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terça-feira, 19 de abril de 2011

19 de abril de 2011 - VALOR ECONôMICO


PRIMEIRA PAGINA

Governo deve aumentar verbas para inovação
Além de mais recursos, incentivo à geração de conhecimento requer aumento de parcerias entre empresas e universidades

Cláudia Bredarioli e Amanda Vidigal Amorim

A economia aquecida e o destaque do Brasil no mercado externo ajudam a chamar a atenção para as oportunidades dentro de ensino, pesquisa e tecnologia. É neste contexto que as iniciativas em inovação têm ganhado espaço no governo, nas universidades, nas empresas e nos intitutos de pesquisa, fortalecendo a tendência de que esse espaço de discussão seja convertido em ações e aumento de verba para a inovação tecnológica no país.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, por exemplo, chegou a dizer que em vez de o governo destinar R$ 40 millhões ao longo de três anos, como o fez por meio do PAC de Tecnologia, essa deveria ser a verba disponível anualmente. Ele reconheceu a necessidade premente de aumento da destinação de recursos para a ciência e disse que, limitar os recursos é ruim, visto que essas pesquisas são essenciais para o futuro do país.
Na semana passada, o ministro anunciou que o governo estuda a criação de quatro novos fundos setoriais para ciência, tecnologia e inovação, pelo menos um deles a ser financiado com tributação sobre automóveis que não usam biocombustíveis. Os fundos, segundo ele, usariam recursos do setor financeiro, da indústria automotiva, da mineração e da construção civil.
O problema, conforme pontua Isa Assef, presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (Abipti), é que ainda falta gestão adequada dos recursos e, principalmente, fortalecimento da relação entre institutos de pesquisa, academia e empresas para aplicação das verbas em inovação. “O Brasil vive uma situação muito diferente dos Estados Unidos, por exemplo, onde os empresários investem nas universidades. O governo precisa agir para induzir movimentos como este no país. A Lei da Informática é um exemplo de como isso é possível”, afirma Isa.
Para propor melhorias nesse contexto, a Abipti vai realizar um encontro com seus mais de 200 associados no dia 27 para redigir um documento com propostas a serementregues ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Segundo Isa, entre os tópicos a serem tratados estão a revisão dos marcos regulatórios legais para financiamentos, a necessidade de mais agilidade na liberação de recursos e a permissão de uso das verbas para pagamento de pessoal das próprias instituições de pesquisa (atualmente, o dinheiro só pode ser destinado ao pagamento de terceiros).
Mas o Brasil tem histórias de sucesso de iniciativas em inovação. A Universidade de Campinas (Unicamp), por exemplo, destaca- se comomodelo que se traduz em uma nova fonte de receitas para a instituição por meio de royalties. No ano passado, a universidade alcançou a marca de 600 famílias de patentes registradas. Ao longo dos últimos cinco anos, essas patentes renderam R$ 1,3milhão em licenciamentos. Apenas em2010, foram 43 patentes registradas, o maior número durante um ano. Em 2009, a Unicamp havia recebido R$ 5,5 milhões emverbasde convênios para sua agência de inovação, a Inova.
 A receita de royalties ainda é inconstante. No ano passado, foi de R$ 191.681,57. Em 2007, os licenciamentos chegaram a render quase R$ 305 mil (veja tabela). A queda, segundo Roberto Lotufo, diretor-executivo da Inova, se deve à dificuldade de encontrar empresas dispostas a comercializar ou investir em projetos ainda emfase inicial.“Quando se deposita uma patente, a pesquisa na maioria das vezes está em fase inicial. Isso dificulta a universidade ou o próprio pesquisador a encontrar empresas que queiram investir nesses projetos.” A queda nos últimos anos deve ser revertida com a construção de um novo centro de inovação dentro da universidade, que poderá render novas pesquisas e empresas (leia mais ao lado) — uma estrutura passível de ser copiada por outras instituições do país. ■ Colaborou Fabiana Parajara, com agências

