MISSÃO DE PAZ
Gaúchos rumo aos desafios do Haiti
Garantir a ordem no segundo turno das eleições presidenciais está entre as tarefas dos militares
Novidade para a maioria dos 130 militares do Exército Brasileiro que embarcaram ontem para o Haiti – quase todos gaúchos –, o capacete azul com as iniciais das Nações Unidas não estreava na cabeça do sargento Jason Barbosa Figueredo. Voluntário em 2004, ano do início da missão de paz na nação caribenha, liderada pelo Brasil, ele voltou a vestir a farda com a qual viveu o momento mais marcante de sua carreira.
– É uma missão nobre – disse o sargento, orgulhoso, no hangar da Base Aérea de Canoas, minutos antes do embarque.
Um dos poucos a participar da missão pela segunda vez, Figueredo pôde ajudar a ambientar os colegas antes mesmo de o avião aterrissar na capital, Porto Príncipe – o que deve ocorrer nesta tarde, após uma escala em Boa Vista, na noite de ontem. O veterano testemunhou cenas memoráveis, como a visita da Seleção Brasileira, que colocou o Haiti em alvoroço com os dribles de Ronaldo e Ronaldinho. Casa de Figueredo durante sua estada no Haiti, o Palácio Nacional, sede da presidência – onde trabalhou na segurança e sorveu litros de chimarrão –, sucumbiu ao terremoto que devastou Porto Príncipe em 2010. A imagem do edifício em ruínas rodou o mundo, e o carioca radicado em São Leopoldo quis voltar:
– Tenho um sentimento especial pelo Haiti. E sinto saudade, é um país em que eu gosto de estar.
Restante dos soldados viajará nos próximos dias
Figueredo e mais 129 colegas do Comando Militar do Sul participaram ontem em Canoas da cerimônia de despedida do primeiro grupo do 14º batalhão brasileiro na Minustah, a missão de paz da Organização das Nações Unidas. Ficarão seis meses longe de casa. Os militares se despediram das famílias e falaram sobre a expectativa de trabalhar no país mais pobre das Américas. O restante dos 800 militares do 14º contingente viajará nos próximos dias.
– Vamos representar o Rio Grande do Sul, o Exército e o Brasil – afirmou o capitão Jefferson Della Valentina, natural de Uruguaiana e hoje lotado em São Leopoldo.
Em Porto Príncipe, os militares trabalharão especialmente na manutenção da paz, assim como em ações cívico-sociais e missões de segurança. Um dos primeiros compromissos será garantir a tranquilidade do segundo turno das eleições presidenciais, marcado para março, em meio a fortes rixas entre partidos rivais.
PAC DO CRACK
RS terá cinco centros contra crack
Presidente detalhou ontem as universidades que treinarão profissionais em programas que devem começar no próximo mês
Os Centros Regionais de Referência em Crack e Outras Drogas (CRR), que integram um plano do governo federal de combate contra o crack em todo o país, devem começar a funcionar no mês que vem em 23 universidades brasileiras, cinco delas no Rio Grande do Sul. O lançamento do projeto dos CRR foi feito ontem, em Brasília, pela presidente Dilma Rousseff.
– Precisamos formar profissionais. Sabemos que essa é uma droga que tem uma capacidade de propagação muito elevada e que, atrás do eixo da prevenção, pelo qual precisamos impedir que mais pessoas sejam vítimas do crack, são necessárias intervenções visando a tratamentos, clínicas e enfermarias especializadas, além de políticas de reinserção – afirmou Dilma.
Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) participarão do programa no Estado. Cada instituição contará com um centro destinado a treinar profissionais de saúde e de assistência social que já atendem usuários de drogas e suas famílias em seus municípios.
Em maio, outros 26 centros devem começar a operar, informou a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad). Os cursos têm duração de 12 meses e deverão formar seus primeiros participantes no ano que vem. As disciplinas abordarão o gerenciamento de casos, a reinserção social, o aconselhamento motivacional e o aperfeiçoamento de médicos. Cada projeto terá até R$ 300 mil do Fundo Nacional Antidrogas (Funad) para treinamento de 300 pessoas. Serão formados 14,7 mil profissionais, em 844 municípios de 19 Estados do país.
A iniciativa de aperfeiçoar profissionais que lidam com dependentes de crack faz parte do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, lançado no ano passado pelo governo federal. O chamado “PAC do Crack” prevê a ampliação do número de leitos de internação de usuários de drogas e a realização de estudos e pesquisas, entre outras medidas. O plano foi anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em maio passado. Na oportunidade, ele fez referência à campanha do Grupo RBS, Crack, Nem Pensar, citando-a como exemplo de campanha de mídia contra a droga.
