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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

JORNAL DO BRASIL


DESTAQUE DE CAPA - DSTs
A doença silenciosa
Falta de informação ainda permite 1 milhão de casos de sífilis por ano, entre os brasileiros

Luisa Bustamante

Com os holofotes das campanhas de prevenção do governo voltados para o combate à Aids, outras doenças sexualmente transmissíveis, DSTs, tornam-se quase invisíveis diante da população. É o caso da sífilis, que apesar de ser vista como uma doença perdida no passado, é um grave problema de saúde pública, atingindo quase um milhão de brasileiros por ano, segundo dados do Ministério da Saúde. Especialistas afirmam que a falta de informação e de campanhas direcionadas especificamente para mulheres jovens são as principais causas do problema.
Enquanto a última campanha contra a Aids foi veiculada em dezembro do ano passado, a última voltada especificamente para outros tipos de DSTs é de agosto de 2009. O médico José Leonídio Pereira, do departamento de ginecologia e obstetrícia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concorda que a falta de informação seja justamente o agravante desta realidade.
– Se você fizer uma pesquisa com a população, vai perceber que 98% das pessoas já ouviu falar da Aids, mas a maioria desconhece as outras doenças transmitidas também através do sexo– especula. – Temos 32 mil pessoas com Aids no Brasil, enquanto há cerca de 1milhão portadores de sífilis, e mesmo assim as campanhas não mudam: isso é um problema.
Segundo Valdir Pinto, assessor técnico do departamento de DST, Aids e Hepatites virais do Ministério da Saúde, a melhor forma de combater a doença é se submeter a uma bateria de exames sempre que a pessoa fizer sexo sem preservativo. Desta forma, com o diagnóstico recente, ela pode buscar tratamento antes de transmitir a sífilis para outras pessoas.
Segundo Valdir, os sintomas aparecem entre dez e 90 dias após a relação sem camisinha, na forma de uma pequena ferida nos genitais, que logo desaparece. Depois, os sinais só vão surgir de três a oito semanas: queda de cabelo, manchas nas costas e nas mãos. – A pessoa não relaciona estes sintomas com aquela feridinha que apareceu lá trás – explica o especialista. – Enquanto isso, ela continua tendo relação desprotegida e contaminando outras pessoas, sem saber.
O médico José Leonídio explica que as campanhas do governo não são suficientes para conter o avanço da doença. – Não é novidade para quase ninguém que a camisinha é essencial – afirma. – O buraco é mais embaixo: se você for perceber, a maioria das festas hoje fazem chamadas de bebida liberada para mulheres. Ainda que uma menina saiba que deve se prevenir, ela não vai nem pensar nisso quando estiver bêbada, porque, quando bebemos, o emocional fala mais alto.
Os especialistas adiantam que, ainda que poucas pessoas cheguem à fase terciária da doença, quanto mais tardio o diagnóstico, maior a gravidade do caso. – A pessoa pode ficar até 15 anos sem saber que tem a doença – observa Leonídio. – Então pode sofrer os problemas da sífilis tardia, quando as complicações já são neurológicas, podem levar à demência e a problemas cardíacos de difícil tratamento.
Alberto Chebabo, infectologista da UFRJ, lembra que as gestantes são o grupo mais prejudicado pela doença. – O grande problema é a transmissão vertical da sífilis, quando a bactéria é passada da mãe para o bebê – comenta. – A grande vergonha que vivemos atualmente é a falta de uma campanha de esclarecimento de prevenção da sífilis neonatal. É um absurdo que, hoje, com o fácil tratamento e diagnóstico da doença, a gente ainda testemunhe mortes de bebês por conta da sífilis.
Segundo dados do departamento de DST, Aids e Hepatites virais do Ministério da Saúde, o Rio de Janeiro é o estado que registra o maior coeficiente de mortes por sífilis congênita (6,9 a cada 100 mil nascidos vivos). Até junho de 2010, o Brasil viu surgir quase 2 mil casos de sífilis congênita em bebês menores de um ano. Destes, a maior incidência (94,7%) se dá em crianças com menos de sete dias de idade.


