os dois presidentes teve um ótimo nível, pois mostrou que os países querem acertar os ponteiros. “A China quer uma relação estratégica com o Brasil, os dois estão num bom momento econômico e de projeção no mundo”, afirmou o chanceler.

Turismo
A presidente Dilma aproveita a manhã de hoje para uma visita à Cidade Proibida — sede do antigo império chinês —, um dos principais pontos turísticos no centro de Pequim. À tarde, reúne-se com o presidente da Assembleia Popular Nacional, Wu Bangguo, e em seguida, com o primeiro ministro da República Popular da China, Wen Jiabao. Às 17h, embarca para Sanya, na Ilha de Hainan, no sul da China, para a segunda etapa da viagem: o encontro do Brics.


Parceria militar e esportiva
Entre os principais acordos selados por brasileiros e chineses estão iniciativas para segurança internacional e organização de eventos

Leandro Kleber

A primeira viagem oficial da presidente Dilma Rousseff à China teve como resultado prático a assinatura de acordos entre empresas e governo brasileiro e instituições públicas e privadas chinesas. Oficialmente, seis documentos, sendo cinco memorandos (veja quadro), foram assinados ontem pela presidente Dilma Rousseff, por ministros e pelo presidente chinês, Hu Jintao. Uma parceria esportiva que visa a troca de experiências para a preparação e a organização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 no Brasil é um deles. A China sediou, com sucesso, os Jogos de 2008 e, daqui a três anos, vai receber os Jogos Olímpicos da Juventude. Um acordo na área de defesa também foi anunciado. Os chineses, donos do maior exército do mundo, trocarão experiências militares com o Brasil. Os acordos têm prazo de vigência variados e podem ser rediscutidos pelas autoridades dos dois países a qualquer momento.
O intercâmbio de informações relacionadas à defesa inclui operações militares de manutenção de paz das Nações Unidas. O Brasil lidera uma missão pacífica no Haiti. Pelo acordo, estão previstos treinamento militar conjunto e segurança em eventos como a Copa e as Olimpíadas. A cooperação para a defesa será feita por meio de visitas de delegações, intercâmbios de instrutores, participação em cursos teóricos e práticos, visitas de navios e aeronaves, eventos culturais e desportivos, além de participação conjunta em pesquisa e desenvolvimento de programas de aplicação de tecnologia de defesa.

Boa qualidade
Para evitar que produtos de baixa qualidade sejam trocados entre os países, um memorando assinado entre o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e o órgão chinês responsável pela supervisão de qualidade e inspeção traz novidades. O documento busca aprimorar os mecanismos de vigilância do mercado para reduzir o número de ferimentos e as fatalidades causados em consequência da má produção desses itens.
Dois memorandos que tratam de desenvolvimento sustentável também estiveram na pauta. Em um deles, os dois países se comprometem a proteger e utilizar os recursos hídricos com mais eficiência e aprofundar a cooperação entre os países. O Ministério do Meio Ambiente brasileiro e a respectiva pasta chinesa avaliam que o potencial na área é enorme e que a cooperação bilateral técnica, gerencial e comercial aumentará o domínio dos recursos. Isso inclui troca de informações nas áreas de controle de enchentes, reforços de barragens, projetos de transferência de longa distância de cursos d’água (como do Rio São Francisco) e proteção a bacias.
“A relação comercial entre os dois países nos últimos anos foi muito mais favorável à China. Agora, há uma tentativa clara de redefinir a relação e uma agenda econômica forte. O tom é diferente e mais proativo, no sentido de que a presidente Dilma quer marcar os direitos brasileiros”, avalia o professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB Antônio Ramalho.

Capacitação
Os dois países também assinaram um documento em que se estabelece a construção de um centro de pesquisa e inovação em nanotecnologia no Brasil. O centro será chefiado por um coordenador brasileiro e um chinês e será constituído por núcleos de pesquisa com o objetivo de executar projetos conjuntos de pesquisa e desenvolvimento e formação e capacitação de recursos humanos.

O Tio Sam também
A realização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016 também foi tema de acordo entre o Brasil e os Estados Unidos. Na visita do presidente Barack Obama ao país, no mês passado, as partes fecharam um acordo que envolve o planejamento e a segurança dos dois principais eventos esportivos do planeta.