  União Europeia
Parceria bilateral permitirá intercâmbio Até outubro, quando ocorre o encontro Brasil-União Europeia deve ficar pronta uma agenda de intercâmbios de ensino superior e também culturais entre as duas partes. No início de abril, quando esteve no Brasil, a Comissária para Educação e Cultura da Comunidade Europeia, Androulla Vassiliou, defendeu maior internacionalização do ensino superior. Dentro deste escopo, a União Europeia propôs ao Ministério da Educação (MEC) a criação de um grupo para discutir as validações de cursos de graduação e pós-graduação.


EDITORIAL

Mais recursos para pesquisa e tecnologia

A crise de mão de obra enfrentada por empresas industriais e de serviços e que começa a se estender à atividade rural indicam quanto as administrações nos três planos de governo se descuidaram de um assunto tão vital para o desenvolvido sustentável do país. O descuido oficial foi completado pelo desinteresse privado e—exceto raras iniciativas—levou a um quadro que corre o risco de se caracterizar como mais um entre os vários “apagões” a ameaçar o ritmo de expansão da economia brasileira.
“O Brasil vive uma situação muito diferente dos Estados Unidos, por exemplo, onde os empresários investem nas universidades. O governo precisa agir para induzir movimentos como este no país”, alerta Isa Assef, presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (Abipti). A intenção do governo federal de criar quatro fundos setoriais para ciência, tecnologia e inovação é alentadora e encontra respaldo junto ao mundo acadêmico, começando pela Abipti que propõe o fortalecimento da relação entre institutos de pesquisa, academia e empresas para a aplicação de verbas em pesquisa e tecnologia.
Exemplo a ser seguido nessa integração é o da Unicamp, referência no país em inovação, que em 2010 chegou à invejável marca de 600 famílias de patentes registradas. São 201 “filhas daUnicamp”, como são conhecidas as empresas fundadas por alunos e ex-alunos. Nas páginas a seguir, além da Unicamp, mostramos também os exemplos inovadores de São Carlos, no interior paulista, e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Com220 mil habitantes, São Carlos soma 240 empresas de base tecnológica. AUFMG com61 pedidos de patentes em 2010, superou os 52 da Unicamp, mas continua atrás em número de licenciamentos.
“O fato de termos ultrapassado a Unicamp mostra que estamos crescendo,mas sabemos que por vários fatores ainda estamos atrás da universidade paulista”, diz Ado Jorio de Vasconcellos, coordenador de transferência tecnológica e inovação da UFMG. E, resumindo o principal gargalo da pesquisa e tecnologia no país, complementa: “até mesmo pelo incentivo financeiro que ela recebe do estado”.


Empresas de tecnologia formam consórcio para leilão do trem-bala
Marcado para 29 de junho, licitação ocorrerá mesmo se houver apenas um grupo interessado