COISAS DA POLÍTICA
Villas-Bôas Corrêa

A presidente Dilma continua surpreendendo
Se há alguma novidade no modorrento painel político do país, é inútil procurar na Câmara dos Deputados ou no Senado. O Tiririca já viveu os seus dias de sucesso no discutível palco do pitoresco. No Senado, a surpresa ficou por conta da presidente Dilma ao apoiar a eleição do senador José Sarney para a presidência do Senado, numa jogada de xadrez: a longa experiência do senador pelo Amapá, sua simpatia e lábia abrem portas e facilitam os acordos políticos em todas as áreas, sem exceção.
Mas ainda considero que a mais notável das mágicas do senador quase passa despercebida, embrulhada na rotina. Dilma conseguiu, na maciota, estabelecer com o ex-presidente Lula um relacionamento que começa por respeitá-lo, com a gratidão por quem é o responsável pela sua ascensão fulminante da chefia do Gabinete Civil, uma mistura pastosa de burocracia com o acompanhamento da fulminante ascensão do mais popular dos presidentes da história deste país sem nunca ter lido uma folha de papel com a chatice da burocracia.
O ex-presidente foi um craque nos dribles à rotina entediante do papelório. Não há registro de uma linha com a sua letra em oito anos dos dois mandatos. Por muito favor, a rubrica rabiscada às pressas. E o seu governo funcionou com a escolha de ministros competentes e da chefe da Casa Civil, a hoje presidente Dilma Rousseff.
Não tenho lembrança de um presidente que tenha imposto o seu sucessor sem dar a mínima atenção ao seu partido. O Partido dos Trabalhadores assistiu da geral à indicação da presidente Dilma. Nenhum petista ousou sugerir a sua candidatura. Os pretendentes não deram um pio. Foram comunicados da escolha pelos noticiários da televisão ou pelos jornais. E deu certo: a candidata Dilma superou os problemas de saúde, com a novidade do linfoma benigno, que ninguém sabe o que é. Candidata, correu com o seu grande eleitor, o presidente Lula, este país para “inaugurar as obras do PAC” ou o lançamento da pedra fundamental.
E está surpreendendo o distinto público com uma administração dinâmica, declarações claras e confiáveis e com uma facilidade de comunicação que não se esperava.
A sua popularidade cresce sem espalhafato. A presidente está presente nas muitas calamidades que afligiram o país, até a calamidade das tormentas que castigaram Nova Friburgo, a cidade onde passei longas temporadas e tenho uma casa, em Muri, poupada pela tormenta com pequenas sequelas.
A reeleição de Dilma são favas contadas, a menos que Lula seja candidato. Até lá, muita correnteza passará debaixo da ponte. E cá com os meus botões especulo sobre em que condições este país estará até as vésperas da eleição.
A oposição perdida na debilidade da sua representação parlamentar, sem um líder que se destaque na pasmaceira geral. O Congresso reduzido ao ridículo das bancadas que se confundem na paçoca sem sal, só por milagre de um santo desatento, construirá um candidato no Senado de raros destaques e na Câmara em que os conhecidos em geral não podem ser levados a sério.
A presidente Dilma enfrenta o seu pior desafio, com tranco para deter a inflação com medidas impopulares, como a suspensão das nomeações no serviço público dos aprovados em concursos federais e a suspensão de novos concursos este ano, uma medida radical que poderá ser derrubada pela Justiça.
No seu primeiro ano de mandato, Lula anunciou o corte de R$ 14 bilhões no Orçamento da União de 2003. Cortou bem menos. E, no mesmo dia em que cortou, apresentou 14 medidas em áreas como agricultura, energia elétrica, reforma agrária, que ainda não começou. Ficou para a presidente Dilma o desafio que rola no tapete fofo da burocracia.


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