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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

15 de fevereiro de 2011 - FOLHA DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Correios vão abrir disputa bilionária por Banco Postal

Numa concorrência de ao menos R$ 1,75 bilhão, os Correios vão abrir licitação para operar o Banco Postal, serviço que atende a população de baixa renda em cidades sem filiais bancárias. Há dez anos, o Bradesco atua como correspondente bancário exclusivo em postos da estatal pelo país. Nesse período, abriu mais de 10 milhões de contas.


CAÇAS DA FAB
Jobim nega atritos com Dilma e diz que negociação continua

DE BUENOS AIRES - O ministro Nelson Jobim (Defesa) negou estar desprestigiado no governo Dilma Rousseff e afirmou ontem que a compra dos novos caças da FAB (Força Aérea Brasileira) não foi suspensa.
"Minha relação com ela está ótima. Se estivesse desprestigiado não estaria aqui [em viagem oficial a Buenos Aires]. Não mando recado. No Rio Grande não é assim", disse.
Jobim disse que vai se reunir com a presidente hoje para discutir vários assuntos, entre eles a compra dos novos caças.
O ministro afirmou que desconhece a participação do colega Fernando Pimentel (Desenvolvimento) na negociação: "Perguntei ao Pimentel, e ele disse que não foi escolhido e que não recebeu nada".


ELIANE CANTANHÊDE

Tangos, milongas e tesouras
BRASÍLIA - A perspectiva de crescimento baixou de 5,5% para 5%, a inflação de janeiro foi de 0,83%, a maior desde 2005, os juros continuam com tendência de alta e a conta da campanha de Lula, ops!, de Dilma está chegando.
A presidente, pois, não tinha outra saída senão anunciar um corte recorde de R$ 50 bi no Orçamento para tentar manter o trem nos trilhos. Mas isso não é indolor.
Não é minimamente justo nem politicamente correto meter a tesoura em Saúde, Educação e área social em geral. Não convém descaracterizar as obras de infraestrutura, que renderam à candidata o título de "mãe do PAC". E seria pura burrice (com esses apagões todos) cortar na área de energia, que catapultou Dilma para a Casa Civil e enfim para a Presidência.
Adivinha que área (entre outras) será retalhada? Defesa. É esperar para ver. Os caças da FAB não decolam, navios-patrulha da Marinha ficaram à deriva, recrutas e botinas do Exército estão ameaçados.
Na sexta-feira, o ministro Nelson Jobim se reuniu por mais de uma hora com Dilma e com a eminência parda Antonio Palocci. Para desanuviar, deu de presente para a chefe o CD "Tangos & Milongas", com versos de Borges musicados por Piazzolla. Depois, desandaram a falar gauchês e contar "causos".
Foi um aquecimento para o duelo de verdade, que ficou para hoje, quando Jobim senta com Guido Mantega e Miriam Belchior para atirar no Orçamento da Defesa, mas sem estraçalhá-lo. Assim como os demais colegas de ministério, ele está disposto a sofrer calado.
Bem... pelo menos neste primeiro momento, em que o fundamental é o teste de Dilma no Congresso: os cortes das emendas parlamentares e seus efeitos na votação do salário mínimo amanhã e na correção da tabela do IR depois.
Mas, em algum momento, Jobim vai ter que dar satisfação para o seu público interno também. Aí, disco de Piazzolla não cola.






MERCADO ABERTO
Maria Cristina Frias

Concorrência derrubou preços de passagens aéreas em Campinas
O aumento da concorrência em Campinas alterou os preços das passagens aéreas depois da entrada da Azul na disputa. A chegada da empresa no aeroporto de Viracopos, em dezembro de 2008, fez despencar o valor cobrado pelos bilhetes.
Antes da Azul, TAM e Gol cobravam R$ 329 e R$ 299, respectivamente, para voar de Campinas para Curitiba, Belo Horizonte ou Rio de Janeiro (Galeão). Dois anos depois, a passagem para o Galeão custa R$ 155 na TAM, R$ 189 na Gol e R$ 149 na Azul.
Para Belo Horizonte, o passageiro paga hoje R$ 199 para voar por Azul ou Gol, e R$ 293 para voar pela TAM. Para Curitiba, são pagos R$ 408 na TAM, e R$ 159 para voar de Gol ou de Azul.
Os três são alguns dos destinos operados por TAM e Gol a partir Campinas sem escalas ou conexões. A Gol opera para Salvador, Brasília, Porto Alegre e Recife. Os valores das tarifas foram coletados pelo sistema da Azul e se referem a compras feitas sem antecedência. Quando a compra é feita antecipadamente, os preços podem ser mais baixos. O número de passageiros embarcados em Viracopos chegou a aproximadamente 5 milhões em 2010. Dois anos antes era cerca de 1 milhão.



