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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

15 de fevereiro de 2011 - ESTADO DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Dilma exige mínimo de R$ 545 para ancorar pacote de corte de gastos
Em reunião da coordenação política ontem, presidente disse a ministros que mercado só acreditará em intenção de cortar R$ 50 bilhões do Orçamento se reajuste do piso for contido; presidente do BC informou que juros alcançarão 12,5% até junho

Vera Rosa - O Estado de S.Paulo

A presidente Dilma Rousseff avalia que a aprovação do salário mínimo de R$ 545 pelo Congresso é questão de honra para sinalizar ao mercado que o corte nos gastos públicos não tem volta. Com a expectativa de que a taxa básica de juros - hoje em 11,25% - chegue a 12,5% em junho, para conter a inflação, o Palácio do Planalto elegeu o mínimo como a âncora fiscal do início de governo.
A necessidade de demonstrar segurança aos agentes financeiros foi o principal assunto da reunião realizada ontem entre Dilma e os ministros que compõem a coordenação política de governo, no Planalto. No diagnóstico da presidente, o mercado só acreditará que o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento é para valer quando souber de onde sairá a economia dos gastos.
Definido como a primeira prova de fogo do pós-Lula, o projeto de lei que fixa o piso em R$ 545 passará amanhã pelo crivo da Câmara dos Deputados e depois seguirá para o Senado. O governo também vai reajustar a tabela do Imposto de Renda para 2011 em 4,5%, como havia anunciado o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. De qualquer forma, na avaliação do Planalto a maior pressão inflacionária é provocada pelo reajuste do mínimo.
Foi o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, que traçou internamente um cenário no qual os juros devem ter sucessivos aumentos até junho, quando o patamar tende a ficar em 12,5%. Em conversas reservadas, integrantes da equipe econômica têm dito que, se a preocupação do momento é com a alta do custo de vida, no fim do ano será com a desaceleração.
Na tentativa de quebrar as últimas resistências no Congresso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, explicará hoje a proposta do Planalto sobre o reajuste do salário mínimo a uma comissão geral, composta por deputados e representantes de empresários e centrais sindicais. Embora o governo tenha maioria na Câmara e no Senado, a base aliada não está totalmente unida e o Planalto sabe que haverá dissidências. A intenção, agora, é neutralizá-las ao máximo.
O deputado Paulinho Pereira da Silva (PDT-SP), que preside a Força Sindical, promete intensificar a "campanha" para aprovar amanhã um piso de R$ 560. As centrais sindicais reivindicavam R$ 580, mas, nas negociações com o governo, concordaram em reduzir o valor.
"Nós não vamos nos submeter a nenhuma ameaça nem a troca de favores ou de carguinhos", disse Paulinho. Para dobrar os sindicalistas, até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em campo. Depois de chamar os colegas de "oportunistas" por reivindicarem um mínimo maior do que R$ 545, Lula amenizou o tom, mas continuou defendendo a manutenção do pacto firmado em seu governo com as centrais, em 2007.
Pelo acordo, o reajuste do mínimo deve obedecer à variação do índice de inflação anual somado ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores. Dilma prometeu a "política de valorização do salário mínimo" até 2014.
"Estamos confiantes na aprovação do projeto enviado pelo governo para o mínimo e na unidade da base", afirmou o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). "Não existe plano B. Temos relação de confiança com os partidos da base aliada", avisou o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais). "O País vive um momento de pressão inflacionária. Se agora precisamos apertar o cinto, mais à frente teremos situação mais tranquila", completou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
O PSDB quer um piso de R$ 600 para o mínimo, valor que foi defendido na campanha presidencial pelo candidato derrotado José Serra. Mas, na prática, o PSDB poderá fechar um acordo com o DEM e o PDT e apoiar o piso de R$ 560.
O governo teme defecções no PMDB e PSB. Os pessebistas têm dois ministros, indicados pelos governadores Eduardo Campos (PE) e Cid Gomes (CE), que hoje vivem às turras. Os deputados e senadores socialistas, no entanto, não foram contemplados com cargos no governo.

RITUAL DA VOTAÇÃO

Terça-feira
O acordo prevê a votação do regime de urgência para a votação do projeto. Aprovado o requerimento de urgência dos líderes, o projeto entrará na pauta no dia seguinte.

Quarta-feira
A sessão extraordinária está marcada para as 19h.
O relator deverá dar parecer favorável ao projeto do governo, rejeitando as emendas apresentadas ao texto.
Para ganhar tempo e garantir que o projeto tivesse só um relator, houve encaminhamento especial pela Secretaria-Geral da Mesa. Em tese, o projeto deveria ter tido pareceres nas comissões temáticas, como a de Constituição e Justiça, a do Trabalho e a de Finanças.
O projeto do governo entra em votação primeiro, mas a fixação do valor em R$ 545,00 dependendo das votações seguintes. Pelo acordo dos líderes, serão votados de forma nominal, com o registro dos votos dos deputados no painel eletrônico.


Sindicatos preparam cerco a deputados na entrada da Câmara
Representantes das centrais sindicais farão protestos em Brasília hoje e amanhã, dia da votação, contra os R$ 545

João Domingos - O Estado de S.Paulo

Divididas, as centrais sindicais realizam hoje e amanhã manifestações em Brasília por um mínimo maior do que os R$ 545 propostos pelo governo.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT), majoritariamente ocupada pelo PT, admite um acordo com o governo em torno de R$ 560. Para tanto, defende a antecipação de 2,75% do reajuste do ano que vem para 2011. As outras centrais querem R$ 580.
A Força Sindical, presidida pelo deputado Paulinho Pereira da Silva (PDT-SP), promete pôr hoje em Brasília e no Congresso cerca de 500 dirigentes sindicais, todos eles dispostos a fazer muito barulho pelos R$ 580. Paulinho disse que quer evitar o rolo compressor do governo. "Se quiserem votar na marra, vão ter de usar o Exército para cercar o Congresso", afirmou.
A CUT garantiu a presença de 200 líderes, em Brasília. Eles vão se concentrar a partir das 14 horas na portaria dos anexos 2 e 4 da Câmara, por onde os deputados passam no caminho de ida e volta dos gabinetes.
Na quarta-feira, as centrais pretendem reunir milhares de manifestantes na Esplanada dos Ministérios, aproveitando para tratar de uma pauta mais extensa, que vai desde o salário mínimo à campanha salarial nacional unificada do funcionalismo.
A intenção dos sindicalistas é concentrar o barulho amanhã, data em que foi marcada a votação do aumento do mínimo pela Câmara.
A concentração dos sindicalistas começa às 9 horas, diante da catedral de Brasília. De lá, por volta das 10 horas, eles pretendem iniciar uma caminhada rumo ao Congresso, onde farão ato político em defesa da valorização dos servidores e também por aumento real no salário mínimo.
Se há impasse entre as centrais e o governo em relação ao salário mínimo de 2011, há negociações em curso relativas a outras pautas dos sindicalistas.
Entre elas, a correção da tabela do imposto de renda, a garantia da manutenção da política de valorização do salário mínimo para os próximos anos e criação de uma política de longo prazo para valorizar aposentadorias.


NOTAS

AVIAÇÃO
Inea vai à Justiça para limitar voos no Rio
O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) vai recorrer da liminar que derruba as restrições para o funcionamento do aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio. O Inea havia determinado a redução de 23 para 14 voos por hora, das 6 às 8 horas e das 20 às 22h30, por causa de reclamações de moradores. A Justiça, porém, atendeu a pedido da Infraero por entender que a regulamentação do número de voos é competência só da Anac. O Inea informou que deve mudar o critério de restrição para diminuir o movimento com base no limite de ruído.


