DESTAQUE DE CAPA
'Fico' de ditador egípcio causa revolta e impasse
Depois de 17 dias de manifestações, mais de 300 mortos e pressões até de países aliados, como os EUA, Hosni Mubarak, fez um pronunciamento para dizer que ficará no cargo até a eleição, em setembro. Em uma entrevista para a CNN, o embaixador do Egito nos EUA afirmou que o vice Omar Suleiman agora é o presidente "de facto".
Abusos maculam boa imagem do Exército
DO ENVIADO AO CAIRO
Os confrontos do estudante de engenharia Ahmed Salawy com o Exército egípcio começaram muito antes dos protestos atuais. Com apenas 22 anos, conta ter sido preso 17 vezes por atividades antirregime, sobretudo a participação em manifestações. "Entre as detenções curtas, de poucas horas, e as mais longas, que duraram até sete meses, sempre houve uma coisa em comum: a violência", diz Ahmed, que diz ter sido várias vezes torturado pelo Exército por envolvimento com oposicionistas. "Comecei a pedir liberdade em 2004, quando era um menino. Apanhei tanto que até me acostumei", afirma.
Relatos como o de Ahmed têm se repetido agora, abalando a imagem de neutralidade e comedimento que o Exército conquistou entre a maioria dos manifestantes. Grupos de direitos humanos denunciaram ao jornal "Guardian" que o Exército deteve milhares de manifestantes desde o início dos protestos, em 25 de janeiro, e que eles teriam sofrido tortura de militares. Muitos deles ainda estariam desaparecidos. Na praça Tahrir, entretanto, o clima entre manifestantes e soldados é geralmente amistoso. Tanques cercam o local, além de proteger instalações consideradas estratégicas pelo regime, como o prédio da televisão estatal.
Mas eles não parecem representar ameaça. Virou cena corriqueira pais colocarem filhos pequenos em cima dos tanques para tirar fotos. "Não acredito que o Exército tenha torturado", duvida o técnico em computador Diaa Elsherbany, 25. "Nosso grande inimigo é a polícia." Desde os choques ocorridos nos primeiros dias, que deixaram mais de 300 mortos, a polícia sumiu das ruas do Cairo. O resultado foram saques e vandalismo, o que levou à formação de patrulhas de cidadãos para proteger prédios e o comércio.
TRANSIÇÃO
Embora os manifestantes rejeitem a permanência do regime, admitem que o Exército seja mantido como guardião do poder durante transição, contanto que o comando não fique nas mãos de alguém identificado com a era Mubarak, como o atual vice-presidente, Omar Suleiman. Algumas cenas ocorridas no calor dos protestos vão muito além da cordialidade entre manifestantes e militares. Ontem, após avisar que o governo faria um anúncio, um militar recebeu beijos, abraços e só não foi carregado porque afastou com educação os mais animados. Deixou o local com lágrimas nos olhos, sob gritos ritmados dos manifestantes: "O povo e o Exército jamais se separarão".
(MN)
ANÁLISE
"Cenário turco" para o futuro esbarra no papel dos militares
IGOR GIELOW - SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O papel dos militares na crise do Egito fez a alegria daqueles que sonham com um cenário turco para o futuro político do país árabe. Explica-se: fundadores da República da Turquia, os militares do país são uma espécie de elemento regulador da política local.
Mesmo nas quatro ocasiões em que deram golpes, a última em 1980, eles o fizeram de forma a serem percebidos no Ocidente como guardiões do secularismo. Em 1997, pressionaram pela queda do premiê islâmico, mas dentro das regras.
O partido governista atual abrandou por inspiração militar suas visões islâmicas, ainda que tenha buscado maior independência do Ocidente devido à rejeição da União Europeia em aceitar os turcos como membros.
Assim, há a esperança nos governos ocidentais de que os militares egípcios possam assumir papel semelhante. Em um acerto em que a Irmandade Muçulmana tomasse parte, ainda que como força de oposição legalizada, o Exército poderia segurar eventuais radicalismos.
Não é tão simples. Se é verdade que são seculares, mantendo a tradição do "socialismo árabe" do mítico Gamal Abdel Nasser, é importante lembrar que os militares egípcios sempre foram parte orgânica do regime.
Desde 1954, só houve três presidentes no país. Um morreu, outro foi morto e o terceiro é Mubarak, não por acaso um herói da Força Aérea.