ACORDOS

DEFESA

O que é
» Intercâmbio de experiências nas operações militares, incluindo as de manutenção da paz das Nações Unidas, e intercâmbio de instrutores e alunos de instituições militares de ensino.

Efeitos
» A China tem o maior exército do mundo, com cerca de dois milhões de soldados, e poderá auxiliar o Brasil na segurança da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016.


MEMORANDOS
NANOTECNOLOGIA

O que é
» Construção de um centro constituído por núcleos de pesquisa com o objetivo de executar projetos conjuntos de pesquisa e desenvolvimento e formação e capacitação de recursos humanos em nanotecnologia.
Efeitos
» O trabalho conjunto poderá resultar em propostas para a integração dos setores público e privado, estimulando a realização de investimentos, atividades produtivas e processos nas áreas de nanociências e nanotecnologia.

BAMBU

O que é
» Colaboração nas áreas de ciências agrícolas (botânica, produção de mudas, brotos, clones, carvão ativo, etc.) e tecnologias industriais, incluindo tratamento e preservação, máquinas e equipamentos e de valor agregado, como construção, arquitetura, design, artesanato e decoração.

Efeitos
» Inovar a cadeia produtiva do bambu, visando o desenvolvimento sustentável.

RECURSOS HÍDRICOS

O que é
» Os dois países irão juntar forças para o domínio do manejo sustentável, da proteção e da utilização dos recursos hídricos, que inclui gestão da água, controle de enchentes e reforço de barragens problemáticas. O memorando já está em vigor e tem validade até o início de 2016.

Efeitos
» Brasil e China vão trocar experiências nas áreas de controle de enchentes, combate à seca, mitigação de desastres, reforço de barragens, projetos de transferência de longa distância de cursos d’água e proteção de bacias e ecossistemas hídricos.

CONSUMO

O que é
» Estabelece que os produtos de consumo devem seguir os regulamentos obrigatórios dos dois países. O objetivo é melhorar os mecanismos de vigilância do mercado e reduzir o número de ferimentos e fatalidades.

Efeitos
» Produtos de baixa qualidade estão na mira das autoridades brasileiras e chinesas. Não são raras as reclamações de itens com defeito.

ESPORTE

O que é
» Brasil e China estimularão seus atletas a participarem de competições esportivas internacionais a serem realizadas nos seus territórios. Também irão trocar experiências quanto à preparação e organização da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016

Efeitos:
» A China tem a expertise da realização de grandes eventos. Em 2008, sediou os Jogos Olímpicos com sucesso.
Obs: Além dos atos mencionados, foram assinados acordos entre instituições brasileiras e chinesas, com o objetivo de aprofundar o relacionamento entre os países e fomentar conhecimento entre as sociedades.


BRASÍLIA-DF

Por Luiz Carlos Azedo
Com Leonardo Santos

Relatoria/ O deputado Mendes Ribeiro Filho (PMDB-RS) será o relator da medida provisória que cria a Secretaria Nacional de Aviação Civil. É um velho amigo da presidente Dilma Rousseff.

VOO 447
Resgate começará na Páscoa

Débora Álvares
A emersão dos destroços encontrados será feita por uma empresa americana