DEFESA
Jobim nega mal-estar com Dilma e acusa imprensa de ''inventar''
Ministro afirma que não se sente desprestigiado nem ameaçou renúncia, e que Dilma não pôs Pimentel para tratar de caças

Marina Guimarães - O Estado de S.Paulo

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, negou ontem qualquer mal-estar com a presidente Dilma Rousseff. Na semana passada, circulou a informação de que o ministro cogitava deixar o cargo por sentir-se desprestigiado. Indagado sobre o relacionamento com Dilma, ele disse que é "ótimo".
Jobim também negou que a suposta ameaça de renúncia tenha sido um recado ao Palácio do Planalto. "Não sei de onde eles tiraram isso. Não mandei recado nenhum. Eu não mando recado. Se eu estivesse desprestigiado, já não estaria aqui", afirmou. Sobre a versão de que a presidente tenha pedido ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, para tratar da compra de caças para a Força Aérea Brasileira, Jobim culpou a imprensa.
"O Pimentel disse que não foi escolhido. Quem também falou isso foi a imprensa. O Pimentel não falou nada. Eu perguntei ao Pimentel e ele disse que não", afirmou Jobim, explicando que soube do assunto pela mídia. Disse ainda que "não tem fundamento nenhum" a informação de que Dilma já tenha escolhido a norte-americana Boeing para a compra dos caças para a FAB.
"Isso é coisa de lobista. É a Boeing que está dizendo por interesses óbvios. Isso é a imprensa que inventou", acusou. Jobim informou que vai despachar hoje com a presidente, para tratar da compra dos caças e de outros assuntos da Defesa.
Ele confirmou que terá encontro bilateral em Londres, na próxima semana, mas disse que não vai tratar da compra de navios. "Não vou discutir isso porque as ofertas são feitas à própria Marinha. Só vou examinar isso depois que tudo estiver pronto", disse. O ministro afirmou que a britânica BAE é uma das candidatas, assim como as demais companhias. E a compra, a ser realizada no próximo ano, "está vinculada à disposição que possa ter o país para transferir tecnologia".

14 DE FEVEREIRO DE 2011 | 15H 21

'Tem que botar na cadeia mesmo', diz Jobim sobre policias corruptos no Rio
Ministro da Defesa afirmou que é importante resolver problemas internos e que isso não se repita em outros Estados

Marina Guimarães - Agência Estado

BUENOS AIRES - O ministro de Defesa, Nelson Jobim, defendeu nesta segunda-feira, 14, a prisão de policiais acusados de corrupção durante operações em favelas no Rio de Janeiro. "Tem que prender mesmo e botar na cadeia, fazer o processo necessário. Isso mostra que essas operações visam também à identificação de problemas internos nas polícias, isso é importante que se faça", afirmou o ministro, em entrevista à imprensa brasileira, em Buenos Aires.
Jobim sugeriu que os inquéritos sejam rigorosos, "principalmente que sejam públicos, transparentes". Também opinou que a utilização do Exército em operações como as do Rio não deveria ser repetida em outros Estados. "Espero que não sejam (repetidas) porque a função do Exército e das Forças Armadas, nesse caso, é meramente subsidiária, quando há uma impossibilidade, uma dificuldade, uma deficiência dos meios policiais para tanto", disse Jobim.
O ministro qualificou como "importante" a política que o Rio adotou de criar as unidades pacificadoras que, segundo ele, deveriam ser ocupadas por novos policiais militares e não pelos antigos. "Eles estão formando essas unidades. É uma política importante porque traz gente nova e o Exército está colaborando. Mas não podemos transformar isso em uma atividade primária das Forças Armadas. São atividades secundárias e especialíssimas, em hipóteses muito especiais."




14 DE FEVEREIRO DE 2011 | 15H 39

COMPRA DE NAVIOS
Jobim descarta compra de navios para Marinha este ano

Marina Guimarães - Agência Estado

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, confirmou hoje que visitará Londres na próxima semana, mas disse que não vai tratar da compra de navios pela Marinha brasileira. "Não vou discutir isso porque as ofertas são feitas à própria Marinha. Só vou examinar isso depois que tudo estiver pronto", disse ele à imprensa brasileira em Buenos Aires. Segundo Jobim, já foram apresentadas ofertas da Itália, Alemanha e Coreia do Sul. "A França não apresentou oferta e a Inglaterra vai apresentar", disse, afirmando que a britânica BAE é uma das candidatas, assim como as demais.
"A BAE vai ser uma das candidatas, mas tudo está vinculado a: primeiro, a compra não vai se realizar este ano; segundo, tudo depende da disposição que possa ter o país para transferir tecnologia." O ministro lembrou que as compras de navios para a Marinha e de caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) têm uma regra básica, que é capacitação nacional e transferência de tecnologia.
"Não compramos equipamentos, nós adquirimos pacotes tecnológicos que vêm com equipamentos", enfatizou, lembrando que é por esse fato que a proposta da norte-americana Boeing para fornecer os caças à FAB tem dificuldades para ser aceita. "Esse detalhe dificulta muitíssimo, mas não por causa da legislação brasileira, e sim por culpa da americana, que não permite a transferência de tecnologia."
A comparação com a Boeing foi feita em um momento em que a imprensa brasileira divulgou uma versão sobre uma suposta inclinação da presidente Dilma Rousseff pela Boeing. "Isso é a Boeing que está dizendo, por interesses óbvios", afirmou. Jobim relatou que o assunto seria tratado com a presidente na quarta-feira passada, mas a audiência acabou "sendo uma reunião de conversas históricas".
"Ela estava cansada, eu também, porque tinha ido visitar o Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), que passou para a Defesa. Acabamos não tratando de assunto nenhum porque ficamos conversando sobre literatura, sobre Brasil, sobre Rio Grande do Sul, sobre diferença entre Minas e Rio Grande, enfim, história. E aí passaram duas horas de conversa e ela resolveu então marcar a reunião para esta terça-feira (amanhã)", detalhou Jobim.
Na agenda com Dilma, segundo Jobim, os pontos a serem discutidos são "o plano diretor de quatro anos da Força Aérea; a questão da aviação civil - com a criação da nova secretaria; o F-X (programa de compra de caças para a FAB) e os entendimentos de Defesa que têm de ser feitos na América do Sul". Jobim disse ainda que a agenda é grande e inclui o estabelecimento de uma "linha de tempo em relação às ações e o fortalecimento da Marinha, com foco em dois grandes projetos: SisFron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras) e o SisGAAz (Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul)".


POLÍTICA DE DEFESA DO BRASIL
Brasil pretende criar base sul-americana para ter 'voz no mundo'
Ministro da Defesa, Nelson Jobim, que viajou ao Uruguai acompanhado por uma grande representação, descartou que este tipo de iniciativa constitua uma corrida armamentista
15 de fevereiro de 2011 | 4h 16

