ANTONIO DELFIM NETTO
O trilema
Há muitos anos, os economistas reconheceram as estreitas relações que existem entre os regimes da taxa de câmbio e a autonomia monetária de cada país. Teorizando sobre situações-limite: 1) liberdade absoluta ou controle absoluto dos movimentos de capitais nas relações externas; 2) taxa de câmbio absolutamente flutuante ou taxa de câmbio absolutamente fixa; 3) liberdade absoluta ou constrangimento absoluto para que a política monetária atenda às condições econômicas domésticas e estabilize a economia; e 4) adicionando a hipótese que os agentes são absolutamente racionais e exploram qualquer oportunidade de lucro que possa ser apropriado pela livre arbitragem, pode-se demonstrar, logicamente, que a política econômica de um país não pode usar mais do que duas, das três primeiras condições expostas acima. Essa construção lógica constitui o famoso trilema que condiciona o exercício da política econômica.
Em outras palavras, ela pode incorporar:
1) Controle do movimento de capitais e câmbio fixo. Nesse caso, há plena liberdade para a política monetária perseguir os interesses internos do país. É claro que, nessas condições, a taxa de câmbio fixo é o preço relativo que equilibra o valor do fluxo dos bens e serviços exportados com os importados.
Se a taxa de inflação gerada pela política monetária autônoma for sistematicamente maior do que a do mundo, a taxa real de câmbio sofre uma valorização e, mais dia, menos dia, acumula-se um déficit em conta corrente que, quando as reservas de divisas se acabarem, exigirá uma desvalorização, com altos custos políticos para o poder incumbente e graves danos para a economia.
É exatamente esse custo que impõe limites à liberdade monetária. Em princípio, esse regime deve induzir a política monetária a perseguir uma taxa de inflação parecida com a do "resto do mundo". Trata-se do sistema construído originalmente no acordo de Bretton Woods, que, infelizmente, foi erodido pelo domínio do dólar como unidade de conta internacional e moeda reserva.
Ele deu aos EUA um privilégio exagerado, já pressentido por Keynes em 1943. Depois da crise dos anos 70 do século passado, quando os EUA desencarnaram o valor do dólar do ouro, o câmbio fixo transformou-se em anátema;
2) Liberdade de movimento de capitais e câmbio fixo. Nessa circunstância, o país não pode ter uma política monetária que cuide dos seus interesses internos. Para que haja equilíbrio no longo prazo, a sua taxa real de juros deve ser igual à taxa real de equilíbrio do "resto do mundo". Se a taxa de juros interna for maior do que a externa, a acumulação de reservas produzida pela entrada de capital precisa ser neutralizada pelo aumento crescente da dívida pública (e aumento do seu custo) e, no limite, será monetizada, criando as condições para a emergência de um processo inflacionário.
Se a taxa de juros real interna for menor do que a externa, haverá uma arbitragem inversa que, num prazo maior ou menor, consumirá as reservas de divisas e, cedo ou tarde, a taxa de câmbio (fixa) deve ser desvalorizada, criando as condições para a emergência de um processo inflacionário, e desequilibrará as finanças públicas e das empresas que usaram o capital externo para financiar-se;
3) Controle do movimento de capitais e taxa de câmbio flutuante. Nesse caso, pode-se ter uma política monetária interna que atenda aos interesses internos do país. A taxa de câmbio flutuante volta a ser o velho preço relativo, que equilibra o valor do fluxo de bens e serviços exportados com o valor do fluxo de bens e serviços importados;
4) Liberdade de movimento de capitais e câmbio flutuante. Nesse caso, a política monetária precisa manter a taxa real de juros interna igual à externa para construir um equilíbrio de longo prazo.
É claro que nenhum país pratica políticas econômicas com a "pureza" suposta na construção lógica do "trilema". Todos tendem a acomodar (de acordo com as circunstâncias que enfrentam dentro e fora do país e dos interesses do poder incumbente) uma combinação variável do movimento de capitais, do regime cambial e da liberdade da política monetária.
Assistimos isso agora no Brasil. Com três instrumentos de intervenção cambial, o Banco Central transformou o regime cambial. Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de "legítima defesa", justificado pela destruição interna causada pela supervalorização do real. Ninguém discute que a tendência do real é valorizar-se, se não por outras causas, apenas pela elevação do PIB per capita. No momento, essa tendência é ajudada pelas melhorias das relações de troca (enquanto durarem). O que se discute é a "supervalorização" causada pelo enorme diferencial das taxas de juros reais interna e externa.