Carolina Alves

No final do ano passado, amaior dúvida das empresas interessadas no Trem de Alta Velocidade (TAV) brasileiro, ou trembala, era a viabilidade do projeto nos moldes definidos pelo governo. Hoje, as companhias de tecnologia não têm dúvidas quanto a participação em um consórcio para disputar a fabricação do meio de transporte que ligara o Rio de Janeiro a São Paulo até 2018.
Segundo Marco Missawa, diretor de Material Rodante da Siemens, a empresa alemã está analisando a formação de um consórcio e as maneiras possíveis de participar do projeto, tendo em vista a contrapartida financeira oferecida pelo governo ao grupo campeão. “Vamos participar, semdúvidas, só não sabemos se entraremos como sócio ou parceiro tecnológico. Temos um esboço, ainda, mas estamos negociando com algumas construtoras”, disse ele durante evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Missawa ressalta, contudo, que a rentabilidade do projeto ainda é um empecilho para a formação dos consórcios. “Um projeto como esse no mundo todo teve uma rentabilidade entre 12% e 14%. Talvez os 10% projetados pelo governo sejam pouco para o investidor”, complementa. Ele ressalta também que falta garantia de demanda no edital, o que eleva o risco do projeto.
Já Paulo Benites, presidente do Grupo Trends, que representa um consórcio coreano em formação — que já conta com empresas como a Hyundai, Samsumg e LG — afirma que os 10% de rentabilidade anuais podem ser suficientes para garantir a atratividade do TAV. “O consórcio vem trabalhando há três anos no projeto brasileiro e concluiu um estudo de R$ 40 milhões sobre ele. Como a licitação dá flexibilidade para as empresas, chegamos a um projeto que acreditamos ser bastante viável”, revela.
Outra companhia de tecnologia interessada em integrar um consórcio é a japonesa Mitsui.
 “Estamos negociando com investidores emais de três construtoras brasileiras. Já temos conversado com muitas empresas para preparar o nosso consórcio”, afirma o diretor da companhia, Kazushisa Ota. Para ele, o maior entrave está em encontrar uma construtora capaz de atender às demandas do projeto. “No nosso entendimento, a maioria delas não pensa no longo prazo. É preciso fazer um investimento local de 40 anos”, ressalta.

Aos trancos e barrancos
O diretor geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Bernardo Figueiredo, descartou a possibilidade de adiar mais uma vez a data do leilão do trem-bala. A concessão havia sido marcada para abril e foi adiada este mês para 29 de junho. Já os consórcios terão até o dia 11 de junho para entregar as suas propostas.
“Não há razão nem intenção do governo de adiar o leilão. Se tivermos apenas um consórcio concorrendo, ele será feito assim mesmo. Contudo, temos potencial para pelo menos três grupos disputando”, disse Figueiredo.
Segundo ele, as críticas dos empresários ao projeto são inconsistente. “Caso o TAV custe mais do que os R$ 33 bilhões previstos, chegando a R$ 50 bilhões, como diz a iniciativa privada, a única conseqüência para o consórcio ganhador é que a rentabilidade anual poderá passar dos atuais 10,5% para até 7%. Um risco que terá de ser absorvido sem grandes problemas”, analisa. 

EDITAL

TAV é atraente mesmo sem mudanças

As garantias financeiras do governo são a maior crítica do mercado no projeto do trem-bala.
 Entretanto, especialistas defendem que a medida não afeta a atratividade do trem-bala.
 “Tenho certeza de que o TAV é muito atraente de qualquer forma. O objetivo do governo é deixar que a iniciativa privada traga para o projeto o que ela tem de melhor, eficiência produtiva”, destaca Carlos Cavalcanti, diretor de Infraestrutura da Fiesp. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) já tem linha de financiamento de R$ 20 bilhões para a construção do trem-bala. Além disso, uma empresa estatal, a ser criada, será responsável por 10% dos recursos, ou R$ 3,3 bilhões.


MUNDO

ONU reforça pedido de cessar-fogo imediato na Líbia
Ban Ki-moon, da ONU, diz que apenas 41% dos US$ 310 milhões reservados para ajudar o país foram repassados

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, pediu ontem em Budapeste, naHungria, um cessar- fogo real na Líbia. “Temos três objetivos: a partir de agora um cessar-fogo imediato e real, em segundo, estender a nossa ajuda humanitária àqueles que precisam de nós e, em terceiro, devemos continuar o diálogo político e a procura de uma solução política”, declarou.
 O pedido de cessar-fogo imediato foi reforçado pela subsecretária- geral para Assuntos Humanitários da ONU, Valerie Amos, para permitir uma avaliação das necessidades dos civis no país. “Estamos recebendo informações de que há milhares de pessoas esperando para ser retiradas, de que há pessoas que precisam desesperadamente de atendimento médico. Saneamento e água são um problema na cidade, que não tem eletricidade”, afirma Valerie.
Misrata, que está cercada por tropas pró-Kadafi há cerca de sete semanas, é a terceira maior cidade da Líbia e a única do Oeste ainda sob controle dos rebeldes.  A cidade foi bombardeada ontem novamente pelas forças leais a Muamar Kadafi.
Milhares de trabalhadores imigrantes estão ilhados em condições miseráveis, tentando sair em navios de resgate de entidades humanitárias.

