Pesquisar

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

28 de fevereiro de 2011 - VALOR ECONÔMICO


INFRAESTRUTURA
De refinarias a aeroportos, recrutas tocam obras
Engenharia do Exército foi formada por lei de 1880

André Borges | De Cabrobó e Goiana (PE)


O garoto Almir Soares Paé nunca dirigiu um carro na vida. Ainda não tem habilitação, tampouco dinheiro para comprar um carro. Na boleia de uma motoniveladora de R$ 300 mil, porém, vira um motorista experiente. Com seus 19 anos, aparelho nos dentes e dúzias de espinhas no rosto, Paé precisou só de algumas aulas práticas para ganhar o posto. O garoto leva jeito, e não seria para menos dada a responsabilidade que assumiu. Ele e mais alguns amigos estão trabalhando nas obras da transposição do São Francisco.
No volante de uma fila de máquinas barulhentas, um batalhão de garotos de 19 e 20 anos trabalha das seis horas da manhã às seis da tarde na construção da barragem de Tucutu, a primeira represa do Eixo Norte da transposição, canal que avançará 402 km pelo sertão nordestino. Ali estão cerca de 200 recrutas do Exército, cumprindo o serviço obrigatório de um ano. O ritmo é pesado. Descanso, quando ocorre, só aos domingos. "O trabalho não é moleza, mas eu gosto do que faço", diz Paé, que um ano atrás deixou a casa dos pais, em Picos, no semi-árido do Piauí, para trabalhar nas obras de Pernambuco. "Quando entrei no Exército queria saber como atirar, mexer com armas, mas achei bom vir para cá e aprender uma profissão. Fica mais fácil arrumar um emprego quando a gente sai."
Os meninos que trabalham hoje na barragem em Cabrobó fazem parte da divisão de engenharia do Exército, braço que hoje soma um contingente de 9 mil militares em todo o país. Divisão menos conhecida das Forças Armadas, principalmente pelos milhares de garotos que todos os anos se alistam para o serviço obrigatório, a engenharia militar funciona como uma grande empreiteira. É essa "geração PlayStation", como define o major Marcelo Souza Lima, comandante do batalhão que atua na cidade de Goiana (PE), que está operando máquinas de escavação e terraplanagem, rolos compressores, tratores e caminhões em algumas das principais obras do país.
Até meados de 2006, antes do lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o volume de obras concentradas na Diretoria de Obras de Cooperação (DOC) do Exército era pequeno, não atingia uma dúzia de projetos, todos de pequeno porte. Hoje a divisão atua em trechos de mais de 30 obras de alto calibre, passando por rodovias, refinarias e aeroportos.
O resultado dessa operação é a chegada, todos os anos, de 2,6 mil garotos de 19 anos de idade ao mercado do trabalho, levando debaixo do braço um currículo com cursos básicos de construção civil. Nas obras, o trabalho dos soldados não se limita ao volante. Como há muito serviço de pedreiro que também precisa ser feito, na hora da necessidade ninguém fica de fora. "Aqui no quartel temos até hacker que colocamos para trabalhar na obra. Quando fazemos mutirão em dias de domingo, todo mundo pega no pesado. Cozinheiro, pessoal do almoxarifado, do escritório, todos têm que ajudar na obra", diz o major Lima. "Sei que isso seria impossível em uma empresa privada, onde cada um só cumpre sua função, mas aqui eles são soldados, sabem que estão servindo o Exército."
Na rotina das obras, cabe também aos próprios comandantes trocarem os chapéu de militar pelo de engenheiro. Profissionais formados pelo Instituto de Engenharia Militar (IME) costumam dar assessoria técnica para as obras, mas no dia a dia, são os coronéis que estão na linha de frente.
