INFRAESTRUTURA
Em 8 sedes da Copa, obra de aeroporto tem atraso de 1 ano
Apenas Viracopos e Galeão estão dentro do cronograma
Samantha Maia | De São Paulo
Dos 13 aeroportos que atenderão as cidades-sede da Copa do Mundo de futebol em 2014, oito apresentam atrasos de mais de um ano nas obras. São eles Brasília, Confins, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre e Guarulhos. Três projetos de ampliação - em Natal, Recife e Salvador - podem ser afetados, pois dependem de licença ambiental, aval do Tribunal de Contas da União ou da elaboração dos projetos. Apenas dois aeroportos têm seus empreendimentos dentro do prazo, Viracopos, em Campinas (SP), e o Galeão (RJ).
A três anos do Mundial, a Infraero ainda busca alternativas para alavancar os investimentos. A estatal mantém os prazos de entrega das obras e afirma que ainda é possível ter todos os aeroportos prontos até 2013, apesar dos atrasos em relação ao prazo planejado anteriormente.
Uma das formas de adiantar as obras é a parceria com os Estados. É o caso do Mato Grosso, onde o governo estadual deve formalizar esta semana um convênio com a estatal, em que se compromete a cuidar da licitação e da contratação das obras para a ampliação do terminal de passageiros. Enquanto isso, a Infraero vai cuidar da instalação de uma área provisória para a recepção dos passageiros, o chamado módulo operacional.
A previsão é que o módulo seja contratado ainda neste semestre, um investimento de R$ 3,5 milhões. A licitação pode ocorrer ainda em fevereiro. O projeto básico para a ampliação do terminal de passageiros e estacionamento deve ser entregue em setembro de 2011, quando o Estado pretende lançar a licitação de contratação das obras. Assim, quando o projeto executivo estiver pronto, por volta de janeiro de 2012, será possível dar a ordem de serviço ao empreendimento, segundo o secretário de acompanhamento da logística de transportes, Francisco Vuolo. "Esse acordo é um grande avanço, pois definimos as obrigações, o que vai permitir que a gente cumpra o cronograma", diz. O governo está trabalhando também na formulação dos projetos para melhorar os acessos ao aeroporto, o que inclui a construção de um corredor de ônibus.
Os dois aeroportos de São Paulo com obras relacionadas à Copa - Guarulhos e Viracopos - vivem situações distintas. Os problemas de Guarulhos estão entre os mais complexos - os investimentos no sistema de pista e pátio estão atrasados há mais de seis anos (houve apenas uma reforma da pista entre 2007 e 2008) e o terceiro terminal de passageiros só agora começou a ser construído. A terraplenagem da área está sendo realizada pelo Exército e a perspectiva é lançar os editais para a infraestrutura do terminal até julho. Segundo a Infraero, a previsão é concluir a primeira fase do novo terminal até 2014 - ano da Copa.
No Aeroporto de Viracopos, os prazos estão em dia. A licença ambiental foi liberada no fim de janeiro e Infraero abriu a licitação para a elaboração dos projetos. Será uma concorrência internacional, e envolve o projeto do novo terminal de passageiros, garagem, sistema viário de acessos, pátio de estacionamento de aeronaves e hotel com centro de convenções. A abertura das propostas será no dia 15 de março, e os investimentos somam R$ 44,6 milhões.
A licitação para as obras só deve ser feita em 2013, mesmo ano para o qual a Infraero projeta a conclusão da primeira etapa de ampliação do aeroporto. A construção do terminal será feita em duas fases. A estimativa de custo para a primeira etapa é de R$ 823 milhões e permitirá que o aeroporto receba 9 milhões de passageiros por ano. Essa fase deve ser finalizada em novembro de 2013, indicando pouco mais de um semestre para a realização do investimento.
Em Curitiba as licitações também estão em andamento, mas começaram atrasadas. A contratação do projeto para a ampliação do sistema de pátio e pista de táxi teve o edital publicado em 10 de janeiro, e a ampliação do terminal de passageiros e do sistema viário terá o edital lançado em 2 de março.
