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segunda-feira, 4 de abril de 2011

04 de abril de 2011 - JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
PIB mostra aceleração no 1º trimestre
Apesar das medidas tomadas pelo Banco Central, economia ainda cresce impulsionada pelo emprego e pelo consumo das famílias

Raquel Landim, de O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A economia brasileira acelerou o ritmo nos primeiros três meses do ano, encerrados na semana passada, apesar dos esforços do governo para controlar a inflação. O mercado de trabalho aquecido, a forte demanda das famílias e a recuperação da indústria garantiram o vigor dos negócios.
Economistas consultados pelo Estado em sete dos maiores bancos e consultorias do País projetam alta de 0,7% a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2011 em relação ao quarto trimestre de 2010, descontados os efeitos sazonais. Essas previsões representam aceleração ou, pelo menos, manutenção do crescimento.
No quarto trimestre em relação ao terceiro, também livre de influências sazonais, o PIB avançou 0,7%. Em suas estimativas, nenhum dos analistas contempla desaceleração da economia brasileira neste início de ano, embora avaliem que ocorrerá uma acomodação no segundo semestre graças as medidas do Banco Central (ver na pág. B3)
Segundo o economista da Tendências, Rafael Basioti, os indicadores antecedentes do ritmo da demanda - mercado de trabalho, crédito e confiança do consumidor - tiveram um comportamento muito forte neste início de ano. Só em fevereiro foram criadas 280,8 mil novas vagas no País, um recorde para esse período, conforme dados do Ministério do Trabalho.
Com emprego garantido, a população não deixou de ir às compras, apesar das medidas do BC para encarecer o crédito. "O primeiro trimestre foi muito parecido com o final de 2010. Ou seja, foi muito bom", diz Domingos Alves, supervisor geral da varejista Lojas Cem. Ele afirma que suas vendas cresceram cerca de 30% no primeiro trimestre em relação a igual período de 2010.
Alves afirma que o impacto das medidas do BC não será imediato para o varejo e ressalta que sua rede financia os clientes com dinheiro próprio. Por isso não fez nenhuma alteração nos prazos ou taxas de juros. Ele também afirma que a inadimplência dos clientes segue baixa. Segundo Alves, os campeões de venda são as TVs de LCD.
No setor automotivo, as vendas ainda seguem robustas, apesar dos prazos dos empréstimos terem diminuído e os juros subido. Segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), foram licenciados 288,7 mil veículos em março, acima dos 258,8 mil de fevereiro. A média por dia útil subiu de 12,9 mil em fevereiro para 13,7 mil em março.
Décio Carbonari de Almeida, presidente da Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), diz que o tamanho do impacto da contenção do crédito para o mercado de veículos só será conhecido em 30 dias, porque as medidas do BC demoram para surtir efeito. Ele acredita que o mercado já sente uma desaceleração nas vendas, mas que será "suave e controlada, como pretende o governo".


EDITORIAL
O atraso das obras para a Copa de 2014

Divergências com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, Ricardo Teixeira, sobre a sucessão na Fifa, a entidade mundial do futebol, podem ter levado o presidente desta última, Joseph Blatter, a mudar sua opinião a respeito da atuação dos dirigentes do esporte no País e das autoridades envolvidas na organização da competição. Desde a escolha do Brasil para sediar a próxima Copa, Blatter elogiava a atuação do COL brasileiro e não apontava problemas na organização da competição. Em encontro com jornalistas estrangeiros segunda-feira passada, na Suíça, porém, fez críticas duras - e procedentes.
A mudança surpreende. Há pouco, numa reunião com dirigentes brasileiros na Suíça, Blatter elogiou o trabalho do COL, dizendo ser "muito bom" seu "comprometimento e progresso" na organização da Copa. Agora, observou que, "se formos comparar com a África do Sul três anos antes da Copa, há claramente um atraso do Brasil em relação ao estágio onde estavam os sul-africanos", disse. "A Copa é amanhã, mas os brasileiros acham que é depois de amanhã", declarou.
Embora a Fifa estivesse preocupada com os preparativos para a Copa, Blatter nunca se manifestara de maneira tão clara sobre a questão. Deixava a tarefa para o secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke. Em maio, por exemplo, numa de suas mais conhecidas manifestações, Valcke afirmou que o relatório sobre os preparativos da Copa de 2014 que chegara a suas mãos era preocupante. "Há alguns estádios com o alerta vermelho já aceso. É impressionante como o Brasil já está atrasado. E não estou falando apenas do Morumbi (na época, ainda cogitado para a abertura da Copa) e do Maracanã, estou falando de vários estádios", advertiu então.
Nessa semana, Blatter disse estar especialmente preocupado com a indefinição em relação ao Itaquerão, o estádio a ser construído em Itaquera para a abertura da Copa. A maior parte das obras para a Copa do Mundo precisa estar concluída até 2013, quando o Brasil sediará a Copa das Confederações, mas Blatter tem dúvidas sobre isso. "Corre-se o risco de que nem o Rio de Janeiro nem São Paulo possam organizar partidas", porque os estádios não estarão adequados para receber jogos da Copa das Confederações, que será uma espécie de teste para o Mundial.
Como era de esperar, os responsáveis pelos preparativos da Copa negaram a existência de problemas ou de atraso nas obras. O ministro do Esporte, Orlando Silva, disse que, para tranquilizar Blatter, vai convidá-lo para uma visita ao País, durante a qual verá que as obras estão sendo executadas "a todo vapor" e que os prazos acertados com a Fifa serão observados.
Em nota, a CBF desmentiu que haja o risco de as obras do Maracanã não serem concluídas até a Copa das Confederações, e quanto ao Itaquerão afirmou que, "apesar de a obra ainda não ter sido iniciada, temos trabalhado de forma intensa (...) para equacionar as últimas questões técnicas".
A polêmica entre Blatter e Teixeira pode ter alguma coisa a ver com a próxima eleição na Fifa, na qual Blatter tentará a reeleição e o dirigente brasileiro apoia outro candidato, o asiático Mohamed bin Hamman.
Quaisquer que sejam as razões para a mudança de atitude do presidente da Fifa, não se pode deixar de reconhecer que as críticas ao atraso nos preparativos para a realização da Copa no País são fundamentadas. As obras de alguns estádios estão atrasadas, e isso certamente inclui aqueles programados para sediar o jogo de abertura (Itaquerão) e a final (Maracanã).
Mais preocupantes ainda são as obras de infraestrutura, de responsabilidade do setor público, para assegurar o transporte adequado aos turistas que virão ao Brasil, e sobre as quais Blatter nada disse. O setor mais atrasado é o aeroportuário. Com a criação da Secretaria de Aviação e a profissionalização da gestão da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária, o governo federal mostrou estar atento ao problema. Mas é preciso executar com rapidez e eficácia os planos de expansão e melhoria, pois o prazo é curto. A Copa é amanhã, como disse Blatter.