Presença humanitária
Ban Ki-moon anunciou que será possível enviar ajuda humanitária à Líbia. Foi fechado um acordo entre as autoridades líbias, a representante da ONU, Valerie Amos, e o enviado especial ao país, Abdel Elah Al Khatib — ex-ministro dos negócios estrangeiros da Jordânia —, permitindo o apoio aos civis. A ONU estima que aproximadamente 3,6 milhões de pessoas necessitem de assistência humanitária. De acordo com Ban Ki-moon, US$ 310 milhões foram reservados para ajudar a Líbia, mas até o momento apenas 41% foram repassados.
Apesar do acordo, o secretário- geral insistiu novamente para a imposição de um cessarfogo na região. Mais de 500 mil pessoas fugiram da Líbia nas últimas semanas e pelo menos 330 mil se deslocaram no próprio país na tentativa de escapar dos conflitos. De acordo com relatos, alguns dos civis em situação mais desesperadora na cidade líbia são trabalhadores imigrantes do Oriente Médio, África e Sul da Ásia.

Retirada
Enquanto uma embarcação retirava ontemcerca de mil trabalhadores estrangeiros e líbios feridos de Misrata, as forças do governo continuaram a bombardear a cidade.Onavio Ionian Spirit, fretado pela Organização Internacional (OIM), saiu de Misrata, com destino à cidade de Benghazi, no leste da Líbia. “Embora a troca de disparos tenha cessado enquanto embarcávamos, tivemos um tempo muito limitado para colocar todos a bordo do navio”, disse Jeremy Haslam, que liderou a missão de resgate da OIM.
Um porta-voz dos rebeldes afirmou que quatro civis morreram e cinco ficaram feridos pelo fogo de artilharia do governo, que bombardeou Misrata pelo quinto dia seguido nesta segunda-feira.
As forças pró-Kadafi também mantiveram uma ofensiva contra o posto avançado de Ajdabiyah, no Leste do país, que os rebeldes pretendem usar para retomar o controle sobre o porto de Brega, 80 quilômetros a oeste Uma testemunha disse que cerca de doze foguetes caírem perto da entrada oeste de Ajdabiyah. ■ Com agências


DESTAQUE

Governo deve aumentar verbas para inovação
Além de mais recursos, incentivo à geração de conhecimento requer aumento de parcerias entre empresas e universidades