As dúvidas sobre o que será encontrado no fundo do Oceano Atlântico, onde equipes localizaram mais destroços do avião da Air France, desaparecido desde 31 de maio de 2009, voltaram a gerar polêmica. Segundo a Associação de Familiares das Vítimas do Voo 447, o Escritório de Investigações e Análises — BEA, na sigla francesa — deu a entender, durante uma reunião em Paris, na segunda-feira, que encontrou as caixas-pretas da aeronave. Os investigadores, no entanto, desmentem o fato e afirmaram que, em caso de localização dos objetos, haveria uma imediata comunicação. O que está confirmado é que o navio francês que fará o resgate dos destroços do avião e dos restos mortais encontrados vai sair  de Cabo Verde no próximo dia 21, parar em Pernambuco para abastecimento e depois iniciar as operações de emersão.
Segundo o diretor executivo da associação dos familiares, Maarten Van Sluys, o posicionamento da BEA é estranho. “Mediante a pergunta sobre as caixas-pretas, a resposta foi que muito provavelmente elas estão na parte do avião que vai ser retirada do fundo do mar”, conta Sluys, referindo-se à cauda da aeronave, encontrada aparentemente sem grande destruição. Experiência em acidentes aéreos levaram as montadoras a escolher o local para instalar as caixas-pretas, segundo o especialista em manutenção de aeronaves e presidente do Sindicato Municipal dos Aeroviários do Rio de Janeiro, Rui Pessoa. “É possível que elas (as caixas-pretas) tenham dados preservados que permitam a apuração e a avaliação do sinistro.”
Além de desacreditar do que a BEA diz sobre as investigações, a associação critica a vontade de levar as caixas-pretas para serem analisadas na França. “Gostaríamos que o material seguisse para os Estados Unidos, onde julgamos haver mais tecnologia, até porque as caixas-pretas foram fabricadas lá. Além disso, é um país neutro”, afirma o diretor executivo, que reclama ainda da falta de abertura a concessões neste sentido. Maarten Van Sluys conta também que o BEA voltou atrás da promessa de que um representante dos parentes poderia acompanhar a recuperação dos destroços. Para ele, a desistência demonstra que os franceses desejam encobrir partes das investigações.
Antes, porém, de se reunirem, em Paris, com os responsáveis pela apuração do acidente que resultou na morte de 228 pessoas, representantes da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447 tiveram um encontro com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, na última sexta-feira. Segundo o ministério, o chefe da pasta solicitou ao Itamaraty que um cônsul brasileiro acompanhe as investigações — o Brasil não pode participar das análises por conta da legislação internacional, que designa ao país em que a aeronave está matriculada a condução do caso.
Também por meio da assessoria de imprensa, o Ministério das Relações Exteriores afirmou ter pedido ao Consulado-Geral em Paris que acompanhasse com atenção redobrada o caso e, na medida do possível, participasse das reuniões. Mas não houve permissão para a participação no encontro da última segunda-feira.

Gravações reveladoras
As caixas-pretas são formadas por material resistente a impactos e ao fogo e têm gravadas todos os dados das últimas 100 horas de voo e 36 horas de gravação de voz e sons da cabine dos pilotos. Segundo especialistas, elas costumam ser a peça-chave para desvendar os motivos de acidentes aéreos.


TRABALHO
Esperança até a última hora
Aprovados em concursos cujas nomeações expiram esta semana vivem drama após cortes orçamentários

Cristiane Bonfanti

Eles estão por um fio. Depois da aprovação conquistada a duras penas, candidatos a cargos públicos em todo o país veem o sonho de ingressar no funcionalismo escorrer pelos dedos com a proximidade do fim da validade dos concursos. Uma das situações mais delicadas é a dos aprovados para cadastro de reserva do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), cuja seleção, realizada em 2008, vence sábado — já considerada a prorrogação. O órgão solicitou autorização para preencher, ao menos, 104 vagas, mas as possibilidades de nomeação, nesta semana, são mínimas.
O concurso de 2008 ofereceu 225 vagas. Do total de 550 aprovados, 359 foram nomeados, mas apenas 278 ocupam cargos atualmente. Ao todo, 66 não tomaram posse e 15 nomeados já pediram exoneração. Hoje, o Ibama tem 4.425 servidores, incluindo os que atuam no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Presidente da Associação dos Servidores do Ibama (Asibama), Jonas Corrêa calcula que, para que o trabalho em todo o país fosse desempenhado sem sobrecarregar os servidores atuais, seriam necessárias mais 8 mil pessoas. “Em todas as reivindicações, falamos sobre a necessidade de pessoal. Se os aprovados fossem nomeados, evitaríamos gastos e melhoraríamos o serviço oferecido. Mas, devido à postura do governo, não há muita possibilidade de a convocação sair até sexta”, admitiu.
A farmacêutica Cristina Lacerda Resende, 37 anos, está entre os que aguardam ser chamados. Funcionária do governo federal, ela ocupa hoje um cargo de nível médio e poderia dobrar os rendimentos se fosse convocada para o Ibama. “Estamos na expectativa. Eu ganharia mais e atuaria na minha área de formação”, disse. O biólogo Eric Fischer, 49, trabalha como prestador de serviços do Ministério da Saúde e a classificação no concurso do Ibama deu a ele a expectativa da tão sonhada estabilidade. “Sempre atuei na área de licenciamento e auditoria e poderia colocar meus conhecimentos em prática no Ibama. Ainda temos a expectativa de nomeação”, disse. No momento, o Ministério do Planejamento realiza um levantamento dos concursos considerados mais urgentes e que seriam poupados do corte no Orçamento.

