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quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

24 de fevereiro de 2011 - JORNAL DO BRASIL


DESTAQUE DE CAPA
Terra arrasada à vista
Morros do Centro e da Zona Norte que receberão UPPs amanhã exibem o abandono de décadas 

José Luiz de Pinho 

Na tarde desta sexta-feira, serão instaladas mais duas Unidades de Polícia Pacificadora, agora nos complexos de Santa Teresa e de São Carlos (no Centro e na Zona Norte do Rio), que atenderão a cerca de 20 mil moradores. Uma policiará os morros dos Prazeres e do Escondidinho, em Santa Teresa. A outra dará segurança aos morros do Fogueteiro, Coroa e Fallet, no Catumbi. Mas os moradores dessas comunidades, ocupadas desde o dia 6 por policiais do Batalhão de Choque, não querem saber de festa e, sim, de projetos sociais. Ontem, o Jornal do Brasil subiu os morros dos Prazeres e do Fogueteiro e constatou as várias carências que afetam essas comunidades.
Eliza Rosa Brandão da Silva, presidente da Associação de Moradores do Morro dos Prazeres há três anos, lista os problemas que afetam os cerca de 7 mil habitantes. – Precisamos de tudo: saneamento, escolas de ensino fundamental e médio, cursos profissionalizantes. Além disso, a luz é fraca, e os becos ficam às escuras – afirmou.

Moradores temem a especulação imobiliária 
A líder comunitária ainda reclama do não funcionamento da única creche existente no morro dos Prazeres.
– Nossa creche atendia a 130 crianças e está interditada desde o temporal de abril de 2010, porque uma parte do piso externo cedeu e uma das grades caiu – disse Eliza, lembrando a tempestade que matou 34 pessoas no morro.
Presidente da Associação de Moradores do morro do Fogueteiro há cinco anos, Cíntia de Luna não vê motivos para comemorações. Na Rua 7, crateras e montes de entulho dificultam o acesso à comunidade, de cerca de 5 mil moradores.
 – A gente pede providências, mas ninguém dá jeito. As ruas estão esburacadas, só cai água nas casas uma vez por semana e ninguém faz nada – reclamou Cíntia. – Falei para o coronel Brandão, comandante do batalhão, que queremos uma UPP completa não só com segurança, mas também com o social. Cíntia critica a falta de saneamento.
– O esgoto fica a céu aberto nesse canal, que não é limpo há mais de dez anos e transborda toda vez que chove mais forte.
Já a líder do morro dos Prazeres tem outro receio: de que, na carona da UPP, venha a desapropriação de várias casas pela prefeitura.
– Dois dias depois do temporal de 6 de abril, o prefeito disse que toda a comunidade seria removida. A vista daqui é linda, e tememos que junto com a UPP venha a especulação imobiliária – disse Eliza Rosa.
A UPP do complexo de São Carlos, que atenderá aos morros da Mineira, Zinco, Querosene e São Carlos, seria a primeira das três a ser instalada, mas isso só acontecerá depois do Carnaval.
– Adiantamos as inaugurações das outras duas UPPs porque o efetivo que ocupou essas comunidades é do Batalhão de Choque e precisa ser liberado para dar segurança aos foliões. – explicou o coordenador das UPPs, coronel Robson Rodrigues, informando que um total de 630 policiais atenderão às três UPPs da região.

Governo promete melhorias
O governo do estado informou que estão previstas melhorias para esses morros nas áreas da saúde, economia, cultura, educação, preservação ambiental e lazer. Já a Light, a Cedae, a Rioluz e a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos informaram que, com a instalação das UPPs, os serviços serão incrementados.


EDITORIAL
Não satisfeito, Kadafi quer um banho de sangue

A ameaça feita pelo ditador líbio Muamar Kadafi, de que só deixará morto o posto que ocupa desde 1969, é preocupante. Dono de uma fortuna estimada em mais de US$ 70 bilhões, Kadafi tem condições de sobra de cumprir a promessa, embora membros de seu Exército já comecem a aderir ao levante nas cidades do norte do país. Sua queda, portanto, não será tão rápida quanto foi a de Hosni Mubarak, no Egito.
Kadafi cultiva a imagem de pai do povo líbio. Depois de chegar a chefe de Estado, ele proibiu as bebidas alcoólicas, mas seu filho costuma vir ao Brasil e promover festas de arromba, como revelou a coluna Informe JB de ontem. Nacionalizou o petróleo, mas boa parte de sua fortuna vem de um fundo de investimentos criado com a receita da venda das reservas de óleo do país. Ou seja, como todo ditador, Kadafi adota o lema Faça o que eu digo mas não o que eu faço”. O povo líbio parece ter se cansado. Contagiado pela onda de liberdade que atinge vários países da África e do Oriente Médio.
O problema é justamente a renitência do líder de largar as benesses. Se Kadafi for mesmo resistir, seu país conhecerá um dos maiores banhos de sangue de sua história – basta lembrar que até agora quase 700 pessoas morreram até agora. Será talvez a última provação a que esse povo será submetido, depois de 30 anos de tirania e desmandos e das sanções internacionais que vitimaram a população da Líbia entre 1992 e 1999.


CARTAS

Anac
A despedida de Solange Vieira da presidência da Agência Nacional de Aviação Civil soa mais como um alívio ao deixar a roubada em que se meteu. Com a missão de instituir padrões de pontualidade e qualidade na aviação civil, o que se pôde ver foi o caos total nos aeroportos. Mas, pelo menos, devemos reconhecer uma qualidade: a funcionária de carreira do BNDES, ao dizer que pretende ter filhos, não se apegou ao cargo e volta para seu antigo emprego. Quanto aos passageiros, esperem sentados a melhora dos serviços aéreos.
Izabel Avallone, São Paulo
 FONTE: JORNAL DO BRASIL




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