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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

18 de fevereiro de 2011 - O ESTADO DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Governo afrouxa regras ambientais
Pacote de decretos que será anunciado após o carnaval vai simplificar licenças e reduzir prazos e custos para acelerar projetos em várias áreas

Marta Salomon - O Estado de S.Paulo

Um pacote de decretos promoverá o que vem sendo entendido no governo como "choque de gestão" na área de licenciamento ambiental, com regras mais simples e redução de prazos e custos. Os decretos vão fixar novas normas por setores, e os primeiros a passarem por reforma serão petróleo, rodovias, portos e linhas de transmissão de energia.
Em algumas obras, como o asfaltamento de rodovias, não serão mais exigidas licenças, mas uma simples autorização do órgão ambiental. Essa regra não atinge, porém, rodovias na Amazônia, como a polêmica BR-319, localizada numa área bastante preservada da floresta.
Listada entre as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a rodovia enfrenta resistências na área ambiental pelo risco de aumentar o desmatamento na Amazônia. Sinais de aumento do ritmo das motosserras nas proximidades da BR-317 reforçam essas resistências.
Além de acelerar a liberação de licenças com regras mais claras e menos burocracia, o pacote de decretos deverá reduzir o custo de exigências do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O custo médio dessas exigências, que incluem até a urbanização e a instalação de saneamento de cidades, é estimado entre 8% e 10% do preço total dos empreendimentos. Em alguns casos, supera 15%.

Atrasos. A área ambiental é alvo de críticas no governo por supostamente impor atrasos nos cronogramas de empreendimentos. Mudanças nas regras vêm sendo negociadas desde o fim do governo Luiz Inácio Lula da Silva, mas a edição dos decretos pela presidente Dilma Rousseff é prevista apenas para depois do carnaval.
O licenciamento de hidrelétricas não passará por mudanças neste momento. Essa é uma das áreas mais complicadas na agenda do governo Dilma Rousseff.
O Plano Decenal de Energia prevê a construção de cinco grandes usinas em áreas de conservação ambiental no Pará. As hidrelétricas do Complexo Tapajós, com potência estimada em 10,5 mil MW (megawatts), quase uma Belo Monte, deverão alagar uma área de 1.980 km², 30% maior que a cidade de São Paulo.
Um dos decretos cujo texto já foi aprovado pelo Planalto acelera o licenciamento de linhas de transmissão de energia. O objetivo é impedir que a energia a ser gerada pela hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira (RO), por exemplo, não possa ser distribuída por atraso no licenciamento da linha de transmissão.
Na área de petróleo , o número de licenças - que hoje pode chegar a 12 para cada projeto - será reduzido. A intenção é facilitar a exploração do pré-sal, sem abrir mão de critérios de segurança dos empreendimentos, proporcionais ao impacto ambiental dos projetos.