Cláudia Bredarioli e Amanda Vidigal Amorim

A economia aquecida e o destaque do Brasil no mercado externo ajudam a chamar a atenção para as oportunidades dentro de ensino, pesquisa e tecnologia. É neste contexto que as iniciativas em inovação têm ganhado espaço no governo, nas universidades, nas empresas e nos intitutos de pesquisa, fortalecendo a tendência de que esse espaço de discussão seja convertido em ações e aumento de verba para a inovação tecnológica no país.
O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, por exemplo, chegou a dizer que em vez de o governo destinar R$ 40 millhões ao longo de três anos, como o fez por meio do PAC de Tecnologia, essa deveria ser a verba disponível anualmente. Ele reconheceu a necessidade premente de aumento da destinação de recursos para a ciência e disse que, limitar os recursos é ruim, visto que essas pesquisas são essenciais para o futuro do país.
Na semana passada, o ministro anunciou que o governo estuda a criação de quatro novos fundos setoriais para ciência, tecnologia e inovação, pelo menos um deles a ser financiado com tributação sobre automóveis que não usam biocombustíveis. Os fundos, segundo ele, usariam recursos do setor financeiro, da indústria automotiva, da mineração e da construção civil.
O problema, conforme pontua Isa Assef, presidente da Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica e Inovação (Abipti), é que ainda falta gestão adequada dos recursos e, principalmente, fortalecimento da relação entre institutos de pesquisa, academia e empresas para aplicação das verbas em inovação. “O Brasil vive uma situação muito diferente dos Estados Unidos, por exemplo, onde os empresários investem nas universidades. O governo precisa agir para induzir movimentos como este no país. A Lei da Informática é um exemplo de como isso é possível”, afirma Isa.
Para propor melhorias nesse contexto, a Abipti vai realizar um encontro com seus mais de 200 associados no dia 27 para redigir um documento com propostas a serementregues ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). Segundo Isa, entre os tópicos a serem tratados estão a revisão dos marcos regulatórios legais para financiamentos, a necessidade de mais agilidade na liberação de recursos e a permissão de uso das verbas para pagamento de pessoal das próprias instituições de pesquisa (atualmente, o dinheiro só pode ser destinado ao pagamento de terceiros).
Mas o Brasil tem histórias de sucesso de iniciativas em inovação. A Universidade de Campinas (Unicamp), por exemplo, destaca- se comomodelo que se traduz em uma nova fonte de receitas para a instituição por meio de royalties. No ano passado, a universidade alcançou a marca de 600 famílias de patentes registradas. Ao longo dos últimos cinco anos, essas patentes renderam R$ 1,3milhão em licenciamentos. Apenas em2010, foram 43 patentes registradas, o maior número durante um ano. Em 2009, a Unicamp havia recebido R$ 5,5 milhões emverbasde convênios para sua agência de inovação, a Inova.
A receita de royalties ainda é inconstante. No ano passado, foi de R$ 191.681,57. Em 2007, os licenciamentos chegaram a render quase R$ 305 mil (veja tabela). A queda, segundo Roberto Lotufo, diretor-executivo da Inova, se deve à dificuldade de encontrar empresas dispostas a comercializar ou investir em projetos ainda emfase inicial.“Quando se deposita uma patente, a pesquisa na maioria das vezes está em fase inicial. Isso dificulta a universidade ou o próprio pesquisador a encontrar empresas que queiram investir nesses projetos.” A queda nos últimos anos deve ser revertida com a construção de um novo centro de inovação dentro da universidade, que poderá render novas pesquisas e empresas (leia mais ao lado) — uma estrutura passível de ser copiada por outras instituições do país. ■ Colaborou Fabiana Parajara, com agências

  União Europeia
Parceria bilateral permitirá intercâmbio Até outubro, quando ocorre o encontro Brasil-União Europeia deve ficar pronta uma agenda de intercâmbios de ensino superior e também culturais entre as duas partes. No início de abril, quando esteve no Brasil, a Comissária para Educação e Cultura da Comunidade Europeia, Androulla Vassiliou, defendeu maior internacionalização do ensino superior. Dentro deste escopo, a União Europeia propôs ao Ministério da Educação (MEC) a criação de um grupo para discutir as validações de cursos de graduação e pós-graduação.


Unicamp vira celeiro de negócios
Instituição soma 201 empresas fundadas por alunos e ex-alunos