O "trilema" não é apenas uma proposição logicamente deduzida. Pesquisas empíricas que vão se acumulando mostram sua relevância. Parece que não importa qual seja a combinação escolhida para nossa política econômica: é pouco provável que ela seja exitosa no longo prazo, se a taxa de juro real interna continuar três vezes maior que a externa...
PROGRAMA ESPACIAL
Brasil quer parceria maior com a China para construir satélites
Sergio Leo | De Brasília
O governo brasileiro aproveitará a visita da presidente Dilma Rousseff à China para discutir com os chineses a ampliação do programa de cooperação em matéria de satélites. O programa sofreu atrasos e o próximo lançamento, do satélite conhecido como CBERS-3, programado originalmente para 2009, deverá ser adiado, mais uma vez, para 2012. Ainda assim, é apontado como o mais bem sucedido programa de cooperação científica e tecnológica entre países emergentes e tem incentivado o desenvolvimento de equipamentos sofisticados em empresas brasileiras.
"Queremos diversificar, ver possibilidades de trabalho conjunto com a China", disse o diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento da Agência Espacial Brasileira (AEB), Thyrso Villela. O programa CBERS, hoje, é voltado à construção de satélites para captação de imagens da superfície da Terra, com aplicações na agricultura, no controle de desmatamento, na atuação contra catástrofes naturais e em outras atividades sujeitas a sensoriamento remoto.
A AEB acredita que pode aumentar a cooperação com os chineses em técnicas de sensoriamento remoto, interpretação de dados e estudos científicos como os realizados sobre o clima espacial. "Queremos intercâmbio de técnicos, simpósios, cursos mais extensos, de onde podem surgir outras ideias importantes para a diversificação", acrescenta o chefe da assessoria de Cooperação Internacional da AEB, Carlos Campelo. A cooperação em ciência e tecnologia será objeto de um seminário, com a presença da presidente.
O programa de cooperação entre chineses e brasileiros teve de enfrentar bloqueio de componentes sensíveis por parte dos Estados Unidos, onde a lei de controle no tráfico de armas (Itar) proíbe a venda de produtos americanos com determinadas tecnologias passíveis de uso militar. É forte a sensibilidade no Congresso e no Executivo americanos contra a venda de componentes e artefatos eletrônicos sofisticados à China e subsistemas criados no Brasil para o satélite binacional sofreram atrasos e remodelações provocadas pelo veto ao embarque de componentes comprados e faturados de firmas americanas.
"Não é simples, há uma lista de produtos sujeitos ao Itar, mas ela é constantemente atualizada", diz Vilella. A proibição de compra de um componente pode exigir o redesenho de todo um equipamento, como ocorreu com a Opto, firma brasileira de artefatos ópticos para uso médico que, após trabalhar com o Centro Tecnológico da Aeronáutica para desenvolvimento de mísseis teleguiados, foi escolhida, em concorrência, para fabricar câmeras para os satélites sino-brasileiros. "Houve componentes que compramos, pagamos e, quando iam ser embarcados, o fornecedor nos telefonou avisando que não poderia nos enviar a encomenda", diz o diretor-comercial da Opto, Antônio Fontana.
O veto americano acabou servindo de estímulo para desenvolvimento de tecnologia nacional, "Itar free", ou livre de risco de embargo, como foi classificada a câmera apresentada no ano passado pela Opto, para o CBERS-3. Obrigados a trocar componentes eletrônicos por circuitos, maiores, os técnicos da empresa usaram o conhecimento em óptica para reduzir o tamanho das lentes da câmera.
O programa espacial hoje responde por 30% a 50% do faturamento da empresa, que chegou a pouco mais de US$ 70 milhões em 2010. A tecnologia desenvolvida para o satélite já foi usada em artefatos para uso médico, como o laser de uso oftalmológico.
Os atrasos no programa espacial levaram a AEB a aproveitar equipamentos criados para o CBERS-2 para enviar ao espaço, em 2007 o CBERS-2B, em lugar do CBERS-3, que se pensou em lançar ainda em 2009. O CBERS-3, primeiro a ter 50% de componentes feitos no Brasil, nos testes recentes, mostrou problemas em um de seus subsistemas, chamado pelos técnicos de "atitude", que permite ao satélite controlar a direção em que são apontados seus instrumentos. Foi um dos motivos para se decidir pelo adiamento de sua colocação em órbita, para 2012.
