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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

28 de fevereiro de 2011 - CORREIO BRAZILIENSE


DESTAQUE DE CAPA - REVOLTA NO ORIENTE MÉDIO
Rebeldes avançam na Líbia e ganham o apoio dos EUA

Oposição armada conquista cidade a 50km da capital, Trípoli, e cria conselho para transição de poder, deixando o ditador Muamar Kadafi cada vez mais isolado. Em Washington, o governo Barack Obama anunciou ajuda a qualquer iniciativa contra o regime. Brasileiros que trabalhavam em Benghazi chegam hoje a Recife.


OPINIÃO
Ao Barack, com carinho

ROSANE GUTJHAR
Diretora da Associação de Familiares e Amigos das Vítimas do Voo 1907

Querido Barack: Que bom que você vem visitar o Brasil no dia 19 de março. Veja só que coincidência. Onze dias depois, em 30 de março, dois cidadãos do seu país, Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, terão que dar explicações por ter matado o meu marido e mais 153 pessoas, a maioria delas brasileiras, que estavam no Boeing do voo 1907 da Gol, em 29 de setembro de 2006.
O meu marido Rolf era uma pessoa maravilhosa, ajudava a todos, além de ser um ótimo pai e um marido incrível. Pois é, ele deixou uma filha órfã de pai. Você também tem filhas, não é mesmo? A minha tem oito anos agora. Na época em que o pai dela morreu, ela tinha apenas quatro. Até hoje ela guarda lembranças do pai. A mais marcante talvez seja o chinelo dele, que está até hoje na porta. Ela não deixa que ninguém os tire dali. Aqui em casa não podemos mais comer bolinho de carne, pois o Rolf e a minha filha faziam isso juntos. Você também cozinha com as suas filhas, quando tem um tempinho, Barack?
Eu ainda me lembro como ele dizia para eu ter calma, lembro-me  bem dele entrando em casa quando retornava de viagem e me lembro do sorriso estampado em seu rosto quando ele brincava com a nossa filha. Fico com o coração apertado quando lembro que tudo que tenho agora é só isso: lembranças. Você também diz para sua mulher ter calma, Barack?
Meu marido voltava de uma viagem de trabalho no avião da Gol quando o jato Legacy colidiu com o Boeing, fazendo 154 vítimas. Aquele foi o pior dia da minha vida. Depois disso, comecei a minha busca incansável por justiça. A Gol chegou a me oferecer a quantia de US$5 milhões de indenização. Cinco milhões pela vida do Rolf? Cinco milhões de dólares pela vida do meu marido? Não. Eu não quero o dinheiro, não há quantia no mundo que possa pagar a vida do meu esposo.
Nossa filhinha, em uma redação feita na escola com o tema “saudade”, escreveu que sente saudade do papai, que ele trazia muitos presentes pra ela da China e que éramos uma família feliz. Suas filhas sentem saudade de você quando viaja? Pelo menos, você voltou pra casa todas as vezes. Já o Rolf não teve a mesma sorte.
Barack, coloque-se no meu lugar. Você não iria querer que suas filhas crescessem perguntando por que as pessoas que provocaram a morte do pai não estão na cadeia, não é mesmo? Sempre ensinei para a minha filha que querer a morte de alguém é errado, mas como vou dizer pra ela que os pilotos do avião que bateu no Boeing onde o papai dela estava ainda estão pilotando aviões e impunes? Só queria a minha dignidade e minha honra de volta. Quero a minha pequena crescendo em um mundo em que as pessoas que provocaram a morte do pai dela estejam pagando por isso.
Além da nossa filha, o Rolf me deixou, deixou amigos, clientes, fornecedores e funcionários, que são mais de três mil. Nossa empresa ficou desfalcada, com todos mandando cartas manifestando suas condolências.
Agora tenho uma única luz no fim do túnel. Finalmente, a audiência com os pilotos foi marcada. Eles estarão no consulado brasileiro nos EUA e nós, aqui em Brasília. Será que finalmente essa minha angústia vai acabar e eu poderei colocar a minha cabeça no travesseiro todas as noites e dormir em paz, sabendo que a justiça foi feita? Eu espero que sim, Barack. Espero mesmo.
Seja bem-vindo ao Brasil, Barack. Aproveite a alegria do meu povo e se divirta. Mas não se esqueça da minha história e do lamentável episódio que envolve os filhos do seu país. Eu ainda me recordo do seu discurso na posse. Você falou a respeito dos direitos humanos, defendendo a liberdade e a igualdade. Espero que esse discurso seja mantido. E lembre-se, Barack, que eu e mais 153 famílias contamos muito com seu apoio.