Amanda Vidigal Amorim

A Universidade de Campinas (Unicamp) é referência nacional empesquisa e inovação. Mas, seu papel vai além disso. Com 201 empresas fundadas por alunos e ex-alunos, que são conhecidas como filhas da Unicamp, ela ajuda a movimentar o segmento de companhias de base tecnológica do Brasil. Algumas dessas empresas são conhecidas internacionalmente, como a CI&T, desenvolvedora de software com escritórios em quatro estados e também no Japão, na China, na Europa e nos Estados Unidos. A CI&T espera fechar este ano com faturamento de R$ 130 milhões, ou seja, 30% a mais do que os R$ 100 milhões do ano passado.
 Roberto Lotufo, coordenador da Inova, agência de inovação da Unicamp, explica que o objetivo da instituição é ter mais exemplos como este no portfólio. Por isso, está criando melhores oportunidades de pesquisa. “Hoje não temos laboratórios específicos para atender alguns pesquisadores. Isso vai mudar nos próximos anos com a construção do parque científico.”
Com 100 mil metros quadrados, o parque terá laboratórios voltados para pesquisa em óleo e gás, biocombustíveis e outros que estão em definição. O primeiro laboratório a ficar pronto será o de óleo e gás que já tem umcontrato fechado com uma empresa que presta serviços para a Petrobras e será parceira da universidade.
Hoje, a instituição temcapacidade para incubar apenas dez empresas. Lotufo acredita que com o novo espaço será possível apoiar 50 e potencializar o desenvolvimento de patentes e novas tecnologias. Hoje, a Unicamp é a universidade com mais patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi). São 600 famílias de patentes— a contagem das famílias inclui todos os processos referentes à mesma tecnologia —, sendo 730 patentes vigentes.
 “No ranking internacional, a Universidade de São Paulo (USP) aparece em primeiro lugar em pedidos de patente, mas a USP é duas vezes maior. Mesmo assim, aparecemos em segundo lugar e com uma nota média maior. Ou seja, temos uma quantidade menor de pesquisadores, mas uma produçãomaior”, diz Lotufo.
Outro ponto destacado pelo coordenador são os licenciamentos. “O pedido de patente é feito aindamuitono início da pesquisa, e só faz sentido se há uma empresa querendo investir naquilo. É dessa maneira que o pesquisador consegue colocar suas ideias e sua pesquisanomercado”, explica.
Sem essa ajuda, é necessário recorrer as fontes tradicionais de financiamento. Foi com investimento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que a Agricef, por exemplo, conseguiu colocar seu projeto em prática. Ainda incubada na Unicamp, a empresa de Efraim Albrecht Neto venceu, em 2005, o edital da fundação e levou R$ 80 mil. “Foi esse dinheiro que deu condições para produzir nosso equipamento”, afirma Neto, referindo-se à máquina que custa R$ 20 mil e detecta por ultrassomo estado de degradação das árvores.Hoje, a Agricef é fornecedora de empresas agrícolas e da multinacional espanhola Bellota e busca contratos também comprefeituras e estados. ■


FUNDO DE INVESTIMENTO
Ex-alunos voltam à sala de aula para dar lição de empreendedorismo

Para fomentar não apenas pesquisa e inovação, mas também o desenvolvimento de novos empreendedores, a Universidade de Campinas criou, em 2006, a Unicamp Ventures.
 Composto por ex-alunos e atuais empresários, o grupo realiza cursos e reuniões periódicas para estudantes da instituição. “Ainda temos poucas iniciativas nessa questão. Precisamos melhorar isso no Brasil”, diz Roberto Lotufo, coordenador da agência de inovação da Unicamp.
 Além das palestras, a Unicamp Ventures conta com uma rede social que integra todos os participantes. O objetivo, segundo Lotufo, é promover o relacionamento entre alunos e empresários. O grupo inclui de empresas que atuam no mercado há 20 anos a pré-incubadas.
 “Essa troca de experiência faz toda diferença para quem está começando”, afirma Lotufo.
 No Brasil, existem poucas instituições que favorecem essa troca entre empresários consagrados e quem ainda engatinha no mundo dos negócios. Uma delas é a Endeavor, organização não governamental que fomenta o empreendedorismo no Brasil e no mundo. Entre os conselheiros da ONG estão João Paulo Lemann, Pedro Luiz Passos e Emílio Odebrecht.
 Na Unicamp, o projeto ainda está no início, mas já conta com um grupo de 130 empresas. Em janeiro deste ano, os membros da Unicamp Ventures criaram a Inova Ventures Participações, empresa de capital fechado constituída por 48 acionistas, para investir em empreendimentos com alto potencial de crescimento. “A iniciativa dos empresários, todos ex-alunos da Unicamp, é investir em startups daqui de dentro. Eles têm conhecimento no mercado externo, são empreendedores de sucesso e têm experiência para conseguir ganhar dinheiro pelo investimento em outras empresas”, diz Lotufo. “Desta maneira, fomentam o empreendedorismo e investem em quem será grande daqui alguns anos”. A.V.A.