Efe

O Brasil tem planos de criar com seus parceiros continentais uma base sul-americana de defesa que permita à região ter voz no mundo e dissuadir aqueles que pretendem dominar seus recursos naturais, afirmou na segunda-feira, 14, o ministro da Defesa brasileiro, Nelson Jobim.
O ministro explicou em Montevidéu, onde se reuniu com o presidente José Mujica e com seu colega uruguaio, Luis Rosadilla, que a política de defesa do Brasil se baseia na cooperação e na integração regional, para que a estratégia da América do Sul possa ser a da dissuasão.
Desta forma, o ministro apontou em entrevista coletiva que "o ambiente estratégico de Uruguai e Brasil é a região", e o da região "é o mundo", pelo que todos os países da América Latina terão de aprofundar suas relações para fazer com que o Sul tenha uma voz única nas gestões internacionais.
Nesse sentido, Jobim destacou que a política brasileira pretende a formação de uma indústria de defesa regional, na qual existam fortes investimentos dos Estados orientados ao desenvolvimento comum.
No entanto, Jobim, que viajou ao Uruguai acompanhado por uma grande representação, descartou que este tipo de iniciativa constitua uma "corrida armamentista".
"Não há corrida, é a recuperação do tempo perdido. É a necessidade que tem a região de dotar-se de capacidade operacional para poder dizer que se o senhor vem aqui, o senhor vai ter problemas", apontou.
Jobim lamentou a grande dependência logística que atualmente a região tem com relação ao exterior e disse que por isso é necessário que a indústria militar se desenvolva ao lado do tecido produtivo sul-americano.
"Agora não temos o controle do Atlântico e também necessitamos controlar o espaço aéreo. Em 2025 será imposto o controle do espaço aéreo com satélites e não com radares, e é necessário ter capacidade para assumir esse controle. Temos que decidir esses pontos juntos, para ter uma maior capacidade de escala", apontou Jobim.
Da mesma forma se manifestou Rosadilla, para quem a hipótese de conflito na região será de grande importância no futuro.
"A integração regional vai fortalecer a América Latina, e essa fortaleza trará riscos, novos e maiores, e é preciso evitá-los, com debate, com diplomacia, com investimento. O Sul se fortalece, e terá que enfrentar seus desafios mais cedo que tarde", apontou.
Nos últimos tempos o Brasil anunciou um grande desenvolvimento de seu material bélico, que inclui a compra de até 11 navios para patrulha oceânica por quase US$ 6 bilhões, destinados a proteger suas reservas de hidrocarbonetos no Atlântico.
Além disso, também prevê comprar 36 aviões de defesa último modelo em uma concorrência na qual estão a empresa sueca Saab, com seu avião Gripen, a americana Boeing e seu F-18, e a francesa Dassault com o Rafale. O país ainda aguarda a construção de 50 helicópteros militares Super Cougar EC-725, que estão sendo produzidos em uma fábrica brasileira.
Antes da visita de Jobim, o governo uruguaio apontou que sua intenção é criar com o Brasil uma associação para o desenvolvimento da indústria aeronáutica militar, assim como vários acordos comerciais para a compra de material bélico.
Segundo o Uruguai, a ideia seria criar uma associação que permita a instalação de uma fábrica em algum lugar do país em cooperação com o Brasil para a produção de peças destinadas à aviação militar.

15 DE FEVEREIRO DE 2011 | 6H 24

MISSÃO DE PAZ NO LÍBANO
Militares brasileiros chegam ao Líbano para comandar força naval da Onu
País coordenará pela primeira vez a frota marítima da missão de paz, que atua na fronteira entre o Líbano e Israel.

Brasil assumirá o comando da força tarefa marítima da ONU no Líbano
O Brasil passa a comandar oficialmente nesta terça-feira a unidade marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil, na sigla em inglês), disse à BBC Brasil a embaixada brasileira em Beirute.
O contra-almirante Luiz Henrique Caroli chega à capital libanesa para assumir o comando da Força Tarefa Marítima (MTF, na sigla em inglês), subordinada à Unifil, que atualmente monitora a fronteira entre Líbano e Israel e ajuda o governo libanês a evitar a entrada de armas ilegais no resto de suas fronteiras.
A MTF iniciou suas atividades em outubro de 2006, logo após a guerra entre o grupo islâmico libanês Hezbollah e Israel.
O contra-almirante Caroli chega acompanhado de oito militares da Marinha brasileira, quatro oficiais e quatro marinheiros. Ele comandará uma frota composta de oito embarcações, 800 oficiais e marinheiros de cinco nacionalidades.
A força naval da Unifil tem a tarefa de patrulhar os 225 quilômetros da costa libanesa e interceptar navios que levem armas ilegais ao país.
Segundo o embaixador brasileiro no Líbano, Paulo Roberto Campos Tarrisse da Fontoura, a contribuição brasileira se encaixa na visão do Itamaraty de um engajamento ativo em missões internacionais.
"O Brasil já tem tradição em missões de paz. Desde 1948, foram mais de 60 missões de paz com a participação de militares brasileiros", disse.
O embaixador disse ainda que, apesar da tradição, essa será a primeira vez que o país fará parte do componente naval em uma missão de paz.
No ano passado, segundo Fontoura, o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon pediu que o Brasil cedesse um contingente da marinha nacional à missão libanesa.
"Os militares brasileiros são conhecidos por sua qualidade e competência", disse o embaixador.
"Em vários níveis do governo libanês eu ouvi elogios ao Brasil por tornar-se parte da força de paz."

Frota
Os navios da MTF são compostos por três embarcações alemãs, duas bengalesas, uma turca, uma indonésia e um navio grego. O comando da força tarefa era exercido pela Itália até o ano passado.
A força naval da ONU deve auxiliar a marinha libanesa a monitorar as águas territoriais do Líbano, cuidar da segurança da costa e prevenir a entrada ilegal por mar de armamentos para dentro do país.
Segundo a Unifil, desde 2006, quando iniciou suas atividades, a MTF interceptou 28 mil embarcações, e encaminhou 400 navios suspeitos às autoridades libanesas para inspeções.
Outro militar brasileiro, o capitão de mar e guerra Gilberto Kerr, está no Líbano desde dezembro de 2010 como chefe de operações navais junto ao comando da Unifil.
A missão de paz no país foi criada em 1978, inicialmente para confirmar a retirada de Israel do Líbano, mas teve, depois, seu mandato alterado em 1982, 2000 e 2006. Hoje, a força tem um contingente de mais de 13 mil soldados de diferentes países. Desde 1978, 275 militares da missão foram mortos no Líbano.
A Unifil é liderada atualmente pelas tropas espanholas, sob o comando do major-general Alberto Asarta Cuevas.
Depois da guerra de 2006, entre Israel e o Hezbollah, o mandato da Unifil foi ampliado e os soldados de paz passaram também a patrulhar a fronteira sul do Líbano.
Os soldados de paz devem ajudar o Exército libanês a prevenir o contrabando de armamento ilegal, manter o controle sobre a região, além de coordenar e manter o cessar-fogo entre o Líbano e Israel.
Segundo a embaixada brasileira, o contra-almirante Luiz Henrique Caroli estará subordinado diretamente ao comandante espanhol Alberto Cuevas.
BBC Brasil


ECONOMIA
Meta de Cosan e Shell é dobrar produção de etanol
Em cinco anos, estimativa dos controladores é que nova empresa atinja uma produção de 100 milhões de toneladas de cana-de-açúcar

Eduardo Magossi - O Estado de S.Paulo

A joint venture entre Cosan e Shell, anunciada oficialmente em fevereiro do ano passado, deverá atingir a produção de 100 milhões de toneladas de cana-de-açúcar dentro de 5 anos. A meta foi anunciada ontem durante apresentação do nome da nova empresa - que se chamará Raízen.
Segundo o presidente da Raízen, Vasco Dias, o nome foi criado com a união das palavras raiz (de cana) e energia. A joint venture, que ainda espera aprovação dos órgãos reguladores, deve entrar em operação até o final do primeiro semestre. Atualmente em 62 milhões de toneladas, a produção de cana da Cosan ficará dentro da nova empresa, assim como a produção de açúcar e etanol. Assim, novas aquisições de usinas deverão ser feitas pela Raízen, após o início das suas operações.
O vice-presidente designado de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen, Pedro Mizutani, disse que a mais recente aquisição da Cosan, a Usina Zanin, será integralizada na Raízen em breve, pois ela não fazia parte do acordo original entre Cosan e Shell. "Já existe um memorando de entendimento nesse sentido."
Com a Zanin, a Raízen terá 24 usinas. Mizutani disse também que a expansão da cana se dará por meio de greenfields (usinas novas) e também de aquisições, dependendo do comportamento do mercado. "Podemos passar de 62 milhões para 70 milhões de toneladas de cana apenas com ajustes nas atuais usinas", disse.
No plano estratégico aprovado pelo conselho de administração, também está previsto o aumento expressivo da produção de etanol, dos atuais 2,2 bilhões para 5 bilhões de litros. A energia de cogeração deve crescer de 900 megawatts para 1,3 mil megawatts. A produção de açúcar deve passar de 4 milhões para 6 milhões de toneladas. Com isso, o faturamento anual da Raízen deverá ser de R$ 50 bilhões. A empresa está avaliada hoje em R$ 20 bilhões.