ESPAÇO ABERTO
Complexo do Alemão, Serra Pelada

*Fernando Gabeira

A tomada do Complexo do Alemão foi uma grande vitória da polícia do Rio de Janeiro contra traficantes de droga. Ela representou uma libertação para os moradores que viviam sob o jugo do crime. E foi conquistada sem carnificina. Dados inegáveis. Existem uma operação real e uma narrativa. Sem questionar o mérito da operação real, tentamos colocar algumas perguntas no momento da euforia vitoriosa. A história mostra que momentos como esse são péssimos para quem tem o hábito de perguntar. A pessoa aparece como se fosse negativa, ou mesmo invejosa, diante da trajetória resplandecente dos triunfantes. Recomenda-se, nessas ocasiões, a tática oriental contida no exemplo do pequeno arbusto que se curva para que a ventania passe. A ventania passou e é hora de questionar não a tomada do Complexo do Alemão, mas a narrativa que a apresentou como uma vitória da civilização contra a barbárie.
Três das quatro mais importantes quadrilhas da polícia do Rio participaram da tomada do Alemão. A pilhagem dos bens dos traficantes e de moradores foi tão espetacular que um dos policiais bandidos, grampeado pela Polícia Federal, comparou o Complexo do Alemão à Serra Pelada, onde milhares de garimpeiros cavavam o solo em busca de uma pepita de ouro.
A Serra Pelada que conhecemos pessoalmente, ou através das fotos em preto e branco de Sebastião Salgado, não sugere uma operação de rapina, mas a saga de uma parte da população maltrapilha e seminua tentando mudar seu destino.
No Complexo do Alemão ocorreu apenas uma grande operação de rapina. Dezenas de repórteres e cinegrafistas estavam lá, mas isso escapou de seu raio de observação. Era uma operação de guerra, como no Iraque, em que os repórteres, por se escolherem como uma extensão da força ocupante, perdem o potencial crítico. Foi tudo lindo e maravilhoso na narrativa, enquanto no terreno real a pilhagem se desenvolvia na sombra.
Um policial contou-me que em certos momentos teve de apontar o fuzil para deter a fuga de colegas com um caminhão cheio de objetos dos barracos do Complexo.
A própria imprensa se deu conta disso, antes de surgir a imagem de Serra Pelada. O pastor Ronai de Almeida Braga Júnior denunciou que foi assaltado pelos policiais. Sua denúncia demorou a ganhar espaço, sob o argumento de que um caso era estatisticamente desprezível. Mas depois que ele falou surgiram vários outros.
O Exército procurou punir com rapidez um oficial que participou de saques. Mas a instituição é a responsável por manter a ordem no Complexo. Depois da ocupação surgiram artistas, fotógrafos, modelos, inúmeros talentos no Alemão. Até um cinema com filmes em três dimensões foi inaugurado. Mas ainda é difícil, hoje, convencer muitos no Complexo de que foi um triunfo do bem contra o mal.
A narrativa começou falseando as causas da sequência de atentados que culminou com a decisão de ocupar o Complexo. Segundo ela, os carros estavam sendo incendiados porque traficantes não se conformavam com o êxito das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), redutoras de seu espaço. Na época, levantei uma singela pergunta: Se os traficantes queriam questionar as UPPs, por que não o fizeram no momento eleitoral, quando o governo estava mais vulnerável?
Semanas depois da ocupação, uma autoridade me confessou as razões dos atentados. Com as informações obtidas nos presídios de segurança, concluiu-se que os atentados eram uma represália contra ação da polícia entre as famílias dos presos. Desde o princípio do ano passado começou uma operação, comandada pelo chefe da Polícia, Allan Turnowski, para recuperar o dinheiro do tráfico que estava com as famílias. Operação necessária, que usaria o clássico método de comparação entre bens e rendimentos. Segundo os presos, a operação extrapolou seus objetivos legais e virou uma fonte de confisco. Foi esse o estopim.
O que foi revelado até agora é apenas uma parte da história da tomada do Complexo do Alemão. Foram vistos carros de polícia vindos do interior nas vielas do morro. Todos os setores corruptos da instituição entenderam a mensagem. A importância da missão policial e o entusiasmo da imprensa eram uma liga que garantia um metal simbólico para a poderosa blindagem.
Crianças mergulhando nas piscinas dos traficantes eram uma ótima imagem de libertação. Mostravam o contraste entre o conforto dos donos do morro e as dificuldades da vida cotidiana dos moradores. Sugeriam uma socialização, indicavam que aqueles bens agora seriam públicos.
Acontece que esse processo de passagem dos bens dos traficantes para a sociedade depende de um ritual, está previsto em lei, origina inventários. O que ocorreu na verdade, segundo os grampos, foi uma invasão de policiais de todos os batalhões, tentando a sorte: um aparelho de televisão, um lote de pares de tênis, um fuzil. E o garimpo não se detinha nos bens que, legalmente, devem ficar com o governo. O garimpo envolveu o saque de várias casas de cidadãos comuns, perplexos com a fúria e a ganância de seus salvadores.
A operação que desvendou esse lado da tomada do Complexo do Alemão ilumina uma outra narrativa que fascinou os jornalistas: o chamado Choque de Ordem. O delegado Carlos Antônio de Oliveira, um dos principais acusados, caiu para cima: ele deixou a polícia e foi dirigir o Choque de Ordem, carro chefe da propaganda oficial.
O Choque de Ordem, como a tomada do Alemão, era necessário. Deveria, no entanto, ter sido acompanhado de algumas obras de infraestrutura e um trabalho pedagógico. Investido de uma cobertura favorável, foi blindado, apesar de sua intensidade contra os pobres e elegância com os ricos. Foi outra mina de ouro.
Comemorar a libertação do Alemão como a de Paris na 2.ª Guerra Mundial, festejar a prisão de algumas pessoas fazendo pipi na rua como a tomada de Monte Castelo só é possível quando a paixão sequestra o senso crítico. Aves de rapina agradecem.