A Infraero enfrenta problemas com as obras de reforma do terminal de passageiros do aeroporto de Confins, em Belo Horizonte. Na semana passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) mandou suspender a licitação por verificar sobrepreço de R$ 45,9 milhões. O investimento total é de R$ 294,7 milhões. Outra conclusão do TCU é de que a proibição da participação de consórcios na licitação é um indício da irregularidade. A Infraero tem até o fim do mês para apresentar justificativas, e informou que já está adequando o edital, empenhada em "minimizar o prazo para as adequações".
O aeroporto do Recife teve o contrato de recuperação da pista rescindido pela Infraero por incapacidade técnica da empresa, e a previsão atual é de relançar a licitação em até o fim de março
Outros aeroportos estão em fase de desenvolvimento dos projetos, e, portanto, ainda sujeitos à análise do TCU e às inseguranças do tempo para a obtenção das licenças ambientais. São eles os aeroportos de Manaus, Fortaleza, Salvador, Porto Alegre e Brasília.
Em Natal, a Infraero está inaugurando um modelo de concessão à iniciativa privada, que está sendo avaliado pelo TCU. Foi a forma encontrada para deslanchar uma obra que já se arrasta por mais de seis anos, desde o início de 2004. A pista do aeroporto de São Gonçalo do Amarante está sendo construída pelo Exército, um aporte de R$ 100 milhões. O parceiro privado deverá investir cerca de R$ 408 milhões na construção dos terminais de cargas e de passageiros, além da montagem da estrutura para suportar os equipamentos de proteção de voo. A expectativa é de que a licitação possa ocorrer entre abril e maio deste ano.
AVIAÇÃO
Gol tem aval para elevar proteção contra forte alta do preço do petróleo
Eduardo Laguna | De São Paulo
Diante da disparada das commodities, provocada pelas manifestações contra ditaduras no mundo árabe, a Gol informou que 80% de suas necessidades de combustível estão expostas à valorização do petróleo. Já a parcela de 20% restante está protegida nos próximos 12 meses por contratos de hedge, que garantem o consumo de combustível com o preço do petróleo fixado em US$ 90 e US$ 92. Caso necessário, a direção tem autorização para elevar o percentual a até 50% nos próximos dois anos.
"Mas temos que saber o momento certo para fazer isso", disse o diretor de finanças, Leonardo Pereira, explicando que a decisão por novos contratos de hedge dependerá da trajetória da commodity. Nas contas da empresa, a cotação média do petróleo do tipo WTI deve ficar entre US$ 82, no melhor cenário, e US$ 93, no pior. Ontem, o produto alcançou US$ 98,10 no contrato com vencimento em abril negociado em Nova York.
Apesar dessa pressão sobre as margens operacionais, Pereira disse que a Gol está em uma posição confortável, já que se preparou para enfrentar ciclos mais turbulentos, reduzindo seu passivo, fortalecendo o caixa e melhorando a eficiência das aeronaves.
Além do encarecimento do combustível, o grupo prevê para este ano despesas de R$ 50 milhões decorrentes do reajuste das tarifas aeroportuárias, a ser aplicado a partir de 14 de março.
Já do lado da receita, a companhia aérea trabalha com um cenário de estabilidade nas tarifas aéreas, dado que o ambiente de mercado competitivo deve dificultar repasses ao consumidor.
As estimativas traçadas para este ano indicam que o "yield" - indicador do preço pago pelo passageiro por quilômetro de voo - ficará na faixa de R$ 0,19 a R$ 0,21, em linha com a média de R$ 0,20 do quarto trimestre, que representou avanço de 12,9% em 12 meses.
Na manhã de ontem, a Gol anunciou ao mercado que teve lucro líquido de R$ 132,2 milhões no quarto trimestre, uma queda de 66,8% em relação ao mesmo período de 2009, quando o resultado foi inflado por um efeito não recorrente: o uso de um crédito tributário da ordem de R$ 352 milhões.
No ano, acumulou ganhos de R$ 214,2 milhões, marcando queda de 76%, segundo o balanço que segue o padrão contábil internacional conhecido como IFRS.
Na divulgação dos números, Pereira procurou destacar os resultados operacionais da companhia. Nesse ponto, afirmou que a margem do lucro antes de juros e impostos (Ebit, na sigla em inglês) - de 14% nos três meses - foi a maior nos últimos 16 trimestres. Na comparação com os três últimos meses de 2009, houve avanço de 6,6 pontos percentuais na margem Ebit, que mede a relação entre lucro operacional e receita líquida.
