NOTAS & INFORMAÇÕES
Mais atenção aos minerais raros
Conhecida pela sua agressividade nas exportações, a China surpreendeu ao anunciar, em 2010, uma redução obrigatória de 40% nas suas vendas externas dos chamados metais de terras raras. A intenção de Pequim é atrair investidores para industrializar internamente minerais cuja oferta é escassa no mundo e que são essenciais para fabricar circuitos elétricos e eletrônicos, usados em smartphones, fibras óticas, supercondutores, baterias e para a produção de vidros, lentes especiais, ímãs, etc. Além disso, a China e outros países asiáticos vêm procurando comprar o máximo que conseguirem das jazidas existentes desses minérios, especialmente na África e nas Américas. Em março deste ano, o grupo nipo-coreano formado pela Nippon Steel, JFE e Posco adquiriu por cerca de US$ 1,8 bilhão uma participação de 15% na Cia. Brasileira de Metalurgia e Mineração, que explora nióbio em Araxá (MG). Enquanto isso, o Brasil praticamente ignora suas reservas de minerais estratégicos, tendo mapeado menos de 30% do subsolo nacional, como informa a reportagem do Estado (24/3). Mas, essa situação pode mudar por ação de empreendedores privados.
Segundo levantamento feito pela União Europeia (UE), há carência no mercado mundial de 14 matérias-primas consideradas "críticas", entre as quais estão o nióbio - de grande importância para a siderurgia e para o setor aeroespacial -, o tântalo, e terras raras. A China é o maior produtor de grande parte desses minerais, mas também figuram na lista de detentores de reservas estratégicas o Brasil, a Rússia, a República do Congo e, em menor grau, a Índia, o México, e Ruanda. O País se destaca pelas reservas de nióbio, com mais de 90% do total conhecido no mundo, e do tântalo, com 50% da oferta mundial, embora só exista uma mina em operação em Presidente Figueiredo (AM).
Quanto às terras raras, as reservas brasileiras equivalem a 1% das existentes, segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, mas podem ser muito maiores. O empresário Eike Batista, presidente do Grupo EBX, declarou, em conferência feita em Belo Horizonte no ano passado, que o País tem um potencial extraordinário de terras raras, os metais do futuro. "Pelo que sei, nós temos uma reserva maior que a da China", disse ele, mas sem entrar em detalhes.
O Brasil chegou a ser o maior fornecedor mundial de areias monazíticas, mas praticamente abandonou o mercado com a entrada da China como exportadora. Os chineses, primeiro, praticaram dumping, fazendo o preço internacional cair a ponto de inviabilizar a venda por outros países. Em seguida, limitaram as exportações, o que fez o preço subir 1.000%. Segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o preço da tonelada, que era de US$ 5 mil, passou para US$ 50 mil. Em 2010, foram extraídas no País 134 mil toneladas de terras raras, movimentando um mercado de US$ 2 bilhões.
Como notam os especialistas, o Brasil deveria imitar a China, no tocante à sua riqueza mineral. Não, evidentemente, praticando dumping, mas utilizando as suas reservas para atrair investimentos, com vistas ao desenvolvimento industrial, agregando tecnologia e valor à matéria-prima. Mais que uma política, isso exigiria uma mudança de atitude, principalmente combatendo a propensão brasileira a não dar continuidade a projetos iniciados.
O urânio é um caso exemplar. O minério, do qual o País tem abundantes reservas, não está na lista de minerais raros, mas, é estratégico. O Brasil o tem explorado, primeiro em Caldas (MG) e agora em Caetité (BA). Mas, como noticiou o Correio Braziliense (22/3), o País precisou gastar US$ 25 milhões no ano passado com a importação de urânio para abastecimento das usinas de Angra 1 e 2. Isto porque a Indústrias Nucleares do Brasil (INB), subordinada ao Ministério de Ciência e Tecnologia, não conseguiu construir um novo reservatório, ou "pond", para armazenamento do chamado "licor de urânio", já que a capacidade dos tanques existentes está esgotada.
ESPAÇO ABERTO
Quem conhece aposta em Dilma
Miguel Jorge - O Estado de S.Paulo
Ela, afirmativa, direta, incisiva. Ele, evasivo, repetitivo - acima de tudo, e como se estivesse permanentemente em campanha eleitoral, um bom marqueteiro de si mesmo. Não é preciso ser um grande observador para apontar que essa foi, claramente, a principal diferença entre os discursos dos presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama, há duas semanas, em Brasília.
Enquanto o norte-americano insistiu em abordar, de forma vaga, questões cruciais para o comércio bilateral entre os dois países, Dilma criticou abertamente as velhas práticas protecionistas dos Estados Unidos e defendeu relações comerciais mais justas e equilibradas. O dela, um discurso coerente com a posição do Brasil no contexto de uma nova realidade geopolítica global. O dele, uma prova de que Obama é um orador dos bons - descontraído, à vontade. Mas, e daí?
A presidente brasileira mencionou as barreiras ao etanol, aço, suco de laranja, algodão e carne bovina, enviando, nas entrelinhas, um recado objetivo: esta é uma via de mão dupla e envolve atores econômicos importantes no cenário mundial. Se um deles quer algo (e Obama quer vender para gerar empregos nos Estados Unidos), oferece algo em troca.
Ainda sobre os discursos de Dilma e Obama: enquanto a presidente brasileira defendeu uma reforma fundamental na governança global, com ampliação do Conselho de Segurança da ONU, o norte-americano foi reticente. Em nenhum momento ele acenou positivamente para a aspiração brasileira de ter um assento permanente no Conselho de Segurança - em vez do "sim" com que a Índia foi brindada em novembro do ano passado, a pretensão do Brasil mereceu o "apreço" do líder norte-americano.
De qualquer forma, quem conhece a presidente Dilma, quem já trabalhou com ela, não se surpreendeu com a sua boa estreia nas altas rodas da diplomacia internacional. Pode-se argumentar que lhe falta carisma, mas não se pode negar que lhe sobram coerência e firmeza na defesa dos interesses nacionais. Desenvolvimentista, a presidente age com a certeza de que o Brasil tem enorme potencial para crescer de forma cada vez mais consistente, a taxas superiores às das economias desenvolvidas.
A postura discreta, a preocupação com as questões internas e administrativas, o estabelecimento de prioridades e o controle de resultados são as principais marcas deste início de governo Dilma - e marcaram, também, a sua gestão à frente da Casa Civil, no governo do presidente Lula.