Recursos. Vasco Dias não especificou de onde virão os recursos para impulsionar esse crescimento. Ele disse ainda que o montante da sinergia gerada pela joint entre as duas empresas deve ser anunciado em breve. O mercado estima que essa sinergia fique em torno de R$ 1,6 bilhão. Segundo o executivo, a pendência com o Cade em relação à venda realizada em 2008 pela Cosan do negócio de combustível de aviação para a Shell não atrapalha a oficialização do acordo.
Segundo Dias, ainda está pendente a questão da inclusão ou não na Raízen da produção de açúcar para o varejo. "A tendência é que o setor de varejo não fique na joint venture, mas na Cosan", disse ele. Assim, a própria Cosan, dona das marcas União e DaBarra, passa a ser uma das principais clientes da joint venture. Como o acordo inicial previa que esse setor ficaria na joint venture, Cosan e Shell estudam uma compensação para a saída dessa operação.
O executivo também disse que a Raízen utilizará a grande capilaridade da Shell na Europa e na Ásia para elevar a penetração do etanol de cana-de-açúcar no exterior. A expectativa é de que a joint venture comercialize 20 bilhões de litros por ano.
Para o presidente do conselho de administração da Cosan, Rubens Ometto, a Raízen nasce com uma situação financeira confortável, pois, da dívida de US$ 2,5 bilhões que foi transferida para joint venture na sua criação, no ano passado, o aporte previsto pela Shell, de US$ 1,6 bilhão, deverá reduzi-la para menos de US$ 1 bilhão.

14 DE FEVEREIRO DE 2011 | 15H 39

AVIAÇÃO
Fluxo de passageiros nos aviões brasileiros cresce 16,43% em janeiro
TAM mantém-se na liderança no mês, com 43,35% do mercado

Agência Estado

SÃO PAULO - As companhias aéreas brasileiras registraram crescimento de 16,43% no fluxo de passageiros transportados no País em janeiro na comparação com o mesmo período de 2010, segundo dados divulgados pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC).
Em janeiro, a taxa média de ocupação dos aviões nas rotas domésticas ficou em 78,65%, ante 76,87% do ano anterior.
A TAM manteve-se na liderança do mercado em janeiro, com 43,35% do mercado. O grupo Gol/Varig, por sua vez, ficou em segundo lugar, com participação de 37,27%. A Azul aparece na terceira posição, com 7,74% do mercado doméstico em janeiro, seguida pela WebJet, com 5,53%, a Avianca, com 2,54%, e a Trip, com 2,51%.

Azul tem alta de 88,38% na demanda
A Azul encerrou janeiro de 2011 com um crescimento de 88,38% na demanda doméstica ante janeiro de 2010. Na mesma comparação, as duas maiores empresas do setor - TAM e Gol/Varig - registraram crescimento de 17,28% e 5,82%, respectivamente.
A Avianca teve alta de 34,97% em janeiro deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto a Trip teve um aumento de 76,38% na demanda. Entre as maiores empresas do setor, a Webjet foi a única que registrou queda na demanda de passageiros no período, com recuo de 2,64%.

Demanda por voos internacionais sobe 11,48%
Segundo a Anac, a demanda por voos internacionais operados por companhias brasileiras cresceu 11,48% em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2010. A taxa de ocupação no mês passado, da ordem de 77,82% nas rotas ao exterior, ficou abaixo do índice de janeiro de 2010, que foi de 79,65%.
Nos voos destinados a outros países, a TAM também liderou em janeiro com 85,20% do mercado, ante 86,04% em período correspondente de 2010. A Gol/Varig, por sua vez, ficou com 13,35% deste segmento, ante fatia de 13,93% detida em novembro de 2010.


ESPAÇO ABERTO
Os direitos dos brasileiros no exterior

*Alexandre Barros

Recentemente a presidente Dilma Rousseff determinou ao ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, a revisão da política de direitos humanos do governo brasileiro. A providência veio em boa hora. O governo passado escorregou no apoio aos direitos humanos pelo mundo. Seja em Cuba, por um antiamericanismo atávico herdado dos tempos da ditadura militar, seja no Irã, por um cálculo que só a História provará se estava certo ou errado. Ele considerou que era importante defender as pretensões nucleares iranianas como um habeas corpus preventivo em relação à postura brasileira vis-à-vis o poder nuclear.
Explico. Apesar da retórica oficial, o Brasil vem desenvolvendo um programa nuclear que, quase seguramente, nos próximos 10 a 20 anos, colocará o Brasil numa situação internacional semelhante à do Irã hoje: enfrentando oposição das potências nucleares em relação às suas ambições.
Não foi acidente que o aliado brasileiro neste caso foi a Turquia, distante e pouco conhecida do Brasil, mas que tem no cenário internacional uma posição semelhante à brasileira: tem ambições nucleares.
No fundo, Brasil e Turquia quiseram garantir, com a oferta de mediação entre o Irã e os Estados Unidos, um aliado potencial para enfrentar no futuro a oposição que deve ocorrer às políticas nucleares de ambos os países.
Outra área em que a diplomacia brasileira se vem destacando é a comercial. Nesta tem agido com mais velocidade e mais energia em defesa dos investimentos brasileiros no exterior, sejam comerciais, financeiros ou industriais. Pelo andar da carruagem, tudo indica que a expansão financeira, econômica e comercial do Brasil se acelerará, e a diplomacia brasileira vem-se adaptando a esse novo ritmo.
Falta, entretanto, uma área ainda mais fraca - como todas as que congregam consumidores difusos, e não grandes empresas capazes de se organizar e contratar profissionais para defender seus interesses: os cidadãos brasileiros no exterior.
Graças ao progresso de transportes e comunicações no mundo, pessoas viajam mais. Além disso, o crescimento econômico brasileiro, especialmente nos últimos 16 anos, aumentou a capacidade financeira dos brasileiros de viajar para o exterior (melhor distribuição de renda e maior valorização do real), bem como os desejos e as necessidades de viagem de brasileiros, seja por curiosidade turística, por necessidade de estudo, trabalho, aperfeiçoamento ou crenças religiosas.
Nessa área os brasileiros infelizmente ainda estão num estado próximo da orfandade. Já que não fomos parte de um grande ex-império recente, como no caso da França e da Inglaterra, os brasileiros não gozam de algumas proteções que aqueles países estendem a cidadãos de suas ex-colônias. Esse é o lado externo.
Do lado interno, como os brasileiros não viajavam tanto, os consulados brasileiros no exterior levavam uma vida mais tranquila. Não tinham muito o que fazer, em razão mesmo da inexistência de uma grande clientela brasileira para atender no exterior.
Isso está mudando rapidamente. Os disparadores recentes foram a detenção e o repatriamento de uma brasileira, professora da Universidade de Brasília, impedida de entrar na Espanha na última semana de janeiro. Detida, interrogada e repatriada sem nem sequer entrar formalmente em território espanhol. Estamos diante de uma atitude desagradável, mas, até certo ponto, legal, de agentes fronteiriços espanhóis que optaram por exercer suas funções de maneira inflexível. Problema das relações Brasil-Espanha. Pode ser encaminhado pelo governo brasileiro com uma negociação tranquila ou com um aumento do tom na discussão diplomática. O episódio não é novo, tem-se repetido ciclicamente.
Do lado de cá, segundo o depoimento da professora, entretanto, a situação tem nuances envolvendo o governo brasileiro: ela contatou o consulado brasileiro em Madri por telefone e foi informada de que o consulado não poderia fazer muito. No máximo, poderia mandar um fax.
Segundo ela, em algum momento apareceram um homem que se identificou como advogado (não se sabe se mandado pelo consulado ou não) e uma intérprete. Após uma conversa breve e algumas horas de detenção no Aeroporto de Madri, ela foi recolocada sob escolta num avião e mandada de volta para o Brasil.
A afirmação do funcionário do consulado que atendeu o telefonema lembra um desastrado episódio vivido por José Serra na campanha presidencial de 2002, quando, abordado por uma eleitora numa favela de São Paulo, mal ouviu o que ela tinha a dizer e sugeriu que ela lhe mandasse um fax.
Ou seja, mudou o status do Brasil no mundo, está mudando o mundo e os brasileiros têm necessidades diferentes e maiores em suas viagens ao exterior, cada vez mais constantes.
Chegou a hora de estender o recado da presidente Dilma ao ministro da Relações Exteriores para que o Brasil e nossas embaixadas revejam a postura do Estado brasileiro perante os direitos humanos e os consulados. Estes, que são subordinados às embaixadas brasileiras (de facto), também precisam rever rápida e seriamente sua postura em relação à defesa dos brasileiros no exterior.
Brasileiros viajam mais, ganham mais dinheiro, pagam impostos altos e são quem sustenta toda a caríssima estrutura estatal, no Brasil e no exterior.
Não se trata apenas de providenciar que as enchentes não parem as metrópoles brasileiras ou que pessoas não apodreçam nas cadeias nacionais por descuido burocrático, mas também de dar todo o apoio aos cidadãos brasileiros que estão no exterior, passeando, trabalhando, estudando ou cultuando. Todos são direitos civis que temos e são sustentados por impostos que pagamos.
*CIENTISTA POLÍTICO, É DIRETOR GERENTE DA EARLY WARNING: RISCO POLÍTICO E POLÍTICA PÚBLICA (BRASÍLIA)
NOTAS & INFORMAÇÕES
Sinais contraditórios