TENDÊNCIAS | DEBATES
O Morumbi e a linha ouro

Juvenal Juvêncio

Completou-se no ano passado meio século da inauguração do estádio Cícero Pompeu de Toledo -o Morumbi, criação magnífica do arquiteto Vilanova Artigas. Além da sua importância para a história do São Paulo Futebol Clube, o estádio também teve enorme impacto sobre a ocupação e o desenvolvimento do próprio bairro e da região. Em poucas décadas, o Morumbi se tornou densamente urbano, deixando para trás o tempo das chácaras e dos espaços vazios. Vieram com o progresso os problemas da cidade moderna. Um deles, dos mais aflitivos, o tráfego intenso de veículos, que toma o tempo e afeta a qualidade de vida das pessoas.
Não há outro remédio para esse mal a não ser o transporte público de qualidade. Forma-se, hoje, na sociedade e nos governos, o entendimento salutar de que o investimento em metrô e no transporte sobre trilhos é, entre todas as providências, o que mais terá condições de melhorar de maneira estrutural o trânsito da cidade. Há razões para ver com otimismo o futuro do Morumbi. A conclusão das obras da linha amarela do metrô vai ligar o centro da cidade, na Luz, à Vila Sônia, além de integrar a malha do sistema metro-ferroviário da cidade. Na região do estádio, está prevista para 2012 a inauguração da estação São Paulo-Morumbi -a cerca de 1 km do estádio.
Mas tão importante quanto isso será a construção da linha 17 (ouro), investimento estimado em R$ 3 bilhões. Dela vai resultar a ligação entre o aeroporto de Congonhas e a estação São Paulo-Morumbi da linha amarela do metrô, com extensão total de 21,5 km e 20 estações no percurso. O São Paulo participou com entusiasmo dos esforços voltados à viabilização de recursos para realizar essa obra fundamental. Insistimos para que a construção da linha ouro fosse inserida no PAC da Mobilidade para a Copa do Mundo de 2014. Conversamos com o governo do Estado e com a Prefeitura.
O São Paulo está se preparando há muito para enfrentar grandes desafios, entre os quais o orgulho de poder sediar a Copa e de acolher em sua casa os cidadãos da capital paulista, do Brasil e do mundo. Estudos projetam que a linha ouro vai transportar centenas de milhares de passageiros diariamente.
Além de desafogar o tráfego da região de Congonhas até o Morumbi, a obra trará melhorias significativas para o entorno do estádio. A avenida Jules Rimet, que passa ao lado do Morumbi, ganhará calçadões, melhorando o fluxo, o conforto e a segurança dos frequentadores do estádio. A praça Roberto Gomes Pedrosa, hoje degradada e sem utilidade, receberá uma das estações da linha ouro e será totalmente revitalizada, transformando-se num espaço arborizado de 30 mil m2, com estacionamento para cerca de 1.650 veículos. Os graves problemas de enchentes que assolam o clube e os moradores do entorno do estádio também ganharão solução definitiva.
Por tudo isso, a linha ouro está no centro do desenvolvimento da região. O "Tricolor do Morumbi" conta com sua realização para servir melhor aos moradores do bairro, aos torcedores do clube e aos amigos do futebol no mundo todo.
JUVENAL JUVÊNCIO é presidente do São Paulo Futebol Clube.


RELAÇÕES DIPLOMÁTICAS
Argentina barra voo americano com mala suspeita e acusa EUA
Segundo o governo, carga de avião não fora declarada à aduana

LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

Em mais um sinal de acirramento nas relações com Washington, o governo Cristina Kirchner barrou avião militar dos EUA e acusou o país de enviar à Argentina, ilegalmente, uma mala "suspeita" com equipamentos de espionagem, além de drogas e medicamentos vencidos. O voo que ficou escoltado no aeroporto de Ezeiza, na grande Buenos Aires, levava militares e equipamentos para um curso que seria dado à Polícia Federal argentina sobre "técnicas de resgate de reféns e manejo de crises".
No desembarque, segundo o governo argentino, um terço da carga não fora declarada à aduana. O material, composto ainda por armas, foi revistado e apreendido. Na última sexta, com o avião retido, o próprio chanceler Héctor Timerman inspecionou a carga. Tirou fotos e adiantou que fará protesto formal ao governo dos EUA.
Em entrevista à CNN, ontem à noite, Timerman criticou os EUA. "A Argentina já sofreu dois atentados terroristas, por isso o país tem leis rígidas", disse o chanceler. "Os EUA estão perplexos e preocupados com uma revista incomum", rebateu o porta-voz do Departamento de Estado, Philip J. Crowley.
Arturo Valenzuela, subsecretário de Estado para América Latina, afirmou "estranhar a desrespeitosa atitude do governo da Argentina". Devido à crise, o governo argentino cancelou o curso.


JANIO DE FREITAS

Notas da reprovação
O Brasil não se saiu bem no episódio egípcio. Ficou preso a uma falta de clareza que não se confunde com isenção ante problemas alheios internos, e que o remendo tentado por Lula, com sua canelada em Mubarak, só fez acentuar. A falha se torna mais grave por incidir na ocasião em que a reforma do Conselho de Segurança da ONU volta a ser discutida, com grande interesse do Brasil, entre indianos, japoneses, alemães, sul-africanos, brasileiros e outros. O argumento genérico utilizado por Dilma Rousseff, segundo o qual "o Brasil não precisa dar opinião em tudo", é verdadeiro, mas carece de uma ressalva. Tanto não precisa opinião em tudo quanto não precisa opinar, sempre, em questões de princípio. Se quiser, como tem propagado nos últimos anos, distinguir-se dos países, sobretudo das potências, que decidem suas definições e suas omissões por outras vias.
O que foi até a principal razão suscitada pelo governo Lula para investir tanto na reforma do Conselho de Segurança da ONU, aliada à obtenção de uma cadeira permanente para o Brasil. Não faltar à clareza não significaria se comprometer com a derrubada ou com a permanência de Mubarak. Mas, até por coerência com a advertência de Dilma Rousseff, de que seu governo "não admite concessão com direitos humanos", seria, por exemplo, comparecer com um pronunciamento diplomático em favor desse princípio e da democracia que o permite. Há muitas maneiras de marcar posições assim, em uma conjuntura delicada, sem expor flancos a ataques e ressentimentos. Fazê-lo no caso egípcio, da parte do Brasil não seria apenas digno, mas proveitoso para suas aspirações internacionais, em comparação com o generalizado escapismo.
O Brasil tardou muito a mostrar-se ciente da crise, e o fez com uma nota tão insignificante que nem foi percebida, sequer aqui. Quando voltou a se mostrar, já Mubarak não era. E o fez, ainda, por uma nota rasinha. No Itamaraty ou no Planalto, onde tenham surgido as notas, está faltando o que jamais faltou por lá: bom redator. Se por mais não fosse, ao menos para atenuar a evidência de que o Brasil agiu como é próprio de um oportunista. E não pode ser próprio de país que pretende tornar-se portador de nova concepção de decisões internacionais no desmoralizado Conselho de Segurança.


IMIGRAÇÃO
PF suspende concessão de refúgio a haitianos que chegam ao Brasil

DE BOA VISTA (RR) E RIO BRANCO (AC) - A Polícia Federal suspendeu ontem a concessão do protocolo de pedido de refúgio aos imigrantes do Haiti, que estavam ingressando legalmente no Brasil pelo Peru. Sem o documento, cerca de 40 haitianos estão, desde o fim de semana, barrados na fronteira entre as cidades de Brasiléia (AC) e a peruana Iñapari. Outros 30 haitianos aguardam para entrar no país por Tabatinga (AM). Eles podem ser deportados se abordados por agentes da PF na cidade sem o documento, diz o órgão.
Nos últimos 13 meses, após o terremoto no Haiti, mais de 1.200 haitianos migraram para o Brasil. No Amazonas, 817 conseguiram o protocolo. Outros 207 o fizeram no Acre. O restante retornou para o Peru ou a Bolívia, diz a Pastoral do Migrante da Igreja Católica. Em Tabatinga, 304 haitianos receberam o documento na última semana, em força-tarefa da PF. Eles chegam em buscam de trabalho para mandar dinheiro aos familiares. Segundo a chefe de Imigração da PF no Amazonas, delegada Nelbe Freitas, a determinação de suspender a concessão é do Ministério da Justiça.
"A recomendação é não conceder mais protocolos. Esperamos orientações. Se [os haitianos] não tiverem visto de entrada, não podem entrar no Brasil", disse. O Ministério da Justiça não se manifestou.
(KÁTIA BRASIL e FREUD ANTUNES)