À época - e aparentemente agora também -, Dilma preferia o gabinete à exposição pública. Detalhista e rigorosa, chegou a ser acusada de intolerante - se é que se pode classificar de intolerante uma profissional que não abre mão de conduzir os processos pelos quais é responsável, que determina metas, que cobra providências e resultados.
Sóbria e coerente com seu estilo pessoal, a presidente já mostrou, também, que entende de avanços e recuos. Na disputa pelos Ministérios, não hesitou em endurecer com o PMDB, mas, depois, autorizou o partido a negociar cargos no segundo escalão com os ministros - a estes, aliás, fez questão de lembrar, na primeira reunião conjunta da equipe, que "eficiência e ética são faces da mesma moeda".
Há poucos dias, em sua primeira grande entrevista a um jornal diário, Dilma encarou uma sabatina e tanto. Falou sobre inflação, economia mundial, tragédia no Japão, alterações no programa Bolsa-Família, especulações sobre mudanças na equipe ministerial. Garantiu que o combate à inflação não será feito com o sacrifício do crescimento e assegurou: o Brasil vai crescer, com certeza, entre 4,5% e 5% este ano.
Na mesma entrevista, a presidente anunciou sua disposição de enfrentar o problema dos aeroportos, um dos principais gargalos de infraestrutura no País. Prometeu "uma forte intervenção" - e cumpriu o prometido. Na sexta-feira 18 de março, o Diário Oficial da União publicou a criação da Secretaria Nacional de Aviação Civil, com status de Ministério, alterando a legislação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
Dilma admite articular a expansão dos aeroportos brasileiros com recursos públicos e por meio da adoção de um regime de concessões ao setor privado - medida defendida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com participação da então ministra da Casa Civil, ainda no governo Lula. Como agora, empresários interessados em investir no setor aeroportuário defendiam o regime de concessões, próprio de nações desenvolvidas.
Mais uma vez: nada que surpreenda quem conhece a presidente e já trabalhou a seu lado. Não por acaso, pesquisa Datafolha, divulgada no domingo 20 de março, garante 47% de aprovação à gestão Dilma, taxa de popularidade que se iguala ao recorde registrado pelo presidente Lula nessa mesma época, em seu segundo mandato.
Segundo o Datafolha, Dilma supera em popularidade todos os antecessores de Lula, com aprovação maior entre as mulheres (51%) do que entre os homens (43%). Para os brasileiros, saúde é o principal problema do País, mas a pesquisa mostra que a presidente tem outros desafios pela frente: segurança pública, combate à corrupção e transporte.
Para superá-los é fundamental a soma de competência técnica, responsabilidade política e uma ampla visão dos problemas nacionais. Isso Dilma tem de sobra e, a considerar a sua atuação no governo passado, os brasileiros estão em boas mãos.
*JORNALISTA, FOI MINISTRO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR DO GOVERNO LULA (2007-2010)
FÓRUM DOS LEITORES
INTERESSE NACIONAL
Apetite e ganância
O interesse nacional está em jogo em várias regiões e setores, há muito tempo. Com o pretexto de consolidar o setor agroenergético, sucroalcooleiros vendem usinas e entregam os imóveis a empresas do exterior, uma burla inadmissível da Lei 5.709/1971, permitindo a ocupação estrangeira de vasta área do território nacional. Recomendo à Embrapa Gestão Territorial o mapeamento de todas as usinas que estão burlando a lei e colocar esse mapa ao dispor da Unica e da AGU, para a urgente regulamentação e identificação. O mesmo deve ser feito nos setores de minérios, pré-sal e terras agricultáveis, desacelerando o apetite e a ganância incontroláveis de "parceiros comerciais", como a China.
JÜRGEN DETLEV VAGELER - vatra_ind@yahoo.com.br - Campinas
CUBA
Fim do regime
A crônica de Nelson Motta Delação premiada à cubana (1.º/4, A8) mostra de forma inequívoca que a ditadura cubana está realmente chegando ao fim, por absoluta exaustão. Seus slogans e exortações revolucionários há muito tempo já não comovem ninguém fora de Cuba, mas dentro dela continuavam a ter algum impacto, com respaldo por trás, é claro, da força bruta. Agora, nem mais lá a revolução inspira e motiva os cubanos, que parecem até tratar o regime com certa irrisão, segundo relata o cronista. Lembra o fim do regime militar no Brasil, quando ele não mais se defendia e foi cedendo terreno gradativamente ao avanço das forças opositoras, mas com algumas diferenças que devem ser ressaltadas por uma questão de amor à verdade histórica. Em primeiro lugar, no regime militar brasileiro havia alternância de dirigentes no poder, embora recrutados dentro da corporação militar, ao contrário de Cuba, onde o mesmo homem e ultimamente seu irmão empalmam o poder continuamente há mais de 50 anos; em segundo lugar, o regime militar brasileiro perdurou por 21 anos, no seu período final já com eleição para governadores dos Estados e outros cargos eletivos, em oposição ao mais de meio século da Revolução Cubana; e em terceiro lugar, do ponto de vista econômico, o regime militar brasileiro trouxe avanço significativo ao País, ao passo que a Cuba de Fidel Castro é um país em ruínas, um verdadeiro escombro econômico. A reconstrução da estrutura econômica da ilha destruída pela ditadura castrista vai demandar muito tempo e esforço.
PAULO A. DE SAMPAIO AMARAL - drpaulo@uol.com.br - São Paulo
CARNAVAL
Efetivamente, vivemos numa “democracia-carnavesca” – tudo fantasia, como é do agrado do povo brasileiro. Tudo é festa, tudo são lantejoulas e paetês, tudo é aplauso, tudo é mascarado, tudo é mentira – é o “faz de conta”, ninguém aparece de cara lavada, ninguém tem coragem de contrariar os “mercenários morais” que se vendem a qualquer preço, mas que não tiram suas máscaras de bom moço. Para que ninguém me desminta, a reação popular nas exéquias de José Alencar bem o demonstraram. Todos querendo aparecer, emocionados, teve até quem elogiasse Lula e sentisse orgulho de uma pessoa tão “emotiva”. Mas aí aparece Bolsonaro para estragar tudo e se atreve a agredir a lei contra racismo – é a fábula de La Fontaine – e é massacrado, enquanto em Alagoas a merenda escolar é desviada para comprar whisky e ninguém se revolta, aceita-se como um fato menor. Agora noticia-se que, num ato “democrático”, o gen. Augusto Heleno foi “proibido” de realizar sua palestra sobre o 31 de março por ordem do comandante Enzo Peri que, por sua vez, deve ter recebido ordem do min. Nelson Jobim que, por sua vez, deve ter recebido ordens de Dilma – ou teria sido de José Genoino, seu assessor especial para tais assuntos?
