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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

FOLHA DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Comando militar susta leis e fecha Congresso egípcio

A junta militar dissolveu o Parlamento egípcio, disse que ficará no poder por seis meses ou até haver eleições, suspendeu a Constituição e criou grupo para reformá-la. Enquanto não se realizam eleições gerais, a junta governará o Egito por decreto.
As medidas atendem a boa parte dos desejos do movimento que derrubou o ex-ditador Hosni Mubarak.


MINHA HISTÓRIA UELINTON NASCIMENTO JORGE, 43
A um passo da Condenação
(...) Com o atestado de óbito, meu pai foi anistiado e recebemos R$ 100 mil (...) Quando fui ao interior de São Paulo, dei de cara com ele (...) Tenho 95% de chance de ir para a cadeia. Espero que essa injustiça não seja feita

RESUMO
Filho de Wlademiro Jorge, "desaparecido político" anistiado em 1996, mas que reapareceu em 1997, Uelinton Nascimento Jorge, 43, recebeu R$ 100 mil da Comissão de Mortos e Desaparecidos.
O Ministério Público o denunciou por estelionato, acusando-o de fraudar a atuação do pai em grupo de esquerda. Uelinton, que alega inocência, pode ser condenado a cinco anos de prisão.

MATHEUS LEITÃO - DE BRASÍLIA

Nasci em Petrópolis (RJ) em 1967 e, quando tinha apenas um ano, meu pai desapareceu. Da sua história, lembro apenas o que a minha mãe me contou. Pouco antes de ele sumir, passou a viajar muito. Escrevia cartas relatando envolvimento político e dizia que, por isso, corríamos riscos.
Mais velho, descobri a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos. Minha mãe me mandou parte das cartas e, em 1996, entrei em contato com a comissão.
Consegui três depoimentos, registrados em cartório, de militantes que tinham atuado com o meu pai na organização de esquerda chamada "Grupo dos 11".

PROCURA
A comissão me orientou como deveria procurá-lo, quem deveria acionar e de que forma deveria agir para tentar encontrá-lo. Ele não sumiu só para mim, mas para os irmãos dele também.
Procurei primeiro no Fórum de Campos, onde ele viveu e trabalhou, mas a resposta foi: "à revelia". Entrei na Polícia Federal e na Cruz Vermelha, mas não deu resultado. Aí, consegui o atestado de óbito.
Com o documento, ele foi anistiado em 1997, ainda no governo FHC. Recebemos R$ 100 mil, que usei para comprar uma casa para a minha mãe [A lei 9.140/95 não prevê, no caso de localização com vida de pessoa desaparecida, ação para o ressarcimento do pagamento já efetuado, salvo na hipótese de comprovada má-fé].
A comissão orientou-me ainda a entrar na parte trabalhista, já que ele tinha 13 anos de rede ferroviária e havia abandonado o emprego no mesmo período.

O ENCONTRO
Foi quando eu descobri aposentadoria em seu nome. O funcionário do INSS suspeitou de fraude. O raciocínio foi: alguém deve estar usando o nome dele. Se não, o governo o teria encontrado.
Quando fui ao interior de São Paulo, no endereço que constava da aposentadoria, dei de cara com meu pai. Voltei desesperado e perguntei ao meu advogado o que fazer. Ele disse: vamos avisar a comissão imediatamente.
Fiz uma carta declaratória e contei exatamente o que aconteceu. Eles acreditam em mim e divulgaram uma carta me defendendo.
[Trecho da carta: "Ressaltamos que tivemos ciência do fato por meio de Uelinton, filho do suposto desaparecido, cuja a credibilidade não nos deixa crer ter havido má-fé dos familiares". Procurada pela Folha, a comissão reafirma o teor da carta].

ESTELIONATO
Quando comuniquei que ele estava vivo, começaram os problemas. O Ministério Público Federal abriu um processo de investigação por estelionato e, no processo, meu pai mentiu.
Disse que não tinha feito nenhuma militância. As três testemunhas mudaram os depoimentos e disseram que "não sabiam por que haviam dito aquilo". Na minha opinião, eles foram pressionados. Agora, fui condenado.
Como eu fraudei a União? Procurei até a Polícia Federal. Eu avisei a comissão que ele estava vivo. Estou esperando um milagre. A história está agora com o STJ (Superior Tribunal de Justiça).

