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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

23 de fevereiro de 2011 - JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Ditador líbio diz que só sai morto
Gaddafi vai à TV e conclama aliados a atacar os “rebeldes” dentro das casas; opositores dominam o leste do país

Em discurso pela TV, o ditador líbio, Muammar Gaddafi, disse que não deixará o país e que morrerá como “mártir”, se for necessário.
No poder desde 1969, Gaddafi conclamou partidários a resistir aos “ratos e mercenários” que tentam derruba-la. “Muammar não é presidente para renunciar, Muammar é o líder da revolução para sempre”, disse.



EDITORIAL
A vez de Gaddafi

Ditador, que bombardeia manifestantes na tentativa de preservar poder, é novo alvo da revolta que está mudando as feições do mundo árabe

Reprimir manifestações de sua própria população com bombas lançadas de aviões e rajadas de metralhadoras disparadas de helicópteros é, até para os padrões das piores ditaduras árabes, uma sinistra inovação.
Mais recente alvo dos protestos que varrem o mundo árabe, o ditador líbio, Muammar Gaddafi, apela à violência desenfreada em busca de um desfecho diferente do de seus colegas de tirania. O número de mortos, de 300 a 500, segundo estimativas, já é maior do que o registrado no Egito e na Tunísia.
As diferenças entre a Líbia e seus vizinhos não se restringem apenas à magnitude do contra-ataque governamental.
Os 41 anos de ditadura de Gaddafi, ainda mais personalista e repressora que a média dos regimes da região, contribuíram para sufocar o florescimento de qualquer tipo de atuação política. Quando o militar de 27 anos assumiu o poder, num golpe em 1969, o país tinha apenas 18 anos de independência, sob uma monarquia. Antes, havia sido colônia italiana e, num passado mais distante, parte do Império Otomano.
A descoberta de petróleo em 1959 ajudou a Líbia a sair da pobreza extrema e tornar-se uma das nações mais ricas da África; os ganhos não se traduziram, porém, em implantação compatível de infraestrutura e avanços na institucionalização do Estado.
Agora, as defecções de militares e de diplomatas em reação aos massacres promovidos pelo governo revelam fissuras no poder. A bandeira que o país adotava antes da ascensão de Gaddafi é hasteada em embaixadas líbias por diplomatas dissidentes. Torna-se um símbolo da revolta.
A incógnita é o que se seguirá a uma possível derrubada do ditador. "Muammar Gaddafi é história, resistência, liberdade, glória, revolução", discursou o déspota ontem. É, na realidade, a personificação do Estado. Sua queda significaria a dissolução total do regime. Ainda não se conhecem forças minimamente organizadas capazes de ocupar o vácuo, como os militares no Egito.
Assim como ditadores latino-americanos manipulavam a ameaça comunista, o líder líbio, em busca de algum apoio internacional, acena com o risco dos radicalismos islâmicos. Seus apelos dificilmente serão ouvidos.
Os EUA, após ensaiarem uma aproximação com Gaddafi, passaram a criticar com veemência a situação do país. Parecem inclinados a se redimir da atuação atabalhoada que tiveram no Egito, quando sustentaram Hosni Mubarak além do que seria prudente.
O Brasil, até aqui, tem adotado discreta mas firme atitude em relação às revoltas. Mantém cautelosa distância dos eventos da região, onde não tem interesses imediatos. Ontem à noite, sob a presidência brasileira, o Conselho de Segurança das Nações Unidas cobrou "fim imediato da violência".
O mundo árabe já não será mais o mesmo. Se não é certo que as revoltas em curso levem à formação, naqueles países, de regimes plenamente democráticos, parece inevitável que algum tipo de abertura e arejamento sobrevenha.


DESAPARECIDOS NA DITADURA
Investigação busca vítimas da ditadura
Procurador militar do Rio quer examinar papel de agentes das Forças Armadas no desaparecimento de 4 militantes
Iniciativa semelhante do Ministério Público Militar de São Paulo, de 2009, foi arquivada sem obter resultados

ITALO NOGUEIRA
DO RIO

O Ministério Público Militar do Rio abriu investigação sobre desaparecimentos de pessoas durante a ditadura (1964-1985) com a participação de agentes das Forças Armadas ou que tenha ocorrido dentro de suas unidades.
O foco da investigação, instaurada no último dia 10, são casos ocorridos no Rio e no Espírito Santo, área de atuação da 1ª Circunscrição Judiciária Militar.
A tese defendida pelo promotor Otávio Bravo, responsável pelo procedimento, é que casos de desaparecidos devem ser considerados sequestro em andamento até a localização de eventual resto mortal ou de "evidências verossímeis" de que as vítimas foram soltas ou mortas.
Para Bravo, contra esses casos não cabe prescrição (prazo para proposição de uma ação) nem a Lei da Anistia, de 1979. "Sem saber como e o que aconteceu, não dá para dizer que está prescrito ou anistiado."
A iniciativa repete a da Procuradoria Militar em São Paulo, que instaurou em 2009 procedimento para apurar desaparecimentos. A medida foi arquivada.