*JORNALISTA
AVIAÇÃO
Solange deixará presidência da Anac
Ao assumir o cargo em 2007, no auge do caos aéreo, ela adiantou que ficaria apenas até o fim do mandato, em março de 2011, porque queria ter filhos

Sonia Racy - O Estado de S.Paulo

Depois de três anos e meio à frente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Solange Paiva Vieira deixará mesmo a presidência da instituição assim que concluir o mandato, previsto para terminar no dia 17 de março. Ela sai de férias no dia 28 de fevereiro e, por vontade própria, não voltará, como antecipou ontem a coluna "Direto da Fonte".
Em entrevista ao Estado em janeiro de 2009, Solange já havia adiantado que não queria brigar pela renovação de seu mandato. "Como toda mulher, sonho em ter filhos", disse naquela ocasião. "Mas filhos, só depois que eu sair da Anac. Ainda posso adiar um pouco, mas não muito." Solange tem 41 anos e está casada há três. Na mesma entrevista, ela disse que, ao deixar a Anac, gostaria de voltar ao BNDES, onde é funcionária de carreira.
Para substituí-la enquanto estiver de férias, a presidente da Anac indicou o coronel Cláudio Passos, diretor mais antigo da agência reguladora. O mandato dele também termina em março, mas, ao contrário de Solange, Passos deve permanecer no cargo. Por enquanto, ainda não há informações sobre quem assumirá a presidência da agência.
A despedida de Solange está marcada para 15 de março no Iate Clube de Brasília. Os colegas e amigos vão bancar a festa, que custará cerca de R$ 100 por pessoa.
Economista, com passagem pela Secretaria de Previdência Complementar na gestão Fernando Henrique Cardoso, Solange chegou à agência em 2007, no auge da crise aérea, com a missão de instituir padrões de pontualidade e qualidade à aviação civil. No meio, ficou conhecida por imprimir uma visão mais moderna ao setor e dar fim às relações de politicagem que predominavam na gestão da Anac até então. Logo no início, Solange comprou briga com as gigantes Gol e TAM ao dizer que os problemas do setor estavam ligados ao excesso de concentração de mercado.

Mais mudanças. Paralelamente à saída de Solange, estão previstas outras alterações na estrutura dos órgãos responsáveis pelo setor aéreo brasileiro. A presidente Dilma Rousseff deve anunciar em breve a criação de uma nova Secretaria de Aviação Civil. Com status de ministério, o órgão terá sob seu controle a Infraero, que administra os 67 aeroportos do País.
O atual executivo do banco Safra e ex-presidente do Banco do Brasil, Rossano Maranhão, foi convidado a assumir o comando da nova secretaria. Ele é ligado ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB). A estrutura da secretaria, no entanto, depende de costuras políticas para ser definida.
COLABOROU NAIANA OSCAR

PARA LEMBRAR
A chegada de Solange Paiva Vieira à Anac ocorreu três meses depois que Nelson Jobim assumiu o Ministério da Defesa, em julho de 2007 - após a tragédia com o avião da TAM. De imediato, três dos cinco diretores da agência caíram. Solange era assessora especial do ministro quando foi indicada por ele para assumir o cargo na Anac no lugar de Milton Zuanazzi. Ela já foi secretária de Previdência Complementar no governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).


