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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

24 de fevereiro de 2011 - O GLOBO


DESTAQUE DE CAPA
Petróleo líbio cai à metade e preço dispara no mundo

Praticamente metade da produção de petróleo na Líbia foi suspensa ontem diante do agravamento dos conflitos no país. Até agora, nove petrolíferas, entre elas Shell, BP, a italiana Eni, a francesa Total e a espanhola Repsol, interromperam suas operações. Com a crise, o barril do petróleo em Londres ultrapassou os US$ 111, com alta de 5,6%, Em Nova York, subiu 2,8%, atingindo o maior patamar desde setembro de 2008, quando estourou a crise financeira mundial. A alta do petróleo provocou forte valorização das ações da Petrobras, de até 4,66%. O papel foi muito procurado por investidores estrangeiros, inclusive da China.


CORTE DE GASTOS
Vetos atingem pastas que mais investiram
Reduções no Orçamento de 2011 não pouparam pastas como Transportes; detalhes do cortes serão anunciados quarta

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. A equipe econômica fecha o detalhamento do corte R$50 bilhões com o desafio imposto pela presidente Dilma Rousseff de não afetar os investimentos. Mas os vetos já feitos ao Orçamento da União de 2011 - que somaram R$1,87 bilhão - indicam que não serão poupados nem mesmo ministérios que concentram investimentos. O Ministério dos Transportes, que concentra obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), por exemplo, perdeu de imediato, com os vetos, R$333,2 milhões. Os detalhes dos cortes serão anunciados na próxima quarta-feira.
A dificuldade, segundo integrantes do governo, é fechar o número apenas com cortes em custeio da máquina. Em princípio, os ministérios que se transformaram em "campeões de emendas parlamentares" serão os mais afetados no detalhamento do corte a ser anunciado pelo governo na próxima semana, como os ministérios do Turismo, Esportes e Cultura.
No caso dos investimentos, os vetos reduziram, por exemplo, a verba do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) perdeu de imediato um total de R$282,6 milhões, referentes a emendas. Também foi cortada emenda de R$50,6 milhões para a companhia Valec, que cuida da construção da Ferrovia Norte-Sul, uma das obras mais citadas pela presidente Dilma Rousseff.

Vetos reduziram verbas para a área social
E, na prática, o PAC já foi "cortado" no Congresso e não anunciaram a recomposição do valor original como prometido. A verba do PAC ficou em R$40,15 bilhões, contra os R$43,5 bilhões originais, numa redução de R$3,37 bilhões por decreto. Além disso, o corte das emendas reduzirá, de fato, o volume de investimentos para 2011. Isso porque o Congresso havia inflado em cerca de R$12 bilhões - com as emendas parlamentares - os investimentos do governo federal, sem contar as estatais, que saltaram para R$63,5 bilhões.
Os vetos não pouparam nem a área social. O Ministério do Desenvolvimento Social perdeu R$117, 1 milhões em emendas, sendo que só o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) ficou sem R$126,6 milhões. Inflado por emendas, o Ministério da Cultura já perdeu com os vetos um total de R$237,3 milhões - tudo concentrado no Fundo Nacional de Cultura. Ao passar pelo Congresso, o orçamento da Cultura saltou de R$1,65 bilhão para R$2,09 bilhões. A Cultura ainda terá uma redução técnica: serão cortadas todas as emendas para entidades privadas, quando o objetivo for a realização de eventos. Essa proibição foi aprovada pelo Congresso.
Mesmo com obras para a Copa do Mundo e Jogos Olímpico, o Ministério dos Esportes deve ter os recursos minguados, já que a maior parte da verba vem de emendas. Ao passar pelo Congresso, Esportes teve seu orçamento aumentado de R$1,29 bilhão para R$2,47 bilhões, quase R$1,2 bilhão em emendas.