ESPAÇO ABERTO
Cinismo e impunidade

*Carlos Alberto Di Franco

Domingo, 27 de março. Três reportagens, em jornais de referência nacional, foram um banho de água fria. O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo e O Globo, cada um com pauta própria, mostraram o tamanho da impunidade que algema a cidadania. Revelaram, dramaticamente, a incapacidade do Estado de punir os crimes e os malfeitos.
O Estado focou suas baterias no mensalão. Segundo informações do repórter Felipe Recondo, o processo de desmantelamento do mensalão do PT, a pior crise política do governo Lula, já tem data para começar: será a partir da última semana de agosto, quando vai prescrever o crime de formação de quadrilha. O crime, citado mais de 50 vezes na denúncia do procurador-geral da República - que foi aceita pelo Supremo Tribunal Federal (STF) -, é o cerne do processo. Mas prescreverá sem que nenhum dos mensaleiros tenha sido julgado.
O primeiro sinal do desmonte do mensalão foi dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ao deixar o governo, ele disse que sua principal missão, a partir de janeiro de 2011, seria mostrar que o mensalão "é uma farsa". A "farsa" a que se referia Lula derrubou ministros do seu governo, destituiu dezenas de diretores de estatais e mandou para o espaço a cúpula do seu partido. Encurralado, o então presidente só não caiu graças ao tamanho da incompetência da oposição. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso salvou Lula da derrocada. Quando se escrever a História isenta do Brasil, e se escreverá, bastidores projetarão muita luz. Réus do processo passaram a ocupar postos altos nas estruturas dos Poderes. João Paulo Cunha (PT-SP) foi eleito presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. José Genoino foi nomeado assessor especial do Ministério da Defesa, comandado por Nelson Jobim, ex-presidente do STF. José Dirceu, "o chefe da quadrilha" - segundo escreveu o então procurador-geral da República na denúncia em que acusou a antiga cúpula do partido do presidente Lula de se ter convertido numa "organização criminosa" -, transita com notável desembaraço nos corredores do poder.
Registro palavras proféticas do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, ao assumir a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "Perplexos, percebemos, na simples comparação entre o discurso oficial e as notícias jornalísticas, que o Brasil se tornou um país do faz de conta. Faz de conta que não se produziu o maior dos escândalos nacionais, que os culpados nada sabiam - o que lhes daria uma carta de alforria prévia para continuar agindo como se nada de mau tivessem feito." Impressionante! A provável impunidade dos mensaleiros é a trágica sinalização da incapacidade do Estado de realizar a justiça.
Já levantamento feito pela Folha mostrou que empresas abertas em nome de outras pessoas (laranjas) são frequentemente usadas por especuladores, igrejas e políticos para obter concessões de rádio e TV em licitações do governo federal. A jornalista Elvira Lobato, em matéria bem apurada, analisou os casos de 91 empresas que estão entre as que obtiveram o maior número de concessões entre 1997 e 2010. Dessas, 44 não funcionam nos endereços informados ao Ministério das Comunicações. Entre seus "proprietários", informa a reportagem, constam, por exemplo, funcionários públicos, donas de casa, cabeleireira, enfermeiro, entre outros trabalhadores com renda incompatível com os valores pelos quais foram fechados os negócios.
Mas o mais estarrecedor, de longe, foi a reação do governo à reportagem. O secretário de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das Comunicações, Genildo Lins de Albuquerque Neto, num jogo clássico de empurra, disse que a investigação cabe à Polícia Federal e que não há lei que impeça desempregado de abrir uma empresa. Fantástico! O governo, formalmente, declara-se incompetente para combater a fraude.
Por sua vez, O Globo, em sólida reportagem especial, traçou um retrato de corpo inteiro das fraudes do Sistema Único de Saúde (SUS). Criado em 1990 para assegurar o pleno atendimento médico-hospitalar à população, o SUS, cantado por Lula como um dos melhores do mundo, transformou-se num dos maiores ralos da corrupção. A reportagem de Roberto Maltchik mostra que investigações administrativas do Ministério da Saúde e da Controladoria-Geral da União (CGU), concluídas entre 2007 e 2010, apontaram desvios de R$ 662,2 milhões do Fundo Nacional de Saúde. O rombo pode ser bem maior, pois somente 2,5% das chamadas transferências fundo a fundo são fiscalizadas, de acordo com a CGU. De acordo com a reportagem, "gestores do Ministério da Saúde ouvidos no anonimato, técnicos de controle, procuradores e promotores afirmam que a pasta se satisfaz com relatórios que ninguém lê e não toma providências para conferir sua veracidade. O Sistema Nacional de Auditoria do SUS, que prevê a criação de grupos de controle, nunca saiu do papel".
Na área da saúde pública, como se pode ver, o Estado também é leniente com os malfeitos e incapaz de combater a impunidade. Mas, voraz como sempre, movimenta os bastidores para recriar a CPMF. Pode anotar, amigo leitor: tentarão recriar o imposto. É só uma questão de oportunidade e de tempo.
O último parágrafo deste artigo, uma amostragem da incompetência do Estado, deveria estar marcado pelo desalento. Mas não está. Estou convencido de que a imprensa brasileira, com seus equívocos e limitações, tem papel decisivo na recuperação ética. É aí que reside o meu otimismo. Jornalismo de qualidade é o melhor antídoto contra a corrupção e a bandidagem. E um governo que quer acertar só pode louvar o trabalho de repórteres éticos e competentes.