JOÃO ROBERTO GULLINO - jrgullino@oi.com.br - Petrópolis (RJ)
NACIONAL
Dilma quer ''Água para Todos'' no NE
Presidente diz a ministros que vai criar programa de construção de 800 mil cisternas para ancorar plano antimiséria e atender 5 milhões de famílias
Vera Rosa - O Estado de S.Paulo
O governo vai lançar o programa Água para Todos, voltado para o semiárido nordestino, como uma das âncoras do plano de erradicação da miséria. Apesar do corte de R$ 50 bilhões no Orçamento, a presidente Dilma Rousseff garantiu aos ministros da área social que o governo investirá na construção de 800 mil cisternas, além de adutoras e pequenos reservatórios para atender 5 milhões de famílias até 2014.
"Depois do Luz para Todos, vamos ter o Água para Todos", afirmou a presidente, numa referência ao programa de energia elétrica lançado em novembro de 2003, no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ideia também foi exposta por Dilma em conversa com dirigentes de seis centrais sindicais, no último dia 11, no Palácio do Planalto.
Com lançamento previsto para maio, o Água para Todos é inspirado no programa de mesmo nome, adotado pelo governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). "É uma coisa fantástica. Conseguimos levar água para mais de 2 milhões de pessoas", disse Wagner. "A presidente conversou comigo sobre o projeto e nossos técnicos estão trabalhando com o Ministério da Integração Nacional."
Atualmente, diversas organizações não governamentais (ONGs) já investem na construção de cisternas no Brasil, principalmente na Região Nordeste, mas Dilma quer ampliar o trabalho. O projeto Um Milhão de Cisternas, por exemplo, é uma iniciativa adotada pela Articulação do Semiárido (ASA), ONG que reúne 700 entidades da sociedade civil. "Não podemos depender apenas da iniciativa dessas entidades", insistiu Dilma, segundo relato de um ministro. "O governo precisa entrar nisso."
Dilma quer transformar o Água para Todos em marca de seu governo.
Plano. Depois do reajuste de até 45,5% nos benefícios pagos pelo Bolsa Família - a média de aumento ficou em 19,4% -, o foco das propostas em estudo na Esplanada é a qualidade de vida da população carente.
Na prática, o plano de erradicação da miséria será a sistematização de programas já existentes, lançados no governo Lula, com algumas "cerejas" no bolo. Uma delas é o sistema de abastecimento de água, que, por enquanto, não está integrado à polêmica transposição das águas do rio São Francisco.
O novo projeto tem a ambição de criar um círculo virtuoso, associado a ações de saneamento - até hoje a grande dor de cabeça do governo, apesar das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) - para atrair investimentos, melhorar a produção e gerar renda. Dados do Ministério da Integração Nacional indicam que 58% da pobreza no Brasil está espalhada pelo semiárido, grande parte na zona rural.
A região abrange os sertões da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e uma fatia do sudeste do Maranhão, além do norte de Minas Gerais e Espírito Santo. Trata-se de uma área de 868 mil quilômetros castigada pela seca.
Na segunda-feira, Dilma admitiu que os quatro anos de seu mandato podem não ser suficientes para erradicar a miséria no País. "Mas vou insistir tanto nisso que esse objetivo ficará selado nas nossas consciências", ressalvou ela, em Belo Horizonte.
Outro foco do plano para acabar com a pobreza está concentrado na preparação das chamadas "portas de saída" do Bolsa Família. Até agora, a concessão de microcrédito e programas de capacitação voltados para as classes D e E não foram considerados suficientes. Hoje, a maior preocupação da presidente reside no combate ao analfabetismo.
Nas conversas com auxiliares, Dilma sempre define o Luz para Todos - que tem o desafio de acabar com a exclusão elétrica do País - como "um dos maiores programas" do governo Lula. "Quando eu era ministra de Minas e Energia, fui com o presidente Lula à casa de uma senhora, em Tocantins. A mão dela tremia na hora de acender a luz. Foi uma cena comovente", lembra Dilma. Agora, ela quer repetir a dose com o Água para Todos.
Programa pioneiro foi criado há 4 anos na Bahia
No início deste ano, a presidente Dilma Rousseff chamou o governador da Bahia, Jaques Wagner, para saber detalhes sobre o programa Água para Todos, que já dura quatro anos. Nesse período, foram construídas 52.423 cisternas, 1.740 sistemas de abastecimento e perfuração com 2.467 poços e 1.520 ligações de esgoto, com investimentos de R$ 177,6 milhões.
Dilma decidiu apostar na ideia. Ao traçar as diretrizes do programa para erradicar a miséria, pôs o acesso à água como prioridade e pediu parcerias. "Estamos trabalhando sob a orientação da presidente Dilma no projeto", disse o ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho, que participou, terça-feira, da cerimônia de assinatura para a construção da Adutora do Algodão, na Bahia, ao lado de Wagner.
Por Dutra, Dilma quer PSB em novo ministério
Planalto oferece a Antonio Valadares o comando da pasta da Micro e Pequena Empresa para que o presidente do PT assuma vaga dele no Senado
João Domingos - O Estado de S.Paulo
Ao propor a criação da Secretaria da Micro e Pequena Empresa por intermédio de um projeto de lei enviado ontem ao Congresso, a presidente Dilma Rousseff tenta mais uma vez convencer o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) a aceitar o convite para assumir a pasta, quando ela for criada. Com isso, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, que é suplente de Valadares, assumiria a vaga no Senado.
De acordo com informação de petistas que têm estreito contato com o governo, Dilma sente-se na obrigação de abrir uma vaga para Dutra, pois dos seus três principais auxiliares da campanha - Dutra, Antonio Palocci (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça), que ficaram conhecidos como os "três porquinhos" -, só ele ficou de fora do governo. Além disso, está alheio ao processo de preenchimento do segundo escalão. Descontente, Dutra licenciou-se da presidência do PT, alegando problemas de saúde.
Desde que anunciou a intenção de criar a Secretaria da Micro e Pequena Empresa, vinculada à Presidência da República e com status de ministério, Dilma Rousseff foi aconselhada a convidar o senador Antonio Carlos Valadares para dirigi-la. Desse modo, Dutra poderia voltar ao Senado. Mas Valadares mostrou-se esquivo ao convite.
A esperança dos petistas reside na possibilidade de o Congresso envolver-se com força na criação da secretaria, com emendas que melhorem o projeto original e sejam capazes de despertar o interesse de Valadares.