O PAI
Não conheci ele direito. Ele faleceu há um ano. Quando eu o procurei, fingi que era um funcionário da rede ferroviária, já que achava ser uma fraude. Depois, não conseguimos manter uma relação, já que ele negava todas as relações anteriores à nova família, em São Paulo.
A mulher dele disse que o encontrou andando pela cidade e resolveu cuidar dele. O meu entendimento é que, depois de ele passar por tortura, soltaram ele em São Paulo [Em entrevista à Folha em agosto de 1998, Wlademiro disse que abandonou a primeira família porque estava "decepcionado"].
Tenho 95% de chance de ir para a cadeia. Espero que essa injustiça não seja feita.


Segurança recebeu pena de 5 anos e recorre

DE BRASÍLIA

Condenado pela Justiça Federal a cinco anos de prisão por estelionato, o segurança Uelinton Nascimento aguarda em liberdade o julgamento de um habeas corpus no STJ.
Por ora, tem saído vitoriosa a denúncia do Ministério Público Federal que acusa o segurança de obter "ilicitamente", "através de falsas declarações e documentos", R$ 100 mil da Comissão de Desaparecidos.
Durante as investigações, as três testemunhas que haviam dado detalhes à comissão (com depoimento registrado em cartório) sobre a atuação política do pai mudaram suas versões.
A comissão defendeu Uelinton ao divulgar carta em que diz acreditar em sua inocência. Ele também foi defendido pela presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Margarida Pressburger.
(ML)


ENTREVISTA DA 2ª DAVID NEELEMAN
Tudo é mais caro no Brasil; isso é falta de concorrência
CRIADOR DA AZUL LINHAS AÉREAS SUGERE EXTINÇÃO DA LEI DE LICITAÇÕES E DO TCU

MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO

O fundador e dono da Azul defende a criação de terminais temporários nos aeroportos para dar conta da demanda da Copa e ataca a Lei das Licitações (de 1993, que estabelece normas e prazos para contratação por todas as esferas do poder público) e o TCU (Tribunal de Contas da União). Leia os principais trechos da entrevista.

Folha - A Copa está se aproximando e a ampliação dos aeroportos não saiu do papel.
David Neeleman - Vai ser um grande problema. Sabe, eu queria acabar com a lei 8.666 (Lei das Licitações) e com o TCU. Em Vitória, gastaram R$ 30 milhões com as obras do aeroporto. Aí sumiu R$ 1 milhão e o TCU mandou parar tudo. Faz cinco anos que a obra está parada e os R$ 30 milhões foram para o lixo. Tem que investigar, mas não precisa parar a obra. Eu sempre pergunto aos brasileiros sobre isso e eles dizem: "Isso é o Brasil". Não aceito. A Nigéria não faz coisa tão estúpida.

Teremos caos aéreo na Copa?
Vocês ficam sempre pensando na construção de prédios. Mas dá para fazer terminais temporários. Temos um plano para um terminal em Viracopos que pode ser aberto antes da Copa. Em seis meses a gente constrói um pátio e um terminal. Já fiz isso quatro vezes nos EUA. Existem uns terminais infláveis que você arma em 30 dias. As cidades que estão crescendo muito no mundo não esperam cinco anos.

O que fazer com a Infraero?
O Estado pode ser dono da empresa, mas tem que liberar da [lei] 8.666. Devia ser como nos EUA, onde a autoridade aeroportuária não pode distribuir lucro. Não pode aumentar tarifa pra aumentar o lucro fácil. O lucro precisa ser todo reinvestido.

Se o governo decidir conceder à iniciativa privada a construção de terminais, o sr. teria interesse?
Não acho uma boa política para o consumidor, mas, se for a melhor maneira de fazer, eu faria o investimento.

A Azul transportou 7 milhões de passageiros em dois anos -batendo o recorde que era da sua ex-empresa nos EUA, a JetBlue.
A Azul começou com mais aviões do que a JetBlue. Mas é porque, durante a crise [financeira internacional], a Embraer pediu para nós recebermos mais aeronaves para eles manterem a linha de produção sem precisar demitir mais. Foi bom para nós, foi bom para eles.

O crescimento econômico do país ajudou.
Sim, mas o setor aéreo está crescendo três vezes mais que a economia. Há dois anos, quando olhamos o mercado brasileiro, eram 50 milhões de pessoas viajando, mas deveria ter 150 milhões já naquela época [hoje são 70 milhões]. E as duopolistas [TAM e Gol] que estavam em Campinas antes de nós estavam voando com a taxa de ocupação bem baixa.

E qual foi a estratégia?
Seguimos dois princípios: começamos a segmentar as tarifas [política que prevê preços mais baixos para quem compra com antecedência], atraindo pessoas que estavam viajando de ônibus. E a oferecer voos diretos. As pessoas não gostam de fazer conexão.