A cúpula militar egípcia que derrubou o ditador Hosni Mubarak na última sexta-feira, 18.º dia da Revolução de 25 de Janeiro, como resolveram denominá-la os seus participantes, parece ter ido além do que provavelmente desejariam as centenas de milhares de pessoas que haviam transformado a Praça Tahrir, no centro do Cairo, no cenário de um movimento pela instauração da democracia que galvanizou o mundo, comparável na esfera árabe-muçulmana à queda do Muro de Berlim em 1989.
Ainda enquanto ele se recusava a se erguer do trono, o Conselho Supremo das Forças Armadas, do qual são mais conhecidos apenas dois membros - o seu titular, marechal da reserva Hussein Tantawi, durante muito tempo um dos primeiros nomes do regime ditatorial, e o chefe do Estado-Maior das Três Forças, general Sami Hafez Enan -, quebrou o seu costumeiro silêncio ao anunciar solenemente o seu endosso às "legítimas demandas do povo".
E depois que Mubarak deixou claro que não havia entendido a mensagem - assim como não ouvira o clamor popular pela sua partida -, os militares finalmente fizeram o que deles se esperava, despachando o ditador para Sharm El-Sheik. O júbilo popular que se seguiu, decerto levando os demais autocratas árabes a se perguntar qual deles será o próximo, abafou o fato de que o Conselho deixou de transferir o poder para o presidente do Parlamento, o sucessor legal de Mubarak.
Para os egípcios, porém, não era hora de finos pontos de direito constitucional. Não só estavam livres da soturna figura que os oprimia há três décadas, como estavam fartos de saber que o Parlamento, fruto de faraônicas fraudes eleitorais, não passava de uma câmara de eco das vontades do ditador e avalista das violências do regime. Tanto que a sua dissolução e a suspensão da Constituição, consumadas no segundo dia da nova ordem, foram recebidas com naturalidade. De mais a mais, os comandantes militares, representando a única instituição nacional dotada de legitimidade, prometeram eleições em seis meses.
Na véspera, já haviam tranquilizado o mundo ao afirmar que, sob a sua tutela, o Egito cumprirá os seus compromissos internacionais, neles incluído o reconhecimento de Israel - fato que custou a vida a Anwar el-Sadat, o antecessor de Mubarak, e tornou o Egito destinatário de US$ 1,3 bilhão por ano em ajuda militar americana. Mas, pelo que deixou de anunciar, o Conselho emitiu sinais contraditórios em matéria de adesão aos princípios democráticos pelos quais 300 pessoas morreram durante os protestos populares.
O Conselho não soltou os presos políticos, que apodrecem nas masmorras egípcias, nem revogou o estado de emergência em vigor desde 1981, que permitiu a Mubarak encarcerar os seus críticos reais ou presumíveis e manter a imprensa amordaçada. No seu terceiro comunicado, a cúpula militar reiterou que a legislação ditatorial será derrogada "assim que as atuais circunstâncias terminarem".
Os militares escolherão eles próprios os membros do comitê que irá redigir a nova Constituição - a sua única concessão, por enquanto, foi a de acenar com um referendo para ratificá-la. Por fim, mantiveram por ora o Ministério remodelado por Mubarak quando a repressão falhou em calar os protestos. Como diz o primeiro-ministro Ahmed Shafiq, a única diferença é que, em vez de responder ao presidente, o Gabinete responderá ao Conselho. Em suma, por enquanto os militares apenas deceparam o topo da estrutura política egípcia.
Talvez não pudesse ser de outra forma. A autocracia mumificou o sistema de partidos, a mídia e as instituições de governo. A única força política organizada no país é a Irmandade Muçulmana, ilegal desde 1954. E o Exército, com os seus vastos interesses econômicos e escassos pendores liberais, obteve tudo que quis da gerontocracia de Mubarak. Ninguém melhor do que o marechal Tantawi, de 75 anos, que se outorgou a função de chefe de Estado, encarna a mentalidade conservadora do velho estabelecimento militar. Como não podia deixar de ser, a queda do ditador, portanto, foi só o fim do começo. O resto está para ser escrito.