Verba do Turismo sofrerá corte de quase 80%
Outro que verá minguar sua verba será o Ministério do Turismo. Segundo estimativas, ele terá um corte de quase 80%. A ordem foi cortar todas as emendas, que somaram R$2,8 bilhões, além de 30% da verba original prevista pelo governo, cerca de R$260 milhões. Alvo de denúncias em 2010 sobre a execução de emendas, o orçamento do Turismo passou de R$862,9 milhões para R$3,7 bilhões. Deve encolher para cerca de R$740 milhões apenas, menos do que a proposta original.
O Ministério da Ciência e Tecnologia terá um corte acertado de R$1,6 bilhão, sendo que R$711 milhões já foram cortados com os vetos presidenciais.
O Ministério da Defesa teve um corte anunciado de cerca de R$4,1 bilhões nos R$15,1 bilhões previstos para investimentos, inicialmente. Na semana passada, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que iria distribuir os cortes entre Exército, Marinha e Aeronáutica.
A expectativa do Planejamento é anunciar o detalhamento da redução de R$50 bilhões até a próxima quarta-feira. De forma inédita, a presidente Dilma Rousseff já começou os cortes na sanção do Orçamento, com os vetos. Geralmente, o congelamento de despesas só ocorria em março, com o decreto de programação orçamentária.
Semana passada, a secretária de Orçamento do Ministério do Planejamento, Celia Correa, disse que a tesourada do Executivo não deve afetar investimentos federais, mas reconheceu que, mantidos estes gastos, não sobra muito para outras áreas. Dos R$50 bilhões, R$18 bilhões são das emendas.


BOLSA DE VALORES
Ações da Petrobras puxam alta da Bovespa
Mas estatal perdeu R$204 milhões desde 25 de janeiro por não aumentar preço de gasolina

Lucianne Carneiro

As ações da Petrobras dispararam ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), refletindo a alta no preço do petróleo no mercado internacional. Os ganhos para os acionistas a médio prazo, no entanto, poderiam ser maiores, se não fosse a política da estatal de não repassar a oscilação do custo de sua matéria-prima para a gasolina e o diesel, que representam 70% de sua receita com derivados. Estudo do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) estima que a empresa perdeu R$125,6 milhões durante o agravamento dos protestos no Egito, entre 25 de janeiro e 11 de fevereiro, devido ao descompasso entre os preços da gasolina e do diesel nos mercados brasileiro e internacional. De 25 de janeiro até ontem, ou seja, considerando também o período que abrange os conflitos na Líbia, o prejuízo chega a R$204,1 milhões.
O papel ordinário (ON, com direito a voto) da Petrobras subiu 4,66% ontem, para R$33,01, o maior nível desde 6 de agosto, antes da capitalização da empresa. No mês, a alta é de 9,85%. Já o preferencial (PN, sem voto) avançou 3,38%, para R$28,71, preço mais elevado desde 6 de setembro, também antes da capitalização. O volume negociado pelos papéis foi de R$2,324 bilhões, ou 24,7% do giro financeiro da Bolsa ontem. O movimento impulsionou o Ibovespa, principal referência do mercado, a fechar com ganho de 0,71%, aos 66.910 pontos. Já OGX ON subiu 2,51%, para R$19,20. E o dólar subiu 0,11%, a R$1,675.
- As petrolíferas ganham com a alta do petróleo, que é seu principal ativo. No caso da Petrobras, quanto mais caro for o preço, maior é a viabilidade do pré-sal. Mas a empresa tem ingerência política e o próprio presidente (José Sérgio Gabrielli) falou que não vai repassar o preço para a gasolina. O acionista vai ganhar dinheiro, mas poderia ganhar mais - afirma o diretor do CBIE, Adriano Pires.
Segundo o gerente da mesa de investimento pessoa física do Banco Fator, Alfredo Sequeira, bancos internacionais têm elevado a recomendação para ativos do petróleo, incluindo a Petrobras:
- Houve recomendação para Petrobras até da China. Pelo volume que os papéis tiveram, houve uma leva de investidores estrangeiros.
O preço do petróleo também foi responsável, segundo o chefe de mesa da HSBC Corretora, Frederico Soares, pela queda nas ações de Gol e TAM.
- São companhias que têm exposição ao petróleo por causa dos custos com querosene de aviação - diz Soares, lembrando que o possível impacto do preço do petróleo na inflação, que pode levar a juros mais altos, acaba influenciando negativamente também ações de empresas de varejo e de construção.
A favor da Petrobras, também contam os preços baixos das ações, que não vinham com bom resultado na Bolsa desde o processo de capitalização da empresa, em setembro de 2010. Além disso, há perspectivas de receita maior com exportações.
- Mesmo sem repasse de preços na gasolina, há outros derivados que não são controlados pelo governo, como querosene de aviação e nafta. A Petrobras também é beneficiada com as exportações e o aumento da viabilidade dos projetos do pré-sal - destaca o analista de petróleo e gás da SLW Corretora, Erick Scott Hood.
Amanhã, a companhia divulga, após o fechamento do mercado, o balanço financeiro relativo ao quarto trimestre de 2010.
VÍTIMAS DA DITADURA
Ação do MP anima parentes de desaparecidos
Famílias de vítimas comemoram investigação; para ministra de Direitos Humanos, instituições militares estão atentas