Na Turquia de hoje, militares influem na política partidária, mas há eleições verdadeiras para seus governos.
Parte disso se deve, além da ocidentalização que acompanhou a república fundada em 1923, ao fato de que desde 1952 a Turquia faz parte da Otan, a aliança liderada pelos EUA.
No Egito, não há uma posição ocidental semelhante para gerar tal influência -e é ingenuidade achar que os protestos da praça Tahrir são todos em favor da democracia liberal.
IRMANDADE
É uma incógnita a composição de forças num eventual pós-Mubarak, bem como a relação dos militares numa equação que incluísse os islâmicos.
A Irmandade é um ator inevitável e pode até ter moderado suas posições publicamente, mas é adversária figadal da elite militar, tendo sido duramente reprimida até aqui.
Como mostra o grande painel em frente ao Museu Nacional Militar do Cairo, que celebra a "vitória" na guerra perdida para Israel em 1973, os fardados egípcios são dados a teatros e dissimulações. O cenário turco ainda é só uma hipótese.
INVESTIGAÇÃO PESSOAL
Abin investigará 2,7 mil indicados a cargos
Para evitar desgaste, Dilma determina que agência amplie levantamento da ficha criminal de futuros servidores
Levantamento, que antes se limitava a 435 indicados a cargos de chefia, será estendido a postos intermediários
FERNANDA ODILLA
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA
A presidente Dilma Rousseff determinou que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) amplie a investigação de pessoas indicadas a cargos públicos. Uma das atribuições do órgão é produzir relatórios com a ficha criminal dos indicados. Antes, o "Levantamento de Dados Biográficos" produzido pela agência era limitado quase que exclusivamente aos 435 cargos de confiança com maior salário, ocupados quase sempre por secretários e assessores especiais dos ministros.
SALÁRIOS
Agora, a presidente determinou que se investigue também outros 2.244 servidores que ocupam funções intermediárias. Com o novo escopo, as avaliações vão de cargos com salários que variam de R$ 4.000 a R$ 11 mil. A Folha apurou que, apesar do aumento da demanda, há reclamações sobre a qualidade dos dados. Integrantes do governo dizem reservadamente que, em alguns casos, a Abin parece nem sequer pesquisar no Google o histórico dos investigados.
Os levantamentos trazem dados de processos e inquéritos criminais, títulos protestados e cheques sem fundo. É feito com base em consultas em sistemas como o Infoseg (rede de informações do Ministério da Justiça), polícias e órgãos como Detrans. Dentro da agência, também há queixas sobre o aumento dos pedidos.
Sob anonimato, funcionários da Abin dizem que, além de pendências judiciais, o Planalto pede um mapa dos principais aliados e adversários dos indicados -levantamento que agentes alegam não ter condições de fazer.
EQUIPE
Agentes ouvidos pela Folha afirmaram que a equipe designada conta com apenas três servidores. A Abin, o GSI (Gabinete de Segurança Institucional, órgão ao qual a agência está subordinada) e a Presidência da República não comentaram os problemas relacionados à atividade.
O governo espera que os relatórios sejam capazes de evitar desgastes. Em 2007, Lula convidou o deputado federal Odílio Balbinotti (PMDB-PR) para o Ministério da Agricultura, mas teve que recuar após a revelação, pela imprensa, de que o parlamentar era investigado sob a suspeita de usar funcionário de sua própria empresa como laranjas para tentar se livrar de uma dívida.
Balbinotti era alvo de um inquérito criminal que tramitava no STF (Supremo Tribunal Federal).
INVESTIGAÇÕES NA ABIN
2.679 - servidores em cargos de confiança serão investigados
R$ 4.000 - é o salário do mais baixo cargo investigado
R$ 11 mil - é a remuneração dos alvos com os cargos mais altos
WIKILEAKS – DOCUMENTOS SECRETOS
Programa nuclear brasileiro coloca Argentina em alerta
"Sinal amarelo" causado pela aproximação com o Irã foi exposto à embaixada americana, revela WikiLeaks
Diplomatas do país vizinho também se queixam da compra de armas pelo Brasil, mostra o relato de 2009
CLAUDIA ANTUNES
DO RIO
A Argentina acendeu um "sinal amarelo" em relação aos rumos do programa nuclear brasileiro, disseram altos diplomatas do país vizinho à embaixada dos EUA em Buenos Aires, em dezembro de 2009. O encontro foi relatado pelos americanos em telegrama divulgado ontem pela organização WikiLeaks (www.wikileaks.ch).
