Temor da inflação faz Governo cortar R$ 50 bi
Pressionado pela expectativa de alta da inflação, o governo reduziu a previsão de crescimento para este ano de 5,5% para 5% e precipitou o anúncio de um bloqueio recorde de gastos federais de R$ 50 bilhões. O objetivo desse ajuste é esfriar a economia via redução do consumo e do investimento público. Espera-se, com isso, auxiliar o Banco Central a segurar a inflação sem a necessidade de aumentar tanto os juros.
MISSÃO DE PAZ NO LÍBANO
Brasil negocia para usar base da Otan
Instalação na Grécia pode servir de base para treinamento de militares da Marinha para a missão no Líbano
Equipe de almirante brasileiro iniciou ontem sua missão no Oriente Médio; Brasil ainda deve enviar uma fragata
LUIS KAWAGUTI
DE SÃO PAULO
A Marinha negocia o envio de tropas brasileiras para treinamento em uma base da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na ilha de Creta, na Grécia. O objetivo é preparar militares da Marinha para integrar a Força-Tarefa Marítima da Unifil, a missão de paz da ONU no Líbano, que tenta evitar conflitos entre Israel e a milícia xiita Hizbollah.
A participação do país na Unifil começou oficialmente ontem, com o envio ao Líbano do contra-almirante Luiz Henrique Caroli e uma equipe de oito militares. Eles devem assumir nos próximos dias o comando da parte naval da missão, que contará com oito navios e 885 homens. A esquadra tem o objetivo de inspecionar navios suspeitos e impedir a entrada irregular de armas no litoral libanês.
TREINAMENTO
Para ajudar o Brasil a preparar suas tropas, a Otan disponibilizou seu Centro de Treinamento da Otan para Missões de Interdição Marítima, na baía Souda, ao norte da ilha de Creta. Lá, os militares brasileiros devem aprender técnicas de combate usadas pela Otan em bloqueios marítimos.
Entre elas estão a invasão de embarcações suspeitas por meio de helicópteros, técnicas de inspeção de contêineres em navios cargueiros -por meio de rapel- e normas internacionais para verificação de documentações e certificados. O treinamento deve culminar com a simulação de uma operação de bloqueio marítimo do litoral da ilha.
Os militares que receberão treinamento devem fazer parte da tripulação -de ao menos 200 homens- de uma fragata brasileira que a Marinha pretende enviar ao Líbano ainda neste semestre.
Contudo, a participação da fragata na Unifil ainda não está confirmada, pois ainda depende de aprovação no Congresso. Por causa disso, a aceitação do convite para treinamento em Creta só deve ocorrer após a formalização do envio da embarcação para o Oriente Médio.
O Brasil estuda ainda enviar até 300 homens do Exército para patrulhar a fronteira entre Líbano e Israel.
PAINEL
Pela ordem
Dilma baixou norma interna segundo a qual reivindicações só serão recebidas por meio dos canais hierárquicos competentes. Ninguém citou, mas o texto serve sob medida para a Associação dos Oficiais de Inteligência, que entrou em choque com o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito, e solicitou audiência no Planalto.
RESGATE DE REFÉNS DAS FARCS
Guerrilha da Colômbia liberta refém
Vereador Marcos Baquero foi solto pelas Farc; operação ocorreu com o apoio do Brasil, que cedeu helicóptero
É primeira libertação durante o governo de Juan Manuel Santos, empossado presidente colombiano em agosto
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
Após 19 meses de cativeiro, o vereador colombiano Marcos Baquero foi entregue ontem pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) a uma comissão humanitária, na primeira das cinco liberações unilaterais de reféns prometidas pela guerrilha para ocorrer nos próximos dias.
"As minhas primeiras palavras são para a minha mulher e para os meus filhos. Amo-os muito", disse Baquero, da cidade de San Jose del Guaviare, à rádio Caracol.
Após se reencontrar com a mulher e os dois filhos, Baquero contou que o mais difícil foi ficar sozinho por um ano e sete meses. "O mais difícil é não ter sequer com quem conversar. Minha companhia era um gato", disse o vereador de 33 anos.
O gato era da família, foi com ele para o cativeiro e voltou com ele para casa. O vereador prometeu fazer uma marcha em sua cidade pela liberdade dos demais reféns.
Mais tarde, a Cruz Vermelha, que coordena a missão liderada pela ex-senadora colombiana Piedad Córdoba, lançou nota agradecendo ao governo brasileiro.
Como em 2010, a operação conta com a ajuda logística do Brasil, que cedeu os helicópteros Cougar do Exército para trasladar os reféns de pontos da selva à cidade de Villavicencio, no centro da Colômbia.
As Farc anunciaram as primeiras liberações unilaterais de sequestrados no governo de Juan Manuel Santos na esperança de recuperar algo de simpatia pública, nacional e internacional, e emendar uma negociação política com o governo colombiano.
Santos assumiu em agosto prometendo manter a ofensiva militar de seu antecessor, Álvaro Uribe, que enfraqueceu como nunca as Farc.
Disse, porém, que as portas do diálogo não estavam "fechadas à chave".
O governo da Colômbia repete, porém, que as Farc devem renunciar aos sequestros, aos atos terroristas e ao tráfico de drogas antes de que seja iniciada qualquer interlocução.
Sabe-se que há contatos nos bastidores entre integrantes da cúpula das Farc -encurraladas nas montanhas no centro do país- e entes do governo.
A guerrilha sofreu diversos golpes nos últimos anos, inclusive o assassinato de líderes pelo governo.
Em 2010, a guerrilha chegou a dizer que não haveria mais gestos sem contrapartida do governo colombiano, exigindo o chamado intercâmbio humanitário -troca de reféns por guerrilheiros presos-, mas aparentemente foi forçada a mudar de estratégia.