*DOUTOR EM COMUNICAÇÃO, É PROFESSOR DE ÉTICA E DIRETOR DO MASTER EM JORNALISMO


OPINIÃO
Contribuição de piora

*Carlos Alberto Sardenberg

Imagine que você tem uma propriedade rural com terras férteis, a uma distância razoável de um centro urbano populoso. Você pode cultivar ali hortifrútis, em associação com vizinhos, para ganhar volume, e abastecer o rico mercado próximo. Problema: não há estradas, apenas picadas pelas quais mal passa um jipe.
Suponha agora que o governo do Estado construa ali uma estrada vicinal, com bom asfalto, larga o suficiente para a passagem de furgões refrigerados. O negócio dos hortifrútis está viabilizado - ou qualquer outro negócio, de flores, por exemplo - e sua propriedade ganhou uma clara valorização.
E há meios de medir esse ganho privado com uma obra pública. Em casos assim, o governo paulista vai cobrar, sim, uma taxa sobre essa valorização - conforme anunciou o secretário estadual da Fazenda, Andrea Calabi, em entrevista ao jornal Valor na terça-feira passada.
O secretário citou outra hipótese. Imagine empresas instaladas em São Caetano, com oferta de transporte apenas local. Então, chega ali ao lado um belo trem de passageiros que parte de São Paulo, capital, e passa por alguns bairros do ABC. Obviamente, pelo menos os terrenos daquelas empresas ganham uma valorização extra. E têm de pagar a taxa.
Parece justo, não é mesmo? Uma contribuição de melhoria pode ser o nome da coisa que o governo quer cobrar. Mas por que o cidadão, as famílias ou as empresas não podem cobrar do Estado uma "contribuição de piora"?

Isso mesmo. O governo provoca malfeitorias específicas e universais. Você construiu sua residência num bairro tranquilo, e depois de um certo tempo sua casa começa a sofrer com enchentes, consequência de obras feitas ou autorizadas pelo Estado. Ou o bairro se tornou um inferno de trânsito, poluição e barulho por causa de uma ocupação desordenada, irregular e não coibida pela autoridade pública.
Para falar a verdade, se ampliarmos o olhar, o Estado no Brasil é mais malfeitor do que benfeitor. Pagamos, por exemplo, impostos elevados para ter um serviço público de saúde universal, gratuito e de qualidade, garantido pela Constituição. Se o governo entrega um serviço insatisfatório e, portanto, não cumpre a Constituição, os cidadãos e contribuintes não têm o direito de cobrar uma indenização, um ressarcimento ou coisa parecida?
Nada menos que 45 milhões de pessoas pagam planos de saúde privados, por não confiarem no Sistema Único de Saúde (SUS), administrado pelo Ministério da Saúde. Aliás, nem o pessoal que cuida do SUS confia no serviço que presta. No ano passado, o Ministério da Saúde gastou cerca de R$ 100 milhões pagando planos de saúde privados para seus funcionários.
Ora, essas pessoas que recorrem ao sistema particular deveriam receber a "contribuição de malfeitoria", pois estão pagando duas vezes pelo direito constitucional: os impostos e as prestações do seguro.
Mas ninguém está pensando nisso. Ao contrário, o ministro da Saúde quer cobrar dos planos de saúde quando algum segurado, por qualquer razão, é atendido pelo SUS.
Isso parece fazer sentido. A entidade de plano de saúde é uma instituição privada, que visa ao lucro. Se o seu segurado, seu cliente, vai ao SUS, então a seguradora deveria indenizar o sistema público. Ou seja, remunerar o SUS pelo serviço prestado, assim como a seguradora paga um hospital privado para que este atenda seu cliente.
Certo?
Errado. O segurado, o cidadão, tem o direito constitucional de ir ao SUS no momento em que quiser. Se ele, por segurança, achar melhor se garantir com um seguro privado, o governo não pode puni-lo por isso.
Sim, punir, porque, se a seguradora ou o plano de saúde precisar remunerar o SUS, isso é custo adicional, que será repassado aos clientes.
O pessoal do governo faz um discurso ideológico: as seguradoras privadas, exploradoras da saúde, querem que o SUS atenda de graça seus segurados.
Mas o segurado é, antes, cidadão. Pagando ou não o plano privado, continua tendo direito ao SUS. Assim como o cidadão que resolve pagar um fundo de pensão privado continua tendo direito ao INSS. Ou como a pessoa que estuda em escola privada mantém o direito de entrar na universidade pública. (Aliás, nem é bom falar; daqui a pouco vão querer proibir.)
Na verdade, essa ideia de cobrar das seguradoras privadas é simplesmente mais uma forma de tomar "contribuição" da sociedade civil. Revela também uma onda de estatismo ou, visto pelo outro lado, uma bronca contra tudo o que é privado, especialmente o bem-sucedido.
Depois da crise global de 2008-2009, iniciada na pátria do capitalismo, o pêndulo voltou para o lado do Estado. Intervenção do Estado na economia passou a ser a saída mágica.
E, de fato, houve muitas intervenções que funcionaram. Mas no Brasil essa onda deu num viés antiprivado e no entendimento de que a visão moderna é entregar estatais e mesmo grandes companhias privadas aos correligionários políticos.
Neokeynesianismo é entregar a vice-presidência da Caixa Econômica Federal ao peemedebista Geddel Vieira Lima porque... ora, porque ele perdeu a eleição e precisa de um cargo para continuar na política.
Enquanto isso, onde estão os aeroportos, por exemplo? A Infraero é outra que deveria nos pagar uma "contribuição de malfeitoria". No meio disso, a presidente Dilma Rousseff anuncia que pretende conceder aeroportos a empresas privadas. É por necessidade, não por ideologia: se deixar por conta dos companheiros, vamos ficar todos amontoados nos estádios e nos aeroportos da Copa.