Além do senador sergipano, outro nome cogitado para assumir a futura secretaria é o do secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alessandro Teixeira. Ex-presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Teixeira assessorou a campanha de Dilma.
Recorde. A Secretaria da Micro e Pequena Empresa é o 39.º ministério do governo Dilma, um recorde. Ela herdou 37 do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No mês passado criou a Secretaria de Aviação Civil por intermédio de medida provisória. Mas ainda não escolheu o titular. O ex-presidente do Banco do Brasil Rossano Maranhão foi convidado para dirigir a secretaria, mas ainda não disse se vai aceitar o convite.
De acordo com a medida provisória que criou a Secretaria da Aviação Civil, ficam transferidas a ela as competências referentes à aviação civil até então sob o comando do Ministério da Defesa. Com isso, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Infraero, órgão que administra os aeroportos brasileiros, ficam subordinadas à nova secretaria. A Defesa cuidará apenas do espaço aéreo.
Caberá à secretaria, entre outras atribuições, "transferir para Estados, Distrito Federal e municípios a implantação, administração, operação e exploração de aeródromos públicos, direta ou indiretamente".
Igualdade Racial e OAB pedem punição de Bolsonaro
Eduardo Bresciani e Lisandra Paraguassu - O Estado de S.Paulo
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, defendeu ontem a abertura de processo de cassação contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que em entrevista ao programa CQC, da TV Bandeirantes, qualificou como "promiscuidade" a possibilidade de um filho seu ter relação com uma mulher negra e fez ataques a homossexuais.
A ministra da Secretaria de Igualdade Racial, Luiza Bairros, viu nas declarações do deputado "um caso explícito de racismo".
Cavalcanti, por meio de nota, disse que as afirmações de Bolsonaro revelam "odioso preconceito" e que a sua posição de parlamentar não pode ser usada para protegê-lo: "A imunidade parlamentar não pode isentar o parlamentar de responder por crimes". Ophir pediu à Comissão da Diversidade Sexual do Conselho Federal da OAB estudo para apoiar a ação da OAB-Rio, que pediu investigação contra o deputado pela Câmara.
A ministra da Secretaria de Igualdade Racial reforçou a ofensiva. Em entrevista ao Bom Dia Ministro, da EBC, ela disse que não se pode "confundir liberdade de expressão com a possibilidade de cometer um crime. O racismo é crime previsto na Constituição".
Outro que foi ao ataque contra o deputado foi o secretário de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Ramaís Silveira, disse que a inviolabilidade do eleito "não é salvo-conduto para discriminação". Para ele, ao fazer "declarações racistas" o deputado "está cometendo crime comum e pode ser processado e perder seu mandato".
Limites. O episódio acabou por provocar um debate sobre os limites da imunidade parlamentar. Para o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), a Comissão de Constituição e Justiça "precisa discutir a fronteira entre a imunidade e o abuso das prerrogativas pelos parlamentares". Ao que a deputada Manuela d"Ávila (PC do B- RS) acrescenta: "Todos são livres, mas ninguém pode sair pelado na rua porque é atentado ao pudor. O mesmo vale nesse caso, não existe imunidade para se manifestar racismo".
O líder do DEM na Câmara, ACM Neto (BA), também condenou as declarações de Bolsonaro, mas defendeu a aplicação de uma pena alternativa. É que o Conselho de Ética, atualmente, só pode cassar ou absolver os parlamentares. ACM Neto relata um projeto que promove alterações no Conselho e permite a aplicação de outras sanções, como advertências e suspensões.
Ele conversou com o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), pedindo a votação da proposta. Maia ficou de consultar outros líderes partidários. "No caso do Bolsonaro talvez cassar seja demasiado, mas também não podemos permitir que fique impune. Se houvesse uma possibilidade de suspensão de mandato ou algo assim, acredito que seria mais apropriado", defendeu ACM Neto.
Para filhos, ele diz ''o que a maioria pensa''
Os filhos de Jair Bolsonaro, que seguem a carreira do pai, decidiram aproveitar a luz dos holofotes que recaíram sobre o deputado federal para mostrar que filho de peixe peixinho é. Em entrevista ao portal de notícias G1, o vereador Carlos (PP-RJ) e o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP-RJ), defenderam a ditadura e disseram que as opiniões do pai representam o pensamento da maioria da população.
Flávio, o mais articulado, disse, entre outras coisas: "Não se trata de homofobia, mas de um posicionamento contrário à apologia que existem em torno da homossexualidade... O normal não é ser homossexual. O normal é ser heterossexual. Duvido que algum pai tenha orgulho de ter um filho gay."
Sobre ditadura e democracia: "Naquele tempo havia segurança, havia saúde, educação de qualidade, havia respeito. Hoje em dia a pessoa só tem o direito de quê? De votar. E ainda vota mal."
TUTTY VASQUES
O marqueteiro do Bolsonaro
Quem, afinal, está por trás do fenômeno Jair Bolsonaro? Só se fala disso nas altas rodas de publicitários brasileiros - ô, raça! Há muito tempo, talvez desde a projeção espontânea de Fernando Gabeira no Congresso, um deputado do Rio não despontava com tanta mídia no cenário político nacional.
Seu prestígio no balneário tem a bagagem de seis legislaturas na Câmara, mas é bem provável que 80% dos que andam por aí boquiabertos com as barbaridades que o deputado diz aos montes jamais tinham ouvido sequer falar do cara.
Os papas da propaganda estão certos de que teve dedo de gente do meio na ideia de acabar com a brincadeira proposta pelo humorístico CQC atacando negros e homossexuais, com direito à defesa da censura, da tortura e da ditadura. Tudo junto e misturado para fazer barulho até na ONU.
Acompanhando a repercussão do caso pela internet, impressiona - mais até que a natural reação contrária ao esculacho - a quantidade de gente Brasil afora que lamenta só agora ter conhecido um político corajoso pra dizer o que pensa uma parte significativa do eleitorado nacional. Mas isso, convenhamos, não é problema de marqueteiro!
ECONOMIA/ TECNOLOGIA AERONÁUTICA
Consórcio Rafale faz parceria com empresas mineiras
Parcerias são parte da estratégia para conseguir a preferência do governo na renovação da frota da FAB
01 de abril de 2011 | 18h 48
Marcelo Portela, da Agência Estado
BELO HORIZONTE - O consórcio Rafale International assinou nesta sexta-feira, 1º, durante seminário na Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), quatro acordos com empresas mineiras e com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para treinamento de pessoal e desenvolvimento e transferência de tecnologia aeronáutica. As parcerias são parte da estratégia do grupo francês de conquistar, com apoio do empresariado, a preferência do governo na renovação da frota da Força Aérea Brasileira (FAB).