Prazo apertado
Os que aguardam uma segunda convocação do concurso realizado para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 2008 também estão contando os dias — em certos casos, até as horas. Para os cargos de técnico, o concurso vence amanhã. No caso dos postos de nível superior, a validade expira-se em 31 de julho. “O problema é que, antes disso, precisamos fazer o curso de formação, que leva dois meses. O ideal é que a nomeação fosse publicada, no máximo, até o fim deste mês. Uma empresa da minha família foi à falência e a convocação seria a esperança para reerguermos o negócio”, relatou Wilson Diniz Wellisch, 26 anos, selecionado para a área de engenharia.
Os aprovados além das vagas no concurso de 2009 do Banco Central (com 500 oportunidades) também torcem pela nomeação. Em fevereiro, o BC chegou a divulgar comunicado segundo o qual realizaria outro curso de formação entre março e abril. Por conta do anúncio de corte de R$ 50 bilhões no Orçamento da União, a instituição tirou o documento do ar. Agora, as capacitações só serão feitas com autorização expressa da ministra do Planejamento, Miriam Belchior.
Apesar do cenário ruim, os candidatos apostam que o BC conseguirá autorização para suprir 942 vagas de analistas e 144 de técnicos que deverão ser abertas por conta de aposentadorias até o fim de 2011. “Somos 350 concorrentes aguardando a chamada. Ao menos, o curso de formação poderia ser feito, já que os seus custos são contabilizados quando pagamos as inscrições”, argumentou Guilherme Sonino, 28 anos, aprovado para o cargo de analista. O concurso perde a validade em 21 de junho, mas poderá haver prorrogação por um ano.

Além do previsto
A briga por nomeação também está intensa entre candidatos aprovados no concurso de 2009 da Agência Nacional de Transporte Aquaviário (Antaq). Ao todo, foram oferecidas 140 vagas em cargos de níveis médio e superior, em cidades como Brasília, Fortaleza, Manaus e Rio de Janeiro. Os salários variam entre R$ 4.190,07 e R$ 8.389,60. Os selecionados dentro do número de oportunidades efetivas já foram chamados, mas outros classificados continuam brigando para entrar na agência. Eles querem que seja autorizado o preenchimento de 70 vagas, o que representa os 50% a mais do que é previsto em lei.

Demitidos pela Varig vão ao Supremo
Cinco anos após a quebra da Varig e a falência do fundo de pensão Aerus, 10 mil aposentados e pensionistas e outros 10 mil funcionários demitidos da empresa continuam lutando para receber seus direitos trabalhistas. Hoje, representantes do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) participam de audiências no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Ministério da Previdência para debater o assunto. Segundo o SNA, os aposentados ganham apenas 8% da previdência complementar que deveriam receber. A entidade informou ainda que os demitidos não recebem nem mesmo a rescisão dos contratos. A briga é para que a União assuma a dívida e pague os trabalhadores. “Queremos sensibilizar o governo para que haja uma solução para esse conflito. Essas são as primeiras reuniões de uma série de medidas que vamos tomar”, afirmou a secretária de assuntos previdenciários do SNA, Graziella Baggio.
CONCURSO PUBLICO
Vagas na Aeronáutica

