Pesquisar

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

16 de fevereiro de 2011 - JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Dilma e Obama assinarão tratados de cooperação

Dilma Rousseff e Barack Obama vão assinar um tratado de cooperação econômica e comercial durante a visita do presidente americano ao Brasil, no próximo mês de março, informa Patrícia Campos Mello. O acordo criará mecanismos contra obstáculos que dificultam os negócios entre os dois países.


ORÇAMENTO 2011
Governo corta R$ 4 bilhões do Orçamento da Defesa
Valor representa 26,5% das verbas disponíveis para investimento e custeio
Jobim evita reclamar da medida e pode reduzir total de convocados ao serviço militar; caso dos caças segue sem decisão

MÁRIO SÉRGIO LIMA
DE BRASÍLIA



O Ministério da Defesa terá de cortar em mais de um quarto as despesas com investimentos e custeio neste ano, informou ontem a pasta, após reunião do ministro Nelson Jobim com Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento).
A contribuição da Defesa para a "consolidação fiscal" defendida pela equipe econômica será de uma redução de gastos de R$ 4 bilhões, ou 26,5% do total disponível para investimento e custeio.
Ao todo, o Orçamento da União será cortado em R$ 50 bilhões neste ano para reduzir a pressão inflacionária.
O Ministério da Defesa é responsável pelo quarto maior orçamento da Esplanada, atrás apenas das pastas de Previdência Social, Saúde e Educação. Para este ano, a previsão era que a pasta gastasse R$ 60,2 bilhões.

SERVIÇO MILITAR
Na saída do encontro, Jobim evitou reclamar do corte. Ele disse que o contingente de convocados para o serviço militar obrigatório pode ser reduzido como parte do ajuste de gastos. Em média, são chamados 70 mil por ano.
"A gente não pode achar coisa alguma [sobre o corte].
Tem de entender as condições econômicas", disse.
O ministro fez questão de afirmar que as Forças Armadas terão de se adequar à nova realidade, embora não tenha definido ainda quais serão os projetos e despesas que terão de ser cortados.
"Evidentemente, o que eu vou fazer, após serem estabelecidos quais são os cortes, analisar eventuais negociações que possam ser feitas, de prorrogações de prazos de pagamento de alguns contratos e depois estabelecer quais são as consequências."
"Depois de saírem os números consolidados, eu vou chamar as Forças Armadas e distribuir esses valores entre elas. E vou baixar numa portaria determinando o que terá de ser suspenso ou paralisado", explicou Jobim. Do orçamento total da Defesa, a grande maioria (R$ 44,3 bilhões) refere-se a gastos com pessoal e pensões, que não podem ser cortados.
Dos R$ 15,1 bilhões que correspondem a investimentos e a despesas de custeio, o ministério informa que R$ 4,8 bilhões não podem ser bloqueados por cobrirem despesas obrigatórias, como o controle do tráfego aéreo.
No final do dia, Jobim passou três horas reunido com Dilma. Segundo assessores, ele apresentou uma metodologia que será aplicada para fazer os cortes. O estudo foi preparado pelo ministério.
O ministro decidiu cancelar a viagem que faria nos próximos dias ao Reino Unido e Suécia para concluir o corte no orçamento da pasta.
Colaborou ANA FLOR, de Brasília
VENDAS DE ÁLCOOL COMBUSTÍVEL
Preço alto reduz venda de álcool após 7 anos
Na contramão, comercialização de gasolina sobe 17,5% em 2010, diz ANP
Após queda em 2009, consumo de diesel tem alta de 11,5% no ano passado, puxado pela retomada econômica

CIRILO JUNIOR - DO RIO

As vendas de álcool combustível tiveram a primeira retração desde 2003, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo). Em 2010, foram comercializados 15 bilhões de litros de álcool hidratado - o chamado álcool puro, que não é adicionado à gasolina. Isso representou queda de 8,5% ante o resultado obtido no ano anterior. Em 2009, o consumo de álcool tinha chegado a 16,4 bilhões, maior patamar já verificado, superando em 16,5% o volume de 2008. A concorrência do açúcar foi determinante para o resultado. Com a quebra da safra na Índia, um dos principais produtores, o açúcar teve grande valorização no mercado internacional, o que levou o setor canavieiro brasileiro a privilegiar sua fabricação em detrimento do álcool. Com a menor oferta de álcool no mercado, o preço subiu. Segundo a ANP, em dezembro de 2010, o preço médio do litro de álcool era de R$ 1,804. Um ano antes, não passava de R$ 1,723.
Como a maior parte da frota é de carros flex fuel, as vendas de gasolina automaticamente subiram e tiveram expansão de 17,5%. O mercado total de combustíveis cresceu 8,4% em 2010. O volume comercializado totalizou recorde de 117,9 bilhões de litros. Em 2011, espera-se um avanço de 7% do mercado, estimou Allan Kardec Duailibe, diretor da ANP.