Em Goiana, na BR 101, recrutas como Djalma Raimundo Gonçalves colocam a mão no rastelo todos os dias para espalhar o asfalto a 180 graus celsius que os caminhões despejam nas obras de duplicação da rodovia. O calor e o cheiro forte não incomodam o recruta. "Fui voluntário para servir o Exército e quero continuar aqui. Se eu for selecionado para continuar no batalhão, vai ser muito bom", diz Gonçalves.
Pelo regimento militar, quem é chamado para permanecer no Exército após vencer o primeiro ano de serviço obrigatório pode trabalhar por mais seis anos no quartel. No primeiro ano, o recruta recebe um salário de R$ 530 por mês, moradia, saúde e alimentação. Se é selecionado para encarar mais seis anos, passa a ganhar R$ 1 mil, mas não há pagamento por hora extra ou benefícios comuns da iniciativa privada, como o fundo de garantia.
Pode parecer um caminho pouco atraente para jovens que vivem nas capitais mais ricas do país, diz o coronel Osmar Nunes, adjunto do centro de operações do primeiro grupamento de engenharia de construção, mas no interior dos Estados do Norte e Nordeste essas vagas militares são disputadas pelos garotos. "Hoje não temos problemas com a quantidade de voluntários. Pelo contrário, é preciso selecionar entre todos os que querem servir", comenta o coronel Nunes. "Para muitos desses garotos, isso aqui é o trampolim para aprender alguma coisa e depois ir para a iniciativa privada, que paga o triplo ou mais."
A execução de obras de construção civil pela divisão de engenharia do Exército data da época do Império. A lei que determinou que o batalhão entrasse nas construções de estradas de ferro, linhas telegráficas e outras obras de infraestrutura é de 1880. Passados 131 anos, sua finalidade continua a ser a mesma, diz o general Jorge Ernesto Pinto Fraxe, diretor da divisão de obras. "Nunca tivemos função de mercado ou de competição com a iniciativa privada, somos um aparelho do Estado que precisa adestrar [treinar] seu contingente", afirma.
O Exército não recebe dinheiro pelas obras que executa. O salário de todos os militares que atuam nas obras, do recruta ao general, já é pago pela União. Dessa forma, o orçamento da obra é destinado à aquisição de materiais de construção, máquinas e equipamentos. O ganho material das Forças Armadas, comenta o coronel Osmar Nunes, ocorre com o reaparelhamento da divisão, que passa a incluir em seu patrimônio as máquinas compradas durante as obras, para depois usá-las em outras operações. "O Exército não tem lucro. Seu ganho é absorver tecnologia, formar o soldado e cumprir a função social de devolver um cidadão treinado para vida civil", diz Nunes.
Na semana passada, em Cabrobó, o recruta Almir Soares Paé e muitos de seus amigos passaram pela peneira do Exército após um ano de trabalho. O garoto que se destacou no comando da motoniveladora queria permanecer no quartel. Não deu. Dos 200 soldados que trabalhavam na transposição, só 40 permaneceram. Outros 160 vão chegar. "Infelizmente são pouquíssimas as vagas e temos de escolher soldados para todo tipo de trabalho, de cozinheiro a motorista", justifica o coronel Marcelo Guedon. Depois de um ano no quartel, Paé diz que aprendeu a dirigir todo o tipo de máquina. Embora sair do Exército não fosse a sua vontade, já estava preparado para deixar o posto. "Vou trabalhar numa empresa, quero estudar educação física."