FINANÇAS

Cesta de moedas aumenta desafio de private equity
Para investidor e gestor, captar e aplicar em mercados cada vez mais diversificados está tornando mais complexa a gestão de risco cambial e a proteção de ativos

Maria Luíza Filgueiras

Investidores de mercados cada vez mais diversos e aplicações também em novas praças têm criado para os gestores de fundos de private equity uma cesta de moedas variada como a dos hedge funds. Os fundos de risco, entretanto, têm como objetivo justamente ganhos em arbitragens, seja com moedas ou taxas de juros diferenciadas, mas para os fundos de investimento em participações, é um risco adicional que pode até gerar caixa ou minar retorno operacional de empresas investidas.
Apesar de já fazer parte da cartilha de gestão de risco de private equity desde o início dessa atividade, especialistas consideramque a complexidade dessa administração tende a aumentar, à medida em que aumentam as operações entre fronteiras. “Esse risco já existia, mas é crescente conforme ampliam as origens e destinos do capital nessa atividade, e é preciso definir quem é responsável pelo risco, o gestor do fundo ou o investidor do fundo”, diz Sarah Alexander, presidente da Associação de Private Equity de Mercados Emergentes (Empea).
A taxa de câmbio tende a oscilar menos em prazos mais longos, mas a volatilidade em emergentes costuma sermaior do que nos mercados maduros, onde esses fundos estavam habituados a investir. Umfundo que captou recursos emdólar em2006, por exemplo, aplicou em reais com câmbio de R$ 2,34/US$. Para voltar o recurso para o investidor hoje, considerando que o prazo desses fundos é de quatro a seis anos, taxa de câmbio é de R$ 1,59/US$.
 Peter Cornelius, chefe de pesquisa estratégica da AlpInvest, uma das maiores gestoras globais de private equity, ressalta que o risco cambial é relevante em várias etapas do processo.
 Os fundos captam em uma só moeda, em geral dólar, mesmo que seja um private equity sediado no Brasil; se houver investidores nacionais, como fundos de pensão, eles se comprometem em dólares, aqui já um risco cambial pois entre o comprometimento de recurso e a chamada efetiva de capital a taxa de câmbio pode variar. A aplicação de recursos em empresas é feita em moeda local — um fundo de América Latina aplica em reais, peso argentino, peso colombiano e pesomexicano, por exemplo. O retorno operacional das investidas vai para o fundo namoeda local e o retorno para o investidor do fundo em dólar. Ele, por sua vez, está sujeito a uma nova conversão nesta, se não for sua moeda original.
Por parte do gestor, a tentativa é buscar a moeda em que vai aplicar a maior parte dos recursos, diz Marcus Vinicius Bitencourt, advogado do escritório Campos Mello Advogados. “Americanos que vão aplicar em fundos do Brasil fazem comprometimento de capital emreais e ele administram essa variação. Se definiram R$ 10 milhões, é esse montante que entregarão ao gestor, só não sabem quanto em dólar vão desembolsar na data da chamada”, explica. O fundo no Brasil tem que manter todos os dados em reais, de patrimônio e valor de cotas, segundo a Comissão de Valores Mobiliários, e não pode celebrar contratos em dólar comas investidas.
 “O risco cambial é um problema cada vez mais evidente para fundos de private equity.
 Amaior parte da administração desse risco fica para o investidor, mas o que fica para o gestor é o retorno que ele vai dar”, ressalta Sidney Chameh, presidente da Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (Abvcap). “Não dá para se esconder atrás do dólar, argumentar que deu um bom retorno operacional em reais e que a taxa de câmbio é que estava desfavorável.”
O grande risco para o gestor é ver seu trabalho operacional corroído em conversão de moeda e afastar o investidor em futuros fundos. Por isso Cornelius destaca que a taxa de câmbio se torna uma variável mais relevante para que o gestor defina o “timing” de investimento e a decisão de saída.