O consórcio, formado pela Dassault Aviation, Snecma e Thales, disputa com a sueca Saab, fabricante do Gripen NG, e com a norte-americana Boeing, que produz os caças FA-18 Hornet, uma licitação avaliada em ao menos US$ 4 bilhões para as aquisições, que podem ultrapassar 100 aeronaves.
Uma das parcerias foi firmada entre a empresa IAS, da capital mineira, e a Snecma, para treinamento em manutenção de motores de jatos. A IAS é uma das empresas que participa do esforço do governo mineiro de criar um polo aeronáutico próximo ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte.
"Levaremos o pessoal da IAS para a fábrica francesa e, depois, técnicos da França virão ao Brasil fazer o treinamento. Vamos passar à IAS toda a manutenção dos motores dos Rafales, caso eles sejam escolhidos pelo Brasil", disse Jean Marc Merialdo, diretor da Dassault Aviation no Brasil.
Outra carta de intenção foi assinada pela Dassault e a CSEM Brasil, instituição privada sem fins lucrativos especializada em micro e nanotecnologia. A parceria com os franceses terá o objetivo de desenvolver microssistemas para transmissão de dados e sensores sem fio, entre outros, para as aeronaves. Os dispositivos serão feitos com base na tecnologia Low Temperature Co-fired Ceramics (LTCC), que usa cerâmica de alta resistência nos sistemas. "Esperamos contribuir com nossa experiência no desenvolvimento de soluções estratégicas", declarou o diretor da CSEM, Tiago Alves.
Já a UFMG firmou parceria com a Snecma e a Dassault para o desenvolvimento de tecnologias aeronáuticas, de motores e de biocombustíveis para aviação, além de intercâmbio de estudantes. "Vale a apena investir em relacionamento de longo prazo com a universidade, que já tem premissas de desenvolvimento técnico aeronáutico de qualidade", avaliou Merialdo, referindo-se às pesquisas já desenvolvidas pela instituição.
Os acordos de ontem se juntam a outros 63, firmados pelo consórcio com 40 empresas, para o desenvolvimento de projetos e capacitação de pessoal. Segundo o representante do grupo francês, os acordos foram feitos com a perspectiva de que o Brasil opte pela compra do Rafale, "mas nada impede que sejam mantidos mesmo que o governo escolha outro concorrente".
Em fevereiro, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, afirmou que, mesmo com o corte de R$ 50 bilhões no orçamento da União, o governo pode anunciar ainda neste semestre qual será o fornecedor das aeronaves. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia declarado preferência pelos franceses, enquanto a Aeronáutica avaliou as aeronaves da Boeing como melhor opção. "Mudança de governo não significa mudança de posicionamento estratégico dos concorrentes. Mudaram as pessoas que vão avaliar as ofertas. As vantagens que cada um oferece são as mesmas", concluiu Merialdo.
AVIAÇÃO/MERCADO AEROESPACIAL
Acordo China-Bombardier poderá afetar mercado, diz Embraer
Para presidente da companhia, país ‘acelera o processo de entrada no mercado aeroespacial como grande competidor’
01 de abril de 2011 | 18h 09
Francisco Carlos de Assis e Anne Warth, da Agência Estado
SÃO PAULO - O presidente da Embraer, Frederico Curado, disse nesta sexta-feira, 1º, que o acordo firmado entre o governo chinês e a Bombardier "acelera o processo de entrada da China no mercado aeroespacial como grande competidor". Segundo o executivo, o principal atrativo desse acordo para China é na área de tecnologia. "A China já tem seus próprios projetos de aviões, mas não tem a tecnologia que os canadenses têm", afirmou.
Curado afirmou desconhecer os detalhes do acordo, mas disse que, se for de uma parceria "profunda", isso afetará não só a Embraer, mas o mercado aeroespacial do mundo todo. Ele ressaltou, porém, que por enquanto nada muda na estratégia da Embraer e que independentemente do que venha a acontecer, a empresa brasileira continuará no mercado chinês.
O executivo disse mais uma vez que espera que, durante a visita da presidente Dilma Rousseff à China, neste mês, seja definido o futuro da fábrica que a Embraer mantém no país asiático. A empresa está negociando com o governo chinês a possibilidade de passar a fabricar no país jatos executivos da família Legacy. A Embraer gostaria de fabricar ali aviões maiores, mas a China está desenvolvendo seus próprios aviões e agora considera a empresa sua concorrente. Por isso uma alternativa para não fechar a fábrica seria passar a produzir no local jatos executivos.
Curado participou hoje, ao lado de outros empresários, no Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), em São Paulo, de um almoço com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Os temas mais discutidos foram o patamar dos juros no Brasil e a taxa de câmbio. Segundo Curado, o câmbio hoje é uma questão de política internacional.
ENERGIA NUCLEAR
Peças de reator nuclear, dos EUA para o mundo
Apesar da crise nuclear no Japão, a demanda por esse tipo de energia deve continuar a crescer em outros países
Matthew L. Wald, do The New York Times - O Estado de S.Paulo
Apesar de não haver quase nenhum reator nuclear em construção nos Estados Unidos, a renascença da energia nuclear americana continua forte.
A continuidade da calamidade nuclear no Japão aumentou a preocupação geral com o futuro da energia nuclear e a segurança do seu uso, mas, na China, na Índia e em outras regiões, a demanda por energia nuclear deve seguir aumentando. São esses países que proporcionam um vigoroso mercado para as empresas americanas que constroem reatores nucleares e suas peças.
Basta perguntar a Steven Haas. Desde o dia em que ele nasceu, 27 anos atrás, ninguém encomendou nem concluiu a construção de uma usina nuclear nos EUA. Mas lá estava ele, pouco tempo atrás, instalando placas de circuitos e outros componentes num armário do tamanho de uma geladeira industrial marcada com o nome "Sanmen".
Esse é o nome da usina de reatores gêmeos na China que tem recebido da Westinghouse Electric Co. um projeto de reator e muitos de seus componentes. O armário era apenas um dentre os muitos que serão instalados em cada reator, possibilitando as comunicações digitais e o controle do equipamento.