Cássio Bruno

As famílias de ativistas de esquerda vitimados pela ditadura comemoraram ontem a iniciativa do Ministério Público Militar do Rio de investigar o desaparecimento de cerca de 40 presos políticos levados a unidades militares no Rio e no Espírito Santo. Segundo os parentes, a apuração possibilitará uma nova esperança de descobrir o paradeiro das vítimas e, pelo menos, identificar os responsáveis. Para a ministra-chefe da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Maria do Rosário, é a prova de que instituições militares estão atentas.
Lúcia Vieira Caldas, de 63 anos, filha do jornalista Mário Alves de Souza Vieira, procura pelo pai há 41 anos. Ele desapareceu em 16 de janeiro de 1970, quando saiu de casa, na Abolição, Zona Norte do Rio.
- A Justiça declarou, em 1981, que a União foi responsável pela prisão ilegal, sequestro, tortura, assassinato e ocultação do cadáver. Investigar é importante. Tudo que queremos é esclarecer, saber o que ocorreu - afirmou Lúcia.
Sérgio Soares Ferreira, de 60 anos, primo do sociólogo Carlos Alberto de Freitas, preso em 15 de fevereiro de 1971 e até hoje desaparecido, disse que o tempo não fará a família desistir de saber o que aconteceu.
- Em 1967, meu primo foi condenado a 4 anos por atividades subversivas. Ele ficou foragido, mas acabou preso. Dois meses depois, entramos com um habeas corpus e o Supremo Tribunal Militar disse que ele não estava preso em nenhuma das unidades militares do país. Queremos saber como e em que circunstâncias ele morreu - ressaltou Ferreira.
A iniciativa de investigar os desaparecimentos no regime militar partiu do promotor Otávio Bravo. Ele pediu ajuda a entidades como o Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, e já tem em mãos a relação de 40 nomes, entre eles os de Carlos Alberto e Mário Alves.

"Trata-se de uma página da História que não foi virada"
A motivação de Bravo surgiu no ano passado, após a apresentação do trabalho de conclusão de curso do estudante de Direito da PUC-RJ, Rodrigo Ayres, de 24 anos. Na monografia, o jovem fez um paralelo entre a Lei de Anistia e a decisão da Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA de condenar o Brasil por graves violações aos direitos humanos na repressão à Guerrilha do Araguaia.
Para Maria do Rosário, o início das investigações é fundamental para a democracia:
- Essa medida soma-se ao movimento que está se fortalecendo em várias instituições em relação ao direito à verdade e à memória. Contribui para a democracia. Ainda mais quando se trata do Ministério Público Militar. É a prova de que instituições que atuam na esfera militar estão atentas.
O presidente da OAB do Rio, Wadih Damous, tem reunião marcada amanhã com o promotor Otávio Bravo.
- Trata-se de uma página da História do Brasil que não foi virada. A ferida ainda está aberta. Daremos todo apoio institucional e atenderemos a todas as solicitações do Ministério Público Militar - disse Damous.


