DESTAQUE DE CAPA - CONSERVAÇÃO
Bem-vindo, investidor!
A Avenida Chile, no Centro do Rio, endereço de algumas das maiores instituições financeiras do país, tem sujeira, mendigos, camelôs, ladrões e drogados.
Entre o luxo e o lixo
No corredor financeiro do Rio, executivos brasileiros e estrangeiros driblam sujeira, desordem e assaltos
Jorge Lourenço e Fernanda Dannemann
De um lado da Avenida Chile, a sede da Petrobras esbanja imponência, com seus jardins projetados por Burle Marx. À frente, o prédio do BNDES reflete a paisagem com seus vidros espelhados. Outros edifícios igualmente imponentes surgem na avenida, que é o corredor financeiro da cidade. Instituições de peso, como a Caixa Econômica Federal, dividem espaço com altos investimentos imobiliários, como a Ventura Corporate Towers, arranha- céu construído pela Camargo Corrêa, e orçado em R$ 500 milhões. A Avenida, porta de entrada para negociantes e investidores, cujos contratos reverberam inclusive fora do Rio, deveria ser um dos cartões postais brasileiros. Mas, lamentavelmente, ostenta uma paisagem bem diferente.
Sujeira, mendigos, barraquinhas de comida suspeita, pontos de ônibus desorganizados, filas duplas, calçadas esburacadas, batedores de carteira, viciados, cheiro de urina e fezes... e um desorganizado estacionamento em torno da Catedral. E o mais grave é que, apesar de todo este quadro de horror, a Associação Comercial do Rio de Janeiro desistiu do projeto de revitalização da área.
EDITORIAL
A internet virou uma ferramenta revolucionária
A agressão ao jornalista Miguel Marquez, da rede de televisão americana ABC, anteontem, quando ele cobria manifestações populares por democracia no Bahrein, é mais um indício de que a temperatura não para de subir no Oriente Médio e na África. Após a queda do ditador Hosni Mubarak, no Egito, outros regimes totalitários começaram a experimentar a insatisfação que emana das ruas. Argélia, Tunísia, Líbia, Irã, Iraque, Iêmen... a lista não para de crescer, apesar da repressão dos governos locais.
Não há opressão que se sustente eternamente, e a internet vem sendo uma ferramenta fundamental para que o povo se expresse, uma válvula de escape através da qual é possível trocar informações com o exterior. Em Cuba, na China e em outros países congelados no arcaico comunismo, o establishment tenta cercear a grande rede, mas, felizmente, os jovens estão cada vez mais espertos quando se trata de descobrir alternativas novas na web. No ocidente, esses gênios precoces ficam milionários com negócios farejados pela inventividade. Mas, no mundo islâmico mais fechado e nas ditaduras marxistas, todo esse frescor juvenil diante do computador serve para balançar as estruturas carcomidas do status quo.
A médio prazo, porém, não se sabe no que esta onda de insatisfação vai dar. Na maioria dos países citados, deve desembocar em mais repressão. Até que um dia a mola, comprimida ao máximo, se solta. E aí muito governante encastelado será deletado da história.
COISAS DA POLÍTICA
Mauro Santayana
Corruptos e matadores
A sociedade necessita de corpos armados, educados para a defesa da dignidade dos homens, e rigorosamente administrados, a fim de garantir a vida e a propriedade legítima das pessoas. A eles cabe exercer o monopólio da violência conferido ao Estado pela inteligência política. Só os agentes devem empregar a força e as armas, em casos estritos de necessidade. Os estados modernos, deteriorados pela submissão à mentirosa racionalidade econômica, e sob o exemplo do sistema liberal capitalista por excelência, o dos Estados Unidos, têm concedido a terceiros, estranhos a seus quadros, o exercício da violência. Contratam empresas privadas, que geralmente empregam, em tempo parcial, policiais civis e militares em suas atividades.
A tolerância ao nítido conflito de interesses tem estimulado o surgimento das chamadas milícias, que atuam nas regiões em que a presença oficial do Estado é precária. Integradas por policiais civis e militares, tais como as empresas de vigilância, elas oferecem proteção, só que, em seu caso, mediante taxas extorsivas e o exercício de comércio ilícito. Enfim, o gangsterismo se organiza dentro do aparelho repressivo oficial.
É possível objetar, e com razão, que a infecção dos quadros policiais não é nova. Sempre houve policiais achacadores e subornáveis, ao longo da história, em todos os países do mundo. Essa constatação não exclui a necessidade de combater rigorosamente esse tipo de crime – sobretudo porque são suspeitos de nele se envolverem os próprios dirigentes dos corpos armados, como sugerem as investigações em curso no Rio de Janeiro. Se dessa podridão são responsáveis os dirigentes políticos do Estado, que nomeiam as autoridades policiais, ou não, cabe ao Ministério Público averiguar, com a ajuda da Polícia Federal. Tão antiga quanto a História, é a dedução de que o exemplo vem de cima. Maquiavel e outros pensadores políticos são nisso contundentes: os súditos acompanham o que fazem os príncipes, e os imitam.