Ele disse que depois de Sanmen será a vez de trabalhar no reator de Haiyang, outra usina chinesa de reatores gêmeos, e depois nas unidades 3 e 4 do Vogtle, no estado da Geórgia, e nas unidades 2 e 3 da V.C. Summer, na Carolina do Sul. "E acho que serão feitas novas encomendas", disse ele, acrescentando: "Espero que sim. Caso contrário, ficarei desempregado".
Mas é provável que as encomendas sejam de fato feitas. Além das quatro unidades que a Westinghouse fornecerá à China, a empresa negocia a construção de outros 10 reatores.
Demanda. Embora este processo esteja paralisado por causa da crise no Japão, onde um terremoto danificou o sistema de resfriamento de seis reatores, as negociações devem ser retomadas futuramente. A demanda de China, Índia e Oriente Médio por eletricidade segue aumentando.
E o projeto da Westinghouse, bem como outro preparado pela General Electric, deve proporcionar um método de resfriamento "passivo" para o caso de uma emergência no reator, valendo-se de forças naturais como a gravidade e a convecção, recorrendo a poucas válvulas operadas por eletricidade e outros sistemas de segurança que possam ter o funcionamento prejudicado por um tsunami ou outro desastre natural.
Para os EUA, a energia nuclear se tornou uma indústria exportadora. A Westinghouse, que dois anos atrás transferiu suas instalações para um complexo de escritórios de 70 mil metros quadrados na cidade, se assemelha cada vez mais à Boeing e à General Motors, tornando-se uma empresa que projeta peças fundamentais, fabrica algumas delas e terceiriza a fabricação de outras tantas, integrando componentes vindos de todo o mundo.
De acordo com Aris Candris, diretor executivo da Westinghouse Electric, os quatro reatores chineses geraram cerca de 5 mil postos de trabalho nos EUA, na Westinghouse e em outras empresas do ramo. Segundo ele, "os projetos no exterior estão se expandindo muito mais rapidamente do que o mercado doméstico, ocupando nossa capacidade de produção".
O resultado disso são algumas alianças incomuns. Os Emirados Árabes Unidos escolheram um consórcio liderado pela Coreia do Sul para a construção de quatro reatores, num contrato estimado em US$ 20 bilhões.
Cerca de 20% da "ilha nuclear" - nome dado ao reator e às peças imediatamente associadas a ele - serão entregues pela Westinghouse. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
FALSIDADE
PRF detém falso militar da Aeronáutica no interior de SP
Homem contou mentira para se livrar de multas e apreensão do veículo, por estar com a CNH vencida
01 de abril de 2011 | 13h 24
Priscila Trindade - Central de Notícias
SÃO PAULO - Um homem, de 51 anos, foi detido na quinta-feira, 31, ao se passar por piloto da Aeronáutica quando tentava evitar multas e a apreensão do seu automóvel em Registro, no interior de São Paulo.
O carro do suspeito foi abordado na Rodovia Régis Bittencourt, após policiais rodoviários federais serem avisados que um automóvel havia se envolvido em um acidente na altura do km 461 da mesma rodovia, no município de Pariquera-Açu.
O motorista foi encontrado no local indicado, sem habilitação. Por meio do sistema de pesquisa, os policiais verificaram que a CNH dele estava vencida. Quando os policiais noticiaram que o veículo seria apreendido e multas seriam aplicadas, o condutor do carro disse ser piloto da Aeronáutica. Segundo a PRF, ele usava parte de um fardamento, mas não portava a identidade militar. A mentira foi descoberta quando a equipe consultou a Base Aérea de Guarulhos. Questionado, os suspeito disse que era pastor evangélico.
O motorista foi liberado depois de assinar um registro de contravenção penal e receber multas pela habilitação vencida e por não portá-la. O automóvel foi apreendido.
INTERNACIONAL
AMEAÇA RADICAL
Protesto afegão contra pastor dos EUA acaba com 11 mortes em sede da ONU
Pelo menos 7 dos mortos em Mazar-i-Sharif eram funcionários estrangeiros das Nações Unidas; manifestantes invadiram edifício da organização e abriram fogo em meio a palavras de ordem contra líder religioso da Flórida que promoveu a queima do Alcorão
Jamil Chade - O Estado de S.Paulo
No pior ataque contra a ONU no Afeganistão, pelo menos sete funcionários estrangeiros e quatro cidadãos afegãos morreram ontem quando um protesto contra a queima do Alcorão nos EUA se transformou em um ataque contra um edifício das Nações Unidas na cidade de Mazar-i-Sharif, no norte do Afeganistão. Dois dos funcionários estrangeiros da ONU teriam sido decapitados.
Há dez dias, o grupo do polêmico pastor protestante Terry Jones queimou um exemplar do Alcorão em uma igreja da Flórida. Eles realizaram um "julgamento" dentro da igreja diante do fieis e acusaram o livro sagrado muçulmano de ser o culpado por crimes. Ao final, executaram a pena contra o Alcorão.
Mas a iniciativa dos pastores foi duramente criticada até mesmo pelo presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, que qualificou o ato de "crime contra a religião" e pediu ação dos EUA.
Ontem, cerca de 2 mil pessoas haviam se reunido de forma pacífica nos portões do prédio da ONU para protestar contra os pastores americanos e pedir o fim da intervenção internacional no país, após as orações tradicionais de sexta-feira. Segundo as investigações feitas pela ONU, imãs sugeriram aos fieis que "atacassem" as forças estrangeiras que ocupam o país.
A manifestação ganhou contornos dramáticos quando um grupo tentou roubar as armas dos seguranças da ONU e passou a atacar o prédio com pedras, tentando pular o muro que protegia o edifício. Segundo a entidade, alguns dos manifestantes estavam armados e abriram fogo contra os policiais. O incidente acabou permitindo que a segurança do edifício fosse controlada pelos manifestantes, que invadiram o prédio. Alguns escritórios foram incendiados.
Pelo menos quatro seguranças do Nepal que protegiam a entrada da ONU foram mortos, segundo o comandante da Polícia Nacional Afegã, general Daud Daud. Dois deles teriam sido decapitados, ainda que a ONU tenha optado por não confirmar o fato. O chefe da missão da ONU no local foi gravemente ferido.
Segundo o porta-voz da ONU, Dan McNorton, outros três funcionários internacionais foram mortos, de nacionalidade norueguesa, sueca e romena. Não há brasileiros entre os mortos. José Francisco Siebert Luz, um brasileiro que trabalha para a ONU no Afeganistão, afirmou ao Estado que estava em Cabul no momento do ataque.
O governo afegão indicou que quatro manifestantes também foram mortos. Mas o número total de vítimas poderia chegar a 20, de acordo com fontes médicas, como Mirwais Zabi, diretor do hospital em Mazar-i-Sharif.