Mas TAM e Gol também fazem segmentação de tarifa.
Antes da Azul, a diferença entre a tarifa mais baixa e a mais alta era 50%. Agora é mais de 300%. Quando começamos a voar em Campinas, a tarifa lá era 20% mais alta do que em Guarulhos. Era como se as empresas falassem: se você quiser voar de Campinas, tem que pagar mais. Nós mudamos isso e o aeroporto explodiu.

Uma das coisas mais elogiadas da JetBlue é o call center, com atendentes trabalhando de casa. Por que não deu certo aqui?
Porque a Telefônica cobra por minuto nas ligações locais. Nos EUA, você paga US$ 40 e fala 20 horas por dia. Isso é falta de concorrência. Tudo é mais caro no Brasil. Celular, internet, linhas de telefone. Fico impressionado. As pessoas ganham salários menores aqui, mas pagam mais por quase tudo. Só casa e comida é mais barato.

Onde é mais fácil ganhar dinheiro, aqui ou nos EUA?
Aqui. Já temos quase 10% do mercado. A JetBlue tem 4% nos EUA, depois de dez anos.

A Azul tem 35 ônibus que levam as pessoas de graça para Viracopos. Qual o custo e a importância disso?
Faz parte do nosso negócio. O taxi de SP para Campinas custa R$ 250, mais do que a tarifa de avião.

De 7 milhões, quantos usaram o ônibus?
Talvez 1 milhão. Mas os ônibus não são nossos.

Mas isso é custo.
Sim, mas é uma parte pequena da nossa tarifa.

O sr. não quer dizer quanto?
Não quero dar ideia para os outros.

Um dia a Azul vai cobrar por esse serviço?
Íamos cobrar, mas tinha tanto imposto que não compensava. O retorno de imagem é mais do que o que a gente ganharia cobrando.

A Azul vai dar lucro em 2011?
Sem dúvida.

E qual a previsão de receita?
Vai ter bastante gente viajando com a Azul.

Vocês estão se preparando para uma oferta de ações?
Eu espero nunca ter de fazer isso. Empresa fechada é bom. Eu não preciso falar muitas coisas para vocês.

Mas é desejo dos acionistas.
Um dia. Mas eu que vou decidir, eles não podem me forçar, pois eu tenho o controle das ações com direito a voto. Claro, sou leal a eles. Deram o dinheiro e um dia tenho que devolver. [A Folha apurou que a Azul se prepara para abrir capital em 2012.]


PERFIL
Com 51 anos, Neeleman já criou 4 companhias

DE SÃO PAULO

O sucesso da Azul tem gosto de vingança para seu fundador, David Neeleman, americano nascido no Brasil. Há quatro anos, feriado de São Valentim, quando uma tempestade paralisou a JetBlue nos EUA, ele entrou em confronto com os acionistas e acabou demitido da empresa que criou.
"O conselho queria que eu desaparecesse. Agora, eles têm sempre que ler sobre o David [ele não sai das páginas das revistas de negócios nos EUA]", diz Neeleman, 51, com seu português aprendido durante os dois anos em que viveu no Nordeste, como missionário mórmon, aos 19.
"Quando uma porta fecha, outras se abrem. Na Azul tem 3.000 pessoas e 7 milhões de clientes felizes por eu estar aqui."
Filho de um jornalista americano correspondente no Brasil nos anos 60, David viveu até os 5 anos em São Paulo. A Azul é sua quarta empresa aérea.
Aos 34, vendeu a primeira, Morris Air, para a Southwest. Virou empregado, mas queria continuar fazendo as coisas do seu jeito.
Com cinco meses foi demitido pelo presidente da Southwest, Herb Kelleher, que hoje o chama de "gênio empreendedor".
Para consolá-lo após a demissão, ganhou da mãe um livro sobre transtorno de deficit de atenção. "Não li, mas tinha uma parte com 21 itens que definem quem tem TDA. Me identifiquei."
Por contrato, teve que ficar cinco anos afastado da aviação nos EUA. Matou o tempo criando uma empresa no Canadá. Findo o prazo, foi para Nova York criar a JetBlue. Estava decidido a não ter patrão. Mas, após lançar as ações da JetBlue na Bolsa de Nova York, ganhou acionistas.
Presidia o conselho da JetBlue -então a aérea mais admirada dos EUA- quando foi demitido. A nevasca foi a gota d"água em uma queda de braço com o principal executivo, avesso a interferências.
Na Azul, mantém contato com os passageiros. Na empresa, em Alphaville, dá palestras de boas-vindas a novos funcionários. "Ele cobra muito e exige resultados rápidos", diz Miguel Dau, vice-presidente operacional da Azul. "Mas é muito educado e bem humorado."
Casado, pai de 9 filhos, passa três semanas por mês no Brasil. Orgulhoso da nova cria, não esconde o desejo de reconquistar a América. "A JetBlue é a minha empresa. Gostaria de voltar a fazer parte dela. Tenho só 50 anos e me sinto com 30. Quem sabe o que vai acontecer daqui a 10, 20?"
(MB)