*JORNALISTA - E-MAIL: SARDENBERG@CBN.COM.BR - SITE: WWW.SARDENBERG.COM.BR



COLUNAS
A produção brasileira marcha para o exterior

José Roberto Mendonça de Barros

Encerrei há um mês minha coluna dizendo que é possível que em alguns semestres a inflação brasileira caminhe para o centro da meta (4.5%). Entretanto, isto só acontecerá se for precedida por uma política monetária e fiscal mais robusta, e ainda assim o tempo para convergência será mais longo do que o admitido pelas autoridades.
Entretanto, imaginemos que a convergência ocorra em algum momento. Aí então a economia poderá crescer mais de 6% ao ano, sem desequilíbrios, certo?
Errado, a meu ver. O Brasil não consegue crescer mais que 4-4.5% sem gerar desequilíbrios como a alta da inflação, como já ocorreu em 2004, em 2008 e tal como agora. Além do baixo nível de poupança, decorrente mais do que tudo do excessivo gasto corrente do governo, o sistema de produção, e especialmente a indústria, está perdendo firme e rapidamente sua capacidade competitiva, por crescentes pressões de custo que só parecem piorar com o tempo. O Brasil se transformou num país caro e difícil para se produzir, especialmente quando medido em dólar. A pesquisa Doing Business do Banco Mundial mostra as crescentes dificuldades de se produzir no Brasil.
Já mencionei neste espaço mais de uma vez as principais razões da perda sistêmica de competitividade, exposta pelo real valorizado. Os custos sobem em virtude de:
1- uma contínua elevação da carga tributária, fortemente baseada em impostos indiretos. A maior parte dos setores paga algo da ordem de 40% do valor adicionado, chegando mesmo a 40% do preço final do bem. O sistema não é de valor adicionado e os créditos de impostos não são recuperados; a guerra fiscal entre estados gera distorções e custos malucos; mesmo impostos regulatórios, como os de comércio exterior e o IOF, acabam por ser geradores de receita; os custos parafiscais são enormes.
2- gastamos em logística mais que nossos principais competidores (pelo menos 50%), para serviços medíocres.
3- os custos de energia não param de subir. Morro de rir quando autoridades falam de modicidade tarifária. Nossa indústria tem uma das energias mais caras do mundo e vai subir ainda mais, tanto pela elevação dos adicionais à tarifa (CCC, RGR), quanto pela crescente importância da energia térmica, muito mais cara.
4- a oferta de mão de obra secou, os custos estão explodindo e vão subir ainda mais, pois a demanda anda muito adiante da formação de pessoal. Calculamos na MB que o salário real inicial (Caged), acumulado nos últimos 12 meses até janeiro de 2011, subiu quase 11% no comércio, 6,6% na indústria e 6% na construção civil.
5- a regulação no Brasil é, em geral, excessivamente detalhista, causa muitas vezes custos desnecessários para as empresas e se altera com frequência, inclusive modificando contratos em vigor. Também estamos longe de conciliar a construção de novos projetos e a defesa do meio ambiente. Isto vale para as três esferas de governo.
6- o setor público vem perdendo eficiência, por seu gigantismo, pelo aparelhamento e excesso de patriotismo da direção das organizações. Cito três problemas visíveis a olho nu: Correios, Infraero e Eletrobrás. Esta última empresa ambiciona ser a Petrobrás do setor elétrico, o que seria risível se não fosse trágico, dada sua baixa geração de caixa e a má qualidade dos investimentos.
7- finalmente, o real está claramente valorizado.
A elevação dos custos, decorrentes dos fatores acima mencionados, poderia ser superada com um conjunto de reformas de alguma envergadura. Nada mais distante da realidade, antes de tudo porque o gigantismo do estado, a ampliação do contingente de funcionários, a criação de novas empresas, a má qualidade da gestão e outras coisas mais não são casuais. Ao contrário, resultam da visão de mundo e da forma de operar da coalizão que detém o poder. Gasto é poder e isto exige dinheiro, o que nos leva aos crescentes impostos.
Como resultado deste processo, a produção de bens no Brasil (agricultura e indústria) rachou em dois pedaços, e ambos procuram o exterior. De um lado temos as cadeias de recursos naturais (agronegócio, minérios e metais, petróleo), setores tornados competitivos pela sistemática aplicação de tecnologia na produção e pela forte demanda internacional, atual e futura, por alimentos e energia. Estes setores crescem muito baseado nas exportações, onde as altas cotações compensam os custos brasileiros. Entretanto, mesmo aqui se notam dificuldades: por exemplo, não existe nenhum projeto novo de alumínio viável no Brasil, dado o elevado custo da energia elétrica. O país vai produzir e exportar bauxita e alumina, e nada mais. O mesmo acontece com outros metais.
O remanescente da indústria, como se sabe, vem perdendo a competição internacional e é cada vez mais espremida no mercado local pelas importações mais baratas. A saída clássica para situações como esta passa por inovações, maior produtividade e menores custos. Ora, os estudos mostram que, com poucas exceções, nossa indústria não é particularmente inovadora e sua produtividade total não vem crescendo muito. Logo, só existe uma solução para se manter competitivo: elevar as importações, e não brigar contra elas. Partes, peças, conjuntos, matérias primas e até produtos finais passaram a vir do exterior. Minha percepção, corroborada por executivos da área de crédito e por industriais, é que este processo ganhou enorme vigor no ano passado e está apenas no começo. É por isto que a produção industrial não cresce; o que cresce mesmo são as importações.
Existe mesmo uma versão radical do descrito acima: conheço vários casos onde se estuda e investe em novos destinos (Uruguai, Paraguai, Peru, Colômbia, Caribe, México e outros), uma vez que países como Argentina e China se mostram muito difíceis de operar. Nestes novos locais atraem os impostos, a energia e o custo da mão de obra mais baixos. A produção visa atender o mercado mundial, inclusive o Brasil.
Em resumo, a produção de bens caminha para o exterior: nos setores competitivos o coeficiente de exportações vai seguir crescendo (o que é bom); nos setores menos competitivos o coeficiente de importações vai seguir crescendo (o que não necessariamente é bom).
Existe também outro movimento: muitos empresários estão migrando da indústria para a área de serviços. Esta não tem, em geral, concorrentes importados baratos (o turismo é uma das exceções) e é menos regulado. O próprio IPCA mostra esta dinâmica: bens de consumo duráveis têm quedas absolutas de preços enquanto os serviços caminham para crescer mais de 9% neste ano.
Finalmente, não se muda isto em pouco tempo. Reformas pontuais pouco alteram o conjunto, menos ainda a escolha de campeões nacionais. Como mostra o caso do recente crescimento alemão, a recuperação da competitividade resulta de um esforço nacional.
Para a indústria o ambiente vai piorar antes de melhorar; para as commodities e serviços as oportunidades compensam as ineficiências. O resultado é um crescimento de 4,0%.