RUBEM AZEVEDO LIMA

Carta à Presidência
Presidenta Dilma Rousseff — como Vossa Excelência prefere, em nome do feminismo — não se passaram 100 dias de sua posse, mas, ao aprovar o mínimo de R$ 545, seu rebanho de deputados violou nossa Constituição, tal qual os de Hugo Chávez, com a da Venezuela.
Aqui, fez-se isso em 1937 e 1964, instaurando-se duas ditaduras, que somaram 30 anos, durante os quais se governou o país por decretos e atos institucionais. Em 37, para facilitar as coisas, a ditadura fechou o Congresso. Em 64, para fingir que éramos uma democracia, manteve-se o Legislativo aberto, mas submisso a ordens superiores. Vossa Excelência lutou contra isso.
 O curioso, hoje, é que representantes de partidos existentes em 64 — o MDB (PMDB), o PTB, o PSB, o PDT e o PT, esses dois nascidos na ditadura — deram quorum folgado a favor da violação constitucional: a permissão para Vossa Excelência legislar por decreto, em matéria que exige discussão parlamentar.
Não há como respeitar essa decisão. Demos um passo atrás em relação à marcha do mundo árabe, no Egito, rumo à democracia. Um dia qualquer, sua maioria põe na Constituição as benesses dadas a Chávez e ficamos fritos.
Nosso país, cujo povo apoiou a ficha limpa, repele a decisão de seus aliados, aprovada, agora, no Senado. Seu dever, excelentíssima presidenta, seria vetá-la, a bem da democracia.
 Em 1988, a inocência dos constituintes vetou dois dispositivos: um julgava crime de lesa-pátria a eventual violação golpista da Constituição; outro dava imprescritibilidade a esse crime. Eram avisos salutares e antigolpistas.
Em 64, provoquei o líder governista, indagando, então, se ele aceitaria imposições das casernas. Resposta: “Não podemos recusá-las”.
Agora, diz-se, não foram os quartéis, mas Vossa Excelência quem exigiu, com sua grei palaciana, o futuro ajuste do mínimo por decretos seus e não por lei do Congresso, descabendo pois esses apelos. Nesse pré-carnaval, voltamos a 37, o último ano da vida de Noel Rosa. Concluo, excelentíssima, triste pela decisão pusilânime do Congresso e com o fim da carta de Noel a seu médico: “É só isto”. Era, mas em seis meses, a morte o silenciou e a ditadura, o Brasil.


CRISE NO IRÂ
Irã impõe um racha na Opep
Em guerra velada para manter preços nas alturas, ministro iraniano condena decisão da Arábia Saudita de suprir cortes da Líbia

Não bastasse a forte crise política que vem assolando os povos árabes, as nações da região — maiores produtoras de petróleo do planeta — começam, agora, a se desentenderem quanto ao suprimento do combustível ao resto do mundo, abrindo precedentes para a instalação de uma nova recessão entre os grandes importadores, como Estados Unidos e Europa. Integrantes do cartel organizado pela Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep), Arábia Saudita e Irã já não falam a mesma língua. Depois de os sauditas prometerem, na semana passada, cobrir buracos de um eventual corte no fornecimento pela Líbia do ditador Muamar Kadafi, ontem foi a vez de os iranianos recomendarem cautela aos vizinhos. Por trás desse jogo, emerge uma guerra de interesses para manter o preço do barril nas alturas.
Em comunicado que fez divulgar pela Irna, agência de notícias do governo do Irã, o ministro do Petróleo do país, Massoud Mirkazemi, recomendou que a Arábia Saudita não tome a decisão precipitada de aumentar sua produção de petróleo após as manifestações populares na Líbia. “A Opep não decidiu organizar um encontro de emergência para discutir o aumento da produção. A Arábia Saudita deveria evitar tomar qualquer decisão precipitada sobre aumentar a produção e deve evitar tomar qualquer decisão a respeito de forma independente”, declarou. Mirkazemi foi enfático, ainda, ao dizer que não vê qualquer necessidade de aumento da produção do combustível no momento.

Catar
Embora responda por apenas 2% da oferta mundial de petróleo, a Líbia foi capaz de provocar uma disparada de 14% sobre o preço em apenas uma semana, a maior alta para o período em dois anos. Os preços do barril do óleo tipo Brent saltaram para US$ 120 em decorrência das revoltas populares e dos abalos provocados à ditadura de Kadafi. Só as refinarias da Europa, calculam analistas, compram cerca de 80% dos cerca de 1,3 milhão de barris exportados diariamente pelos líbios.
Mas, além da Arábia Saudita, os iranianos terão que enfrentar outros países produtores dispostos a compensar uma possível falta do combustível. É o caso do Catar, emirado do Oriente Médio alinhado aos sauditas. “Entendemos que não há escassez de oferta”, declarou o ministro do Petróleo do país, Mohammed Saleh Al Sada. A seu ver, a Opep e outros produtores fora do grupo “poderão compensar” uma eventual quebra de produção na Líbia e evitar a escalada no preço do barril. A guerra instalada entre os grandes fornecedores só acirra a dependência mundial por petróleo, combustível dos mais poluentes que tem sua produção concentrada no norte da África e no Oriente Médio.

Fôlego da Petrobras
Levantamento realizado pela Consultoria Tendências indica que a Petrobras poderá manter os preços da gasolina e do diesel nos níveis atuais se o barril de petróleo se mantiver, na média, abaixo de US$ 130, ao longo deste ano. Em compensação, vai repassar qualquer aumento para outros derivados do óleo, como o querosene de aviação e a nafta, usada na fabricação de embalagens plásticas.
 FONTE; CORREIO BRAZILIENSE

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