AVIAÇÃO
Fatia de 31% da Trip vale US$ 250 milhões
Alberto Komatsu | De São Paulo
A aquisição de até 31% do capital da Trip pela TAM vai envolver um desembolso entre US$ 200 milhões e US$ 250 milhões, apurou ontem o Valor com fontes que acompanham de perto a negociação. As duas empresas foram procuradas para se pronunciar a respeito, mas as companhias informaram que não comentariam a informação.
TAM e Trip assinaram uma carta de intenções oficializando o negócio na semana passada. O pagamento será realizado em duas etapas, sendo a primeira na assinatura do contrato, caso cheguem a um acordo. A segunda parcela seria desembolsada um ano depois, quando a TAM passará a deter os 31% de participação no capital da Trip.
"Esse valor é altíssimo, daria para comprar 100% da Trip. Ela está sendo comprada pela TAM porque tem "hubs" [centros de distribuição de voos] muito bons em Confins e Cuiabá", afirma um especialista do setor aéreo
O professor de transporte aéreo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Respicio Espírito Santo Junior, diz que há muitos atrativos na Trip para a TAM. "A Trip tem o quase monopólio da aviação regional. Dentro da Latam, com a política de céus abertos na América do Sul, a Trip também poderia fazer voos regionais nesse mercado", diz ele.
Ao comentar sobre a Latam, Espírito Santo Junior referiu-se à fusão entre a LAN e a TAM, anunciada em agosto de 2010. E a politica de céus abertos trata do cenário de liberdade na quantidade de voos e de destinos entre o Brasil e países da América do Sul. Atualmente, há uma negociação bilateral que determina um limite de voos entre dois países.
O valor final da negociação entre a Trip e a TAM vai ser definido em 90 dias. Esse será o período em que a situação contábil da maior companhia aérea regional brasileira será avaliada. A Trip apresentou dados sobre a sua situação financeira ontem, ao divulgar o balanço de 2010.
Segundo a companhia, o lucro foi de R$ 20 milhões, diante dos R$ 28,5 milhões de 2009. O presidente da Trip, José Mário Caprioli, diz que a variação cambial de 2009 puxou para cima os ganhos da empresa naquele ano.
O plano agressivo de expansão de frota da Trip, que só neste ano vai receber 17 aeronaves, contribuiu para a alta de 15% na dívida da companhia, que fechou o ano passado em R$ 510 milhões, diante dos R$ 442 milhões em 2009.
Caprioli destacou o aumento de 66,2% no faturamento bruto da Trip entre 2009 e 2010, que alcançou R$ 747 milhões no ano passado. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (ebitda) ficou em R$ 113,6 milhões, com margem de 15,8%, a maior entre as aéreas que já divulgaram resultados neste ano. Em 2009, o Ebitda da Trip era de R$ 59,3 milhões e a margem, 13,65%.
"Esses resultados são fruto de uma estratégia desenvolvida há dois anos, quando decidimos acelerar nosso crescimento para as cidades de média densidade", afirma Caprioli. Segundo ele, a Trip mantém seu plano original de abrir o capital mesmo com a negociação com a TAM. Esta terá seu capital fechado, após a fusão com a chilena LAN.
Para 2011, a Trip projeta um faturamento bruto de R$ 1,3 bilhão, volume de 5,4 milhões de passageiros transportados, 2,9 mil voos por semana e 90 cidades atendidas. Atualmente, serve 82 cidades.
Southwest cancela mais voos após avião perder teto
Luciana Seabra | De São Paulo
A Southwest Airlines estimou ontem o cancelamento de 70 voos, que se somam aos cerca de 600 voos que não decolaram no fim de semana. Isso porque, na sexta-feira, abriu-se um buraco no teto de um Boeing 737-300 da Southwest logo após a decolagem da cidade de Phoenix, no Arizona. Foi feito um pouso de emergência e ninguém ficou gravemente ferido.
O porta-voz da empresa, Brandy King, diz que 33 aviões similares foram inspecionados e que dois deles tinham rachaduras parecidas com as encontradas no 737 acidentado, segundo a Associated Press. A checagem continua hoje.
O National Transportation Safety Board (NTSB), organização americana independente que investiga acidentes na aviação, comunicou sobre uma terceira aeronave com rachaduras em desenvolvimento.