INFORMAÇÕES
Bravo solicitou ao Grupo Tortura Nunca Mais informações a respeito de testemunhas sobre casos desse tipo. A entidade calcula que cerca de 40 pessoas se enquadrem no foco da apuração.
Quatro casos devem ser usados como principais, por contar com mais documentos e depoimentos.
Entre eles está o de Carlos Alberto Soares de Freitas, o Beto, companheiro de militância da presidente Dilma Rousseff na VAR-Palmares.
Os demais são os desaparecimentos de Mário Alves, Stuart Angel e Rubens Paiva.
Além do Tortura Nunca Mais, serão notificados a Seccional Rio da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políticos e a Secretaria Especial de Direitos Humanos.
Nenhum órgão militar foi notificado.
O promotor apontou, em entrevista à Folha, três motivos para instaurar agora o procedimento.
Ele afirma que a condenação na Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso da Guerrilha do Araguaia, em dezembro -quando o Brasil foi responsabilizado pelo desaparecimento de guerrilheiros-, obriga o país a localizar todas as pessoas desaparecidas na ditadura.
Diz ainda que a mesma obrigação consta da Convenção Internacional para a Proteção de Todas as Pessoas contra Desaparecimentos Forçados, ratificada pelo Brasil em novembro.
O promotor cita também decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), em 2009, de extraditar o coronel reformado uruguaio Manuel Cordero Piacentini.
Ele é acusado de participar de sequestros na ditadura argentina, durante a Operação Condor -união das ditaduras do Cone Sul em ações repressivas nas décadas de 1960 e 1970.
Na ocasião, a corte aceitou o argumento do então procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, de que o sequestro de pessoas não encontradas é crime em andamento.


PF localiza ossadas que podem ser de desaparecidos
Restos mortais serão examinados por peritos

FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO

Peritos da Polícia Federal e do IML (Instituto Médico Legal) de São Paulo retiraram ontem ossadas do cemitério de Vila Formosa durante busca pelos restos mortais de Virgílio Gomes da Silva, militante de esquerda vítima da ditadura militar (1964-1985).
Ossos de quatro pessoas foram exumados após escavações em três níveis de uma sepultura do cemitério.
Entre eles foi possível identificar restos mortais de uma mulher, segundo Jeferson Evangelista Corrêa, chefe de medicina forense do INC (Instituto Nacional de Criminalística da PF).
Corrêa afirmou que pelo menos mais uma sepultura ainda será escavada no local. Os peritos delimitaram uma área de buscas de cerca de 100 m2, depois de análise de fotos aéreas, mapas e registros antigos do cemitério.
As ossadas recolhidas em Vila Formosa passarão por exames, como análises de arcadas dentárias e de dimensões de ossos, em uma base instalada pelos peritos no IML da capital.
O trabalho de ontem foi acompanhado pela viúva de Virgílio, Ilda Martins da Silva, e um dos filhos dele, Virgílio Gomes da Silva Filho.
"Tenho esperança de que encontrem ele ou outros, já que muitos companheiros foram enterrados aqui. Essa esperança já dura 41 anos, desde que mataram ele. Mas não me conformo com o fato de ele ter sido enterrado como indigente", disse Ilda.


TENDÊNCIAS | DEBATES
Decisão judicial: cumpra-se

Carlos Weis

Se palavra dada é palavra cumprida, o Brasil tem a obrigação de promover a persecução criminal dos torturadores do regime militar