Até o dia 13 as Farc prometem entregar mais quatro reféns: o também vereador Armando Acuña, os militares Henry López Martínez, Salín Antonio Sanmiguel Valderrama e o policial Guillermo Solórzano.
As operações acontecerão nos departamentos de Caqueté e Tolima.
JANIO DE FREITAS
João e Janete Capiberibe poderiam comprar muitos votos, mas os dois de que são acusados de ter comprado não são base para cassação
Pendências por aí
Entre os esclarecimentos pendentes, e de futuro tão incerto quanto o seu passado, os devidos por um alto tribunal, a propósito dos danos e desvios que causou à vida de duas pessoas, ficam muito bem na posição de precedência. Afinal de contas, há quase dez anos os sucessivos integrantes do Tribunal Superior Eleitoral são alertados para as estranhezas do caso, sem que lhe dedicassem mais do que o corriqueiro, com grande probabilidade de errado e injusto, em duas ocasiões.
Eleitos senador e deputada em 2002 pelo Amapá, João e Janete Capiberibe são acusados do crime eleitoral de compra de votos e cassados, ele em 2005, ela em 2006. Como prova do crime, os depoimentos de duas mulheres socialmente humildes, que disseram haver recebido por seu voto.
Nada mais do que duas pessoas, em todo o Estado, como testemunhas. E nenhum elemento de convicção, nada a comprová-las. Os valores: R$ 26 para cada uma.
Nem esse quebrado sem motivo e coincidente suscitou interesse, do princípio do processo à sentença final do TSE, entre as várias inconsistências. O dono de TV e de rádio e rico suplente Gilvam Borges foi empossado para revelar-se um senador fosco, sem preparo algum.
Em junho do ano passado, Roberval Araujo, com a intimidade de cinegrafista de Gilvam Borges, denunciou que o chefe e então candidato derrotado o mandara ofertar carro e mesada a duas pessoas, para acusarem o recebimento de R$ 26 por seus votos nos Capiberibe.
A denúncia das duas valeu para cassar o senador e a deputada; a do cinegrafista não valeu nem para impedir que ambos, eleitos outra vez em outubro passado, fossem vitimados pelo TSE com base na Ficha Limpa.
Com dois novos depoimentos que acusam Gilvam Borges, feitos por ex-funcionários da TV e da rádio e relatados por Kátia Brasil na Folha de ontem, há uma clareza: o TSE é a parte a ser questionada, por sua responsabilidade nas sentenças que, antes baseadas em afirmações inconvincentes, estão desqualificadas por três testemunhos no mínimo tão válidos quanto os dois da condenação.
E há mais uma forte razão: os precedentes da chamada Justiça Eleitoral do Amapá, no caso, não são recomendáveis.
Os Capiberibe poderiam comprar milhares de votos, mas os dois de que são acusados não servem de base para um Tribunal Superior Eleitoral cassar mandatos e partes essenciais de vidas. O TSE deve esclarecer-se e esclarecer.
Militares são hostis à prestação de esclarecimentos devidos. A morte do general Urano Bacellar quando comandante da tropa da ONU no Haiti, porém, cresceu em carência de esclarecimento.
Passou de caso mal explicado de suicídio ao de crime de assassinato, segundo menção feita por ninguém menos do que o presidente da República Dominicana, Leonel Fernandez.
A versão brasileira, de que o general matou-se porque não quis atacar um bairro marginal no Haiti, como a ONU cobrava, ou é descabida ou deixaria mal o Exército.
Como generais não são do Exército, contrariamente ao que supõem os militares, são da nação, o direito de saber o que se passou é legítimo, geral e consiste em dívida com o país. Ainda mais sabendo-se que houve a volta temporã de outro general.
Consta haver inquérito da Controladoria-Geral da União sobre desatinos financeiros em Furnas, no governo passado. Constar não basta: as investigações são indispensáveis e o governo atual deve explicação pormenorizada dos fatos e responsabilidades em questão. O nível do que foi obrado em Furnas está muito acima da boca do PMDB. E não só do fluminense, como dizem.
Na lista de exigências que anuncia apresentar à Presidência ainda neste mês, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, diz que estará a compensação pela perda de Furnas, tomada ao partido por Dilma Rousseff. Compensado tem que ser o país, pela passagem do PMDB por Furnas. E falta esclarecer muito mais dos seus rastros.
WIKILEAKS
Em ataques de 2006, EUA relataram "abismo" de direitos humanos no Brasil
DE SÃO PAULO - Despachos do Consulado dos EUA em São Paulo revelam que o governo americano acompanhou com preocupação os ataques da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) a bases da Polícia militar que deixaram 172 mortos em 2006.
Os telegramas, divulgados pelo site WikiLeaks, descrevem o contexto de insatisfação dos presos com o sistema carcerário. Os documentos também apontam o líder da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, como mandante dos ataques e negociador do cessar-fogo com a cúpula da polícia.
As correspondências afirmam haver um "abismo" em relação aos direitos humanos e que as cadeias, além de superlotadas, têm condições sanitárias primitivas.
Os comunicados são baseados em informações publicadas na época por jornais e TVs e falam também da absolvição do coronel Ubiratan Guimarães pelo massacre do Carandiru e do sequestro de um repórter da Rede Globo pelo PCC, cujo resgate foi a exibição de um vídeo. A Folha e outros seis jornais do mundo têm acesso aos telegramas do WikiLeaks antes da sua divulgação no site da organização (www.wikileaks.ch).
Colaborou FERNANDO RODRIGUES, de Brasília
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