Apesar de esperadas, novas regras ainda causam estranhamento
 Resolução 232 faz recuar a proibição integral e permite agora a transferência de até 20% do prêmio correspondente a cada cobertura contratada, com algumas exceções

Texto Iolanda Nascimento

O mercado brasileiro de resseguros ainda não conseguiu avaliarcomclareza qual será o impacto das novas regras do ConselhoNacional de Seguros Privados (CNSP) sobre o setor. A nova medida, que começou a vigorar no último dia de março, flexibiliza a transferênciadeprêmios intragrupodeseguradoras locais sediadas no exterior. Em resolução anterior, o órgão regulador havia proibido os repasses, medida que entraria em vigor em janeiro e foi suspensa, após chiadeira do mercado. Por meio da resolução 232, entretanto, o CNSP voltou atrás na proibição integral e agora permite a transferência de até 20% do prêmio correspondente a cada cobertura contratada, exceto nos ramos garantia, riscos nucleares e crédito à exportação, rural e interno, para os quais vale a cessão integral. Mas parte do mercado continua descontente.
Cogita-se muito que o preço do seguro pode ficar mais salgado e que as empresas decapitalnacionalserãoasmaioresbeneficiadas com a medida, já que as multinacionais podem ficar menos competitivas ao não aproveitar suas capacidades externas de cobertura. A advogada Márcia Cicarelli Barbosa de Oliveira, da JBO Advocacia, observa que essas mudanças trazem insegurança ao mercado, pois as resseguradoras estrangeiras se instalaram no país em um panorama que foi alterado sem o regulador ter realizado ao menos uma consulta pública a respeito. “Se restrinjo operações intragrupo, com certeza privilegio quem não precisa repassar, mas qual será o impacto dessa ação em termos de capacidade e de preço?”, questiona a advogada, completando que o repasse é saudável porque a função do resseguro é pulverizar riscos e comele as empresas adquirem maior capacidade para novas contratações.
 O presidente da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), Jorge Hilário Gouvêa Vieira,não acredita em grande impacto nos preços, exceto em algumas situações que envolvam seguros globais. “O regulador diz que se baseou na média de repasses já realizada pelo mercado para definir essa norma. Mas sempre que há restrição o mercado dá um jeito de contorná- la. Vamos ver como isso acontecerá”, dizVieira.Ovice-presidente de negócios e varejo do Banco do Brasil (BB),Paulo Rogério Caffarelli, analisa que as novas medidas visam a adequar o país a um novo patamar na área de seguros, mercado que será bastante incrementado, na sua opinião,como crescimento econômico previsto e as novas obras na área de infraestrutura.
 “A demanda por seguros vai aumentar  muito, incrementando a concorrência e, por isso, não acredito em alta de preços”, diz o vice-presidente do BB, instituição que pretende adquirir parte da fatia do Instituto Brasileiro de Resseguros (IRB) hoje nas mãos do Tesouro, que tem 49% do capital da resseguradora.Quem atua na ponta ainda não sentiu os efeitos da nova medida nos preços. Eduardo Hussey, diretor executivo da Bowring Marsh Brasil e América Latina, divisão de corretagem da seguradora Marsh, afirma que a companhia tem monitorado o mercado muito de perto por causa das novas regras, mas ainda não percebeu alteração nas taxas e coberturas.
 “Toda mudança precisa de um tempo de maturação. Pode ser que algumas empresas fiquem menos competitivas. Porém, na prática, isso ainda não está acontecendo”, dizHussey.
  
FONTE; VALOR ECONôMICO

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