Setor privado atrai soldados com oferta de salário mais alto

De Cabrobó e Goiana (PE)

Sete anos é o tempo máximo que um soldado pode permanecer no Exército quando ingressa por meio do serviço obrigatório. O que tem ocorrido na divisão de engenharia militar, no entanto, é que poucos oficiais têm concluído esse ciclo. Antes disso, a maioria troca a farda pela iniciativa privada, atraída por melhores salários.
"Às vezes ouvimos algumas reclamações de que o Exército estaria tirando parte das obras do setor privado. A realidade é que essa mesma indústria vem aqui nos quartéis atrás de nossos soldados", diz o major Marcelo Souza Lima, comandante do destacamento em Goiana, município situado a 70 km de Recife.
Com apoio de instituições como Senai e Senat, os militares têm realizado cursos técnicos nos alojamentos. Quem faz os cursos como os de laboratorista e topografia recebe certificado no final. "O soldado se tornou um alvo cobiçado pela indústria da construção civil, principalmente depois dessa explosão de demanda em infraestrutura", afirma o coronel Osmar Nunes, adjunto do centro de operações do primeiro grupamento de engenharia de construção.
"Somos assediados o tempo todo, estamos brigando para segurar o soldado. Você investe quatro anos em um soldado, que se torna um excelente operador de máquina. Vem um engenheiro de empresa aqui e leva na hora, não temos como segurar", conta Nunes.
A saída dos garotos antes dos sete anos não é encarada exatamente como um problema. A decisão, segundo os militares, é vista como uma colaboração social. A consequência, no entanto, é o atraso nas obras assumidas pelas Forças Armadas. "É preciso considerar que esse aprendizado tem um custo adicional para nós. Quando um soldado sai, precisamos treinar outro do zero", afirma o tenente-coronel Marcelo Guedon, do batalhão de engenharia de Cabrobó.
As marcas do treinamento estão bem gravadas nas latarias de tratores, caminhões e motoniveladoras usadas nas obras. "É claro que nossas máquinas são bem mais amassadas que as de uma empresa privada, mas esse é outro custo que temos que absorver, afinal nosso garoto está aprendendo", diz Guedon.
Hoje, o Exército toca obras em oito aeroportos da Infraero, projetos que somam investimentos de R$ 169,3 milhões. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), que atualmente administra 1.080 contratos de obras no país, tem 12 contratos nas mãos dos militares. Dos R$ 41 bilhões de contratos relacionados a obras em estradas, o Exército executa R$ 1,1 bilhão, o que equivale a 2,5% do total.
Nas obras de transposição do rio São Francisco, onde os contratos administrados pelos militares somam cerca de R$ 300 milhões, a missão é entregar 2 km de canais, de um total de 402 km em construção no Eixo Norte, além de uma barragem. No Eixo Leste, os soldados trabalham em uma barragem e nos primeiros 6 km, dos 220 km que formarão o canal.
O preço final dessas obras chega a cair 20% em relação ao que seria cobrado pela iniciativa privada, uma vez que não há custo direto relacionado à mão de obra. A produtividade militar, no entanto, é bem menor que a de uma companhia da construção civil, o que não significa que haja espaço para improvisos.
Com o dedo apontando para uma tabela na parede, Lima detalha as especificações técnicas que são usadas na produção do asfalto. "Isso é a nossa bíblia, o soldado tem que seguir à risca o que está aqui. É o nome do Exército que está por trás dessas obras."
Entre os poucos soldados que trabalham há mais de quatro anos no quartel de Goiana, está Francisco Clailton dos Santos, de 23 anos. Operador de uma máquina vibroacabadora, com salário mensal de R$ 1 mil, ele conta que está guardando dinheiro para se casar. A mulher mora no Piauí. Santos gosta de sua rotina, mas não esconde o interesse em ir para a iniciativa privada. "Ainda não recebi o convite de uma empresa, mas tenho vários amigos que já foram. Logo devo sair também", diz.
No mesmo batalhão, Elievelto Edmar da Silva, chefe de obras em campo, conta que está nos últimos dias de sua missão militar. Ele, que completou 25 anos, se especializou na coordenação de máquinas pesadas. "Lá fora estão pagando R$ 3 mil para um chefe de obras", diz Silva. "Chegou minha hora de sair." (AB)


Petrobras e militares se unem em pesquisas

De Brasília

A Petrobras firmou um convênio com o Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio de Janeiro, para implantação de um laboratório que estudará motores dedicados ao desenvolvimento de combustíveis. O projeto encontra-se em fase de especificação de equipamentos. Outra iniciativa de pesquisa entre a empresa e as Forças Armadas envolverá estudos sobre solos e recuperação de rodovias. "A Petrobras entrou com a montagem do laboratório, enquanto o IME entrou com a massa crítica de engenheiros", afirma o general Jorge Ernesto Pinto Fraxe, diretor de Obras de Cooperação do Exército.
O IME é hoje o sistema nervoso que alimenta as obras tocadas pelo Exército, que, em todas as áreas, conta com um time de 600 engenheiros. Na duplicação da BR-101, por exemplo, no trecho de Goiana (PE), soldados estão usando grandes blocos de isopor para reduzir o peso da rodovia em trajetos de brejo, onde a sedimentação não é firme. A tecnologia - já utilizada nos EUA e Japão, com experiências pontuais no Brasil - foi o caminho mais viável encontrado pelos engenheiros para executar a obra.
A parceria com a Petrobras não se limita à colaborações científicas. Hoje, um batalhão de cem soldados trabalha em obras de terraplenagem para expansão da refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus. O convênio com o Departamento de Engenharia e Construção (DEC) teve início em setembro do ano passado, com término previsto para outubro deste ano.
Por meio de nota, a Petrobras informou que a ação militar inclui a retirada de vegetação, terraplenagem, drenagem, cercamento de área e construção de guarita de vigilância. "A execução desse objeto já atingiu 89% de avanço físico, apresentando, no atual momento baixa produtividade em virtude das chuvas sazonais características do período (de dezembro a maio) nessa região da Amazônia", informou a empresa. Segundo a Petrobras, há a expectativa da assinatura de um segundo convênio para a construção de uma "Vila de Empreiteiras", nos moldes de um acampamento militar, para suporte logístico das obras de modernização da Reman. (AB)