Força militar contratará 124 profissionais, sendo 101 só para a saúde
Isenta dos cortes no Orçamento, a Aeronáutica abriu 124 vagas para os exames de admissão aos cursos de adaptação para médicos, dentistas, farmacêuticos e engenheiros. Do total, 101 oportunidades são destinadas a profissionais da área da saúde. As outras 23 são divididas entre as especialidades de engenharia civil, eletrônica, elétrica, além de mecânica da computação, de telecomunicação e cartográfica. Para participar, o candidato não poderá ter completado 36 anos de idade até dezembro de 2012.
Os interessados podem se inscrever até 12 de maio por meio das páginas www.fab.mil.br e ww.ciaar.com.br. A taxa custa R$ 120. A remuneração para os profissionais em início de carreira é de cerca de R$ 6 mil. A Força Aérea Brasileira (FAB) oferece ainda benefícios como assistência médica e odontológica.
Os candidatos farão provas escritas (língua portuguesa e conhecimentos especializados), inspeção de saúde, exame de aptidão psicológica e teste de avaliação do condicionamento físico. A primeira etapa será realizada em 19 de junho nas cidades de Belém, Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Campo Grande, Porto Alegre, Curitiba, Brasília e Manaus.
Aprovados em todas as etapas farão curso em Belo Horizonte (MG). A previsão é que o treinamento comece em 30 de janeiro do ano que vem. Depois da capacitação, o oficial vai ser nomeado primeiro-tenente e trabalhar na localidade escolhida na inscrição. (CB).


CONSUMIDOR
Passaporte? Só em julho
Em Brasília, quem quiser ir ao exterior terá que esperar pela agenda da Polícia Federal

Cristiane Bonfanti

O dólar baixo, o maior poder de compra da população e as frequentes promoções de passagens estão deixando os postos de atendimento da Polícia Federal das unidades do Na Hora lotados. Criado para evitar filas e trazer comodidade para a população, o serviço de agendamento pela internet não suporta mais a procura por passaportes. Somente no Distrito Federal, a cada 15 minutos, três pessoas tentam marcar um horário pela web. Ontem pela manhã, quem entrou no site em busca de atendimento na unidade da Rodoviária do Plano Piloto ou na de Taguatinga — as únicas que emitem o documento no DF — ficou frustrado. A previsão é de que somente depois de julho sejam abertas outras vagas.
Diante do tumulto, a PF e a direção do Na Hora estudam abrir um terceiro turno, que iria das 19h à 0h30, ou reestruturar a forma de atendimento, por exemplo, com mais funcionários. “A situação ocorre no Brasil inteiro. Mas, em Brasília, a demanda é maior. Em cada uma das duas unidades, são atendidas, ao menos, 400 pessoas por dia. A metade é para emitir o documento. Os demais vêm apenas buscá-lo”, explicou o chefe de gabinete do Na Hora no Distrito Federal, Claudionor Batista dos Santos. Para sexta-feira, está marcada uma reunião entre a PF e a diretoria do centro de prestação de serviços a fim de discutir uma solução.
Enquanto isso, nos postos de atendimento, quem tenta antecipar a data não consegue. A reportagem do Correio percorreu ontem as duas unidades do Na Hora no DF. Em Brasília, 14 funcionários se revezam em dois turnos para dar conta da demanda. Em Taguatinga, são 10 pessoas, cinco em cada turno. Lá, quem chega vê logo o aviso de que o encaixe para emissão de passaporte está suspenso temporariamente.  Quando há insistência, os atendentes sugerem ao cidadão que procure outra unidade. Poucos, porém, conseguem emitir o passaporte sem o agendamento prévio pela internet.

Exceções
Gerente do Na Hora da Rodoviária, Valdeci Barbosa da Silva explicou que só são abertas exceções para casos de urgência, como doença ou viagem a trabalho. “Buscamos oferecer um atendimento de excelência, mas a procura realmente está muito grande”, justificou. O engenheiro de computação Dan Lopes Carvalho, 35 anos, teve sorte. Ele havia conseguido horário apenas para 14 de junho, mas teria de fazer uma viagem aos Estados Unidos a trabalho em 25 de abril. “Trouxe uma carta da empresa e consegui emitir o documento”, comemorou.
A universitária Bárbara Barbosa Herculano Szerwinski, 22 anos, ganhou uma bolsa para fazer um curso de inglês nos Estados Unidos e está bastante preocupada com o prazo. Como é sua primeira viagem ao exterior, além do passaporte, ela precisará do visto para o país, que pode ser retirado na embaixada, em Brasília. Pela internet, conseguiu agendamento no Na Hora apenas para 27 de maio, mas o curso começa em julho. Ontem, ela foi ao posto de atendimento da Rodoviária em busca de uma solução. “Hoje, não consegui. Mas a informação é de que, se eu trouxer uma carta da universidade, será possível antecipar”, disse Bárbara.