Depois de cinco anos, Lufthansa volta a voar para o Rio
Retomada ocorre em outubro e foi motivada pelo aumento de procura de voos por executivos do setor petrolífero e naval

Glauber Gonçalves - O Estado de S.Paulo

Com operações no Rio suspensas desde 2005, a companhia aérea alemã Lufthansa anunciou ontem a retomada de sua operação na capital fluminense com voos para Frankfurt a partir de outubro deste ano. O reforço nas rotas brasileiras, que inclui também o aumento das ligações entre São Paulo e Munique, ampliaram em 60% o número de voos da Lufthansa no País.
Segundo a diretora de vendas para o Brasil, Albena Janssen, a nova investida no Rio foi motivada pela crescente importância do Estado em segmentos como petróleo, cosméticos e indústrias farmacêutica e naval.
O dinamismo da economia do Rio tem gerado maior demanda por parte de executivos, que costumam viajar em categorias com tarifas mais altas. Um cenário diferente do de 2005, quando a empresa parou de voar do Rio.
"Naquela época, a demanda da classe executiva estava deprimida, mas hoje em dia a situação é diferente. No ano passado, a demanda desse tipo de cliente aumentou em 3%, o que já é suficiente para operar a rota", diz.
Perguntada sobre planos de voar para o Brasil com o Airbus A380, o maior avião comercial em atividade no mundo, ela disse que a companhia não descarta a possibilidade.

Infraestrutura. Hoje, as deficiências na infraestrutura aeroportuária são apontadas como um entrave para a utilização de aeronaves de maior porte no País.
A executiva, no entanto, disse acreditar em uma resolução desses problemas nos próximos anos. "Temos confiança que vai haver um desenvolvimento positivo que nos permitirá operar com aviões maiores", declarou.
Apesar de voar só para o Rio e São Paulo, a Lufthansa prevê que outros destinos, atendidos por meio de compartilhamento com a TAM, devem aumentar as receitas. As duas empresas fazem parte da aliança global Star Alliance.

17 DE FEVEREIRO DE 2011 | 16H 00

DEFESA
Presidente da Infraero assumirá secretaria na Defesa

TÂNIA MONTEIRO - Agência Estado

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, se antecipou e já conseguiu confirmar a nomeação de Murilo Marques Barboza para a Secretaria de Produtos de Defesa, publicada hoje no Diário Oficial da União (DOU). Barboza preside atualmente a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Jobim tem pressa para a ocupação da nova secretaria porque ela será responsável pela política de compras unificadas do ministério e, portanto, encarregada de cumprir o corte de gastos na Pasta, como deseja o governo.
Barboza não vai acumular cargos. Para a Infraero será nomeado, interinamente, o diretor de Operações, João Márcio Jordão. A indicação para a presidência da Infraero de Gustavo Matos do Vale, diretor do Banco Central (BC), deve ser confirmada nos próximos dias. Ela depende de reunião do Conselho, que está prevista para a próxima quarta-feira. Ao mesmo tempo, a presidente Dilma Rousseff prepara a criação da nova Secretaria de Aviação Civil, que ficará vinculada diretamente à Presidência e que deverá ser ocupada pelo ex-presidente do Banco do Brasil, Rossano Maranhão. Dilma espera resolver essa questão da secretaria no início do próximo mês.