POLÍTICA
Entendimentos diversos criam tetos salariais diferentes em cada Poder

Ribamar Oliveira | De Brasília

A Constituição diz que nenhum servidor público pode ganhar mais do que o subsídio de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), que hoje está fixado em R$ 26.723,13. Mas como esse dispositivo constitucional nunca foi regulamentado, cada um dos três Poderes possui um entendimento diferente sobre o que entra e o que não entra nesse limite e, assim, o teto remuneratório, na prática, não existe. As regras adotadas atualmente mostram que é possível ganhar mais que o teto no Executivo, no Judiciário e no Legislativo. O entendimento do Executivo sobre o limite é, no entanto, mais rigoroso que o dos outros dois Poderes.
Desde o dia 1º de fevereiro deste ano, a presidente da República, o vice-presidente e os ministros de Estado passaram a receber uma remuneração mensal idêntica ao valor do subsídio de ministro do STF. Este teto pode ser ultrapassado pelos ministros que participam de conselhos de administração ou fiscal de empresas públicas ou sociedades de economia mista. Essas participações são remuneradas e, no passado recente, eram utilizadas para complementar os salários de ministros e outros altos funcionários do Executivo, que eram bem inferiores ao teto de ministro do Supremo.
Essa realidade salarial mudou, mas a remuneração por participação em conselhos de administração ou fiscal de empresas públicas ou sociedades de economia mista continua não sendo considerada no cálculo do limite remuneratório. Alguns ministros participam em conselhos de mais de uma estatal e, desta forma, a remuneração mensal deles fica bem acima do teto de R$ 26,7 mil.
Além de ministros, outros servidores graduados do Executivo também participam de conselhos de administração e fiscal de estatais e, desta forma, podem ultrapassar o teto. Esta é, no entanto, a única exceção pois as demais verbas não consideradas no cálculo do limite pelo Executivo são de natureza indenizatória, como diárias, ajuda de custo, auxílio alimentação e outras como adicional noturno, adicional de insalubridade e periculosidade, de acordo com a Secretaria de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento.
Se um servidor do Executivo ocupar um cargo de confiança, a soma da gratificação recebida e o seu salário não poderá ultrapassar o teto. A redução do valor da remuneração que ultrapassa o limite é automática e conhecida no serviço público como "abate teto". A gratificação recebida pelo exercício de função comissionada entra, portanto, no cálculo do teto feito pelo Executivo. O Judiciário tem o mesmo entendimento, o que não é o caso do Legislativo.
Na Câmara dos Deputados e no Senado, a soma da gratificação por exercício de função comissionada e o salário do servidor pode ultrapassar os R$ 26,7 mil do subsídio do ministro do STF. Ou seja, a gratificação pela função comissionada não é considerada no cálculo do limite.
No Judiciário, o teto pode ser ultrapassado pelo próprio ministro do Supremo que estiver no exercício de função no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pela qual ele recebe uma gratificação. Essa é a chamada gratificação pelo exercício da função eleitoral, que não é computada no cálculo do limite remuneratório. Também não é computada no limite a remuneração de magistério por hora-aula proferida pelos magistrados em universidades públicas.
Outra diferença importante diz respeito aos aposentados. Se o servidor aposentado voltar à ativa e ocupar um cargo comissionado no Executivo, a soma dos proventos da aposentadoria e a nova gratificação não poderá ultrapassar o teto. Mesmo se ele for servidor aposentado de outro Poder, como explicou o secretário de Recursos Humanos, Duvanier Paiva Ferreira.
"O servidor que assumir um cargo em comissão precisa declarar se tem outra fonte de renda", observou Paiva Ferreira. "Se ele não declarar, as auditorias que fazemos terminarão identificando a situação, pois elas realizam o cruzamentos com outras fontes de informação", informou.
Esse não é o entendimento que existe no Judiciário e no Legislativo. Um servidor público aposentado pode, por exemplo, fazer um concurso para juiz. A sua remuneração no exercício do cargo de magistrado não será somada aos proventos da aposentadoria para o cálculo do teto, de acordo com explicação obtida pelo Valor no Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A aplicação do limite remuneratório no Judiciário é regulada justamente pelas resoluções 13 e 14 do CNJ, de março de 2006.
Em 2007, o Supremo Tribunal Federal concedeu uma liminar à ação direta de inconstitucionalidade (Adin) 3854, que questionou o subteto para os membros da magistratura estadual. A liminar suspendeu dois dispositivos das resoluções do CNJ que regulavam o teto da magistratura estadual e dos servidores dos Tribunais de Justiça. Não houve até agora decisão de mérito do STF nesta questão.
No Legislativo, o entendimento é que se um servidor aposentado do Senado ou da Câmara retornar à ativa e exercer, por exemplo, uma função comissionada, a soma da gratificação e os proventos da aposentadoria pode ultrapassar o teto.
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) quer regulamentar o inciso XI do artigo 37 da Constituição, que prevê o teto, por entender que a falta de uma definição sobre o que entra e o que não entra no limite remuneratório do servidor torna impossível colocar em prática o dispositivo constitucional. "Hoje, o teto não existe", sentenciou em entrevista ao Valor. Ela apresentou um projeto de lei que define, de forma clara, quais são as parcelas da remuneração que devem ser incluídas no teto e os procedimentos que os órgãos públicos devem adotar para tornar o limite remuneratório efetivo. "Espero que o projeto provoque uma discussão sobre o teto nos Estados e municípios, onde também essa questão não foi regulamentada", observou.