MISSÃO DE PAZ
Brasileiros chegam ao Líbano para comandar força da ONU

DA BBC BRASIL

O Brasil passa a comandar oficialmente nesta terça-feira a unidade marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil, na sigla em inglês), disse à BBC Brasil a embaixada brasileira em Beirute. O contra-almirante Luiz Henrique Caroli chega à capital libanesa para assumir o comando da Força Tarefa Marítima (MTF, na sigla em inglês), subordinada à Unifil, que atualmente monitora a fronteira entre Líbano e Israel e ajuda o governo libanês a evitar a entrada de armas ilegais no resto de suas fronteiras.
A MTF iniciou suas atividades em outubro de 2006, logo após a guerra entre o grupo islâmico libanês Hizbollah e Israel. O contra-almirante Caroli chega acompanhado de oito militares da Marinha brasileira, quatro oficiais e quatro marinheiros. Ele comandará uma frota composta de oito embarcações, 800 oficiais e marinheiros de cinco nacionalidades.
A força naval da Unifil tem a tarefa de patrulhar os 225 quilômetros da costa libanesa e interceptar navios que levem armas ilegais ao país. Segundo o embaixador brasileiro no Líbano, Paulo Roberto Campos Tarrisse da Fontoura, a contribuição brasileira se encaixa na visão do Itamaraty de um engajamento ativo em missões internacionais.
"O Brasil já tem tradição em missões de paz. Desde 1948, foram mais de 60 missões de paz com a participação de militares brasileiros", disse. O embaixador disse ainda que, apesar da tradição, essa será a primeira vez que o país fará parte do componente naval em uma missão de paz.
No ano passado, segundo Fontoura, o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon pediu que o Brasil cedesse um contingente da marinha nacional à missão libanesa. "Os militares brasileiros são conhecidos por sua qualidade e competência", disse o embaixador. "Em vários níveis do governo libanês eu ouvi elogios ao Brasil por tornar-se parte da força de paz."

FROTA
Os navios da MTF são compostos por três embarcações alemãs, duas bengalesas, uma turca, uma indonésia e um navio grego. O comando da força tarefa era exercido pela Itália até o ano passado. A força naval da ONU deve auxiliar a marinha libanesa a monitorar as águas territoriais do Líbano, cuidar da segurança da costa e prevenir a entrada ilegal por mar de armamentos para dentro do país.
Segundo a Unifil, desde 2006, quando iniciou suas atividades, a MTF interceptou 28 mil embarcações, e encaminhou 400 navios suspeitos às autoridades libanesas para inspeções. Outro militar brasileiro, o capitão de mar e guerra Gilberto Kerr, está no Líbano desde dezembro de 2010 como chefe de operações navais junto ao comando da Unifil.
A missão de paz no país foi criada em 1978, inicialmente para confirmar a retirada de Israel do Líbano, mas teve, depois, seu mandato alterado em 1982, 2000 e 2006. Hoje, a força tem um contingente de mais de 13 mil soldados de diferentes países. Desde 1978, 275 militares da missão foram mortos no Líbano. A Unifil é liderada atualmente pelas tropas espanholas, sob o comando do major-general Alberto Asarta Cuevas.
Depois da guerra de 2006, entre Israel e o Hizbollah, o mandato da Unifil foi ampliado e os soldados de paz passaram também a patrulhar a fronteira sul do Líbano. Os soldados de paz devem ajudar o Exército libanês a prevenir o contrabando de armamento ilegal, manter o controle sobre a região, além de coordenar e manter o cessar-fogo entre o Líbano e Israel.
Segundo a embaixada brasileira, o contra-almirante Luiz Henrique Caroli estará subordinado diretamente ao comandante espanhol Alberto Cuevas.


CANCELAMENTO DA PUBLICAÇÃO
Fundação do Exército cancela anúncio em jornal anti-Dilma

RODRIGO VIZEU - DE SÃO PAULO
RAPHAEL VELEDA - DE BELO HORIZONTE

O Exército anunciou o cancelamento da publicação de peças publicitárias da FHE (Fundação Habitacional do Exército), entidade sob sua supervisão, em um jornal mensal que faz ataques à presidente Dilma Rousseff. O fim do patrocínio no jornal "Inconfidência", de Belo Horizonte, foi informado após questionamento feito pela Folha.

