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sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

25 de fevereiro de 2011 - CORREIO BRAZILIENSE


DESTAQUE DE CAPA - REVOLTA NO ORIENTE MÉDIO
Kadafi denuncia Bin Laden e crise chega ao Brasil

Ditador líbio acusa terrorista de incitar protestos na Líbia e reforça a segurança na capital, Trípoli. Com a crescente deserção dos militares, rebeldes ocupam poços petrolíferos e se mobilizam para o confronto definitivo. Instabilidade no Oriente Médio eleva os preços de derivados de petróleo no mercado brasileiro. O querosene, utilizado para o transporte aéreo, subiu 7,1% na segunda metade de janeiro. A nafta, componente das embalagens plásticas, teve alta de 5%.


BRASÍLIA-DF
Por Luiz Carlos Azedo
com Leonardo Santos

Voando
Lembram-se do norte-americano Jan Paul Paladino, o piloto do jato Legacy, que colidiu com o avião da Gol em setembro de 2006, causando a morte de 154 passageiros e tripulantes do Boeing? Pois bem, continua voando. A American Airlines ignora os dados técnicos e periciais comprobatórios de que ele cometeu conscientemente várias falhas que levaram à queda da aeronave brasileira.



OAB pede à presidente posição sobre o Araguaia
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Ophir Cavalcante, enviou ontem ofício à presidente Dilma Rousseff para cobrar o cumprimento da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre os crimes cometidos durante a Guerrilha do Araguaia. No fim do ano passado, o país foi responsabilizado pelo desaparecimento de 62 pessoas entre 1972 e 1974, na primeira condenação internacional do Brasil em um caso envolvendo a ditadura militar. A corte determinou que o país cumprisse medidas para promover a verdade e a Justiça em relação às vítimas, uma vez que apenas dois corpos haviam sido identificados até então.


ARI CUNHA
Visto, lido e ouvido

Voos atrasados
Nada muda na aviação comercial. São Paulo, Rio e Brasília atrasam aviões ou cancelam voos e o prejuízo se estende a outros portos. Se houvesse maior numero de aeronaves, mais fácil seria a movimentação. Não está nos projetos. Um atraso ou suspensão de vôo continuará até que novo dia se constate.


NAS ENTRELINHAS
Por Alon Feuerwerker

Obama coloca um pé no futuro. Compra uma passagem para o futuro. Pois alguma hora a situação vai estabilizar e o sistema de alianças vai recompor. Toda política é feita em condições objetivas. As opções não são ilimitadas

Passagem para o futuro
Há alguma polêmica sobre como Barack Obama vem conduzindo a diplomacia americana nesta onda revolucionária árabe. Os críticos atacam Obama por dois lados diferentes. Alguns defendem que os Estados Unidos sejam mais solidários a líderes tradicionalmente aliados e hoje sob ameaça de remoção revolucionária do poder. Outros reclamam porque Washington não tem sido suficientemente solidária às revoluções.
Nessas situações é sempre prudente partir de uma premissa. Quando os Estados Unidos entram numa parada é para defender os interesses nacionais dos Estados Unidos. O Brasil pôde aprender isso quando apelou aos americanos para resolverem o imbróglio de Honduras, só para depois notar que eles resolveriam conforme o interesse deles. E que não necessariamente eram os nossos. Aliás, todo mundo age assim. Nós inclusive. Esses interesses hoje podem ser sintetizados facilmente: nas mais diversas situações geográficas e políticas, trabalhar para que os governos locais sejam permeáveis aos desígnios da superpotência e ajudem a garantir a segurança para os fluxos de capital e de comércio.
Por sinal, nessa empreitada os americanos representam a si próprios e também, em boa medida, os chineses. Os Estados Unidos trabalham no mundo árabe para que as novas realidades políticas levem em conta esses objetivos. As massas árabes parecem desejar mais liberdade, mais democracia e menos continuísmo. Esses desejos vão prevalecer até a hora em que forem substituídos por outro desejo, de que alguém ponha ordem na bagunça. Pois quem vive de notícia é jornalista. Povo gosta mesmo é de paz, estabilidade e prosperidade.
Por esses critérios objetivos, Obama até agora vem se saindo bastante bem. Está mais para impulsionador do que para brecador. Os governos aliados dos Estados Unidos acabam tendo que lidar com os movimentos de massa de um modo menos repressivo. E Obama coloca um pé no futuro. Compra uma passagem para o futuro. Pois alguma hora a situação vai estabilizar e o sistema de alianças vai recompor. Toda política é feita em condições objetivas. As opções não são ilimitadas. A mudança política no mundo árabe resulta da insustentável combinação de continuísmo, estagnação social e despotismo.
Uma hora a coisa iria transbordar. E, justiça se faça ao Departamento de Estado, a secretária Hillary Clinton já havia advertido que as bases do mundo árabe estavam firmadas sobre areia movediça.