Dadas suas recentes manifestações, a presidente da República vem indicando ter um compromisso decidido com a realização dos direitos humanos. Mas há um ponto sensível, que precisa ser enfrentado com firmeza: o pleno cumprimento da sentença condenatória proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Trata-se do caso Gomes Lund e outros, apresentado em 1995 pelo Centro pela Justiça e Direito Internacional (Cejil), pela Human Rights Watch/Americas e por familiares de pessoas desaparecidas na chamada "Guerrilha do Araguaia", em que a Corte reconheceu a violação da Convenção Americana de Direitos Humanos como resultado das ações do Exército na década de 70.
Desde 1998, quando o país decidiu submeter-se às decisões daquele tribunal internacional, já sofreu outras três condenações, que, dadas suas dimensões e contexto, não se comparam à atual.
Agora, debruçando-se sobre fatos dolorosos da história recente do país, a Corte sentenciou que as disposições da Lei da Anistia são incompatíveis com a Convenção Americana e não podem impedir a investigação dos fatos e a identificação e punição de responsáveis por violações a direitos humanos.
Não bastasse ter jogado luz sobre as atrocidades do regime militar, a sentença é, em parte, oposta à recente decisão do Supremo Tribunal Federal, que entendeu a citada lei como compatível com a Constituição e, portanto, de todo aplicável.
Apesar de algumas vozes terem se erguido contra a sentença internacional, o fato é que deve ser cumprida integralmente, não porque seja uma revisão do acórdão do STF (o que tecnicamente não é), ou porque ignore o imaginado acordo político que teria viabilizado a transição para a democracia, mas pelo fato de o Brasil ter, voluntariamente, reconhecido a competência da Corte Interamericana como obrigatória e de pleno direito para julgar denúncias formuladas contra si.
E, se palavra dada é palavra cumprida, o Brasil, por todos os seus órgãos, tem a obrigação de promover a imediata persecução criminal dos assassinos e torturadores do regime militar, cujos atos configuram "crimes de lesa-humanidade", sendo, assim, imprescritíveis.
Mais: deve tomar uma série de medidas, como reconhecer publicamente sua responsabilidade pelos fatos, tipificar o crime de desaparecimento forçado de pessoas, dar treinamento às Forças Armadas sobre direitos humanos etc., sem o que o país será vergonhosamente incluído no rol dos Estados para quem os direitos humanos só existem na medida de seus interesses.
Ainda que o acatamento das sentenças da Corte Interamericana seja novidade por aqui (a Suprema Corte da Argentina já o faz costumeiramente), importa reconhecer que a referida decisão oferece uma oportunidade de reencontro com o passado, como condição para a construção de uma sociedade verdadeiramente garantidora dos direitos humanos para todos.
O combate à tortura, que continua a existir para os presos comuns brasileiros, não pode mais esperar.
CARLOS WEIS, mestre em direito pela USP, é defensor público do Estado de São Paulo e coordenador do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública de São Paulo.




AVIAÇÃO EXECUTIVA
Embraer é a que mais cresceu em 2010
Aumento de venda de jatos garantiu à brasileira 19% do mercado de aviação executiva, ante 3% em 2008
Demanda interna por aeronaves em alta, crédito abundante e dólar fraco ajudaram a impulsionar o mercado

MARIANA BARBOSA - DE SÃO PAULO

Impulsionada pela demanda brasileira, a Embraer foi a empresa de aviação executiva que mais cresceu em número de aeronaves vendidas no mundo em 2010. Foram 145 jatos, 23 a mais do que em 2009. Do total, 100 são do modelo Phenom 100, menor jato da fabricante, de US$ 3,9 milhões e autonomia para voar do Rio de Janeiro a Buenos Aires, por exemplo. No mundo, foram vendidos 763 jatos executivos, queda de 12,3% ante 2009 (870).
A Embraer ficou com 19% do mercado, segundo dados da Gama, a associação de fabricantes dos EUA, com base no número de entregas efetuadas em 2010. Dois anos antes, a Embraer detinha apenas 3%. O Phenom 100 começou a ser fabricado em dezembro de 2008. De uma frota de 200 aviões que já estão voando no mundo, 60 (30%) estão nas mãos de brasileiros como o empresário Eike Batista e a cantora Cláudia Leitte.
A divisão de aviação executiva da Embraer tem conseguido atravessar a crise que assolou o setor em 2008, pois muitos clientes que teriam de esperar até 2013 ou 2014 para receber seu jatinhos pegaram o lugar de outros que desistiram. Porém, como não está havendo novas vendas, a lista de encomendas dos Phenom 100 e 300, que era de 800 unidades no final de 2008, caiu para 450. "As vendas para toda a indústria só devem começar a se recuperar no segundo semestre ou início de 2012", diz Cláudio Camelier, diretor de marketing para aviação executiva da Embraer.
A frota brasileira de aviões executivos dos tipos jato e turboélice cresceu 30% em 2010, para 1.400 unidades. Francisco Lyra, presidente da Abag (associação de aviação geral), diz que a expectativa para 2011 é repetir esse crescimento. Além da economia aquecida, Lyra diz que o mercado está sendo impulsionado por três fatores: dólar fraco, baixo preço dos aviões (sobretudo dos usados, por conta da demanda reduzida nos EUA e na Europa) e crédito farto. "O crédito voltou para as empresas e, no caso da Embraer, há ainda a linha do BNDES, com prazo longo e juros próximos da inflação."
A participação da América Latina no mercado de jatos executivos saltou de 9,2% em 2009 para 14,3% no ano passado. Ásia e Oriente Médio também cresceram, enquanto EUA e Europa encolheram. "O Brasil já era importante, mas tomou uma posição ainda maior de destaque para a Cessna e para todos os fabricantes mundiais", diz Fernando Pinho, presidente da TAM aviação Executiva, representante comercial da americana Cessna no Brasil.