AVIAÇÃO
Turbinas do voo 447 da Air France são achadas
França anuncia descoberta feita pela expedição que vasculha o Atlântico em busca dos destroços do avião que fazia a rota Rio-Paris e caiu em 2009

Andrei Netto - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / PARIS

O Escritório de Investigações e Análise (BEA) da França, órgão que investiga as causas da queda, em 2009, do Airbus da Air France que fazia o voo 447 entre Rio e Paris, anunciou ontem ter localizado no Oceano Atlântico, a 3,8 mil metros de profundidade, destroços da aeronave. Imagens submarinas das turbinas e de outras peças confirmam que se trata do avião acidentado, no qual morreram as 228 pessoas a bordo.
Entre as peças localizadas estão as turbinas. Não foram encontradas as duas caixas-pretas, que registram os parâmetros de voo, e o Cockpit Voice Recorder (CVR), que grava as conversas e os sons na cabine do piloto.
Apesar do otimismo com a descoberta, Martine Delbono, porta-voz do BEA, pediu ontem paciência com os trabalhos de pesquisa. "Estamos muito prudentes. Nós descobrimos o local do acidente e isso é muito importante", afirmou, admitindo que a descoberta traz novas perspectivas à investigação. "Em 10 dias vamos concluir a fase 4, que consistia em localizar os destroços. É algo que vai permitir trabalhar sobre as causas do acidente."
A descoberta dos destroços ocorreu no oitavo dia de buscas - de um total de mais de 100 - da quarta expedição coordenada pelo BEA no Atlântico. Ela é liderada por uma equipe de especialistas americanos que em 2010 realizou uma expedição aos destroços do Titanic. Esta etapa de buscas - a maior já realizada, com custo de ? 9,2 milhões e financiada pela Airbus e pela Air France - varrerá 10 mil km², em torno da última posição do Airbus.
"É uma excelente novidade que recompensa a nossa tenacidade para descobrir a verdade sobre a queda", afirmou o vice-presidente de uma associação de vítimas, Robert Soulas.

PARA LEMBRAR
Em março, a Justiça da França anunciou que vai abrir investigação oficial contra a Airbus por homicídio culposo (sem intenção) dos 228 passageiros e tripulantes do voo 447 da Air France. A abertura oficial de investigação significa que os juízes de instrução do caso consideram que há elementos indicando possível responsabilidade em um crime. No caso do voo AF-447, desaparecido no Atlântico quando realizava a rota Rio-Paris, em 31 de maio de 2009, a Airbus é suspeita de ter negligenciado o risco de falhas nos sensores de velocidade das aeronaves, os chamados tubos Pitot.


Depois de dois anos de operação, Azul enfrenta seu inferno astral

O último mês definitivamente não foi dos melhores para a Azul. Primeiro, a empresa viu sua principal concorrente, a regional Trip, anunciar a prévia de um acordo de sociedade com a TAM, maior aérea do País. Depois, a empresa de David Neeleman, que sempre se orgulhou por estar entre as mais pontuais, cancelou 7,7% de seus voos. Foi o maior índice do setor. Para se ter uma ideia, no mesmo período de 2010, o percentual havia sido de 1,8%. E não se trata de um dado isolado: em fevereiro, 4,5% dos voos foram cancelados, contra 3,4% um ano antes. Procurada, a Azul informou que "os cancelamentos foram resultantes de ajustes na malha e incorporação dos aviões ATR".


Rachaduras são encontradas em mais 3 aviões de companhia americana
Na sexta-feira, rachaduras semelhantes abriram buraco em Boeing da Southwest Airlines em pleno voo.
04 de abril de 2011 | 6h 03

Buraco apareceu na fuselagem pouco após decolagem de Phoenix
Pequenas rachaduras sob a superfície foram encontradas em três aeronaves da companhia Southwest Airlines, segundo afirmaram autoridades americanas.
As rachaduras são semelhantes às que teriam provocado uma ruptura da fuselagem de um outro avião da empresa, em pleno voo, na sexta-feira.
Segundo o Comitê Nacional de Segurança no Transporte (NTSB, na sigla em inglês), as rachaduras foram encontradas em juntas dos Boeing 737-300. Outros 19 aviões da companhia, do mesmo modelo, não apresentaram problemas e voltarão a voar.
Na sexta-feira, um avião que havia decolado do aeroporto de Phoenix, no Arizona, com 118 pessoas a bordo, foi obrigado a retornar após o aparecimento de um furo de 1,5 metro de comprimento.
O buraco provocou uma queda brusca na pressão da cabine, forçando os pilotos a baixar rapidamente de uma altitude de 10.500 metros para fazer um pouso de emergência em uma base militar.
Uma comissária de bordo ficou levemente ferida no incidente.