Operação Guilhotina

Realizada pela Polícia Federal com apoio da Secretaria da Segurança Pública e do Ministério Público, depois de mais de um ano de investigações, interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça, filmagens e coleta de documentos, a Operação Guilhotina prendeu na manhã da última sexta-feira 45 integrantes das Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro envolvidos em corrupção, participação em milícias, desvio de armas e venda de proteção a bicheiros, narcotraficantes e contrabandistas. Eles também são acusados de terem saqueado bens de bandidos e moradores durante a ocupação do Complexo do Alemão, em novembro.
A descoberta de mais um foco de corrupção nos órgãos policiais fluminenses mostra que não será fácil restabelecer o princípio da autoridade e o império da lei nas áreas que antes eram dominadas pelo narcotráfico. Para os especialistas em segurança pública, o êxito da política de instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) dependia de uma prévia e ampla faxina nas Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro, para evitar que a banda podre contaminasse e desmoralizasse aquela política antes mesmo de sua consolidação.
As escutas telefônicas e as filmagens da Polícia Federal revelaram que os policiais civis e militares presos pela Operação Guilhotina recebiam propina dos traficantes das Favelas do Vidigal e São Carlos, em troca de informações sobre as novas operações e sobre a instalação de UPPs em seus redutos. O esquema protegia o bandido Nem, chefe do tráfico nas Favelas da Rocinha e do Vidigal e um dos bandidos mais procurados do Estado. Cada quadrilha pagava R$ 50 mil por mês a cada policial.
Entre os presos está o delegado Carlos Antonio Oliveira, que até o ano passado foi o principal assistente do chefe da Polícia Civil, Allan Turnowski. E este, por sua vez, é homem de confiança do secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, que classificou como "traidores" os policiais civis e militares detidos pela Polícia Federal e afirmou que a operação de limpeza dos órgãos policiais fluminenses é "dolorosa, mas necessária".
Além de ser suspeito de vender informações sobre operações policiais para o narcotráfico, Oliveira - que teve a prisão preventiva decretada - é acusado de extorsão contra empresários, peculato e formação de quadrilha. A Polícia Federal o acusa, também, de revender para o crime organizado armas, munição e drogas apreendidas em operações policiais realizadas nos Morros da Mineira e São Carlos. Beltrame manteve Turnowski no cargo, mas não se opôs à sua convocação para prestar esclarecimentos.
A corrosão moral e funcional de seus escalões superiores é um dos problemas mais graves que a Polícia Civil do Rio de Janeiro vem enfrentando há muito tempo. Em 2006, por exemplo, outra operação da Polícia Federal apurou que idênticos problemas de corrupção, lavagem de dinheiro, desvio de armas, venda de proteção, extorsão e vazamento de informações para criminosos também ocorreram durante a gestão do delegado Álvaro Lins, que chefiou o órgão durante os governos de Anthony e Rosinha Garotinho. Eleito deputado estadual em 2006, Lins teve o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar em 2008 - ano em que também foi preso em flagrante pela Polícia Federal, sob a acusação de continuar recebendo propina do crime organizado. Em 2009, foi demitido "a bem do serviço público" do cargo de delegado e ficou recolhido numa penitenciária de segurança máxima até obter liberdade provisória no Superior Tribunal de Justiça.
Ao ser informado da Operação Guilhotina, que atingiu a imagem da Polícia Civil do Rio de Janeiro justamente quando ela vinha sendo recuperada pela ofensiva contra o narcotráfico nos morros e favelas cariocas, o secretário Beltrame afirmou que uma polícia eficiente e respeitada tem de ser, antes de tudo, uma polícia honesta. Sua reação foi realista e desprovida de corporativismo. Sem o afastamento de sua banda podre os órgãos policiais fluminenses teriam dificuldade para dar continuidade a uma política de segurança pública que, finalmente, parece estar dando certo.


DIRETO DA FONTE
Sonia Racy

Espaço na terra
Nada ainda sobre novos aeroportos. Mas a iniciativa privada avança e faz sua parte.
Para tanto, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa assinaram a compra de terreno em Caieiras.

Detalhe positivo
Na Aeronáutica já se nota um esforço para fazer economia nos voos oficiais.
Domingo retrasado, embarcaram no mesmo voo para Brasília Antonio Palocci, Guido Mantega, Fernando Haddad e José Eduardo Cardozo.
Os ministros têm, legalmente, a prerrogativa de voarem solo.


TENSAO NO ORIENTE MEDIO
Teerã reprime protesto de opositores que deixa 1 morto e dezenas de presos

Dezenas de milhares de manifestantes entraram ontem em confronto com policiais em duas regiões do centro de Teerã. Pelo menos uma pessoa morreu, segundo informou a agência de notícias semioficial Fars, que atribuiu o disparo causador da morte à oposição. A Fars não deu mais detalhes sobre o incidente.
A marcha tinha sido inicialmente convocada pelo próprio governo em solidariedade à "revolução no Cairo", mas acabou proibida por temores de que se convertesse em um ato antirregime. Segundo líderes reformistas, "dezenas" foram presos. Os protestos foram os maiores no Irã em mais de um ano. Além da capital, milhares de opositores também saíram às ruas em Isfahan, a terceira maior cidade do país. Forças antidistúrbio dispersaram os opositores na capital com gás lacrimogêneo e manifestantes responderam queimando lixo.
Temendo cenas semelhantes ao levante que sucedeu à reeleição de Mahmoud Ahmadinejad, em junho de 2009, o regime iraniano antecipou-se aos protestos. Pela manhã, milhares de policiais com equipamento antidistúrbio e milicianos em motocicletas já se posicionavam em pontos do centro de Teerã.
Estações de metrô foram fechadas e os dois principais líderes do chamado "movimento verde", os candidatos derrotados Mir Hussein Mousavi e Mehdi Karroubi, colocados em prisão domiciliar. Celulares no centro de Teerã ficaram sem sinal.
"Testemunhas afirmam que, em algumas partes de Teerã, dezenas de manifestantes foram presos", anunciou Mousavi no site opositor Kaleme. A mulher do líder reformista, Zahra Rahnavard, também foi posta em prisão domiciliar. Mousavi e Karroubi aproveitaram-se de protestos convocados pelo regime em solidariedade às revoluções na Tunísia e Egito, e exortaram seus partidários a irem às ruas. Ao se dar conta da brecha aberta involuntariamente, o regime de Teerã voltou atrás e proibiu as manifestações.
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, saudou a derrubada do presidente Hosni Mubarak como um "despertar islâmico", semelhante à Revolução Iraniana de 1979. Mas, para opositores iranianos, a guinada egípcia contra o autoritarismo tem os mesmos princípios que os distúrbios de junho de 2009 contra Ahmadinejad e a velha guarda do regime dos aiatolás.

Ancara. A onda de protestos no Irã foi brutalmente reprimida por forças leais ao regime, sobretudo a Guarda Revolucionária. Em dezembro de 2009, opositores voltaram às ruas e oito manifestantes acabaram mortos.
As novas manifestações ocorreram enquanto o presidente da Turquia, Abdullah Gul, visitava Teerã. "Nós vemos que, muitas vezes, quando líderes e chefes de países não estão atentos às demandas da nação, o próprio povo age para alcançar seus objetivos", disse Gul, sem citar o caso iraniano, ao lado de Ahmadinejad.
Reuters

PARA LEMBRAR
Em junho de 2009 o Irã viveu seus maiores distúrbios desde a revolução de 1979. O estopim da rebelião foi a suposta fraude eleitoral que deu a reeleição ao ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad. Manifestantes que ficaram conhecidos como "movimento verde" foram violentamente reprimidos e levados aos porões do aparato de segurança. Segundo analistas, os protestos causaram ainda um "desequilíbrio" na estrutura da República Islâmica: o líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, rompeu seu papel de fiador apartidário do sistema e tomou partido de Ahmadinejad na luta entre facções.


Oposição deve ser chamada para gabinete egípcio
Militares garantem que referendo para aprovação de reforma constitucional poderá ser feito dois meses depois da apresentação do texto

Lourival Sant'Anna - O Estado de S.Paulo

A cúpula militar e o governo civil do Egito deram sinais de que vão adotar medidas rapidamente em várias frentes para assegurar a transição do país para a democracia. O Conselho Supremo das Forças Armadas previu que a reforma da Constituição poderá ser submetida a referendo dois meses depois da elaboração da proposta. Líderes oposicionistas poderão em breve ser convidados a integrar o gabinete. A Grã-Bretanha recebeu pedido para congelar os bens do ex-presidente Hosni Mubarak, que renunciou na sexta-feira depois de governar durante 30 anos, ao fim de 18 dias de protestos que mobilizaram milhões de pessoas em todo o país.
O diretor de Marketing do Google para o Oriente Médio, Wael Ghonim, e o ativista Abdel-Rahman Samir participaram de uma reunião na noite de domingo com dois generais do Conselho Supremo. Os militares lhes asseguraram que, uma vez concluídas as propostas de reformas constitucionais - elaboradas por um grupo de juristas-, será marcado o referendo, dali a dois meses, para a população aprovar ou não as mudanças. As propostas abrirão caminho para a realização de eleições livres dentro de seis meses. Uma fonte do Exército citada pela agência Reuters confirmou o prazo de dois meses para o referendo e disse que as prioridades agora são restaurar a ordem e reativar a economia.
Os generais encorajaram os jovens a criar novos partidos políticos. Em reuniões na Praça Tahrir, epicentro dos protestos, essa ideia já havia ganhado força. Poucos partidos tradicionais devem sobreviver à chamada "Revolução", que derrubou o regime Mubarak. Segundo analistas ouvidos pelo Estado, apenas têm chances a legendas que fizeram oposição mais frontal ao governo Mubarak e boicotaram as eleições parlamentares de dezembro, como Al-Wafd, Al-Ghad e Al-Gabha, todas consideradas "liberais". A Irmandade Muçulmana, banida como partido formal, também deve emergir como uma das principais forças eleitorais. O Partido Nacional Democrático, de Mubarak, teve seu enterro simbólico no incêndio que destruiu sua enorme sede, na beira do Rio Nilo, dia 28. Outros partidos que serviam de satélite do regime, em geral de esquerda, também devem desaparecer, como o Tagamoa e o Al-Nasery, inspirado nas ideias do ex-presidente Gamal Abdel Nasser.
O premiê Ahmed Shafiq deve chamar líderes oposicionistas para participar do gabinete.