Duas séries
O ministro do Trabalho anunciou que a pasta vai passar a divulgar duas séries históricas do Caged. A tradicional e uma com os novos critérios adotados pelo ministério desde o fim do ano passado, quando os números foram ajeitados — segundo o governo, aperfeiçoados — para mostrar uma cifra mais avantajada de criação de empregos em 2010. É uma boa decisão. Que o ministério faça com os números o que entender mais vantajoso, politicamente falando. Mas de um jeito que não prejudique o trabalho dos técnicos e analistas que dependem da confiabilidade dos dados.
Por falar em confiabilidade, o Caged está perigosamente perto da zona turbulência em que o excesso de esperteza política acaba saindo pela culatra.

Vetar
Ao discursar na votação do salário mínimo, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) notou um aspecto curioso na atitude do governo. Ou a iniciativa de tentar matar os debates anuais sobre o salário mínimo até o fim do mandato da presidente Dilma Rousseff é exacerbação de força, ou então o governo tem dúvidas sobre a longevidade da megabase no Congresso. Em ambos os cenários há uma dose de ilusão. É ilusório achar que a fixação de uma lei até 2014 vai eliminar o debate na sociedade sobre a valorização do salário mínimo.
Até porque a discussão tem dois lados, além do oficial. Um acha que o mínimo precisa aumentar mais aceleradamente. Mas outro acha que talvez seja hora de parar com a recomposição. Decida o que decidir o Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade de fixar o valor anualmente por decreto, a polêmica continuará. Diante disso, talvez uma coisa boa fosse a própria presidente vetar o dispositivo.


ECONOMIA
Crise ameaça o bolso do brasileiro
Petrobras segura o preço da gasolina e do diesel, mas já repassa a alta do petróleo para o querosene de aviação e a nafta