Análise
No domingo, um pedaço da fuselagem do 737-700 que rompeu foi removida e enviada à sede do NTSB, em Washington, para uma análise mais profunda.
Os investigadores do órgão também realizaram inspeções em outras partes do avião e verificaram indicações de outras rachaduras.
Posteriormente, a agência federal disse ter sido informada pela Southwest Airlines de que indícios de rachaduras foram verificados em outros três aviões analisados.
A companhia cancelou 600 voos durante o fim de semana para permitir que engenheiros realizassem testes especiais desenvolvidos pela Boeing em 79 de seus aviões.
Os testes em 57 das aeronaves ainda estão em andamento e devem ser concluídos somente na noite de terça-feira.
O avião no qual o buraco apareceu na sexta-feira estava em operação havia 15 anos. Há 931 aviões do mesmo modelo em operação no mundo, 288 deles nos Estados Unidos.
"O que vimos no voo 812 foi uma questão nova e desconhecida", afirmou em um comunicado Mike Van de Ven, vice-presidente executivo da Southwest.
"Até o evento relacionado ao voo 812, estávamos seguindo os requerimentos de inspeção estrutural para aquela aeronave exigida pela FAA (agência federal de aviação americana) e recomendada pela Boeing", afirmou.
A Southwest havia alterado seu programa de manutenção das aeronaves após uma fadiga de metal ter provocado um acidente parecido com um de seus aviões em 2009.
Antes disso, a companhia havia sido acusada de não realizar as inspeções periódicas.
Em 1988, rachaduras levaram à abertura de um buraco em um avião da Aloha Airlines no Havaí, provocando a morte de uma comissária de bordo. BBC Brasil



Voo da Delta para os EUA retorna ao Rio após pane
04 de abril de 2011 | 6h 53

BRUNO LUPION - Agência Estado

Um voo da Delta Airlines que partiu do Rio de Janeiro com destino a Atlanta, nos Estados Unidos, foi obrigado a retornar ao Aeroporto Tom Jobim, na Ilha do Governador, nesta madrugada, por causa de uma pane no radar meteorológico da aeronave.
Segundo informações da Infraero, o avião decolou do Aeroporto Tom Jobim às 21h36 de ontem e pousou no mesmo local à 0h36 de hoje, após dar meia-volta quando sobrevoava Brasília, no Distrito Federal. Passageiros relataram à Infraero que a aeronave teve que despejar combustível no mar antes de retornar ao Rio.
Os passageiros foram acomodados em hotéis pela Delta Airlines e um novo voo para Atlanta deve decolar hoje ao meio-dia. A reportagem não conseguiu entrar em contato com a Delta Airlines.



INTERNACIONAL
NEGOCIAÇÕES DIPLOMÁTICAS
Conselheiro de Kadafi deixa governo e é mais um a abandonar regime líbio
Trípoli envia emissário à Grécia para discutir conflitos contra rebeldes e ''New York Times'' afirma que dois filhos do ditador estariam negociando secretamente uma saída na qual eles liderariam a transição para a democracia no país

Andrei Netto - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / PARIS

O regime líbio sofreu ontem mais uma perda no campo diplomático. Ali Abdessalam Treki, ex-chanceler e ex-embaixador da Líbia na ONU, abandonou ontem o cargo de conselheiro de Kadafi. Apesar de abandonar o regime, Treki não anunciou se apoiará os rebeldes.
O chanceler Moussa Koussa, já havia renunciado ao cargo e deixado Trípoli na semana passada. Depois de passar pela Tunísia, ele foi para Londres, de onde passou a colaborar com os ministérios da Defesa dos países da coalizão anti-Kadafi.
Ontem, Kadafi enviou um emissário à Grécia. Segundo um funcionário do governo grego, o vice-chanceler líbio, Abdelati Obeidi, desembarcou em Atenas para transmitir uma mensagem para o premiê grego, George Papandreou. "Parece que as autoridades líbias estão buscando uma solução", afirmou o chanceler da Grécia, Dimitris Droutsas.
O teor da mensagem, porém, não foi revelado. Atenas também não confirmou se Obeidi seria mais um a abandonar Kadafi. O que se sabe é que ele acompanhou Koussa na viagem a Túnis. O chanceler desertou, mas ele preferiu voltar a Trípoli.


Em meio a especulações, o New York Times informou ontem que Seif al-Islam e Saadi, filhos de Kadafi, estariam negociando uma saída para a crise na qual eles liderassem a transição do regime do pai para uma democracia. A notícia teria como fonte um O jornal cita como fonte um "diplomata líbio".
A proposta, no entanto, não teria aceitação nem dos rebeldes nem do próprio Kadafi e mostraria que a família do ditador está dividida: Seif e Saadi teriam visão econômica e política pró-Ocidente, enquanto e Khamis e Mutassim seriam mais radicais e apoiariam o regime do pai.
No campo de batalha, os combates chegaram ontem a um impasse nas instalações petrolíferas de Brega. Os insurgentes chegaram a tomar o controle da região, mas outra vez tiveram de recuar em razão do fogo cerrado dos militares fiéis a Kadafi.
As forças do ditador, porém, não conseguiram avançar em razão de novos ataques da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Desde que assumiu as operações, na quinta-feira, a aliança atlântica realizou 547 voos e 218 ataques. Uma das operações resultou na morte acidental de pelo menos 13 rebeldes na noite de sábado.
O Pentágono informou que os EUA aceitaram o pedido da Otan para que mantivessem os ataques aéreos na Líbia até hoje em razão do "recente mau tempo" na região. O Exército americano planejava iniciar a retirada de seus aviões de combate e mísseis Tomahawk da campanha aérea contra o regime de Kadafi no fim de semana. Congressistas americanos disseram ontem que querem mais informações sobre os rebeldes líbios antes de autorizarem a venda de armas para o grupo.