Coronel da reserva diz que seu jornal fala a 'verdade'
Antes da nota do Exército anunciando o cancelamento dos anúncios, a FHE havia argumentado à Folha que anunciava no jornal para atingir seu público alvo militar. Segundo o coronel de reserva Carlos Miguez, responsável pelo jornal, a FHE publicava os anúncios "há sete ou oito anos". A propaganda aparece na edição do mês passado. A edição de fevereiro ainda não foi finalizada.
Textos do jornal relacionam a eleição de Dilma ao analfabetismo e compilam informações sobre a "vida clandestina" dela durante o regime militar (1964-1985). O jornal entra nas recentes polêmicas do governo com os militares, expondo a resistência que Dilma sofre em setores das Forças Armadas.
Um texto faz um desagravo ao general José Elito Siqueira, do Gabinete de Segurança Institucional, que disse que os desaparecidos políticos não são motivo nem de vergonha ou vanglória. Outro texto diz que Elito estava certo e que não deveria ter se explicado à presidente. Há também críticas ao convite ao ex-deputado José Genoino (PT-SP) para uma assessoria especial no Ministério da Defesa.
Os textos são ilustrados por uma charge que mostra Genoino, que participou da Guerrilha do Araguaia, pisando em um homem que sangra. No alto da imagem, presidentes militares como Artur da Costa e Silva (1967-1969) e Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) choram.
Médici é chamado de "o melhor presidente do Brasil em todos os tempos".
Há ainda charges que chamam a presidente de "Dilmocreia". Uma montagem ironiza o slogan anterior do governo: "Brasil, um país de todos os terroristas". O ex-presidente Lula é chamado de "presimente" e PT e PMDB, de "corruptos".
A palavra ditadura aparece quase sempre entre aspas e o número de mortos políticos do período é minimizado: "Em 21 anos, [morreram] menos que nos dois primeiros meses deste ano nas enchentes, rodovias e guerra do narcotráfico".
Ao menos nas últimas quatro edições do "Inconfidência" aparece a propaganda do consórcio nacional Poupex. A Poupex (Associação de Poupança e Empréstimo) é gerida pela FHE e tem convênio de poupança com o Banco do Brasil.
Criada em 1980 com personalidade jurídica de direito privado, a FHE recebia verba da União até 1989, quando passou a se sustentar com recursos próprios. Ela continua, porém, sob supervisão do Exército e tem militares da reserva em sua diretoria.
Coronel da reserva diz que seu jornal fala a 'verdade'

RODRIGO VIZEU - DE SÃO PAULO
RAPHAEL VELEDA - DE BELO HORIZONTE

A FHE (Fundação Habitacional do Exército) atribuiu o fim dos anúncios no jornal "Inconfidência" a uma "alteração na política de concessão de patrocínios" do órgão. Segundo a assessoria, isso ocorreu devido a uma "mudança natural" na presidência da fundação.
A FHE mudou de posição sobre os anúncios ao longo da semana passada. Na terça-feira, disse anunciar porque o jornal é "dirigido também ao público militar, nicho de interesse" da entidade.

Fundação do Exército cancela anúncio em jornal anti-Dilma
Dois dias depois, o Exército divulgou nota à Folha afirmando que "tomou conhecimento" de que o patrocínio fora encerrado. No dia seguinte, a FHE confirmou a informação com o argumento da "mudança natural".
O Exército afirmou também que, apesar de vinculada à arma, a FHE faz marketing de forma independente.
Questionada sobre desde quando anunciava no jornal e quanto pagava por anúncio, a FHE disse que não responderia porque são informações "de caráter privado".
O coronel de reserva Carlos Miguez, responsável pelo "Inconfidência", não atendeu as ligações da reportagem após o anúncio de que o patrocínio fora encerrado.
Antes, em entrevista na terça da semana passada, ele disse receber por cada peça em torno de R$ 2.000 e que o jornal lhe custa cerca de R$ 10 mil mensais.
O militar disse não ver conflito em ter os anúncios e criticar o governo. "Não é crítica. Tudo que está no nosso jornal é a verdade, que vocês jornalistas não falam."
A tiragem do "Inconfidência" é de 8.000 a 10 mil exemplares, distribuídos principalmente por assinaturas.
Além disso, há envios pela internet. Miguez afirma que o jornal "chega a qualquer lugar do país que tenha um quartel". Há ainda "edições históricas", como no aniversário do golpe militar de 1964.


fonte: Jornal Folha de São Paulo



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