EUA
Corte vai atingir indústria bélica

Roxana Tiron | Bloomberg Businessweek

Nas últimas audiências no Congresso, o secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, enviou uma mensagem forte à indústria bélica: a era dos orçamentos ultragenerosos do Pentágono está prestes a acabar. A última lembrança da nova austeridade do Pentágono veio o almirante Michael G. Mullen, chefe do Estado-Maior conjunto, que advertiu em 17 de fevereiro que a dívida é a "maior ameaça à nossa segurança nacional".
Após uma década de aumentos recordes de gastos com defesa, impulsionados pelas operações no Iraque e no Afeganistão, a indústria bélica deve agora lidar com o zelo do corte orçamentário por parte de Gates, dos democratas liberais e dos conservadores republicanos, todos à procura de maneiras para cortar déficits. As empresas "deveriam estar preocupadas", diz Michael H. Herson, presidente da American Defense International, empresa de consultoria e lobby. "Elas precisam se adaptar às mudanças que estão chegando."
Gates, que anunciou que vai deixar o cargo este ano, tem como alvo US$ 78 bilhões em cortes até 2016 para reduzir o déficit e um adicional de US$ 100 bilhões em economia com a melhoria da eficiência. O secretário da Defesa já havia anunciado o cancelamento alguns contratos de alto peso, incluindo do veículo anfíbio que a General Dynamics (GD) estava desenvolvendo para os fuzileiros navais, os mísseis da Raytheon (RTN) para o Exército e o sistema de defesa antiaérea desenvolvido pelo Lockheed Martin (LMT) para a Otan.
O plano de defesa de US$ 703 bilhões da administração Obama para 2012 é um alvo atraente, enquanto o Congresso inicia um debate sobre o que cortar. O plano de defesa, ajustado pela inflação, é 23% maior do que o que o Pentágono recebeu em 1985, o auge da era de altos gastos militares do governo Reagan. Nos anos seguintes, a defesa viu anos de corte de orçamento sob os presidentes George H. Bush e Bill Clinton, que colheram dividendos da paz com o final da Guerra Fria. Uma contração semelhante pode estar chegando, diz Herson, cujos clientes incluem a General Dynamics, Raytheon e United Technologies (UTX).
Um bom exemplo veio no dia 16, quando a Câmara dos Deputados, incluindo mais da metade dos 87 novos deputados republicanos, votou para cortar US$ 450 milhões de orçamento deste ano para um motor alternativo de caça que a General Electric (GE) e a Rolls-Royce são em desenvolvimento. A GE informou em outubro que tinha gasto US$ 8,2 milhões desde meados de 2009 para fazer lobby no Congresso para financiar o motor. O motivo alegado: cerca de 2,5 mil postos de trabalho estão ligados ao desenvolvimento do motor.
No entanto, mesmo a ameaça de perdas de emprego não poderia salvar o programa na Câmara. O Senado ainda pode resgatá-lo, mas é improvável. Robert Stallard, analista da RBC Capital Markets, em Nova York, diz que "os políticos podem apoiar cortes na defesa e não temer por seus empregos".
O déficit não é a única ameaça à indústria bélica. No ano passado, o comprador-chefe de armas do Pentágono, Ashton Carter, anunciou que seu gabinete iria buscar contratos de preço fixo para substituir os chamados acordos de custo acrescido, que cobrem todas as despesas e pagam uma taxa extra de incentivo, mesmo para programas problemáticos. Sob o novo acordo, o Pentágono e as partes contratantes terão de dividir os custos imprevistos. As empresas teriam um incentivo para entregar armas abaixo do preço acordado, apesar de tais negócios também poderem "acabar com o lucro" ou causar uma perda, diz Todd Harrison, um analista do Centro para Avaliação Estratégica e Orçamentária. Isso é um conceito novo para muitos fabricantes de armas.