17 DE FEVEREIRO DE 2011 | 13H 03

PROGRAMA ESPACIAL
Brasil prepara lançamento inédito de foguete em 2012, mas seu uso é incerto
Capacidade de carregamento de satélites do Cyclone-4, fabricado na Ucrânia, é questionável

O Brasil prepara, para 2012, um feito inédito em seu programa espacial: pela primeira vez, irá colocar no espaço, a partir do seu próprio solo, um foguete com um satélite a bordo. Trata-se do Cyclone-4, foguete de fabricação ucraniana que deve ser lançado no ano que vem da base de Alcântara (MA), em uma parceria que começou a ser orquestrada em 2003. Pelo acordo, o Brasil entra com a base, e a Ucrânia, com a tecnologia do foguete.
Um lançamento bem-sucedido pode elevar o status dos dois países no cenário espacial global. No entanto, um dos dilemas do programa é quanto ao uso que o Brasil poderá dar ao Cyclone-4. Alguns especialistas ouvidos pela BBC Brasil consideram "altamente questionável" sua viabilidade comercial.
Uma questão-chave é a capacidade limitada de carga do Cyclone-4: para a chamada órbita geoestacionária, em que o satélite fica a 36 mil km de altitude e parado em relação a um ponto na superfície da Terra, o foguete só consegue levar carga de 1,6 mil quilos, o que é considerado insuficiente para muitos satélites de comunicação.
"O programa foi inicialmente proposto como uma empreitada de cunho comercial, e que deveria se sustentar com a venda dos serviços de lançamentos de satélites. Mas sua evolução não corrobora essa hipótese", disse José Nivaldo Hinckel, coordenador do departamento de mecânica espacial do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).
Fontes ligadas à ACS, empresa binacional criada pela parceria Brasil-Ucrânia, admitem que será necessário encontrar um "nicho de mercado" para o Cyclone-4, já que muitos satélites públicos e privados não cabem no foguete. Mas a empresa diz que já está participando de concorrências internacionais e que negocia qual satélite participará do lançamento inicial do foguete.

Vantagem geográfica. Para Carlos Ganem, presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), o programa com a Ucrânia "inaugura um tempo novo" para o Brasil e permitirá que o país usufrua de sua vantagem geográfica. Como Alcântara fica próxima à Linha do Equador, lançamentos feitos ali permitem o uso eficiente do movimento de rotação da Terra, gastando 30% a menos de combustível no envio de foguetes ao espaço.
Além de serem considerados importantes pelo uso em telecomunicações, os satélites são muito usados para coletar informações sobre clima, navegação, ocupação de solo e monitoramento da região amazônica. "São essenciais para que o Brasil exerça sua autonomia", opinou Ganem, dizendo que o país ambiciona ter satélites feitos em parceria com Argentina e África do Sul que possam ser lançados em Alcântara.
Para Hinckel, do Inpe, porém, "é difícil justificar um programa espacial autônomo (como o do Cyclone) sem que o segmento de comunicações geoestacionárias seja contemplado". Fernando Catalano, professor de engenharia aeronáutica da USP de São Carlos, disse achar importante o desenvolvimento proporcionado à base de Alcântara, mas considera improvável que o lançador traga lucros de curto prazo para o Brasil ou que elimine a dependência do país para lançamentos de satélites.

Preparativos. Do lado brasileiro, a ACS diz que está preparando a parte estrutural de Alcântara para o lançamento do Cyclone-4.
Já do lado da Ucrânia, 16 empresas estão contribuindo para a construção do foguete, na cidade de Dnipropetrovsk (centro-leste do país). Segundo os projetistas, essa versão do Cyclone terá alta precisão e um aumento de 30% na capacidade de carregar combustível. O artefato terá vida útil estimada de entre 15 e 20 anos.
Para Catalano, é um foguete não muito grande nem muito caro, e a família Cyclone, existente desde 1969, tem um histórico bem-sucedido (em 226 testes de lançamento, houve apenas seis falhas).
Segundo a ACS, outro ponto importante é que não haverá contato humano com o foguete na base. Isso impediria a repetição do ocorrido em 2003, quando uma explosão no VLS (Veículo Lançador de Satélites) resultou na morte de 21 técnicos em Alcântara.
No entanto, Hinckel cita preocupações com o combustível propelente "altamente tóxico" que será usado no lançamento. A ACS alega que não haverá manuseio do combustível - que virá da China, via navio -, apenas de seu recipiente.