Já tardiamente, quando acossado pelos militares e sem a proteção carismática de sua mulher Evita, Perón soube que seu cunhado se havia corrompido e achacava banqueiros e industriais. Sua reação se expressou na frase transformada em máxima política: “Los gobiernos, como el pescado, empiezan a pudrirse por la cabeza”.
Outra endemia nos corpos policiais é a dos esquadrões da morte. O Rio de Janeiro tem triste tradição em assassinatos dessa natureza. Quadrilhas de policiais, aparentemente a serviço de comerciantes, matam friamente os “indesejáveis”, que, no juízo dos mandantes, “infestam” as cidades. Da mesma forma, esses grupos liquidam seus rivais nos negócios sujos. Há mais de cinquenta anos, atuavam os “homens de ouro”, com a tácita autorização para “eliminar bandidos”. Há 18 anos, em julho de 1993, cerca de 70 crianças, que dormiam junto à Igreja da Candelária, foram metralhadas por vários policiais, com numerosos feridos e seis mortos.
Agora, em Goiás, descobre- se um grupo de extermínio que, segundo os indícios, era chefiado nada mais, nada menos, pelo subcomandante da Polícia Militar do estado. Entre as suas vítimas, se as investigações se confirmarem, encontram-se mulheres e crianças, mortas por acaso durante os tiros ou para eliminar testemunhas.
O velho princípio da filosofia social dos gregos é o de que a política deve ser a prática da ética. Ética e política se encontram separadas no mundo moderno, em razão do apodrecimento da razão, que estabelece o pragmatismo do lucro e do êxito como novo imperativo universal. Só com o retorno da ética à ação política encontraremos a necessária reabilitação do Estado. Essa tarefa cabe aos cidadãos.
INFORME JB
Leandro Mazzini
Decolando...
Está fortíssimo o lobby dos americanos pela venda dos caças da Boeing ao governo brasileiro. Os F-18 voltaram a ter grandes chances. E com transferência de tecnologia.
...no céu do poder
E tem chances. Depois do senador republicano John Mc- Cain, ex-rival de Barack Obama nas eleições, agora é o próprio presidente dos EUA quem vai bater um papo com a presidente Dilma sobre os aviões.
Festa nuclear
A Usina Nuclear Angra 2 completou dez anos dia 2. Já produziu mais de 95 milhões Fonte: Rede Vida, Jornal da Vida de MWh.
MAPA-MUNDI
Uns tirinhos no Egito
José Sarney - Ex-Presidente da República
Neste mundo globalizado, a informação em tempo real, o contágio e a imitação fazem com que nada fique isolado e tudo se propaga, se expande, como um rastilho de fogo. A internet livre e sem fronteiras fez com que o desejo de sacudir o jugo dos domínios partisse da Tunísia para Egito, Argélia, Jordânia, Bahrein, Iêmen, e agora Líbia. Não sendo profeta, apenas vejo que a Arábia Saudita é a próxima vítima ou protagonista.
Fiquemos no Egito. Napoleão, em frente das pirâmides e da esfinge de Guizé, não louvou seus milênios, mas apresentou- se e a seu exército com a famosa frase: “Do alto dessas pirâmides, quarenta séculos vos contemplam”. Um país que vive a imortalidade dos séculos em seus monumentos mortuários, que já viu a decifração dos seus hieróglifos – a escrita mais bela feita pelo homem, com seus pássaros com os bicos ensinando a direção da leitura –, está vendo a internet com os olhos de quem passou por várias civilizações.
Mubarak sucedeu Sadat que sucedeu Nasser, que arrebatava corações e paixões. Um Guevara da época. Jânio Quadros tinha em sua mesa no Planalto os retratos de Lincoln e de Nasser.
Eu fazia as manchetes num jornal do Maranhão. O jornal não era feito, acontecia. As matérias escritas eram compostas a mão nos tipos e montadas na página, para serem impressas. Página cheia ia para o prelo. Cabia-me separá-las e dizer aos leitores “segue na página tal”. Notícias internacionais vinham através de um rádio velho, ouvido com dificuldade por Clóvis Sena, grande jornalista, intelectual – como eu e Ferreira Gullar começando a vida – e que morreu na última terça-feira com as nossas saudades e lágrimas. No dia seguinte abro o nosso concorrente e dava a queda do rei Faruk, do Egito. Neiva Moreira vai a Clóvis Sena. “Não houve nada internacional que desse o rádio na noite passada?”. “Só uns tirinhos ali pelo Egito”, disse-lhe Sena. “Pois é, seu dorminhoco, nosso concorrente dá em manchete a queda do mais antigo governante da face da Terra, uma dinastia de cinco mil anos, nós não damos nada e você ainda me diz que foram uns tirinhos no Egito”.
Estou com a experiência de Cony, quando desconfia da democracia que surge no Egito. Quem assume seu comando é o general Mohamed Tantawi, o melhor amigo de Mubarak, que, como “grande democrata”, as primeiras coisas que faz é fechar o Congresso e acabar com a Constituição e tribunais.
A internet, a maior alavanca da modernidade – Deus queira que eu esteja vendo fantasmas – vai ajudar, como Bush no Iraque, a implantar teocracias, e a esfinge não decifra o labirinto mitológico que está pela frente. Sena talvez estivesse certo: mais uns tirinhos no Egito.
FONTE: JORNAL DO BRASIL
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