CONTABILIDADE
Varejistas e aéreas resistem a informar leasing

Adam Jones | Financial Times, de Londres

Os planos para forçar as empresas a serem mais transparentes sobre as obrigações de arrendamento mercantil (leasing) estão entre os mais controversos no projeto para convergir as normas contábeis dos EUA com as utilizadas na Europa e em alguns outros países.
A proposta que mais operações de leasing sejam colocadas no balanço poderia inflar ativos e passivos de algumas empresas, potencialmente colocando em risco cláusulas de acordos de empréstimo.
Os varejistas e companhias aéreas são particularmente hostis à contabilização de suas lojas e aeronaves arrendadas dessa forma.
A New Look, uma loja de roupas britânica, diz que "serão necessários mais investimentos para atualizar os arranjos financeiros e a documentação legal de financiamento, a fim de manter os limites acordados".
A Marks and Spencer, também do Reino Unido, nega que os acordos de leasing do jeito que estão são uma maneira de esconder dívidas, argumentando que muitas vezes é impossível comprar as lojas em que atua.
A Coach, uma fabricante de bolsas americana, argumenta que os investidores já têm informações suficientes a partir de divulgações de arrendamento atual. A Iata, que representa a indústria aérea, rejeita os planos de mudança, afirmando que são demasiado complexos, caros e pouco práticos.
Os reguladores não foram surpreendidos por essa oposição às suas argumentações de que o sistema de leasings operacional e financeiro deva ser substituído com apenas um modelo de contabilidade. Eles dizem que os arrendamentos operacionais disfarçam a alavancagem de uma empresa porque as obrigações subjacentes perpassam pela demonstração de resultados como uma série de despesas com aluguel ao invés de ser capitalizadas em uma conta com visibilidade.
Sempre ficou claro que as indústrias iriam reclamar da divulgação do balanço completo defendida pelo Fasb, que faz as regras americanas, e pelo Iasb, das normas internacionais. Mas as empresas dissidentes têm o apoio de um aliado menos óbvio: o homem dos impostos no Reino Unido.
A HM Revenue & Customs diz que as mudanças significam que "muito da legislação tributária atual sobre leasing deixará de funcionar como previsto, ou toda ela". Embora imperfeito, o sistema atual é "bem compreendido e profundamente enraizado na cultura de negócios", acrescenta.
Profundamente enraizada não significa, porém, inatacável. Parece improvável que os reguladores irão comprometer o objetivo principal dos seus planos. Arrendamentos operacionais estão marchando em direção ao balanço.
No entanto, enquanto os reguladores trabalhar para ultimar as regras, tem havido sinais de que estão suavizando sua posição em questões secundárias. Algumas variáveis que iriam desaguar na avaliação financeira dos leasings poderão ser simplificadas, enquanto arrendamentos que puderem ser caracterizados como contratos de serviços poderão ser dispensados.
Curiosamente, tendo lutado pelo princípio de um modelo único para todos os arrendamentos, os reguladores parecem dispostos a inaugurar um sistema parcial de duas camada. Deliberações na semana retrasada levaram a um reconhecimento provisório de que, quando se trata de contabilização de lucros e perdas, algo parecido com o antigo modelo não é tão ruim.
Essa inconsistência intelectual não deve atrapalhar uma reforma mais ampla. Mas certamente vai provocar mais críticas dos diretores financeiros que se preparam para tirar das sombras bilhões de libras de ativos e passivos.