Tecnologia. Em aparente mostra da preocupação com a viabilidade comercial do projeto, telegramas diplomáticos divulgados pelo site WikiLeaks apontaram recentemente que a Ucrânia sugeriu aos Estados Unidos que lançassem seus satélites a partir de Alcântara.
Os documentos indicam que os americanos condicionaram seu interesse pela base à não transferência de tecnologia ucraniana de foguetes ao Brasil.
O embaixador ucraniano em Brasília, Ihor Hrushko, disse à BBC Brasil (em entrevista prévia ao vazamento do WikiLeaks) que formalmente não há acordo para a transferência de tecnologia no Cyclone-4, mas sim expectativa de que a parceria bilateral continue "para que trabalhemos em conjunto em outros processos". Ele disse que transferir tecnologia não é algo de um dia para o outro, "é um processo duradouro, de anos".
Mas ele afirmou que o Brasil é o "sócio mais importante" da Ucrânia no continente - tanto que, em 10 de janeiro, o presidente do país, Viktor Yanukovich, telefonou à presidente Dilma Rousseff para falar sobre a expectativa de criar uma "parceria estratégica" com o Brasil a partir do foguete. Os dois presidentes esperam estar presentes no lançamento do artefato.
A ACS, por sua vez, afirmou que a expectativa de transferência de tecnologia existe, mas ressaltou que não é esse o objetivo do tratado binacional. Ainda que o intercâmbio tecnológico seja considerado importante para os especialistas consultados pela BBC Brasil, alguns destacam que a não transferência acabou estimulando o desenvolvimento de tecnologias brasileiras.
É o caso do satélite CBERS-3, que será lançado na China em outubro, com o objetivo de monitoramento ambiental e controle da Amazônia: suas câmeras foram produzidas em São Carlos (SP), com tecnologia nacional da empresa Opto.
BBC Brasil



TENSÃO NO ORIENTE MÉDIO
Onda de protestos chega forte ao Bahrein; repressão deixa 5 mortos
Exército do emirado ocupa capital para acabar com manifestação iniciada segunda-feira - No Iêmen, forças de segurança dispersam com violência ato pró-democracia em Sanaa - Líbia se levanta em "dia de fúria" contra Kadafi, no poder há 4 décadas

 O Exército do Bahrein tomou ontem pontos estratégicos da capital, Manama, para conter protestos por reformas democráticas. Há quatro dias a onda que já derrubou autocratas na Tunísia e Egito chacoalha o emirado árabe. Soldados avançaram ontem de manhã sobre opositores que acampavam na Praça Pérola (já considerada a "Praça Tahrir do Bahrein"), enquanto vários manifestantes dormiam, deixando 5 mortos e mais de 230 feridos.
Em nota anunciada na TV estatal, o Exército afirmou que a ocupação da capital busca proteger o patrimônio e "defender o povo". As manifestações, porém, têm sido pacíficas.
O Ministério do Interior disse que as forças de segurança exortaram ainda a população a voltar para casa. O governo afirma temer que a violência nas ruas leve a um enfrentamento sectário no país. O Bahrein, país com 70% da população xiita, é governado por uma monarquia sunita.
"Corremos perigo de ver uma polarização entre xiitas e sunitas. Isso é muito perigoso", disse o ministro das Relações Exteriores de Manama, Khaled al-Khalifa. "Estamos na beira do abismo sectário."
No mês passado, temendo o contágio dos distúrbios na Tunísia e no Cairo, o Bahrein deu um cheque de 2.400 para cada família de cidadãos do país.
A oposição, liderada por xiitas, exige a renúncia imediata da monarquia de Hamad bin Isa al-Khalifa, além da implementação de reformas constitucionais para assegurar liberdades democráticas e de políticas para promover justiça social. "Essa repressão é uma atrocidade", disse Abdul Khalil Khalil, um dos líderes do partido Wefaq, de oposição. "Quem tomou a decisão de atacar os manifestantes tinha por objetivo matá-los", completou o líder opositor.
Diante do hospital para onde estavam sendo levados os feridos da Praça Pérola, manifestantes em revolta gritavam "Morte a Khalifa!", em referência ao monarca que governa o país desde 2000, quando seu pai, Isa bin Salman al-Khalifa, morreu. "Eles fizeram as pessoas se sentirem seguras", explicou Fatima Ali, enfermeira no centro médico, referindo-se a aparente tolerância oficial nos primeiros dias. "Então, começaram a matar."
Do lado de dentro do centro médico, mães corriam a procura de crianças que desapareceram no tumulto no centro da capital. O cirurgião Sadeq al-Karim havia se voluntariado para prestar auxílio aos manifestantes, mas foi parar em uma maca no hospital, inconsciente, depois da invasão policial.
NYT e REUTERS