CRISE ÁRABE
Ação militar na Líbia se torna vitrine para mercado de armas
Tim Hepher e Karen Jacobs | Reuters, de Paris
Tomada numa feira de aeronáutica em outubro de 2009, uma foto mostra um caça francês Rafale na base aérea de Mitiga, na periferia de Trípoli, na Líbia. Um pequeno grupo de pessoas passeia em torno do caça, com sua cauda iluminada pelo sol do Norte da África. A foto é uma das várias capturadas por fotógrafos de aviação militar no site holandês scramble.nl. Elas destacam uma das ironias da imposição, pelo Ocidente, de uma zona de exclusão aérea nos céus da Líbia. Para destruir a defesa aérea de Muamar Gadafi, as potências ocidentais estão usando os mesmos aviões e armas que apenas alguns meses atrás estavam oferecendo ao líder líbio.
Rafales franceses, iguais aos que estavam na feira em 2009, foram os que realizaram as primeiras missões na Líbia, pouco mais de duas semanas atrás. Um dos alvos teóricos do Rafale são os jatos franceses Mirage da Força Aérea líbia, que Paris recentemente concordou em modernizar.
A operação líbia marca ainda a estreia em combate do Eurofighter Typhoon, um dos concorrentes do Dassault Rafale e que é produzido por Reino Unido, Alemanha, Itália e Espanha. Uma versão desse avião da Força Aérea italiana foi fotografada na feira de 2009 na Líbia.
Duas semanas atrás, a base onde foi realizada a feira na Líbia foi atacada pelas forças ocidentais. Os tempos mudam, as lealdades se modificam, mas as empresas de material bélico sempre encontram compradores para seus produtos.
A Líbia não comprará novos equipamentos por um bom tempo. Mas a zona de exclusão aérea se tornou uma vitrine de primeira linha para outros clientes potenciais de armamentos, pondo em destaque o poder dos jatos de combate e das bombas teleguiadas ocidentais, ou refrescando a memória dos compradores potenciais sobre os sistemas defensivos necessários para repeli-los.
"Isso está se transformando na melhor vitrine de vendas para aviões concorrentes em muitos anos. Mais ainda do que foi o Iraque em 2003", disse Francis Tusa, editor da britânica "Defence Analysis". "Estamos assistindo pela primeira vez numa operação uma competição o Typhoon e o Rafale, e ambos os países querem enfatizar as exportações. A França está especialmente desesperada para vender o Rafale."
O Rafale foi um dos três aviões que chegou à fase final da licitação para reequipamento da Força Aérea Brasileira. A compra, porém, foi adiada após a posse da presidente Dilma Rousseff.
Quase todo conflito contemporâneo, desde a Guerra Civil Espanhola até Kosovo, serviu como teste de poder aéreo. Mas a operação na Líbia para fiscalizar o cumprimento de uma resolução da ONU coincide com uma corrida armamentista - um surto na demanda no mercado mundial de caças, que movimenta US$ 60 bilhões ao ano, e a chegada de uma nova geração de armamento aéreo e marítimo.
Para os países e empresas que estão por trás desses aviões e armas, não há melhor instrumento de vendas do que o combate real. Para forças aéreas às voltas com cortes de orçamento, trata-se de uma briga pelo próprio valor do poder aéreo. "Quando um avião ou arma é empregado em mobilização operacional, isso se torna instantaneamente uma operação de marketing. Ele se torna "testado em combate"", diz um ex-alto funcionário de exportações de equipamentos bélicos de um país da Otan, falando sob condição de anonimato sobre o tema delicado.
Um porta-voz do consórcio Eurofighter disse nunca ter se envolvido em negociações para a venda de aviões para a Líbia" e que sua presença na feira aeronáutica na periferia de Trípoli em 2009 era na qualidade de membro de uma delegação italiana organizada em nível governamental.
Fontes do setor de equipamento bélico disseram à Reuters que Reino Unido e Alemanha tinham vetado qualquer venda de Typhoons italianos para a Líbia, mas o volume de outros equipamentos militares italianos exibidos demonstrou a proximidade das relações, à época, entre Trípoli e o governo do premiê italiano Silvio Berlusconi.
A França vinha sendo menos tímida em anunciar conversas sobre armamentos com a Líbia, que por um curto período deteve uma opção para compra de jatos Rafale. Uma fonte francesa, que pediu para não ter seu nome divulgado, preferiu não comentar em detalhe as negociações passadas, mas disse que as vendas de armas eram tratadas em nível entre governos.
Feiras aeronáuticas, como a ocorrida na periferia de Trípoli 18 meses atrás, são coisa de rotina do calendário de marketing da indústria de armamentos. Mas, para convencer os compradores potenciais, os equipamentos de defesa têm de ser testados e têm de sobreviver ao que as fabricantes chamam de "guerra quente".