O QUE PREVÊ O PAC DO CRACK |
- Cursos de especialização: são os CRR, lançados ontem |
- Combate ao tráfico: o governo promete ampliar as operações policiais para desmantelar as redes de tráfico que abastecem o Brasil de crack. A ênfase será nas regiões de fronteira. Serão instaladas 11 bases móveis e fixas nas fronteiras com Paraguai, Bolívia, Peru e Colômbia. |
- Mais leitos: o plano prevê dinheiro a curto prazo para a ampliação da rede de atendimento aos dependentes, por meio de financiamento às prefeituras. O governo anunciou que financiará projetos municipais de aumento do número de leitos em serviços de urgência e hospitais gerais. O resultado da avaliação e seleção dos projetos foi divulgado em janeiro. Das 145 propostas, foram aprovadas 78, provenientes de 13 Estados. |
- Campanha de informação: lançamento de campanha nacional de mobilização, informação e orientação de caráter permanente. O objetivo é mobilizar a sociedade para a gravidade da droga e oferecer conhecimentos que ajudem a prevenir e enfrentar a dependência. |
- Projeto Rondon: os estudantes que participam do Projeto Rondon, do Ministério da Defesa, vão lutar contra a droga. Os universitários serão treinados para lidar com usuários e, em vez de serem levados a regiões longínquas do país, passarão a atuar em locais de consumo e comunidades terapêuticas. |
- Treinamento de agentes: o plano prevê um exército de combatentes bem treinados. Um dos focos é o treinamento, e inclui quem trabalha com o tratamento e a reinserção social, como profissionais da rede de saúde e da rede de assistência social. |
- Disseminação de exemplos: o plano propõe que bons exemplos de tratamento e de reinserção social de usuários sejam multiplicados, para qualificar o atendimento. Um estudo mapeará os tipos de procedimentos e iniciativas que dão melhores resultados. |
- Diagnóstico no país: o plano prevê conhecer melhor o crack, para combatê-lo com mais eficácia. Está previsto um amplo diagnóstico sobre o consumo da droga no país e as formas de tratamento da dependência. |
NO ESTADO |
- Universidade Federal de Pelotas |
- Universidade Federal de Santa Maria |
- Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre |
- Universidade Federal do Rio Grande |
- Universidade Federal do Rio Grande do Sul |
REESTRUTURAÇÃO
Anac reestrutura atendimento no Estado
Incluída em uma reestruturação da Agência Nacional de aviação Civil (Anac), a unidade regional do órgão em Porto Alegre será transformada em escritório de aviação civil.
Na prática, a mudança de classificação significa que o número de servidores, atualmente em 25, será reduzido com a eliminação de funções administrativas. Em comunicado divulgado ontem, a Anac informa que a mudança faz parte de um processo para reduzir custos e aumentar a eficiência. Serão mantidos em Porto Alegre apenas os funcionários diretamente ligados às áreas de segurança operacional e capacitação e desenvolvimento de pessoal.
Basicamente, a unidade regional da Anac presta serviços à chamada aviação geral, que exclui as grandes companhias e os aviões militares. Fazem parte dessa categoria, por exemplo, serviços de aviação agrícola, táxi aéreo e aeronaves particulares.
A alteração constará em portaria a ser publicada hoje e será anunciada aos servidores da Anac pelo superintendente de aeronavegabilidade, Dino Ishikura, que virá à Capital.
Agência garante que serviços ao público não serão afetados
Até ontem, o órgão não havia informado quantos dos 25 servidores – dois deles militares – seriam mantidos. Os funcionários poderão ser realocados para as superintendências da Anac em São Paulo, São José dos Campos (SP), Rio de Janeiro ou Brasília.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a agência garantiu que os serviços ao público não serão afetados, uma vez que o agendamento de vistorias e o encaminhamento de documentos poderá ser feito pela internet – possibilidade já disponível hoje. Também assegurou que não será necessário sair do Estado para encaminhar qualquer documentação.
O enxugamento da agência não atingiu apenas Porto Alegre. A mesma portaria da Anac extinguiu a unidade regional de Recife e o posto de serviço e o escritório de Curitiba. A medida também transformou em escritórios os postos de Belo Horizonte, Salvador e Macaé (RJ). Em agosto passado, a Anac já havia fechado o posto de atendimento aos passageiros no Aeroporto Salgado Filho.
Presidente da Federação dos Aeroclubes do Estado, Nelson Riet teme que a reestruturação da agência dificulte e torne mais demorada a tramitação de procedimentos. Conforme Riet, o Estado tem cerca 2 mil licenças de pilotos e comissários que precisam ser renovadas anualmente e uma frota de aproximadamente 300 aeronaves que também devem ser vistoriadas periodicamente.
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