Buscas em SP localizam ossada feminina

Adauri Antunes Barbosa

SÃO PAULO. Os  restos mortais encontrados ontem no  cemitério da Vila Formosa, em São Paulo,  pelas equipes da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (Cemdp) e do Ministério Público Federal (MPF), não são de Virgílio Gomes da Silva, o Jonas, militante de esquerda morto pela ditadura militar em 1969. Ossos de quatro pessoas foram exumados depois de escavações no cemitério, mas pelas características foi afastada a possibilidade de serem de Virgílio.
— Os restos mortais encontrados eram de pessoas que não  tinham  fraturas no crânio e na clavícula, características que podem identificar a ossada do desaparecido político procurado — disse um dos técnicos que acompanhou as buscas.
As buscas, que serão retomadas hoje, são feitas por peritos do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal e do Instituto Médico Legal de São Paulo. Entre as ossadas periciadas foi possível identificar restos mortais de uma mulher, segundo Jeferson Evangelista Corrêa, chefe de medicina forense do INC.
Segundo ele, pelo menos mais uma sepultura será escavada, já que peritos delimitaram uma área de buscas de cerca de 100 metros quadrados — depois de análise de fotos aéreas, mapas e  registros antigos do cemitério. As ossadas recolhidas no cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste de São Paulo, passarão por exames para que sejam identificadas, como análises de arcadas dentárias e de dimensões de ossos, em uma base instalada pelos peritos no IML da capital.
A  família de Virgílio Gomes da Silva obteve documentos que indicam o  local, no cemitério da Vila Formosa, onde ele teria sido enterrado depois de ter sido torturado e assassinado. A viúva de Virgílio, Ilda Martins da Silva, e um de seus filhos, Virgílio Gomes da Silva Filho, acompanharam o trabalho dos peritos.
— Tenho esperança de que encontrem ele ou outros, já que muitos companheiros foram enterrados aqui — disse Ilda.


PENSÃO MILITAR
Exército pagará pensão a parceiro de capitão gay
Bancário aposentado foi companheiro do militar por 30 anos, em Minas, e dividirá o benefício com duas irmãs dele

Thiago Herdy

BELO HORIZONTE. Doze anos após a morte do companheiro, que era capitão do Exército em Juiz de Fora (MG), o bancário aposentado José Américo Grippi, de 66 anos, ganhou na Justiça Federal o direito de receber pensão militar. Ele já havia obtido na Vara de Família o reconhecimento da união estável e o direito a 50% dos bens do parceiro, o capitão Darci Teixeira Dutra. Mas, em 2007, ingressou com nova ação para receber metade da pensão que era paga a duas irmãs do militar.
No início, houve resistência, mas as parentes do capitão decidiram celebrar um acordo na Justiça com Grippi para cada parte receber um terço do valor da pensão. A Advocacia Geral da União não se opôs ao acertado, porque não houve aumento de dispêndio do Estado.
- As pessoas devem ter coragem de lutar pelos seus direitos. Para ser respeitado, antes de tudo é preciso se fazer respeitar - disse Grippi, que tinha apenas 20 anos quando começou com o capitão Dutra um relacionamento que durou mais de três décadas.
Antes da decisão, o aposentado procurou o Exército, mas teve o pedido de pensão negado. Quando recorreu à Justiça, entrou em acordo com a família do militar, e a decisão foi selada pelo juiz Renato Grizotti, da 2º Vara Federal de Juiz de Fora.
O Centro de Comunicação do Exército explicou que a instituição já recebeu a sentença e "vai cumprir as decisões legais determinadas". Para o Departamento Militar da Procuradoria Geral da União, só é possível dizer se este caso é o primeiro no país por meio de ampla pesquisa em processos dessa natureza, a maioria deles protegida por sigilo. Inédita ou não, a conquista de Grippi é bastante simbólica, na avaliação de sua advogada, Julimar Pironi. Tanto pela rapidez do trâmite na Justiça quanto pela jurisprudência criada, que poderá servir a outros casos.
- No ano passado, houve ação semelhante no Rio Grande do Sul, mas não envolvia militares do Exército. Utilizei essa decisão para pleitear a pensão, mas a causa foi uma vitória pessoal de José Américo, que nunca agiu por ambição - disse ela
Grippi vivia com o capitão num sítio de Juiz de Fora, com a aprovação de parentes de ambos. Sem herdeiros diretos, Dutra morreu em 1999 e deixou seus bens para as irmãs, como o sítio, um apartamento e carros. Grippi conseguiu na Justiça o direito a metade do que o capitão havia adquirido a seu lado. Alguns anos depois, resolveu brigar também pela pensão.
Para o chefe da Procuradoria da União em Juiz de Fora, Marcelo Adriano, embora o episódio possa contribuir para a concessão de benefícios a outros parceiros de militares, este foi um caso atípico. Isso porque houve acordo de divisão entre irmãos do militar e seu companheiro, o que é raro, e não houve mais custos para a União.
- Já há na área da Advocacia Geral o reconhecimento de direitos previdenciários de companheiros no regime geral do INSS. Mas não há isso para servidores públicos civis e militares.
Segundo o ele, se o pedido de Grippi acarretasse no pagamento de uma nova pensão pelo Estado, os advogados da União não aceitariam o acordo celebrado em Juiz de Fora e o caso ainda precisaria ser discutido à exaustão pela Justiça.