Surpresa na fila

A falta de horários disponíveis para emitir ou renovar o passaporte pegou muitos de surpresa. A dona de casa Iara Borja Gama, 63 anos, ganhou dos filhos um pacote para viajar para os Estados Unidos no fim de maio e precisa de um novo documento. Sem saber das filas, ela não conseguiu agendamento pela internet e só ontem foi a um posto de atendimento. “Disseram que meu caso não é urgente. A viagem é um presente do Dia das Mães. Eu iria com meu marido. Vou continuar tentando, mas corro o risco de não conseguir e pagar multa para remarcar o voo”, lamentou.
A situação se repete todos os dias. Apenas no Na Hora da Rodoviária, mais de 30 pessoas tentam antecipar horário diariamente. O estudante Rodrigo Benfica Leite, 21 anos, já está com passagem comprada e hospedagem reservada para ir, em julho, para os Estados Unidos com um grupo de amigos. Seria sua segunda viagem ao exterior. No entanto, só conseguiu horário para tirar o passaporte em 20 de abril. Ontem, no Na Hora, também recebeu a resposta de que sua situação não é urgente. “O problema é que, depois disso, preciso do visto. No site da embaixada, só tem vaga em julho para conseguir a autorização. Vou continuar esperando”, disse.
Prevenido, o engenheiro de telecomunicações Edgar Barbosa de Sousa, 27 anos, preparou toda a documentação antes de marcar qualquer saída do país. Começou o processo em fevereiro e apenas ontem deu entrada na renovação do passaporte. “O meu expira em maio. Com frequência, vou ao exterior em atividades de trabalho e preciso estar com a documentação em dia”, observou. (CB).


NOTAS
NOVA YORK

Airbus bate em avião
Um Airbus A380 da Air France chocou-se na noite de segunda-feira contra outro avião na pista de manobras do aeroporto JFK, em Nova York. O jato da companhia francesa, que transportava 495 passageiros, encaminhava-se para a pista, onde decolaria com destino a Paris, quando sua asa atingiu a parte traseira de um avião de médio porte da companhia Comair, que acabara de aterrissar vindo de Boston, com 62 passageiros a bordo. Apesar do susto, ninguém se feriu na colisão. As duas aeronaves foram levadas a um ponto isolado do terminal para que os passageiros pudessem desembarcar em segurança.


VIOLÊNCIA
Polícia pedirá prisão de advogado
Depois de trocar socos com um coronel do Exército, por causa de uma vaga no elevador, o profissional, com passagens por delegacias, atirou contra o militar na portaria do Edifício Baracat. Ele deverá ser indiciado por tentativa de homicídio

Mariana Laboissière

A polícia pedirá a prisão preventiva do advogado Raimundo Pereira Batista, 66 anos. Ele é acusado de atirar contra a perna esquerda do coronel do Exército Kepler Santos de Oliveira Bastos após uma discussão por conta de espaço em um elevador. O incidente ocorreu por volta das 12h20 da última segunda-feira, na portaria do Edifício Baracat, no Setor de Diversões Sul (Conic). A pena por tentativa de homicídio varia de 12 a 30 anos de detenção, diminuída de um terço. O advogado já tem passagem na polícia por ameaça e porte ilegal de arma. Até o fechamento desta edição, Batista continuava foragido e portando uma arma sem registro.
A confusão começou na entrada do elevado do prédio. Em entrevista ao Correio, o delegado-chefe da 5ª DP, Laércio Rossetto, disse que Raimundo tentou furar a fila alegando estar atrasado. Kepler então reclamou e os dois iniciaram uma luta corporal. Imagens das câmeras de segurança mostram que o advogado deu os primeiros socos. O elevador foi parar na garagem do prédio. Os dois saíram e o militar tentou imobilizar o agressor. Nesse momento, um funcionário do local conseguiu separá-los.
Cerca de 10 minutos depois do ocorrido, o coronel do Exército foi até a recepção do prédio. Enquanto isso, o advogado subiu até a sala 304, pegou uma arma de fogo — supostamente um revólver .38 — e desceu pelas escadas em direção à entrada do edifício, onde está Kepler. Batista sacou a arma, atirou contra o coronel e fugiu em seguida. A vítima foi amparada pela esposa, que presenciou o crime. Ela o levou ao Hospital das Forças Armadas (HFA) no próprio carro. O coronel passa bem.
FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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