ANÁLISE
O que o Egito pode ensinar aos Estados Unidos

*Nicholas D. Kristof - O Estado de S.Paulo - Colunista do "NYT

A verdade é que os EUA têm sido lentos não só em relação à Tunísia e ao Egito nas últimas semanas, mas ao Oriente Médio como um todo há décadas. Nós apoiamos autocratas corruptos desde que eles mantenham o petróleo jorrando e não sejam agressivos demais com Israel. Mesmo reconhecendo que armar uma política externa é mil vezes mais difícil do que parece, permitam-me sugerir quatro lições a serem tiradas de nossos erros:
1. Deixar de tratar o fundamentalismo islâmico como um bicho-papão e de permitir que ele guie a política externa americana. A paranoia americana sobre o islamismo causou tanto dano quanto o próprio fundamentalismo. Na Somália, isso levou os EUA a tolerarem uma invasão etíope em 2006 que foi catastrófica para os somalis e resultou em mais extremismo por lá. E, no Egito, nossos presságios sobre o islamismo nos paralisaram e nos colocaram no lado errado da história.
Nós nos confundimos quando agimos com se a democracia fosse boa para os EUA e Israel, mas não para o mundo árabe. Muitos americanos aceitaram o estereótipo preguiçoso de que os países árabes são inóspitos para a democracia, ou que os beneficiários de um regime popular seriam extremistas como Osama bin Laden. Tunisianos e egípcios sacudiram esse estereótipo, e o maior perdedor será a Al-Qaeda. Não sabemos o que será do Egito, mas os egípcios demonstraram o poder da não violência de um modo que enfraquece todo o discurso extremista. Será fascinante ver se mais palestinos adotarão protestos de massa não violentos na Cisjordânia como uma estratégia para enfrentar os assentamentos e apropriações de terras ilegais israelenses.
2. Precisamos de uma inteligência melhor, do tipo que decorre não de interceptar ligações telefônicas de um presidente a sua amante, mas de conviver com os vulneráveis. Após a Revolução Iraniana de 1979, houve um doloroso questionamento sobre por que a comunidade de inteligência deixou de perceber tantos sinais, e eu acho que precisamos da mesma coisa hoje.
3. Novas tecnologias lubrificaram os mecanismos da revolta. Facebook e Twitter facilitaram a formação de uma rede pelos dissidentes. Os telefones celulares significam que a brutalidade do governo muito provavelmente terminará no YouTube, aumentando o custo da repressão. A tecnologia mais crítica, talvez seja a televisão. Foram canais árabes via satélite como a Al-Jazira que quebraram o monopólio governamental da informação no Egito. Com muita frequência, os americanos menosprezam a Al-Jazira (e seu serviço em inglês em alguns sistemas a cabo), mas ela desempenhou um papel maior na promoção da democracia no mundo árabe do que qualquer coisa que os EUA tenham feito. Deveríamos investir mais nessas tecnologias. A melhor maneira de alimentar mudanças no Irã, Coreia do Norte e Cuba envolverá transmissões de TV, celulares e servidores intermediários para saltar barreiras na internet.
4. Precisamos ficar à altura de nossos valores. Nós perseguimos uma realpolitik no Oriente Médio que fracassou. Condoleezza Rice estava certa quando disse no Egito em 2005: "Por 60 anos, meu país, os EUA, buscou a estabilidade às custas da democracia no Oriente Médio. Não conseguiu nenhuma das duas." Não sei qual país será o próximo Egito. Alguns dizem que é a Argélia, Marrocos, Líbia, Síria ou Arábia Saudita. Outros sugerem que Cuba e China são vulneráveis. Mas nós sabemos que em muitos lugares há uma insatisfação profunda e um anseio profundo por uma maior participação política. E a lição da história de 1848 a 1989 é que levantes tornam-se virais e ricocheteiam de país a país. Após um longo estágio de hesitação, o presidente Barack Obama acertou no tom quando falou na sexta-feira após a queda de Mubarak. Ele apoiou explicitamente o poder popular, enquanto deixava claro que caberá aos egípcios decidir o seu próprio futuro. Esperemos que isso reflita um novo começo não só para o Egito, mas também para a política americana para o mundo árabe. Inshallah.
TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK -  "
VISÃO GLOBAL
A longa caminhada dos egípcios rumo à liberdade