Segundo o porta-voz da polícia da cidade, Lal Mohammed Ahmadzai, insurgentes se infiltraram na manifestação até então pacífica e teriam aproveitado a ocasião para cometer o crime. Quinze pessoas foram detidas. Funcionários da ONU disseram que o restante dos manifestantes pediam "morte aos EUA" e "morte a Israel".
Em Cabul, 200 pessoas também se manifestaram contra a queima do Alcorão diante da embaixada americana. Apesar da queima de bandeiras americanas, não houve violência.
Após os incidentes, a Rússia pediu ao governo afegão e às forças da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no país que protejam as equipes da ONU. Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, qualificou os ataques de "covardes".
TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO
Governo líbio envia emissário a Londres
Negociador de Kadafi estaria discutindo alternativa diplomática para o fim do conflito; condições de trégua oferecida por rebeldes são rejeitadas
Andrei Netto - O Estado de S.Paulo
O governo de Muamar Kadafi teria enviado a Londres um emissário para discutir um cessar-fogo e uma alternativa diplomática para o fim do conflito na Líbia, que além da rebelião da oposição enfrenta bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A informação foi revelada pelo jornal The Guardian e pela rede de TV BBC.
Ao mesmo tempo, segundo fontes citadas pelo New York Times, Kadafi teria rejeitado uma oferta de trégua condicionada feita pelos rebeldes - que exigiram o levantamento do cerco a cidades como Misrata e Zintan, a retirada de mercenários que combatem ao lado das forças do ditador e a garantia do direito ao protesto pacífico de militantes da oposição.
O enviado de Kadafi a Londres seria Mohammed Ismail, ex-conselheiro de Saif al-Islam Kadafi, filho do líder líbio. O chanceler da Grã-Bretanha não confirma, mas enviou recado pela imprensa: "Kadafi deve partir".
Ex-universitário em Londres, Ismail já teria representado o regime, participando de negociações para a compra de armas, segundo telegramas dos EUA revelados pelo WikiLeaks. Segundo o Guardian, ele teria passado "vários dias" em Londres e voltado a Trípoli. Um diplomata britânico disse que a mensagem que lhe foi passada é a de que Kadafi deve responder por seus crimes na Justiça internacional.
Pela manhã, a chancelaria da Grã-Bretanha não confirmou a passagem de Ismail por Londres, mas deixou o tema no ar. "Não faremos nenhum comentário sobre pessoas com as quais falamos ou não falamos", informou. Questionado sobre a hipótese de haver um contato, o porta-voz da chancelaria apenas repetiu que "Kadafi deve partir".
À tarde, o porta-voz do premiê, David Cameron, descartou a hipótese de um acordo que permita a Kadafi escapar da Justiça. "Não estamos fazendo nenhum acordo", disse. Além disso, Londres afirmou que Saif al-Islam não terá privilégio jurídico em relação a seu pai em caso de deserção. / COM AP, REUTERS e AFP
COSTA DO MARFIM
Oposição cerca presidente marfinense
Após tomar capital, rebeldes avançam, isolam palácio presidencial, tiram TV estatal do ar e aproximam-se da vitória na Costa do Marfim
Reuters e AP - O Estado de S.Paulo
O combate em Abidjã, maior cidade da Costa do Marfim, intensificou-se ontem. Tropas leais ao presidente eleito, Alassane Ouattara, cercaram a residência e o palácio do presidente de facto, Laurent Gbagbo, que se recusa a deixar o poder e concentrou suas forças de elite nos dois locais. Observadores afirmam que a queda de Gbagbo, isolado por deserções e pressionado pela comunidade internacional, é iminente.
Cerca de 500 pessoas - a maioria de opositores do presidente de facto - foram assassinadas no país desde a votação que elegeu Ouattara, em 28 de novembro. A ONU confirmou ontem a morte de uma funcionária da entidade, supostamente atingida por uma bala perdida durante um combate em Abidjã. Zahra Abidi era sueca e não compunha as tropas de paz das Nações Unidas que estão no país.
A ONU informou que sua sede em Abidjã foi atacada na quinta-feira por combatentes leais a Gbagbo. O tiroteio durou três horas. Segundo a organização, três de seus funcionários ficaram feridos durante um dos quatro ataques que seus comboios haviam sofrido.
A ONG Médicos sem Fronteiras afirmou que desde o início do cerco a Abidjã pelo menos 80 pessoas sofreram ferimentos em combates. Centenas de soldados pró-Ouattara foram vistos ontem entrando em Abidjã ontem. Os combates mais intensos ocorreram nos arredores da TV estatal, que já havia sido cercada no dia anterior.
A emissora saiu do ar, mas não ficou claro se as forças de Ouattara tomaram o local. "Ouvimos tiroteios e vemos soldados se movimentando, mas há também civis armados correndo pelas ruas", relatou Camara Arnold, morador do bairro onde fica a TV e o palácio presidencial, que também enfrentou ataques intensos de apoiadores do presidente eleito.
Centenas de estrangeiros buscaram abrigo na base militar francesa na cidade, depois de serem ameaçados por saqueadores que se aproveitaram do caos.
Segundo testemunhas, explosões e disparos foram constantes também nas proximidades da residência de Gbagbo. Estima-se que cerca de 2,5 mil homens da Guarda Republicana o defendam em Abidjã. No entanto, o paradeiro exato do líder ainda é incerto.
Para garantir que Gbagbo e seus apoiadores não fujam, Ouattara - que já controla aproximadamente 80% do país - ordenou o fechamento das fronteiras terrestres e marítimas da Costa do Marfim. O espaço aéreo também foi fechado, mas já havia sido reaberto ontem.
Um conselheiro de Gbagbo que vive em Paris afirmou ontem que o presidente de facto "irá até o fim" na defesa de seu cargo. "Ele não tem intenção renunciar ou deixar o poder", disse Toussaint Alain. Segundo o assessor, Gbagbo está em um "lugar seguro" e pretende realizar na TV um pronunciamento à população.
Aproximadamente 1 milhão de pessoas já fugiram de Abidjã com medo da violência - cerca de 122 mil refugiados saíram da Costa do Marfim em direção à Libéria.
EUA, França, União Africana e ONU exigem que o presidente de facto deixe o poder imediatamente. "É urgente encontrar um fim definitivo para a crise provocada pela recusa de Laurent Gbagbo em reconhecer sua derrota", afirmou um comunicado do governo francês.