Relação conturbada

O debate em torno do tratamento dispensado pelo Exército a militares gays é recorrente. Em fevereiro do ano passado, o general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho causou polêmica ao afirmar que as Forças Armadas não deveriam aceitar a presença de gays. “O indivíduo não consegue comandar. A tropa fatalmente não vai obedecer. Isso está provado”, afirmou Cerqueira, acrescentando que “talvez haja outro ramo de atividade que ele (o gay) possa desempenhar”. Ele sugeriu ainda que militares gays mantivessem a opção sexual em segredo. O oficial deu as declarações ao ser nomeado para o Superior Tribunal Militar (STM). Uma semana depois, se retratou das declarações.
Em junho de 2008, o sargento Laci Marinho de Araújo foi preso pela Polícia do Exército, acusado de deserção. Dias antes, ele e o também sargento Fernando Alcântara haviam sido capa de uma edição da revista “Época”, em que assumiam ser um casal . Na ocasião, o Comando do Exército negou que a detenção tivesse relação com o fato de terem assumido a homossexualidade e informou que o processo de deserção era anterior à reportagem.


AVIAÇÃO
Lucro líquido da Gol caiu 76% em 2010
Companhia teve ganho de R$ 214 milhões, frente a R$ 890 milhões de 2009

SÃO PAULO. A Gol anunciou ontem que em 2010 teve lucro líquido de R$ 214,2 milhões, contra R$ 890,8 milhões em 2009, uma queda de 76%. No quarto trimestre do ano passado, o ganho foi de R$ 132,2 milhões, recuando 66,8% em relação ao mesmo período de 2009. O vice-presidente financeiro da companhia aérea, Leonardo Pereira, atribuiu a queda no lucro à forte base de comparação de 2009, quando o ganho foi beneficiado pelo uso de créditos fiscais de cerca de R$ 350 milhões reconhecidos na linha de Imposto de Renda e Contribuição Social, decorrentes de prejuízos da Varig, comprada em 2007.
Apesar da queda no lucro líquido, os números operacionais mostraram melhora. A receita líquida cresceu 15,6% no quarto trimestre, para R$ 1,87 bilhão. Os custos e as despesas operacionais, enquanto isso, somaram R$ 1,61 bilhão, 7,3% acima do registrado um ano antes.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação, amortização e leasing de aeronaves (Ebitdar) nos três últimos meses de 2010 somou R$ 475 milhões, avanço de 63,8% na comparação anual. A margem subiu para 25,4%, ante 17,9%. No ano, o Ebitdar somou R$ 1,5 bilhão, acima do R$ 1,2 bilhão no ano anterior.
A Gol tinha em dezembro quase R$ 2 bilhões em caixa e aplicações financeiras, crescimento de 37,2% frente ao fim de 2009.
Em janeiro, a empresa divulgou que espera desaceleração do crescimento da demanda brasileira por transporte aéreo neste ano, com avanço de 15 a 20%, após taxas acima de 20% em 2009.
O vice-presidente financeiro da Gol afirmou ainda que o aumento das tarifas da Infraero em horários de pico nos aeroportos a partir de 14 de março deve afetar o lucro operacional da empresa em 2011 em cerca R$ 50 milhões. O valor já está incluído nas projeções da empresa para este ano.