*Thomas L. Friedman, The New York Times - O Estado de S.Paulo

No fim, o presidente Barack Obama fez uma contribuição importantíssima, ainda que não intencional, para a revolução democrática no Egito. A equipe de Obama nunca encontrou voz para apoiar totalmente a revolução na Praça Tahrir até que esta se consumasse, e isto fez com que as pessoas presentes naquela praça soubessem de algo muito poderoso: elas triunfaram sozinhas. Isto é de uma importância incalculável. Um dos cantos mais fortes que ouvi na praça na noite de sexta-feira foi: "O regime foi derrubado pelo povo".
Este sentimento de autonomia e autenticidade - nós o fizemos sozinhos em nome de nós mesmos - é o que confere ao movimento pela democracia no Egito o potencial de alterar as regras do jogo em toda a região. E no caso de outros autocratas não terem compreendido esta mensagem, partilho outro de meus cantos favoritos dentre os entoados nas ruas do Cairo após a renúncia do presidente Hosni Mubarak. Era endereçado ao ditador vizinho, o coronel Muamar Kadafi, da Líbia, e seguia nas seguintes linhas: "Não sairemos de Tahrir até que Kadafi deixe a presidência". Alô, Trípoli! Chamada urgente vinda do Cairo.
A situação pode ficar interessante - para todos os autocratas da região. Os jovens e criativos democratas egípcios estão apenas começando a agir. Até agora, o movimento pela democracia no mundo árabe se resumiu à libertação do Iraque liderada pelos Estados Unidos, a qual, justamente por ter sido liderada pelos americanos, não pode ser tomada como modelo a ser emulado. Se - neste caso, a dúvida é grande - o Egito puder agora fazer a transição para a democracia, liderado por sua própria juventude e sob a proteção de suas próprias Forças Armadas, então será melhor os autocratas tomarem cuidado.
A mensagem transmitida pelo Cairo será a seguinte: experimentamos o nasserismo; experimentamos o islamismo; e agora estamos experimentando a democracia. Mas não uma democracia importada da Grã-Bretanha e nem entregue pelos americanos - será uma democracia concebida, gestada e nascida na Praça Tahrir. Isto deve ecoar entre os árabes - e também no Irã.
No entanto, alguns temem que o Exército egípcio possa sufocar ainda no berço este movimento pela democracia no país. Pessoalmente, acho que o Exército tem um pouco de medo da juventude da Praça Tahrir, que demonstrou tamanha destreza no uso do Twitter.
O movimento democrático que saiu da Praça Tahrir é como um tigre que passou os últimos 30 anos vivendo numa cela minúscula. Depois de vê-lo escapar da jaula, há duas coisas que tenho a dizer sobre este tigre. A primeira é que se alguém tentar reconduzi-lo à jaula, terá sua cabeça arrancada a dentadas.
A segunda: se um político tentar montar no tigre para satisfazer seus próprios interesses estreitos, e não pelo benefício do Egito, ele também será devorado pela fera. Faz pouco tempo que o Irã fez uma declaração pedindo aos jovens de Tahrir que promovessem uma "revolução islâmica", e ninguém menos do que a própria Irmandade Muçulmana mandou Teerã não interferir, pois o movimento democrático deles é pan-egípcio, incluindo cristãos e muçulmanos.
Mas eis a grande pergunta que o Egito precisa responder agora: será este movimento democrático liderado pelos jovens capaz de canalizar o poder e a energia desenvolvidos na Praça Tahrir em prol de uma meta - livrar-se de Hosni Mubarak - e transformá-los numa transição sustentável em direção à democracia, produzindo uma nova Constituição, múltiplos partidos políticos e eleições presidenciais livres realizadas de modo organizado?
Neste ponto, a força do movimento - o fato de ele representar cada vertente política, cada segmento e classe da sociedade egípcia - é também sua fraqueza. Ele ainda não consagrou um líder e nem uma plataforma política própria.
"É essencial que agora o movimento em defesa da democracia forme sua própria liderança e estabeleça sua visão política e suas prioridades, podendo assim cobrar o governo. Caso contrário, todo o esforço da luta pode ser desperdiçado", advertiu o liberal Rachid Mohamed Rachid, ex-ministro da Indústria e do Comércio, que se recusou a continuar fazendo parte do gabinete de Mubarak antes da revolta. "Eles devem definir sua visão para a educação no Egito, para a política de desenvolvimento da agricultura no país, para a defesa dos direitos humanos. Livrar-se de Mubarak não era a única aspiração do movimento. A meta final é criar um novo Egito."
Debate. Desde o início da revolta, Estados Unidos, Israel e Arábia Saudita pareceram esperar que a situação evoluísse para uma escolha entre duas possibilidades - uma chamada "estabilidade", envolvendo Mubarak de alguma maneira, e outra chamada de "instabilidade", a ser evitada.
Bem, tentarei ser o mais claro possível: no Egito, a estabilidade deixou o recinto. E o que tenho a dizer a respeito disto é: ela já vai tarde. Ou, como me disse Ahmed Zewail, químico egípcio-americano premiado com o Nobel: o Egito se manteve estável nos últimos 30 anos porque o país não teve visão, não teve aspiração e se encontrava "estagnado". Uma estabilidade desta natureza não poderia durar.
É por isso que hoje o Egito tem diante de si apenas dois rumos a seguir, e ambos são instáveis. Num deles, o movimento pela democracia sucumbe e o Egito se transforma num furioso Paquistão, como foi na época dos generais no poder. E o outro é a necessariamente instável transição completa para a democracia, que chega à sua conclusão com um Egito estável e parecido com a Indonésia ou a África do Sul.
Será difícil. Há muitos dias duros pela frente, mas eles serão abrandados graças à autoconfiança cultivada aqui entre os jovens egípcios nas últimas três semanas. Assistir a tantos egípcios orgulhando-se do geralmente pacífico nascimento da liberdade - ouvi-los dizendo a si mesmos e uns aos outros, das mais variadas maneiras, "Sou alguém" - foi como testemunhar um dos grandes momentos de triunfo do espírito humano.
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
*É COLUNISTA E ESCRITOR

14 DE FEVEREIRO DE 2011 | 20H 35

ARGENTINA/EUA
Argentina apreende armas em avião militar dos EUA

AE - Agência Estado

A Argentina acusa o exército dos Estados Unidos de tentar enviar clandestinamente armas, equipamentos de espionagem e até mesmo medicamentos vencidos a seu território, com a desculpa de promover um treinamento de segurança de rotina. Em Washington, o Departamento de Estado dos EUA declarou-se "perturbado" com a forma como a Argentina lidou com a situação e exigiu a devolução da carga.
Autoridades argentinas divulgaram hoje a apreensão de quase mil metros cúbicos de equipamentos não declarados a bordo de um avião da Força Aérea norte-americana que chegou ao país sul-americano na última quinta-feira. Segundo as autoridades argentinas, a carga inclui metralhadoras, munições, remédios vencidos e equipamentos de espionagem.
Segundo uma fonte na chancelaria norte-americana, o avião transportava material para um curso de treinamento a ser ministrado pelas Forças Especiais dos EUA à Polícia Federal da Argentina. Os agentes norte-americanos, prosseguiu a fonte, viajavam a convite das autoridades argentinas e a carga teria sido declarada.
"A lei argentina tem de ser cumprida por todos, sem exceção", disse hoje o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Hector Timerman, a Arturo Valenzuela, subsecretário de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental. Timerman fez a declaração quando Valenzuela telefonou a ele para se queixar da forma como as autoridades argentinas haviam lidado com a carga, informou a chancelaria argentina.
O chanceler argentino disse ainda que Buenos Aires apresentaria um protesto formal contra Washington e exigiria uma investigação conjunta sobre o incidente.
De acordo com a chancelaria argentina, o material apreendido no avião militar norte-americano inclui "equipamentos para interceptação de comunicações, dispositivos de GPS sofisticados, elementos tecnológicos com códigos secretos e um contêiner de medicamentos vencidos".
"Estamos perturbados com a maneira com que isso foi conduzido", declarou a jornalistas Philip Crowley, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. "Nós pedimos ao governo argentino que devolva nossos equipamentos." As informações são da Associated Press e da Dow Jones.

15 DE FEVEREIRO DE 2011 | 1H 50

Valenzuela exige que Argentina devolva material confiscado 'imediatamente'
Secretário de Estado americano diz que não houve a intenção de violar leis argentinas e buscava um trabalho conjunto respeitoso

Efe

WASHINGTON - O secretário de Estado adjunto dos Estados Unidos para a América Latina, Arturo Valenzuela, disse nesta segunda-feira, 14, que é "absolutamente necessário" que a Argentina devolva "imediatamente" o material confiscado pelas autoridades argentinas em um avião da Força Aérea americana.
"Não houve nenhuma intenção de violar leis argentinas. Pelo contrário, o que se buscava era a disposição de ter um trabalho conjunto, respeitoso, construtivo. É absolutamente necessário que esses materiais sejam devolvidos imediatamente", disse Valenzuela em entrevista à emissora CNN em Espanhol.
"Não faz sentido que tenham expropriado materiais dessa forma, especialmente quando, como insisto, o que se estava realizando era um projeto de trabalho conjunto, autorizado por ambos os países, para encarar um tema tão importante como é o resgate de reféns", assinalou o diplomata.
Na quinta-feira passada, as autoridades argentinas confiscaram parte da carga do avião americano que chegou ao aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, com "material qualificado como de guerra", destinado a um curso conjunto sobre segurança para a polícia.
O incidente causou tensão entre Washington e Buenos Aires, mas Valenzuela criticou a Argentina por ter reagido com "acusações desmesuradas", levando em conta que os dois países têm boa cooperação em assuntos de defesa e segurança cidadã.
Segundo a versão argentina, a inspeção da Alfândega e da Polícia de Segurança Aeroportuária (PSA) detectou diferenças entre o material declarado e a carga, composta por armas, drogas - incluindo doses de morfina - e computadores com informações qualificadas como "secretas".
Valenzuela explicou que "os remédios são usados pelas pessoas quando estão fazendo este tipo de exercícios porque pode haver acidentes. É óbvio que há muito material de preparação, mas não é nada fora de ordem".
O subsecretário acrescentou que as autoridades dos Estados Unidos decidiram suspender o curso, porque "a forma como amedrontaram o pessoal americano foi algo improcedente".
Valenzuela reiterou que, para resolver a situação atual, primeiro a Argentina tem que devolver o material apreendido e, posteriormente, os países devem "virar a página" para continuar colaborando em temas de interesse comum.


fonte: Estado de São Paulo

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