AEROPORTOS
O mercado aquecido transformou o Campo de Marte, na zona norte de SP, no quinto aeroporto mais movimentado do país em número de operações. "Com a expansão da fronteira do desenvolvimento, o empresário não pode depender da aviação comercial regular, que atende apenas 124 cidades", diz Lyra. Os aviões particulares pousam em 4.200 aeródromos do país.


CIRCULAÇÃO DE MERCADORIAS
Variação de ICMS é prejudicial ao setor aéreo, afirma sindicato

DE RIBEIRÃO PRETO - A alíquota de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre o querosene de aviação deveria ser uniforme nos Estados, afirma o SNEA (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias). Para o presidente do sindicato, José Márcio Monsão Mollo, a padronização facilitaria a logística e baratearia os custos de operação das companhias aéreas em todo o país.
A diferença nas alíquotas é um dos argumentos para a transferência da sede da Passaredo de Ribeirão para Goiânia. No Estado de São Paulo, o ICMS sobre o combustível é de 25% e, em Goiás, de 3%. Hoje, segundo o SNEA, existem seis alíquotas diferentes em vigor, a mais baixa de 3% e a mais alta, de 27%. A Secretaria de Estado da Fazenda disse que em São Paulo não há incidência de ICMS na venda das passagens.
Por isso, o órgão diz que o cenário para o setor aéreo é "bastante favorável" em relação ao transporte terrestre, que é tributado em 12%. "A Secretaria da Fazenda entende que o transporte aéreo já conta com importante incentivo no Estado", informou. Também em nota, a Prefeitura de Ribeirão disse que a prefeita Dárcy Vera (DEM) conversou ontem com o governador Geraldo Alckmin (PSDB) sobre o assunto, para tentar reverter a mudança da Passaredo para Goiás.


CORTE DE GASTOS
Preocupação com obras atrasa definição de cortes
Esporte perde 64% do Orçamento, mas Copa e Olimpíada são poupadas
Esforço para preservar compromissos com investimentos e ações sociais reduz espaço para outras despesas

NATUZA NERY E GUSTAVO PATU - DE BRASÍLIA

O governo definiu o tamanho do corte de gastos que pretende fazer em mais um ministério, o do Esporte, mas ainda encontra dificuldades para chegar ao prometido bloqueio total de inéditos R$ 50 bilhões na Esplanada.
Duas semanas após ter anunciado o valor, numa tentativa de debelar a piora das expectativas para a inflação, a equipe econômica ainda não conseguiu detalhar como o ajuste será feito.
O decreto com o detalhamento foi prometido para a semana passada, ficou para ontem e agora fala-se em até o início da próxima semana.
O desafio é preservar, ao menos no papel, compromissos e prioridades assumidos nos últimos anos, como obras de infraestrutura e programas sociais, o que reduz o universo de despesas passíveis de redução.
Até agora, só os ministérios da Defesa e o da Ciência e Tecnologia oficializaram seus cortes. Segundo a Folha apurou, Esporte deve sofrer uma desidratação de 64% de todo o seu orçamento - e, ainda assim, exemplifica a dificuldade da administração petista em atingir sua meta de aperto fiscal.
Dos R$ 2,5 bilhões inicialmente previstos, a pasta ficará com cerca de R$ 900 milhões para gastar neste ano. Não foi possível fazer um contingenciamento maior, porém, porque foi necessário preservar o programa Brasil Campeão, destinado a obras e preparação de atletas para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Proporcionalmente, o corte acabou sendo menor que o promovido no início do ano passado, quando as verbas do Esporte foram reduzidas em 80%, de R$ 1,5 bilhão para R$ 300 milhões. Os recursos foram parcialmente liberados depois.