PARA ENTENDER
Líderes rebeldes não se entendem
Segundo o jornal New York Times, um dos maiores problemas dos rebeldes é a falta de unidade de liderança. Abdul Fattah Younes, ex-ministro do Interior e líder nominal dos rebeldes, Khalifa Heftar, ex-general do Exército que recentemente voltou do exílio nos EUA, e Omar el-Hariri, ex-preso político que ocupa o posto honorário de ministro da Defesa rebelde, não suportam um ao outro. "Eles se comportam como crianças", afirmou Fathi Baja,professor de ciências políticas que comanda um dos comitês de ação política do movimento dissidente.



COSTA DO MARFIM
Rebeldes negam genocídio marfinense
ONU pede investigação sobre massacre em Duekoue, onde forças do presidente eleito, Alassane Ouattara, teriam matado 800 pessoas

Andrei Netto - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / PARIS

A ONU e líderes políticos de todo o mundo pediram ontem explicações ao presidente eleito da Costa do Marfim, Alassane Ouattara, sobre o genocídio de cerca de 800 pessoas cometido em 29 de março na cidade de Duekoue, no oeste do país. O massacre teria sido obra de partidários do líder da oposição, cujas milícias tentam derrubar o presidente de facto, Laurent Gbagbo. Ouattara nega participação na chacina.
O massacre foi revelado no sábado pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) e confirmado pela ONG católica Caritas. Entre quinta e sexta-feira, voluntários do CICV se dirigiram a Duekoue para levar à população alimentos e assistência médica, após os combates que haviam acontecido na cidade.
Ao chegar, médicos e enfermeiros descobriram a extensão do genocídio. "O crime é particularmente chocante por sua amplitude e brutalidade", afirmou à rádio francesa Europe 1 Kelnor Panglungtshang, porta-voz da Cruz Vermelha.
Até a noite de ontem, a entidade afirmava não ser possível determinar com precisão quem seriam os responsáveis pelo crime. No entanto, as suspeitas recaem sobre o grupo de Ouattara, cujos militantes assumiram o controle de Duekoue após violentos combates com os militares e milicianos fiéis a Gbagbo. A ONU chegou a acusá-lo publicamente. "O secretário-geral (Ban Ki-moon) expressou particular preocupação e alarme sobre os relatos de que forças pró-Ouattara teriam matado muitos civis na cidade de Duekoue", disse o porta-voz das Nações Unidas, Martin Nesirky.
Segundo a ONG Federação Internacional das Ligas de Direitos Humanos (FIDH, na sigla em francês), com sede em Paris, o genocídio prossegue em outras cidades marfinenses. "Temos informações de que as execuções continuam", afirmou Florent Geel, chefe do escritório África da FIDH.
A porta-voz de Ouattara, Anne Ouloto, negou o envolvimento das forças leais ao presidente eleito na morte de civis. Duekoue Sidiki Konate, porta-voz de Guillaume Soro, primeiro-ministro de Ouattara, disse que foram registrados 152 mortes na região - e não 800, como afirma a Cruz Vermelha. "É difícil estabelecer os que morreram durante os confrontos e os que morreram depois dos enfrentamentos. É muito cedo para estabelecer a responsabilidades", disse
Ontem, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu ao presidente eleito - reconhecido pela comunidade internacional como chefe de Estado legítimo -, que apure o genocídio e exigiu que suas forças não recorram à violência excessiva.
Em Washington, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, também condenou o massacre e exigiu que as forças do presidente eleito "respeitem as leis da guerra e cessem os ataques contra civis". Além disso, ela pediu que as forças de Ouattara se "mostrem à altura dos ideais do presidente eleito".
Diretamente envolvida nos combates em Abidjã, que entraram no terceiro dia ontem, a França anunciou o envio de mais 300 soldados, totalizando 1,4 mil no segundo front do país na África - o primeiro é a Líbia. Ontem, o Exército francês tomou o controle do aeroporto de Abidjã, com o objetivo de reabri-lo para uso civil e militar. Cerca de 1,6 mil estrangeiros aguardam para deixar o país. Em resposta à intervenção de Paris, a TV estatal marfinense afirmou que o governo francês prepara um massacre da população do país. "O genocídio ruandês será feito na Costa do Marfim pelos homens de Sarkozy", dizia a mensagem.

PARA LEMBRAR
Ouattara venceu Gbagbo nas urnas
No dia 28 de novembro, o segundo turno das eleições presidenciais da Costa do Marfim foi vencido por Alassane Ouattara. No poder desde 2000, porém, o presidente Laurent Gbagbo rejeitou o resultado e se recusou a deixar o cargo. Desde então, os adversários começaram a luta pela presidência. O mandato de Gbagbo já havia acabado em 2005, mas as eleições foram adiadas com a desculpa de que a instabilidade não permitia a votação. Semana passada, Ouattara lançou uma ofensiva que tomou a capital do país, Yamoussoukro, e o principal porto exportador de cacau - insumo que sustenta a economia local. Estima-se que mais de 80% da Costa do Marfim já esteja nas mãos de Ouattara. A batalha por Abidjã, principal cidade do país, é decisiva para o desfecho da crise. Cerca de 2,5 mil homens de Gbagbo defendem o palácio e a residência do presidente de facto. Enfrentando ainda deserções e pressões internacionais, Gbagbo está isolado. A notícia de que forças de Ouattara seriam responsáveis pelo massacre de Duekoue, portanto, é uma péssima notícia para a legitimidade do futuro governo marfinense.