PETRÓLEO
Petrobras continuará busca por recursos para investimentos

Juliana Ennes e Rafael Rosas, | De São Paulo

A Petrobras continuará captando recursos no mercado, apesar do confortável nível de alavancagem atual. A afirmação foi feita na sexta-feira pelo diretor financeiro e de relações com investidores da empresa, Almir Barbassa, durante o anúncio do resultado da companhia em 2010, que foi um lucro líquido de R$ 35,2 bilhões, com crescimento de 17,1% frente aos R$ 30,0 bilhões de 2009. Apenas no quarto trimestre, o lucro foi de R$ 10,60 bilhões, 38,4% superior aos R$ 7,66 bilhões obtidos no mesmo período do ano anterior.
A companhia precisa do dinheiro para concretizar o expressivo plano de investimentos de US$ 224 bilhões até 2014. Barbassa reafirmou a intenção de captar mais US$ 17 bilhões "em dinheiro novo" até 2014. O plano de investimentos da Petrobras prevê ainda a necessidade de renegociação de dívidas no valor de US$ 29 bilhões. Em 2010, os investimentos da companhia somaram R$ 76,41 bilhões, 7,99% a mais do que no ano anterior.
A Petrobras fechou 2010 com caixa de R$ 30,32 bilhões, em decorrência do processo de capitalização ocorrido em setembro. Além desse valor, R$ 25,52 bilhões estão registrados em títulos públicos federais com vencimento superior a 90 dias. Com isso, a disponibilidade de recursos chega a R$ 55,85 bilhões, contra R$ 29,03 bilhões no fim de 2009. Assim, o nível de alavancagem caiu de 31% para o "patamar confortável" de 17%, enquanto o limite máximo estabelecido pela companhia é de 35%.
Segundo o balanço da companhia, a receita de vendas em 12 meses somou R$ 213,27 bilhões, 16,7% maior que em 2009. No trimestre, a receita cresceu 14,3%, para R$ 54,49 bilhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) foi de R$ 60,32 bilhões no ano, com alta de 1,4%, e atingiu R$ 14,58 bilhões no trimestre, aumento de 1,9%.
A maior parte do resultado da Petrobras no ano passado foi garantida pelo setor de exploração e produção (E&P), que viu os ganhos subirem 54%, para R$ 29,69 bilhões. Esse crescimento foi impulsionado pela alta de 38% no valor em dólar do barril de óleo e do aumento de 2% na produção diária de óleo e líquido de gás natural.
A estatal também ressaltou que houve redução das perdas e contingências com processos judiciais e queda dos custos exploratórios. Segundo a companhia, parte desses efeitos foi compensada por maiores custos com participações governamentais e pelas despesas com o encerramento do projeto estruturado Barracuda e Caratinga, com custo de R$ 486 milhões.
O setor de abastecimento da Petrobras registrou forte queda no lucro em 2010. O resultado do segmento passou de R$ 13,52 bilhões para R$ 3,72 bilhões, um recuo de 72%. A queda decorreu do aumento de custos de petróleo e importação de derivados e foi parcialmente compensada pelo crescimento do volume de derivados vendidos no mercado interno. Outra compensação veio do maior valor obtido pelas exportações e pelos derivados indexados aos preços internacionais, como o querosene de aviação.