EXPLICAÇÕES
Mesmo com o momento politicamente delicado vivido pelo titular da pasta, Orlando Silva (PC do B), o volume preservado neste ano ainda é superior aos gastos efetivos de 2010, R$ 705 milhões.
O ministro é bombardeado nos bastidores por integrantes do governo e será chamado a dar explicações à presidente Dilma Rousseff sobre irregularidades em convênios da pasta com instituições ligadas ao esporte.
O corte promovido na Defesa também é inferior ao promovido no ano passado, de R$ 4,4 bilhões -na ocasião, os militares foram os mais atingidos pelo bloqueio total de R$ 21,8 bilhões promovido em março pelo governo Lula.
Dilma e sua equipe vêm dando mostras de falta de sintonia na condução técnica e política do ajuste fiscal. A presidente, na campanha eleitoral, negava a necessidade da medida, já estudada por parte de seus assessores.
Depois, os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento) indicaram que seriam adiadas novas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Dilma negou.
A presidente considerava a meta de R$ 50 bilhões ambiciosa demais, mas foi levada a adotar a cifra por medo da pressão inflacionária. No anúncio, foi cunhado um eufemismo, "consolidação fiscal", para contornar o constrangimento do ajuste.


WIKILEAKS – DOCUMENTOS SECRETOS
Para EUA, Brasil é manso com violadores
Em telegrama de 2008 vazado pelo WikiLeaks, embaixador lamenta que Brasil ofereça "incentivos" e não "porrete"
Embaixada norte-americana reclama de crítica a Guantánamo; PT motiva preocupação brasileira com baha'is

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

As votações nos organismos de direitos humanos da ONU provocaram disputas sucessivas entre o Brasil e os EUA, mostram telegramas da embaixada americana em Brasília obtidos pela organização WikiLeaks.
Irritado com a relutância brasileira em apoiar moções dos EUA contra países como Cuba e Sudão, em 2008 o então embaixador Clifford Sobel diz que o Brasil "fala manso e carrega uma cenoura [incentivos]" quando lida com violadores.
É uma analogia com "fale manso e carregue um porrete", slogan usado pelo presidente americano Theodore Roosevelt (1901-1909) para definir sua relação com os vizinhos latino-americanos.
A diplomata Lisa Kubiske acusa o governo do Brasil de "hipocrisia" por não condenar países que podem "fornecer um apoio tangível a um interesse brasileiro".
Em outros despachos, porém, os americanos reclamam de declarações do governo brasileiro contra a prisão de Guantánamo e do voto crítico à ofensiva de Israel contra o Hizbollah no Líbano, em 2006.
Os telegramas, enviados entre 2004 e fevereiro de 2010, detalham trocas de votos na ONU.
Em 2006, quando os EUA pedem o endosso a sua candidatura à Comissão de Direitos Humanos, o Itamaraty responde que já havia trocado o voto por apoio a candidatos brasileiros em outros dois órgãos.

LÍBIA E BAHA'IS
Dois anos antes, quando um enviado americano compara a Comissão a um clube de "bons, maus e feios" -alusão ao filme "Três Homens em Conflito", do italiano Sergio Leone-, o hoje chanceler Antonio Patriota afirma que em todo país, "incluindo o Brasil", as três características coexistem.
Patriota, na época chefe de gabinete do então ministro Celso Amorim, diz que isolar países é contraprodutivo.
Ele menciona a Líbia -agora condenada pela repressão violenta a protestos- como país que deixou de ser pária após o fim das sanções, e passou a colaborar com a comunidade internacional.
Na época, os EUA e seus aliados europeus haviam restabelecido relações com o regime de Muammar Gaddafi. O presidente Lula também tinha visitado a Líbia.
Os despachos mostram a resistência do governo George W. Bush (2001-09) em aceitar que a Comissão, acusada de seletividade, fosse substituída pelo Conselho de Direitos Humanos.
Em 2009, quando o governo Barack Obama muda a política e decide integrar o Conselho, o Itamaraty declara-se "deliciado" em votar na candidata americana.
Os brasileiros mostram preocupação com a repressão no Irã aos adeptos da religião baha'i, e o Itamaraty revela que vários políticos do PT se converteram a esse credo (entre eles o ex-ministro Luiz Gushiken).
Embora Amorim tenha intermediado a libertação por Teerã de uma francesa e uma americana, sete líderes baha'i ainda estão presos no país, onde a prática da religião é proibida.