A Gol poderá elevar em 19% seus investimentos para aproveitar melhor o crescimento do mercado de aviação doméstico neste ano, estimado entre 10% e 15%. Os aportes previstos para 2011 são de R$ 500 milhões a R$ 550 milhões, acima dos R$ 462,3 milhões de 2010.
A maior parte dos recursos será destinada à compra de aeronaves. Até dezembro, a Gol receberá nove aviões, com aumento líquido da frota, que era de 110 aeronaves no fim de 2010, em cinco unidades.
ORIENTE MÉDIO
Governo vê riscos para projetos de empreiteiras brasileiras na região
Sergio Leo | De Brasília
Cautela e expectativa marcam a reação do governo brasileiro às revoltas políticas no mundo árabe. A indefinição sobre o futuro desses países, e mesmo sobre os objetivos dos grupos que contestam os governos estabelecidos, torna "apressada" e temerária qualquer manifestação, disse ao Valor o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, que, como os diplomatas, fez questão, porém, de comentar o anúncio da Liga Árabe, de suspensão da Líbia no grupo. "É sintomático", disse Garcia.
A nota do Itamaraty sobre a Líbia marcou um endurecimento no tom do Brasil em relação às ações de governos da região contra as revoltas populares. Na nota, o governo brasileiro "repudia os atos de violência" que resultaram e mortes de civis e "exorta" o governo líbio a "respeitar e garantir os direitos de livre expressão". Na presidência temporária do Conselho de Segurança da ONU, a embaixadora do Brasil, Maria Luiza Ribeiro Viotti, leu o comunicado em que o conselho exigiu o fim da violência e o diálogo com a população.
Garcia nega que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja "amigo" do ditador líbio Muamar Gadafi, como o próprio Lula chegou a dizer ao visitar Trípoli, em 2005. "Ridículo falar agora em amizade; ele falou 'amigo', assim como chamou George Bush e outros chefes de Estado de companheiro", argumenta o assessor, que já ocupava o posto no governo anterior. "Ele esteve em Trípoli como esteve no Palácio do Eliseu ou em Camp David", diz Garcia, lembrando que, após a visita de Lula à Líbia, os governos ocidentais reataram relações com Gadafi, que recebeu visitas de autoridades do Reino Unido, França, Estados Unidos e Itália.
A defesa dos interesses diplomáticos, econômicos e comerciais do Brasil dependerá da feição que os países assumirem como resultado das mudanças políticas, diz Garcia. No Itamaraty, diplomatas graduados argumentam que os conflitos políticos poderão, como já acontece na Líbia, afetar seriamente obras dos governos árabes, com consequências negativas para os interesses de grandes construtoras brasileiras com contratos locais. O comércio, com grande percentual de alimentos, pode sofrer interrupções, como no Egito, mas tende a se recuperar, caso os países não entrem em crise econômica.
Garcia diz que não é possível falar em resposta brasileira à crise nos países árabes enquanto não houver maior definição sobre a situação em cada país, que difere em características políticas, sociais e religiosas. "Que peso terão questões do tipo nacionalista nesses acontecimentos? Ninguém sabe."
Além da insatisfação social por razões econômicas e de demanda por democracia, há fatores de soberania e religiosos que tornam o quadro "complexo", diz Garcia. Na Líbia, por exemplo, há risco de secessão, com o leste do país questionando a autoridade de Trípoli, o que cria o risco de guerra civil.
"O que predomina no contágio que vemos na região é a rejeição de sistemas políticos que eram conhecidos pela comunidade internacional e até patrocinados or alguns países ocidentais", diz Garcia. Ele afirma que, apesar da aproximação comercial e econômica e das iniciativas de cooperação na área cultural e política, o Brasil nunca firmou com os países hoje em revolta laços "estratégicos".
Nem Garcia nem o Itamaraty fazem projeções sobre o que pode acontecer em relação às preocupações do setor privado que, nos últimos anos, aumentou significativamente investimentos nos países da região e elevou as exportações em 34% só no ano passado, para um recorde de quase US$ 13 bilhões. O comércio total com esses países passou de quase US$ 8 bilhões em 2003 para US$ 20 bilhões no ano passado.