EUA exigem que aliado modere reação

WASHINGTON

A instabilidade no Bahrein volta a colocar a Casa Branca em uma situação incômoda no Oriente Médio: se apoiar as manifestações, corre o risco de alienar um aliado estratégico e fiel; se ignorar os apelos pacíficos por democracia, será criticado - dentro e fora dos EUA - por adotar um discurso hipócrita e uma visão imediatista dos interesses americanos no mundo árabe.
Ontem a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, limitou-se a expressar "graves preocupações" diante das ações das forças de segurança do emirado e exigiu que o Bahrein modere a repressão contra opositores. Hillary conversou com seu colega bahreinita, xeque Khalid bin Ahmed al-Khalifa, pelo telefone.
O Bahrein é peça-chave no tabuleiro geopolítico do Oriente Médio por abrigar a 5.ª Frota da Marinha americana, responsável pela região do Golfo Pérsico até o Mar Vermelho e leste da África. A frota americana inclui porta-aviões e destróieres, além de embarcações menores de assalto. Cerca de 4.500 americanos, civis e militares, moram na base de Juffairare, na periferia da capital Manama. / AP


AMÉRICA DO SUL
Diplomacia de Lula irritou sul-americanos
EUA escutaram de Colômbia, Paraguai e Chile pedidos para ''conter'' o Brasil, revela WikiLeaks

Jamil Chade - O Estado de S.Paulo

Telegramas secretos da diplomacia americana revelam que, sob o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, países sul-americanos se incomodaram com a liderança brasileira e chegaram a pedir a Washington que "contivesse" as ambições do Brasil na região. Os despachos foram divulgados pelo grupo WikiLeaks.
Entre os que solicitaram à diplomacia americana que atuasse contra o aumento da influência do Brasil estão Colômbia, Chile e Paraguai.
Em 11 de fevereiro de 2004, numa conversa entre o então presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, e uma delegação do alto escalão da diplomacia dos EUA, o incômodo com as ambições de Lula ficou claro. "Uribe disse que sua relação com Lula é complicada", relata o telegrama. O ex-líder de Bogotá e forte aliado de Washington alertou na ocasião para a agenda externa de seu colega brasileiro: "Lula se esforça para construir uma aliança antiamericana na América Latina", teria dito Uribe.
"Lula é mais pragmático e mais inteligente do que (Hugo) Chávez, mas é conduzido por seu histórico de esquerda e pelo "espírito imperial" do Brasil para se opor aos EUA", acusou o ex-presidente colombiano.
Em outro trecho, Uribe ainda acusa o presidente brasileiro de não ter cumprido sua promessa de lutar contra o narcotráfico.
Quatro anos mais tarde, as desconfianças em relação a Lula continuariam na Colômbia. Em um telegrama de 2008, o governo americano afirma que foi informado por militares de Bogotá sobre o projeto de criação de um Conselho de Defesa da América do Sul pelo Brasil. "A desconfiança é que seja um projeto, no fundo, de Chávez", teriam alertado os militares.
Em telegrama de 19 de maio de 2005, a então chanceler do Paraguai, Leila Rachid, queixou-se ao embaixador americano em Assunção, Dan Johnson, sobre o comportamento de seu colega brasileiro, Celso Amorim, e sua ideia de convocar uma cúpula entre países árabes e sul-americanos. Johnson, por sua vez, disse que o evento promoveria "gratuitamente tensões entre a comunidade árabe e judaica no Brasil". Ele pediu ainda que, na declaração final, elogios ao Sudão fossem evitados.
"Rachid afirmou que o Brasil teve uma "grande disputa" com vários chanceleres (da América do Sul), incluindo a ministra colombiana (Carolina) Barco e o chileno (Ignacio) Walker, quando Amorim pediu que eles reduzissem as objeções que tinham sobre o Sudão e o processo de paz no Oriente Médio", descreve o embaixador americano.
Rachid diz que gostaria de falar com a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, sobre "preocupações em relação à política externa e comercial do Brasil". "Ela (Rachid) estava preocupada com as ambições do Brasil de se tornar uma voz de liderança na região e pediu que os EUA se posicionassem para conter o Brasil."