PARA ENTENDER
Gbagbo se recusa a sair do poder
No dia 28 de novembro, o segundo turno das eleições entregou a presidência da Costa do Marfim a Alassane Ouattara. Mas o presidente Laurent Gbagbo rejeitou deixar o cargo em favor do rival eleito democraticamente e contestou o resultado da votação - considerado legítimos por observadores internacionais. O mandato de Gbagbo já havia acabado em 2005, mas as eleições acabaram adiadas por 5 anos sob a desculpa de que a instabilidade do país não permitia a votação. No poder desde 2000, o presidente de facto estudou história em Paris.
JAPÃO
Tóquio critica operadora de usina por erro
Tepco, empresa responsável pela planta de Fukushima, divulga, pela segunda vez, dados equivocados sobre radioatividade
Cláudia Trevisan - O Estado de S.Paulo
O governo japonês criticou ontem a Tokyo Electric Power Co. (Tepco), empresa que opera a usina nuclear de Fukushima, por ter divulgado, pela segunda vez, dados errados sobre a radioatividade na região. Hidehiko Nishiyama, porta-voz da Agência de Segurança Nuclear do Japão, qualificou de "extremamente lamentável" o incidente.
"A Tepco enfrenta uma grave situação e não está cumprindo com as expectativas dos que estão muito preocupados com a companhia", afirmou Nishiyama. "Seus dados deveriam ser confiáveis." O porta-voz ainda criticou as condições nas quais os operários trabalham para controlar os reatores de Fukushima, afirmando que eles não têm alguns equipamentos de segurança necessários.
Ontem, o primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, disse estar preparado para uma batalha de longo prazo para controlar a situação na usina, onde técnicos enfrentam problemas crescentes na tentativa de restabelecer o sistema de resfriamento dos reatores nucleares.
Com o agravamento da situação, os 78 mil moradores que foram retirados do raio de 20 quilômetros ao redor da planta deverão se preparar para ficarem meses em abrigos temporários. "O período de retirada será mais longo do que gostaríamos", afirmou o porta-voz do governo, Yukio Edano, ressaltando que não será uma questão de "dias ou semanas".
A dificuldade de resfriar os reatores está levando a vazamentos de material radioativo em quantidade crescente e já houve contaminação de vegetais, leite, água e solo nas imediações da usina. Ontem, a Tepco disse ter detectado traços de radiação em reservatórios subterrâneos de água localizados sob cinco dos seis reatores de Fukushima.
"Estamos preparados para uma batalha de longo prazo, mas, com certeza, vamos vencê-la", declarou Kan, em pronunciamento transmitido pela rede de TV NHK, três semanas após o terremoto seguido de tsunami que devastou a costa nordeste do Japão e deixou 28 mil pessoas mortas ou desaparecidas.
O premiê afirmou que não pretende nacionalizar a Tepco, mas que está disposto a socorrer a companhia no pagamento das indenizações decorrentes do desastre. Segundo ele, a Tepco deve continuar a operar como uma empresa privada, mas a responsabilidade final pelas compensações é do governo.[O VALOR]
Das 28 mil vítimas, 16 mil continuam desaparecidas. A agência de notícias Kyodo News disse anteontem que mil corpos no raio de 20 quilômetros ao redor da usina não puderam ser resgatados em razão do alto nível de radiação. Ontem, 18 mil soldados japoneses e 7 mil americanos deram início a um período de três dias de intensa busca por desaparecidos.
Os planos para reconstrução do país começarão a ser traçados no dia 11, em reunião entre representantes do governo e da oposição com especialistas. O objetivo, segundo o premiê, é "discutir todas as possibilidades e encontrar a melhor solução". Kan disse ainda que um ministério ou agência especial será criado para comandar os trabalhos de reconstrução, que poderão durar até cinco anos.
DITADURTA ARGENTINA
Ex-militar argentino é condenado à prisão perpétua por centro de torturas
Eduardo Cabanillas e três integrantes do serviço secreto foram sentenciados em Buenos Aires.
01 de abril de 2011 | 8h 30
Os quatro homens negaram as acusações
O ex-general argentino Eduardo Cabanillas foi sentenciado à prisão perpétua por dirigir um famoso centro de detenção e tortura durante a ditadura militar no país, entre 1976 e 1983.
Três ex-integrantes do serviço secreto da Argentina também foram condenados por assassinato, tortura e prisões ilegais.
Honorio Martinez e Eduardo Ruffo foram sentenciados a 25 anos de prisão cada um e o ex-oficial de inteligência militar Raul Guglielminetti, a 20 anos.
Cerca de 200 ativistas de esquerda foram sequestrados e levados para a prisão secreta que tinha como fachada um oficina mecânica (Automotores Orletti), em Buenos Aires, durante a ditadura. A maioria das vítimas era de uruguaios, mas também havia chilenos, bolivianos, peruanos e cubanos.
Milhares de argentinos foram torturados e mortos em outros centros mantidos pelas Forças Armadas do país.
Os crimes foram parte da Operação Condor, uma campanha coordenada pelos governos de países da América do Sul para eliminar os movimentos de oposição nas décadas de 70 e 80.
Esta operação foi criada em 1975 por autoridades militares da Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. O objetivo era silenciar a oposição enviando equipes para outros países para encontrar, monitorar e matar os dissidentes.
Cerca de 30 mil pessoas foram mortas ou desapareceram nas mãos das Forças Armadas durante o regime militar na Argentina no período conhecido como "Guerra Suja".
Bebês roubados
Macarena Gelman, cujos pais ficaram presos na prisão secreta e centro de tortura, aprovou as sentenças.
"É um pouco de justiça, quando precisamos tanto", disse ela, falando do Uruguai.
O pai de Macarena, Marcelo Gelman, foi morto depois de ser levado para o centro de tortura e seu corpo foi jogado em um rio, em um tambor preenchido com cimento.
A mãe, Maria Claudia Garcia, que estava grávida quando foi sequestrada, foi levada depois para o Uruguai e desapareceu.
Macarena Gelman nasceu enquanto sua mãe estava presa. Ela foi criada por um policial uruguaio até descobrir sua verdadeira identidade, o que ocorreu apenas no ano 2000. BBC Brasil
HAITI
Brasil troca comando da força de paz no país
A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah) tem um novo comandante. O general de brigada Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira assumiu na quarta-feira a chefia das tropas da ONU presentes no Haiti, em substituição ao general de brigada Luiz Guilherme Paul Cruz. O posto é ocupado por um oficial brasileiro desde 2004, quando foi instituída a missão no Haiti.
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