Os argentinos citaram entre os motivos de preocupação a aproximação do governo brasileiro com o Irã e declarações de acadêmicos e ex-funcionários brasileiros lamentando a desvantagem do país em relação aos outros membros do Bric (Rússia, Índia e China), que contam com a bomba.
Mas disseram que não estavam "demasiadamente preocupados" nem acreditavam que o Brasil viria a romper acordos internacionais e bilaterais para produzir armas atômicas. O grupo reclamou da compra de armas pelo Brasil e do ministro da Defesa Nelson Jobim, que teria "influência excessiva" no governo Lula e havia feito uma palestra na Argentina sem coordenar com o governo local.
Disse esperar que o sucessor de Lula adotasse políticas menos "controvertidas" nos setores de defesa e relações exteriores. A conversa ocorreu pouco depois da visita ao Brasil do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, em novembro de 2009.
Naquele mês, a diplomacia brasileira se absteve em moção contra Teerã na AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica).
A apreensão argentina já era conhecida -no país vizinho, iranianos são acusados do atentado à associação judaica Amia, em 1994.
O Brasil tentou aplacá-la com a garantia de que não haveria associação atômica com o Irã e com a intensificação da colaboração com a Argentina nessa área.
No ano passado, foi assinada declaração bilateral que promete "aperfeiçoar" a Abaac, a agência de inspeções nucleares mútuas.
Há duas semanas, na visita da presidente Dilma Rousseff a Buenos Aires, houve um acordo para a elaboração conjunta do projeto de reatores para fins de pesquisa e produção de isótopos usados na medicina.
PROTOCOLO ADICIONAL
No despacho vazado pelo WikiLeaks, foi discutida a resistência brasileira a assinar o Protocolo Adicional do TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), que permitiria inspeções mais abrangentes da AIEA nas instalações atômicas do país.
Instados pelos americanos, os argentinos confirmaram que, assim como a AIEA, não têm acesso às centrífugas de enriquecimento de urânio brasileiras.
Mas disseram que também não pretendem assinar o protocolo sem o Brasil, argumentando que tal pressão seria "contraprodutiva".
Em outro telegrama, publicado em janeiro, americanos sugeriam que a melhor estratégia para levar o Brasil a aderir ao instrumento seria convencer a Argentina a fazê-lo antes.
MISSÃO DE PAZ
Chanceler irá ao Haiti para discutir eleições
O chanceler brasileiro, Antonio Patriota, fará uma visita ao Haiti no próximo domingo, segundo a assessoria de imprensa do Itamaraty. Ele deve conversar com os comandantes dos batalhões brasileiros estacionados no país, a serviço das Nações Unidas, mas o assunto central da visita deve ser a crise política relacionada ao atraso do processo eleitoral Haitiano, devido a denúncias de fraude. O chanceler deve se reunir com o presidente do Haiti, René Préval.
AVIAÇÃO
Copa Airlines fará voos para Toronto
DE SÃO PAULO - A panamenha Copa Airlines quer expandir a sua participação no mercado brasileiro com mais opções de voos. A partir do dia 15 de junho, passará a oferecer 14 voos semanais do país para Toronto, no Canadá, com conexão na Cidade do Panamá. Os voos sairão de São Paulo, Rio, Belo Horizonte (quatro voos semanais) e Manaus (dois voos).
EXPLOSIVOS
Ação policial apreende mais de 3.000 bananas de dinamite no RN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA - Uma operação conjunta das polícias Civil e Militar do Rio Grande do Norte resultou na apreensão de mais de 3.000 bananas de dinamite na cidade de Carnaúba dos Dantas (a 237 km de Natal).
A ação faz parte das investigações sobre a quadrilha que arrombou dezenas de caixas eletrônicos em pequenas cidades do Nordeste.
A quantidade encontrada surpreendeu os policiais. Segundo eles, uma única dinamite é suficiente para explodir um caixa eletrônico.
Foram encontradas ainda centenas de espoletas e metros de corda detonante no local, que funcionava ilegalmente como venda de explosivos. Três homens foram presos.
Segundo o delegado-geral de polícia do RN, Ronaldo Gomes, ainda não há como identificar a origem das dinamites.
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