EDITORIAL
Efeito das revoltas árabes agora assusta os mercados
A insurreição em um grande produtor de petróleo, como a Líbia, foi a fagulha que faltava para colocar fogo no mercado de petróleo e vários pontos de incerteza em uma perspectiva até agora otimista para a recuperação mundial. De um terço a metade da produção líbia, de 1,6 milhão de barris, foi tirada de circulação e é possível que a interrupção seja total se não houver uma solução para o conflito. Do lado do ditador Muamar Gadafi, a saída é o extermínio total da oposição que, para ele e sua família, da qual três filhos comandam divisões do Exército, é composta por drogados, estrangeiros e criminosos. Gadafi ressuscitou os mortíferos bombardeios aéreos a cidades, dando mostras de que, deixado ao sabor de sua paranoia, afogará seu país em fogo e sangue. A carnificina comandada pelo governo líbio, porém, está também destruindo suas tradicionais bases de apoio, com parte das Forças Armadas já marchando claramente ao lado dos rebeldes e se assenhoreando de boa parte das regiões onde se concentra a extração de petróleo. E quanto mais atrocidades cometer, maior será o incentivo às populações dos países vizinhos para exigir o fim da velha ordem, que produz déspotas como ele.
Os protestos contra o absolutismo no norte da África e Oriente Médio foram mais longe do que se podia prever. Movimentos de massa colocaram a cabeça para fora em manifestações na Argélia e no Marrocos, enquanto conflitos violentos e movimentos de protesto têm mostrado intensidade e perseverança no Iêmen e no Bahrein. Os governos do Iêmen e Bahrein reagiram violentamente a princípio, para depois oferecerem concessões cosméticas aos opositores. A importância do Bahrein transcende os 200 mil barris de petróleo por dia que o país fornece. Atender ainda que parcialmente as reivindicações dos xiitas levaria a movimentos semelhantes dos xiitas do outro lado da fronteira, na Arábia Saudita, e por isso a monarquia dirigida pelo rei Abdullah fará tudo o que for possível para que não haja grandes mudanças em seu minúsculo vizinho.
Se a onda de mudanças chegar à Arábia Saudita na forma de ruidosos movimentos de rua, algo que antes seria inimaginável e agora pode fazer parte do dominó da revolta nos países árabes, a instabilidade no Oriente Médio ganhará nova dimensão, com potencial de interromper a recuperação global e até mesmo transformá-la em uma recessão. Depois do que ocorreu com Tunísia, Egito e agora Líbia, tudo é possível.
A irrupção do povo nas ruas deixou sem ação os governos dos Estados Unidos e Europa, que apoiaram tudo quanto é ditadura na região e recentemente reabilitaram o coronel Gadafi como aliado. A diplomacia americana, que não quer mudanças na região, não consegue encontrar um discurso coerente para lidar com movimentos de oposição que não são capitaneados por xiitas radicais e que não pregam um regime baseado na religião, mas algum grau de democracia. Os EUA terão de partir do zero no tratamento dos novos governos, se os ditadores com que estão acostumados a sustentar forem expelidos, e eles certamente não serão tão dóceis em relação aos interesses americanos.
As cotações do petróleo, que já vinham subindo diante do aquecimento da economia dos países emergentes e a recuperação dos EUA e Europa, passam agora a ser tão imprevisíveis quanto os desdobramentos políticos das revoltas que varrem o mundo árabe. Para os emergentes, às voltas com uma escalada da inflação e não produtores de petróleo, a alta das cotações pode acentuar a corrida dos preços. E mesmo para os que são produtores, como o Brasil, o aumento de preços no mercado internacional atingirá uma vasta cadeia de produtos, inclusive commodities, que o país importa. Para EUA e Europa, que tentam voltar ao ritmo de crescimento normal, a alta do petróleo rouba renda do consumo, que tenta sustentar a economia.
Turbulências são certas, mas não os piores cenários. Há maior capacidade extra de produção da Arábia Saudita hoje do que em 2008, quando as cotações chegaram a US$ 145 o barril. Vários bancos apontam como limite para que haja estragos na economia mundial a cotação de US$ 120, desde que permaneça por um bom tempo. A paralisia da produção líbia, de 2% da oferta global, já causou nervosismo nos mercados. Nada menos que o pânico ocorrerá se os poços da Arábia Saudita, detentora de um quinto das reservas globais, pararem de jorrar.
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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