Alta do petróleo pode puxar preços de passagens, diz Gol
Mesmo com os recentes aumentos do preço do petróleo no mercado internacional devido à instabilidade política na Lìbia, a Gol não vê necessidade de rever sua política de hedge (proteção) da commodity.
— Nós já temos um cenário com preço médio do barril em torno de US$ 93. Temos um custo muito baixo, o que para nós é um fator de fortaleza, temos uma reserva de caixa muito forte, temos um balanço que não tem nada vencendo significativamente nos próximos três ou quatro anos em termos de dívida — disse Pereira.
A Gol ainda prevê estabilidade no preço médio das passagens neste ano, mas o petróleo pode mudar o cenário. De acordo com o diretor de Mercado de Capitais da Gol, Rodrigo Alves, se o petróleo continuar em alta “é muito provável que isso aconteça”.


ANCELMO GOIS

Gente sabida
O pessoal da Lan Chile, que desembarcou na TAM, sabe fazer dinheiro. Está cobrando R$ 20 a mais de quem senta na fileira mais espaçosa da saída de emergência.


CORA RÓNAI

Visita ao Galeão
Foi só eu avisar que tinha aceitado o convite da Infraero para visitar o Galeão que choveram advertências na minha caixa postal. Havia a idéia geral de que eu não devia fazer a visita guiada pela Infraero, mas sim, sozinha: caso contrário, veria um aeroporto completamente diferente da realidade.
Entendi a preocupação, mas era exatamente essa a minha intenção. O Galeão que está aí eu conheço bem. O que eu queria ver, justamente, era o tal Galeão que a Infraero afirma existir, um grande aeroporto, em obras, preparando-se para o futuro e para oferecer bons serviços.
Fui recebida pelo Andre Luis Marques de Barros, superintendente do aeroporto; pelo Lucinio Baptista da Silva, superintendente regional; pela Silvia Vilanova e pela Debora Mello, da assessoria de imprensa; e mais a Lea Cavallero, que havia respondido à crônica em que eu descascava o aeroporto. Um comitê de recepção e tanto.
Começamos o tour pelo Terminal 2 – não na parte que conhecemos, mas no espaço da foto, que fica atrás da área de embarque e que vai realmente ampliar muito o Galeão. Às 48 atuais posições de check-in do T2 serão acrescentadas outras 64, e às dez cabines da Polícia Federal, outras 28. O piso já está colocado, e o lugar tem um aspecto quase habitável; se fosse um apartamento, eu diria que falta parte dos acabamentos e a mobília. Ficará pronto no ano que vem.
Não recebi apenas advertências na mailbox. Recebi também incontáveis queixas, reclamações e sugestões de perguntas a serem feitas às autoridades competentes. Levei várias dessas broncas comigo. A Luciana Misura, por exemplo, que tem uma filhinha pequena, fica particularmente indignada com o tamanho dos banheiros e com a ausência de fraldários:
“Por que a área de embarque não tem um fraldário? Passamos pela Polícia Federal, segurança e, enquanto esperávamos o embarque começar, Julia sujou a fralda. Fomos informados que não tem lugar para trocar uma fralda!”
Segundo André Luis, a questão dos banheiros está na ordem do dia. Há lojas fechadas ao lado dos atuais, cuja área será incorporada a eles. Com isso se ganhará espaço e um bom fraldário na área de embarque. A Infraero, me disse ele, tem o maior interesse em passar o máximo de serviços possível para as áreas restritas, porque o público que circula nas áreas gerais não respeita nada.
-- Nós instalamos 180 ganchos nos banheiros para as senhoras pendurarem as bolsas e, num único fim-de-semana, foram todos roubados, lamenta o superintendente. – O material de serviço desaparece, as torneiras são levadas, o que pode ser carregado geralmente é.