Rosana Hessel
Sílvio Ribas

A disparada nas cotações internacionais do petróleo começa a pesar no orçamento dos brasileiros. Apesar de não mexer nos preços da gasolina e do diesel, que dependem de autorização do Palácio do Planalto para serem reajustados, a Petrobras já vem repassando o aumento do barril para uma série de derivados, principalmente o querosene de aviação e a nafta petroquímica, insumo básico para a produção de diversos produtos, sobretudo as embalagens plásticas. O querosene e a nafta são revistos, respectivamente, a cada 15 e 30 dias. A situação só agrava o processo inflacionário no país, obrigando o Banco Central a acelerar a alta nos juros básicos da economia (Selic).
Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostram que, desde a segunda metade de janeiro, quando estourou a crise no Egito, que se estendeu pela Líbia e vários países do mundo árabe, os preços do querosene de aviação acumulam alta de 7,16%, mais da metade da elevação acumulada em 12 meses: 11,99%. Segundo André Braz, economista da FGV, a tendência é de que o repasse se intensifique nos próximos meses, caso as turbulências engolfem de vez os maiores produtores de petróleo, como a Arábia Saudita, com reservas de 266,7 bilhões da barris. O resultado disso: passagens aéreas mais caras. No caso da nafta, conforme o mercado, o aumento médio ficou em 5% no mesmo período.
Segundo o vice-presidente para a América Latina da Delta Airlines, Nicolas Ferri, a apreensão é grande entre as companhias aéreas, pois o querosene de aviação representa um custo importante para o setor. “Estamos avaliando todos os cenários. O agravamento da crise será muito ruim”, afirmou. Na área petroquímica, há quem fale em reajuste de até 20% nos preços dos produtos a base de nafta. A grande pergunta é se a indústria e o comércio terão condições de repassar tal aumento aos consumidores finais. O problema, reclamam os empresários, é que o encarecimento dos derivados do petróleo veio a se somar a um encarecimento em série das commodities metálicas e agrícolas.
O Brasil é importador regular de querosene de aviação, produto cuja demanda vem crescendo rápido. Em 2010, as importações chegaram a 33 mil barris diários do produto. Quanto à nafta, as importações estão ao ritmo de 39 mil barris por dia. O país também poderá sentir altas nos preços de outros produtos que saem das refinarias, como o óleo combustível usado nas fábricas e pelos navios (bunker).
Ontem, depois de alcançar a máxima de US$ 119,79 em Londres, o barril tipo Brent encerrou o dia em US$ 111,36, com alta de 0,1%. Nos Estados Unidos, o dia foi de muita pressão, diante das tentativas do mercado de descobrir se outros países podem compensar a queda da produção líbia. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o barril de West Texas Intermediate (WTI) para entrega em abril fechou a US$ 97,28, em baixa de 0,9%. Segundo Tom Bentz, do Banco BNP Paribas, o recuo se deu depois que a Arábia Saudita garantiu que suprirá a redução da produção da Líbia. Em julho de 2008, o valor do barril do Brent chegou a US$ 147, mas, no fim daquele ano, após a quebradeira de bancos e de várias economias, inclusive europeias, recuou para US$ 37.

Especulação
Vários operadores alertaram para os movimentos especulativos no mercado com o óleo. “Há muita distorção tanto no preço do petróleo quanto nos das commodities agrícolas. Tem muito investidor comprando contratos de petróleo só para aumentar a demanda e obter lucros no curto prazo”, alertou o economista da Prosper Corretora, Demetrius Borel Lucindo. Ele ressaltou ainda que, ao manter o preço da gasolina 4% abaixo do praticado no mercado externo, a Petrobras já acumula perdas superiores a R$ 200 milhões.
Para José Luís Oreiro, professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), mantida a escalada do preços do petróleo, o risco de uma nova recessão global é grande. É que a inflação tenderá a subir, obrigando os bancos centrais a elevarem os juros, abortando a ainda frágil recuperação econômica dos Estados Unidos e da Europa. “O risco de uma nova recessão é considerável ainda neste começo de ano por, pelo menos, dois trimestres seguidos”, disse.
Na avaliação do diretor de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Thomaz Zanotto, é cedo para fazer estimativas. Mas os empresários estão atentos para a crise política, sobretudo na Líbia, grande fornecedora de petróleo para a Europa. “Se ela continuar, o risco de uma recessão acompanhada de inflação (estagflação) no mundo é muito grande, e isso seria o pior cenário possível”, destacou. (Colaborou Gustavo Henrique Braga)

Pressão sobre BCs mundiais
Começam a ser divulgadas as primeiras estimativas de impacto da alta dos preços internacionais de petróleo na inflação, jogando a pressão dos reajustes nas taxas básicas de juros pelos bancos centrais. Segundo a consultoria Fathom, se o preço do barril tipo Brent estacionar em US$ 120, a taxa britânica de inflação ganharia 0,48 ponto percentual. Nos Estados Unidos e na Europa, o acréscimo seria respectivamente de 0,51 e 1,63 pontos. Mas, caso o patamar seja de US$ 150, o impacto iria ao dobro. Analistas internacionais veem um sério dilema para os governos dos países desenvolvidos: de um lado, a tentativa de evitar a disparada dos preços domésticos; do outro, a busca da retomada do crescimento.
 FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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