PAINEL
RENATA LO PRETE

Makeover 1
O governo estadual e a Prefeitura de Guarulhos começam a projetar a revitalização do entorno do aeroporto de Cumbica de olho na Copa de 2014. Entre as medidas em estudo estão a remoção de quatro presídios situados na região e a eliminação de submoradias que circundam o terminal.

Makeover 2
O projeto deverá ser realizado por meio de PPP (Parceria Público-Privada), com o aproveitamento das áreas ao longo da rota que chega à capital para instalações de logística. A ideia é transferir as unidades prisionais para as margens do Rodoanel-Leste.


FERNANDO DE BARROS E SILVA

Policiais em Serra Pelada
SÃO PAULO - Não fosse a queda do ditador egípcio, o principal destaque dos jornais de sábado teria sido a operação comandada na véspera pela Polícia Federal no Rio contra policiais corruptos e/ou assassinos.
A chamada Guilhotina foi coisa grande: 45 mandados de prisão, entre os quais os de 21 policiais militares e 11 policiais civis. Envolveu 380 agentes da PF e mais 200 comandados de José Mariano Beltrame.
O alvo mais graduado é o ex-subchefe da Polícia Civil, delegado Carlos de Oliveira, que até sexta atuava como subsecretário municipal de Ordem Pública -a típica raposa vigiando o galinheiro. Segundo a PF, a milícia que ele comandava, em Ramos, desovava cadáveres no entorno do piscinão, além de traficar armas aprendidas e extorquir comerciantes em troca de segurança. É o enredo de "Tropa de Elite 2".
Outra quadrilha atuava (ou atua) na Rocinha, negociando armas e informando traficantes sobre operações da própria polícia. Foi a descoberta de um desses vazamentos, em 2009, que originou a investigação da PF. Há ainda uma terceira quadrilha, que vendia proteção a máfias do jogo ilegal.
Não bastasse, as escutas da PF mostraram que o Complexo do Alemão foi batizado por grupos de policiais-saqueadores de "Serra Pelada". Houve ali uma corrida maluca por drogas, armas, dinheiro e bens de traficantes e até de moradores.
Nada disso é surpreendente, mas tudo é espantoso. A corrupção policial e as milícias estão no centro do crime organizado. Em boa medida, elas são o crime organizado. Duas conclusões a tirar dessa operação: de pouco adianta invadir o morro com tanques do Exército se não houver um combate decidido e persistente contra a banda podre (ou bandas podres) da polícia.
Segundo: sem a ajuda ou, muitas vezes, a iniciativa da PF, as polícias estaduais, várias delas corrompidas de cima para baixo, não conseguem (ou resistem a) levar adiante sua limpeza interna. O caso da Guilhotina é bastante exemplar.


RESGATE DE REFÉNS
Operação solta apenas um refém na Colômbia
Missão contou com helicóptero brasileiro

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

O resgate de reféns das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) foi encerrado ontem antes do previsto após a soltura do policial Carlos Ocampo.
Também estavam previstas a libertação do cabo do Exército Salín Sanmiguel e do major da polícia Guillermo Solórzano. O governo colombiano acusa as Farc de informar as coordenadas erradas para esses dois.
O processo de libertação começou no início da semana passada, com a soltura dos vereadores Marcos Baquero e Armando Acuña e do fuzileiro naval Henry López.
A missão, organizada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, contou com apoio de um helicóptero brasileiro e com participação da ex-senadora Piedad Córdoba.
A operação foi autorizada pelo governo colombiano.
Foi Córdoba quem anunciou no sábado, por meio de sua conta no Twitter, que três reféns seriam resgatados ontem. Até então, pensava-se que apenas dois prisioneiros seriam soltos pelas Farc.
Houve atrasos no cronograma da operação, devido ao mau tempo. Os libertos seriam levados a Bogotá.
As Farc mantêm presos outros 16 policiais e militares que estão dispostas a trocar por guerrilheiros em poder do governo colombiano.
Para o presidente Juan Manuel Santos, em entrevista ao jornal "El País", a libertação dos reféns nesta semana é "insuficiente" para o início do diálogo com o grupo.


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