ACIDENTE AÉREO
Falha humana causou queda de helicóptero
Piloto e mecânico teriam entrado em atrito quanto a pouso em aldeia para não viajar durante a noite
ANDREZZA TRAJANO
O representante da JVC Aerotaxi em Boa Vista, João Mesquita Júnior, disse com exclusividade à Folha que o helicóptero Esquilo AS 55, de matrícula PT-HNA, caiu na terra indígena Yanomami por falha humana. Na tragédia, três pessoas morreram.
Segundo ele, as informações preliminares das investigações às quais teve acesso afastam qualquer possibilidade de falha mecânica. As causas do acidente são apuradas pela Polícia Federal e pelo Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa).
Os sobreviventes, o piloto Alberto Farias da Cunha Júnior, 50, e o funcionário civil da Comissão de Aeroportos da Amazônia (Comara) Antônio José de Melo, 59, já foram ouvidos pelas autoridades que acompanham o caso.
Morreram no acidente aeronáutico ocorrido na última quarta-feira o mecânico José Maria Galvão, 55, e o enfermeiro João Junio Vasconcelos Ramos, 37, ambos funcionários da JVC, além do médico do Exército Brasileiro Oswaldo Nogueira da Silva, 31.
Com base nas declarações do piloto, Mesquita Júnior disse que houve um desentendimento entre Farias e o mecânico, no momento do pouso, na região do Baixo Mucajaí, dentro da reserva Yanomami. A partir daí, o mecânico teria interferido na decisão do piloto, provocando o acidente.
“A decisão do comandante da aeronave foi pousar na comunidade indígena e seguir viagem no outro dia, porque estava escurecendo. Mas o mecânico interferiu na decisão dele, houve desentendimento na cabine, e acabou ocorrendo o acidente”, afirmou Mesquita Júnior.
Questionado sobre como o mecânico teria agido, ele foi enfático. “Ele interferiu na atitude do piloto, no momento da aproximação para o pouso, interferiu nos comandos, ocasionando o acidente”, resumiu.
Mesquita Júnior disse ainda que a JVC enviará ainda estava semana outra aeronave a Surucucu, onde ficava sediada a anterior, para evitar descontinuidade do serviço de assistência à saúde indígena. Esse helicóptero, do tipo aeromédico, é utilizado na remoção de doentes graves.
Também acrescentou que o helicóptero possuía seguro e que vítimas e familiares dos mortos serão indenizados. “A JVC está prestando assistência aos sobreviventes e familiares dos mortos”, informou.
QUEDA
A reportagem apurou extraoficialmente que a queda do helicóptero ocorreu do lado oposto ao do piloto e que apenas ele foi ejetado da aeronave. Os outros quatro ocupantes ficaram no interior do helicóptero. Com a queda, a aeronave ficou completamente destruída.
Ao perceber que estava vivo e que nada havia sofrido, o piloto foi atrás de todos que estavam a bordo e chamou cada um pelo nome. Apenas Antônio José de Melo respondeu ao chamado. Ele estava totalmente amarrado à maca que o trouxe de Surucucu. Foi o que o salvou de eventuais traumas.
Os outros ocupantes já estariam mortos, em razão de politraumatismos. Depois de socorrer o funcionário da Comara, tirando-o do aparelho, houve queima de combustível, o que impossibilitou que seus corpos fossem retirados da aeronave. As três vítimas fatais tiveram seus corpos carbonizados.
O representante da JVC Aerotaxi em Boa Vista, João Mesquita Júnior, destacou que o piloto Alberto Farias é habilidoso, com vasta experiência em voos na floresta amazônica. Ele também é piloto da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Procurada ontem para informar sobre o andamento da investigação e também sobre as declarações do funcionário da JVC, a Polícia Federal disse que não pode fornecer informações sobre o caso porque a apuração ainda está em andamento.
EXÉRCITO
O Exército Brasileiro determinou a abertura de sindicância para auxiliar na investigação conduzida pela PF. A sindicância vai apurar o que ocorreu entre o momento do acidente de trabalho com o funcionário da Comara e a decolagem do helicóptero da pista de pouso do 4º Pelotão Especial de Fronteira, em Surucucu.
Funcionário da Comara está ‘abalado’, diz FAB
A Folha tentou falar com o funcionário da Comara Antônio José de Melo, que sobreviveu ao acidente aéreo, mas, segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), ele não quis se pronunciar sobre o assunto.
A FAB informou que depois de receber alta do Hospital Geral de Roraima (HGR), ele foi internado no hospital da Base Aérea de Boa Vista, onde ficará até ser liberado. Em seguida, retornará ao Pará, onde reside.
Afirmou que neste momento ele prefere ficar em silêncio, uma vez que está bastante abalado com a tragédia. O voo que foi interrompido na quarta-feira, 6, era justamente para levá-lo ao hospital. Ele ficou gravemente ferido após um acidente em um trator, quando trabalhava na recuperação da pista de pouso em Surucucu, na reserva Yanomami. Depois, ainda sobreviveu ao acidente aéreo.
TRAGÉDIA
O helicóptero Esquilo deveria pousar em Boa Vista às 20h de quarta-feira, mas às 18h17 emitiu sinal de emergência a 140 quilômetros a oeste da capital, no Alto Mucajaí, informando sobre uma possível queda ou pouso forçado.
Na quinta-feira, aeronaves especializadas em busca e salvamento vasculharam a área de onde foi emitido o último sinal do helicóptero, porém não o localizaram.
Na tarde de sexta, a aeronave foi encontrada a 140 km a oeste da capital, no meio da selva amazônica, e os sobreviventes foram resgatados. No sábado, os corpos foram trazidos para Boa Vista. Ontem, o corpo do médico Oswaldo Nogueira da Silva foi enterrado em Minas Gerais. Hoje familiares e amigos do enfermeiro João Junio realizam missa de sétimo dia em sua homenagem, às 18h30, na igreja Matriz. (A.T.)
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