JAPÃO
Fuga de radiação pode durar meses, diz Japão
Tentativas de conter vazamento falharam; operadora da central nuclear admite ter encontrado corpos de 2 funcionários nas instalações da usina

Cláudia Trevisan - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / PEQUIM

Água com altos índices de radiação continuou a ser despejada no oceano ontem, depois que tentativas de tapar uma fenda próxima do reator número 2 da usina Fukushima falharam pelo segundo dia. Diante das dificuldades, o governo japonês reconheceu que poderá demorar meses até que a situação na usina nuclear seja controlada.
No sábado, técnicos da Tokyo Electric Power Company (Tepco) tentaram preencher com cimento o buraco de 20 centímetros em uma parede de concreto localizada a poucos metros do reator, mas o material foi levado pela água antes de secar.
Ontem, os engenheiros usaram uma mistura com um polímero especial, que se expande no contato com a água, mas a fórmula também não funcionou. O nível de radiação na água é de 1.000 milisieverts por hora, alto mas não fatal. Nas regiões próximas da usina, os vazamentos de radiação já contaminaram o solo, o ar, reservatórios subterrâneos de água, vegetais e leite.
A Tepco anunciou ontem ter encontrado na central nuclear os corpos de dois funcionários que estavam desaparecidos desde o tsunami. Eles tinham 21 e 24 anos e foram localizados na semana passada, mas, segundo a empresa, o anúncio foi adiado em consideração às famílias.
Estudo da Universidade de Tóquio concluiu que em algumas áreas as ondas alcançaram quase 38 metros, altura equivalente a um prédio de 12 andares - marca bem próxima do recorde de 38,2 metros registrado no tsunami de 1896.
Até ontem, a catástrofe contabilizava 11,8 mil mortos e 15,54 mil desaparecidos. O terremoto e o tsunami desencadearam a mais grave crise nuclear do planeta desde o acidente de Chernobyl, em 1986.
O desastre interrompeu o fornecimento de energia e provocou o colapso do sistema de resfriamento dos reatores da usina, que depende do bombeamento de água. Os engenheiros tentam há mais de três semanas, sem sucesso, restaurar a eletricidade.

ARGENTINA
Cristina exige negociar soberania das Malvinas
Presidente da Argentina classifica a ocupação das ilhas como ''colonialismo que envergonha a humanidade no século 21''

Ariel Palacios - O Estado de S.Paulo
CORRESPONDENTE / BUENOS AIRES

"Não deixaremos de lado nossa reivindicação das ilhas Malvinas." Com essa frase, a presidente Cristina Kirchner deixou claro no fim de semana que seu governo pretende intensificar a ofensiva diplomática para recuperar o arquipélago controlado há 178 anos pela Grã-Bretanha.
Cristina exigiu que Londres cumpra "o mandato da ONU" que determina que o país "sente à mesa de negociações com a Argentina". As discussões sobre a soberania do arquipélago foram suspensas pelos britânicos desde a guerra, em 1982.
As declarações da presidente foram feitas na cidade de Río Gallegos, na Patagônia, durante uma das várias cerimônias feitas no fim de semana para comemorar a invasão das ilhas Malvinas, ordenada no dia 2 de abril de 1982 pelo então ditador e general Leopoldo Galtieri.
Cristina afirmou que "as Malvinas sempre serão argentinas" e classificou a presença britânica nas ilhas - onde residem 3 mil pessoas que vivem da criação de ovelhas e pesca - não passa de "um colonialismo que ainda envergonha a humanidade no século 21". No entanto, durante a inauguração de um monumento em homenagem aos soldados argentinos mortos no conflito, ela ressaltou que a reivindicação será feita de forma "pacífica", descartando novas ações militares.
Cristina, cujo governo está em plena campanha para as eleições presidenciais de outubro, anunciou que pedirá às províncias que pelo menos uma sala em cada escola argentina ostente o nome de um soldado morto na guerra.
"A recuperação dos direitos argentinos será assegurada com a ajuda da América do Sul, com os países irmãos que nos apoiam na luta contra o colonialismo", disse. No ano passado o governo conseguiu o respaldo da União das Nações Sul-americanas (Unasul) para a antiga reivindicação das ilhas. Além disso, em todas as cúpulas do Mercosul, o bloco repete seu respaldo à Argentina no caso das Malvinas.
A reivindicação sempre foi a tônica da política externa argentina nas últimas três décadas. No entanto, foi intensificada no ano passado, quando empresas britânicas iniciaram novas explorações na área marítima das ilhas em busca de petróleo.

Represálias. Desde então, Buenos Aires tem impedido a escala de navios que transportem cargas que possam ser usadas para a exploração petrolífera nas Malvinas. O governo alertou também empresas estrangeiras instaladas no país que se abstenham de participar de atividades no local.
No entanto, os habitantes das Malvinas, chamados de "kelpers", consideram que possuem total direito de explorar o arquipélago como quiserem. Eles ironizam a presidente Cristina, chamando-a de "a velha cara de plástico", em alusão às cirurgias plásticas supostamente realizadas pela presidente argentina.



Protestos impedem circulação de jornal de Córdoba

Um dos principais jornais do interior da Argentina, o "La Voz del Interior", de Córdoba, foi impedido parcialmente de circular ontem pelo sindicato dos jornaleiros, aliado do governo da presidente Cristina Kirchner. Os sindicalistas protesta contra problemas de distribuição da empresa que edita o jornal. A Associação de Entidades Jornalísticas da Argentina (Adepa) classificou o bloqueio de "gravíssimo". Um dos donos do "La Voz del Interior" é o Grupo Clarín, que está na mira do governo desde 2008. Em diversas ocasiões, Cristina afirmou que o jornal "Clarín" está por trás de um "golpe de Estado cívico-midiático". Desde então, vários grupos de mídia de oposição são alvo de pressões e de investigações oficiais.
 FONTE: JORNAL ESTADO DE SÃO PAULO


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