EMPRESAS
Delta manda seus agentes de volta à sala de aula

Scott McCartney | The Wall Street Journal, de Atlanta

Quando um passageiro está frustrado, tudo o que é preciso é um agente de companhia aérea mal-humorado para abalar a reputação de toda a empresa.
Por isso, depois de um ano particularmente ruim em termos de serviço ao consumidor EM 2010, a Delta Air Lines está mandando 11.000 agentes de volta à sala de aula. Todo agente e supervisor do balcão de check-in, do portão de embarque e da área de bagagem está passando por novos treinamentos. A Delta espera com isso rejuvenescer seu serviço ao consumidor depois de sua fusão com a Northwest Airlines e uma temporada de muitos voos cancelados que deixaram passageiros a ver navios.
"Ninguém aqui deseja ser aquilo que fomos no ano passado", disse o vice-presidente-executivo da Delta, Glen Hauenstein.
De fato, a Delta recebeu, entre as principais companhias aéreas americanas, a taxa mais alta de queixas de clientes levadas ao Departamento de Transporte dos Estados Unidos nos primeiros nove meses do ano passado, e foi a penúltima em pontualidade e manuseio de bagagens. A Delta também teve a taxa mais alta de voos cancelados dentre as maiores empresas aéreas em 2010, segundo o site FlightStats.com.
As aulas de atendimento ao consumidor, parte de um plano de melhorias de US$ 2 bilhões da empresa aérea, são o primeiro treinamento recorrente dedicado exclusivamente ao serviço ao cliente que a Delta faz em dez anos, disse um porta-voz.
É claro que a iniciativa vai além dos agentes. Funcionários da Delta dizem que com muita frequência no ano passado os voos foram cancelados porque os aviões não foram consertados rápido o bastante, devido à escassez de peças e trabalhadores. Os aeroportos, também, estavam com escassez de pessoal. A empresa informou que está agora contratando 1.000 trabalhadores adicionais, aumentando o estoque de peças e aviões de reposição. Tudo isso deve deixar os trabalhadores em condições de oferecer um serviço melhor.
As sessões de treinamento, de um dia inteiro, concentram-se em queixas que apareceram em pesquisas que a Delta vem fazendo com clientes. Um tema recorrente, informa a empresa aos agentes, é que os clientes escrevem para a companhia aérea dizendo que "ninguém deu a mínima nem pediu desculpas" quando algo errado aconteceu. Outro foco do treinamento é garantir que os agentes se esforcem mais para atender os "clientes de alto valor", geralmente passageiros que voam muitas vezes e recebem o status de "elite" no programa de milhagem. Cerca de 26% do faturamento da empresa vem de um pequeno porcentual de passageiros, informa a empresa aos funcionários.
Numa sessão de treinamento recente, no museu da Delta na sede da empresa em Atlanta, agentes de atendimento ao consumidor no aeroporto encenavam cenários como lidar com passageiros que perderam a bagagem com remédios cruciais, passageiros que chegaram tarde e provavelmente perderão seu voo e clientes que ficam irritados quando descobrem que precisam pagar taxa extra pelas malas.
As aulas se resumem a encontrar maneiras de atender os clientes, em vez de se livrar deles, e se esforçar mais para sorrir e ser mais agradecido pelos dólares que eles gastam com viagens. O que o treinamento não ensina é a distribuir recompensas ou alterar as regras para resolver uma reclamação. Os viajantes podem continuar não gostando das regras, mas talvez recebem a notícia ruim com um sorriso.
Não atribuam mais a culpa das taxas de bagagem à alta do petróleo, escutam os agentes. E nunca peçam desculpa por taxas de bagagem quando o cliente reclamar. Diga que é um programa "à la carte", em que o cliente paga somente pelo que utiliza.
"Essa é uma maneira melhor de levar essa conversa", disse Michael Hazelton, um agente da Delta que trabalha como facilitador para o programa de treinamento. "Você pode pensar que está ficando mais próximo do cliente ao aceitar que a taxa é horrível, mas o cliente pensa: 'essa pessoa acaba de detonar a própria empresa'. "
"Muitos funcionários, no dia-a-dia do serviço, perdem seu foco, sua clareza", disse Mike Raine, que está há 27 anos na Delta. "Estamos meio que reagrupando."
FONTE: VALOR ECONÔMICO

Nenhum comentário:

Postar um comentário