"O teste em campo de batalha é coisa muitas vezes mencionada pela indústria armamentista como importante fator para a promoção de seus produtos para clientes importadores", diz Paul Holtom, diretor do Programa de Transferência de Armas do Instituto Internacional de Pesquisa pela Paz (Sipri, na sigla em inglês).
Uma "guerra quente" dá aos compradores de armas a oportunidade de extrapolar o jargão de marketing e conferir se os recursos alardeados são verdadeiros.
"Todo mundo está voltando os olhos para a Líbia. Ela é, sem dúvida, uma vitrine", disse à Reuters um alto funcionário de uma empresa ocidental de equipamento bélico, que pediu para não ter seu nome divulgado. Um executivo da Dassault, que também solicitou anonimato, disse que o Rafale tinha sido chancelado como "provado em combate" desde que foi utilizado em operações de guerra no Afeganistão em 2007.
O que os compradores e os militares do mundo estão verdadeiramente procurando pode ser muito menos drástico do que um confronto direto entre caças ao estilo do filme "Top Gun", coisa pouco provável na unilateral campanha na Líbia. Em vez disso, segundo executivos do setor, os prováveis futuros compradores estarão ávidos por informações detalhadas sobre a confiabilidade, a capacidade dos aviões de operarem de forma integrada com outras forças ou sistemas e a capacidade das esquadrilhas operacionais de gerar altos números de investidas pelo mínimo de reparos.
As recompensas são enormes. Índia, Brasil, Dinamarca, Grécia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Omã e Kuait compõem a crescente lista de países dispostos a comprar um ou mais dos caças que estão fazendo investidas sobre a Líbia. O negócio do momento: o plano da Índia de comprar 126 caças, uma encomenda que deverá envolver mais de US$ 10 bilhões.
A confiabilidade, dizem técnicos do setor, tende a ser a característica fundamental para assegurar as exportações desses produtos. Quatro das seis empresas que disputam a venda de aviões para Nova Déli - o Rafale, da Dassault, o Typhoon, do consórcio Eurofighter, o F-16, da Lockheed Martin, e o F/A-18, da Boeing - já atuaram na operação de cumprimento da zona de exclusão aérea nos céus da Líbia. Um quinto concorrente, o Gripen, da Saab, chegou à Sicília na última sexta-feira, pronto para participar da primeira missão de combate aéreo da Força Aérea sueca das últimas décadas. A França também está usando sua nova fragata, da categoria Horizon, e os mais recentes mísseis ar-terra.
Mas não se trata apenas de equipamentos ofensivos. Os conflitos aéreos e o assombro são propagandas gratuitas para empresas que fornecem sistemas de alerta e de defesa antimíssil. "A Líbia é um lembrete de que, se alguém não consegue concorrer no nível das plataformas de ataque, precisa concorrer no nível de sistemas de defesa", diz Siemon Wezeman, professor-visitante sênior da Sipri.
"A Líbia tinha defesas aéreas razoáveis, mas não avançou. Se algum país quer se defender, ele precisa dos aviões ou dos sistemas de defesa. Vamos ver países perguntando a nações como Rússia e China o que eles podem fornecer."
Os sistemas fabricados nos EUA por empresas como a Lockheed Martin e a Raytheon já são alvos de alta demanda pelos países do Golfo Pérsico, para fazer frente à ameaça percebida representada pelo Irã.
Mas convencer os países a comprar armas e equipamentos caros exige mais do que apenas exibição. "Se você atende a 100% das exigências operacionais, você terá ganho apenas 25% da corrida", disse à Reuters o ex-alto funcionário de exportação de produtos de defesa da Otan.
Mensagens diplomáticas confidenciais obtidas pelo WikiLeaks e vistas pela Reuters detalham reiterados esforços dos diplomatas americanos para obter apoio político de alto nível para vendas de caças e de outros equipamentos - esforços que, segundo fontes do setor de defesa, são igualadas pelo intenso lobby por parte de França, Reino Unido, Rússia e outros países.
Uma das mensagens confidenciais, originada por volta do período da feira aeronáutica de 2009 na Líbia, vem da embaixada dos EUA em Nova Déli, e relatava como a Índia, no passado uma das principais compradoras de armas da União Soviética, estava animada com a ideia de adquirir armas americanas, diante de sua comprovada capacidade de combate. "Eles reconhecem a qualidade dos sistemas americanas e ficaram assombrados com a taxa de sucesso em missões atribuída aos aviões americanos comparativamente a seus estoques russos, mais antigos", disse a embaixada a Michele Flournoy, subsecretária de Defesa dos EUA, em outubro de 2009.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
Nenhum comentário:
Postar um comentário