PARA LEMBRAR
Uribe veio ao País "acalmar os ânimos"

Em fevereiro de 2009, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, veio ao Brasil dar garantias e acalmar o governo Lula, dois meses depois de Bogotá aprofundar sua parceria militar com Washington. Para o Planalto, o pacto ampliaria a presença militar dos EUA na Colômbia e, consequentemente, as tensões entre vizinhos da região. Em um encontro em São Paulo, Uribe deu a Lula novas garantias de que o acordo era contra o narcotráfico e o líder brasileiro deu por encerrado o desentendimento.


Argentina ameaça destruir carga retida de avião militar dos EUA
Departamento de Estado exige devolução de material e diz que governo americano não pedirá desculpas

Marina Guimarães - O Estado de S.Paulo

Cresce o incidente diplomático entre Argentina e EUA em torno do confisco de carregamento militar americano pela aduana argentina. Enquanto os EUA pedem que o material seja devolvido, a Argentina ameaça incinerá-lo. Na quarta-feira, o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley, qualificou de "desafortunada" a possibilidade sugerida pela Argentina de destruir a carga confiscada do avião da Força Aérea dos EUA.
Ele disse que o país sul-americano deveria devolver, imediatamente, o material apreendido, e repetiu que o governo de Barack Obama continua "desconcertado" pelo modo como a Argentina está lidando com a questão. Também informou que a Casa Branca não vai pedir desculpas à Argentina, como tinha exigido o chanceler Héctor Timerman.
"Como expliquei antes, o material seria usado em um treinamento que havia sido aprovado. Achamos que o confisco foi inapropriado. Temos um longa histórico de cooperação com a Argentina. Portanto, estamos surpresos pela reação", disse Crowley. Ele reiterou que o governo americano não sabe "por que a Argentina decidiu fazer do assunto um caso nacional, já que as divergências sobre a lista aprovada pela Argentina e o material que entrou no país poderiam ter sido resolvidas".
No dia 10, a aduana apreendeu o carregamento destinado a um treinamento que os militares americanos dariam a uma unidade da Polícia Federal da Argentina. O governo argentino acusou o americano de tentar entrar no país com material de guerra e espionagem sem autorização. / AE


IRÃ
Irã amplia capacidade de enriquecer urânio

Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo

O Irã retomou sua pesquisa sobre armas nucleares e está expandindo sua capacidade de enriquecimento de urânio, informou a inteligência dos EUA. Segundo o Wall Street Journal, o relatório da Nova Inteligência Nacional não concluiu se essas pesquisas serão convertidas na fabricação de armas. Mas o diretor de Inteligência Nacional, James Clapper, confirmou que o Irã é capaz de produzir urânio altamente enriquecido necessário para as bombas em "poucos anos". Segundo o documento, os líderes iranianos estão debatendo o destino do programa nuclear, por causa dos efeitos das sanções e o temor de uma escalada dos protestos da oposição.

Canal de Suez. O Irã pediu ontem formalmente autorização ao Egito para que dois de seus navios de guerra possam cruzar o Canal de Suez, inf0rmou um funcionário egípcio.

FONTE: O ESTADO DE SÃO PAULO

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