Mais tarde, passando por um dos banheiros (que, aliás, estava bem limpo) vi um daqueles cheirinhos de ambiente fechado numa gaiola de madeira trancada a cadeado. Tive que ser solidária com a turma da Infraero. Trabalhar assim é difícil.
 “Terça, num vôo de Lisboa para o Rio, esperei 90 minutos pelas minhas malas, -- reclamou a Celina D’Araujo. -- A esteira rodava com malas esparsas, parava de vez em quando. Onde estão os funcionários? É de fato um abuso!”
Lucínio Baptista da Silva, o superintendente regional, me explicou que um dos grandes problemas da Infraero é levar a culpa por atrasos e transtornos causados aos passageiros por outras empresas e agentes – no caso específico da Celina, a inspeção da Vigilância Sanitária. Passageiros que chegam ao Brasil procedentes da Peninsula Ibérica correm mesmo o risco de esperar horas pela bagagem, porque, de cada dez malas, constatou-se que seis contém queijos ou presunto, cuja entrada é proibida no país. Já quem chega de Miami enfrenta a mesma demora, causada, porém, pela Polícia Federal, que passa mala por mala pelo Raio-X em busca de contrabando.
A Infraero também leva a culpa quando há poucos agentes na imigração, quando aviões param em posições remotas e quando os passageiros têm que esperar dentro dos aviões pelos ônibus para levá-los ao terminal.
-- Nós temos ônibus de sobra, -- disse André Luis. – Cabe às companhias aéreas prever a quantidade de ônibus de que vão necessitar, e solicitá-los em tempo hábil. Só pedimos um mínimo de organização. Quando ele não acontece, sobra para o aeroporto. Mesma coisa em relação às malas, cujo manuseio também é de responsabilidade delas.
As esteiras, campeãs de reclamações, são mesmo umas porcarias. Mas – isso eu vi – estão sendo trocadas. No dia em que fui ao aeroporto, a primeira nova esteira do Terminal 1 estava em fase final de instalação. Ainda esse ano, garante a Infraero, o problema estará resolvido: as novas esteiras ocupam uma área maior e as malas ficarão rodando à vista dos passageiros, sem sumir por trás da cortina.
Outros campeões de reclamações, os elevadores e aparelhos de ar refrigerado, também estão em vias de troca. Por causa disso, algumas áreas de elevadores têm estado isoladas e há dias em que o ar, em certos setores, não funciona. Vi as caixas desses trambolhos todos por lá, andei num dos elevadores novos e vi vários novos aparelhos de ar já instalados.
Fiquei bem impressionada com as obras. Acho que vamos continuar nos irritando ainda por uns tempos, mas, se tudo correr bem, teremos um aeroporto bastante direito no fim do ano que vem. Resta saber se o governo do estado está interessado nisso e se vai fazer a sua parte. Vale lembrar que, entre outras coisas, aeroporto sem bom transporte público para a cidade que serve é sempre péssimo para o usuário, independentemente de quantas camadas de mármore tenham as suas colunas. 


NOTAS

Nova tropa no Alemão
Cerca de 1.600 militares da Brigada de Infantaria Leve de Campinas vão substituir parte da tropa que está no Complexo do Alemão e no da Penha. Esse contingente, que vai substituir a 9a- Brigada de Infantaria Motorizada, assume o patrulhamento em jullho. A troca já estava prevista para o mês de julho pelo Comando Militar do Sudeste (CMSE), sediado no Estado de São Paulo, devido aos 5o- Jogos Mundiais Militares. O trabalho desenvolvido nas favelas não sofrerão qualquer modificação. 

 FONTE: O GLOBO



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