COMPRA DE CAÇAS
Ministra francesa faz lobby com Dilma por caças Rafale

ANA FLOR
DE BRASÍLIA

Recebida nesta terça-feira pela presidente Dilma Rousseff, a ministra de Relações Exteriores e Europeias da França, Michèle Alliot-Marie, afirmou que "é normal que [Dilma] queira refletir" sobre qual caça o Brasil deverá comprar. Em sua agenda no Brasil, Alliot-Marie teve como prioridade reforçar a proposta francesa para a compra dos caças Rafale. Ela entregou a Dilma uma carta do presidente francês Nicolas Sarkozy, em que reforça a "disposição" do país europeu em continuar cooperando com o Brasil nas áreas da defesa, tecnologia e energia nuclear.
Dilma abriu espaço na agenda à tarde para receber a ministra francesa. Para isso, acabou cancelando o encontro que teria com o senador dos EUA Max Baucus, presidente da Comissão de Finanças do Senado do país. Entre os temas, estaria a defesa em favor dos caças americanos da Boing, que competem com os franceses da Dassault e os Grippen, da Suécia, a renovação dos caças da FAB (Força Aérea Brasileira). A ministra francesa se encontrou pela manhã com o ministro Nelson Jobim (Defesa). Ouviu dele que a presidente não deve definir a compra neste ano por causa dos cortes no Orçamento.
À tarde, em encontro com o ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores), a ministra voltou a defender os Rafale como a "melhor proposta" para o Brasil. "Temos consciência de que a presidente acaba de tomar posse e nesse momento é normal que ela queira refletir sobre os diversos aspectos da venda e de que tenha preocupações orçamentárias", afirmou.


Brasil diz para França que negócio dos caças vai demorar meses

DA EFE

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, recebeu nesta terça-feira a titular de Exteriores da França, Michèle Alliot-Marie, a quem ratificou que a decisão sobre a compra de caças demorará alguns meses. Na negociação para a compra de 36 caças-bombardeiros para a FAB (Força Aérea Brasileira) concorrem os aviões Rafale, da empresa francesa Dassault, os Super Hornet F/A-18, da americana Boeing, e os Gripen NG, da sueca Saab.
Conforme fontes do Ministério da Defesa, esse foi um dos assuntos tratados nesta terça-feira por Michèle com Jobim, que explicou que, pelos cortes orçamentários anunciados neste mês pelo governo Dilma Rousseff, a operação ficou suspensa. O orçamento de Defesa para despesas de custeio e investimento deste ano era de R$ 15 bilhões, mas com os cortes ficará em R$ 11 bilhões, por isso que todas as aquisições de material militar serão revisadas.
No caso dos caças, a operação não foi cancelada, mas ficará suspensa. A ministra francesa reafirmou o interesse de seu país na venda dos Rafale, que eram supostamente os preferidos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que entregou o cargo para Dilma no dia 1º de janeiro.
Durante seu encontro com Jobim, Michèle considerou que a área de defesa é "o coração da sociedade estratégica" entre Brasil e França, que foi selada por Lula e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, no dia 7 de setembro de 2009. Na reunião em Brasília, Lula e Sarkozy chegaram a anunciar a decisão de transformar o Brasil e a França em "parceiros estratégicos no domínio aeronáutico".
Também, durante essa visita de Sarkozy, o governo brasileiro informou sua disposição para "iniciar negociações" para a compra dos aviões franceses, embora depois esclarecesse que essa oferta era válida também para Boeing e Saab e que a licitação continuava aberta, como está até hoje. A decisão final sobre o assunto, segundo o governo, será tomada por Dilma e pelos membros do Conselho de Defesa Nacional, que integram representantes de diversos ministérios.


GUERRILHA COLOMBIANA
Exército colombiano apreende 800 minas terrestres das Farc

DA EFE

O Exército colombiano apreendeu na terça-feira (22), no departamento de Putumayo, 800 minas terrestres que seriam propriedade das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), informou a imprensa local. Os explosivos foram localizados em dois esconderijos em uma zona rural de Puerto Guzmán, após operações realizadas por agrupamentos de elite do Exército.
Os explosivos seriam utilizados pelas Farc para realizar atentados contra membros do Exército e da Polícia neste setor do país com forte presença de rebeldes.
 FONTE: FOLHA DE SP

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