CONSUMO DE DIESEL
A expansão foi determinada pela retomada econômica, que provocou um salto significativo nas vendas de óleo diesel. O combustível, que move caminhões e boa parte da indústria, teve vendas totais de 49,2 bilhões de litros, alta de 11,2% ante ao ano anterior. Em 2009, com a crise, as vendas de óleo diesel haviam caído 1% ante o ano anterior. Já a comercialização de QAV (querosene de aviação) apresentou incremento de 15,1%, por causa do maior movimento no mercado de aviação.


ONDAS DE REVOLTAS
"Exército preocupa", afirma ElBaradei
Em entrevista à Folha, Nobel da Paz e líder oposicionista egípcio defende prazo de um ano até novas eleições
Ex-chefe nuclear da ONU atribui revolta a jovens internautas e critica governo do Brasil por apoio a ditaduras

MARCELO NINIO - ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Considerado por muitos como um dos pais da revolução que derrubou o ditador Hosni Mubarak, o Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, 68, está apreensivo com a transição em andamento no país. Em entrevista à Folha no escritório de sua ampla casa num condomínio de luxo na periferia do Cairo, ElBaradei disse que os sinais emitidos pela junta militar que assumiu o governo do Egito não são tranquilizadores. Ele criticou o Brasil pela política de não criticar ditaduras como a de Mubarak em nome da não intervenção e da solidariedade com países em desenvolvimento.

Folha - Na última quinta-feira, depois que Mubarak disse que não renunciaria, o sr. alertou que o Egito iria "explodir". Horas depois, ele deixou o poder. O que levou a uma mudança tão rápida?
Mohamed ElBaradei - Ele tentou de tudo para ficar no poder. Mas a saída de Mubarak virou uma obsessão para os egípcios. Quando o Egito inteiro estava nas ruas na sexta, escrevi no Twitter que o Exército deveria intervir, porque o país estava indo pelo ralo. Por sorte os militares assumiram o controle.

O Exército, base do regime, continua no poder. O regime caiu mesmo?
Esta ainda é uma questão inteiramente aberta, que me deixa apreensivo. Queríamos o Exército para salvar o país e evitar uma guerra civil, mas não como ponte entre a ditadura e a democracia. As medidas que poderiam restaurar a credibilidade imediatamente são a revogação da lei de emergência, a liberdade para estabelecer partidos e a libertação dos prisioneiros políticos. A esta altura, no mínimo deveríamos ter um governo compartilhado entre militares e civis. Ouvir que o Exército governará o país sozinho nos próximos meses, sem Constituição e sem Parlamento, não é tranquilizador.

O período de transição deveria ser mais longo?
Acho que precisamos de no mínimo um ano para dar às pessoas o direito de estabelecer partidos, de se engajar. O pior é que ainda estamos com o governo Mubarak e a junta não se comunica com o povo.

Houve um encontro de generais com jovens líderes, isso não é um bom começo?
Os jovens deflagraram a revolução, mas administrá-la é algo diferente. Se os militares reduzirem o processo aos jovens, estarão abortando a revolução. Percebi a mesma apreensão em muitas pessoas. Como se o comando militar fosse uma reencarnação do regime Mubarak. Decidimos hoje [ontem] enviar uma carta aos militares em nome de todas as forças políticas do Egito expondo as nossas demandas.

O sr. será candidato à Presidência?
Minha intenção é ajudar a colocar o Egito no caminho da democracia. Não estou procurando um cargo público. Gostaria de ver uma mudança de geração, alguém de 40 ou 50 anos na Presidência. A minha geração, que viveu 60 anos sob ditadura, fracassou em mover o país para a frente. Se houver um consenso de que sou necessário para conduzir o país, não desapontarei.

Os problemas do Egito são antigos. Por que a revolução só aconteceu agora ?
Era como uma bomba prestes a explodir. A Tunísia foi uma mensagem psicológica fantástica de que, parafraseando Barack Obama, "yes we can" (sim, nós podemos). Nem os organizadores dos protestos de 25 de janeiro sabiam se haveria 5.000, 100 mil ou 200 mil pessoas nas ruas. Havia muitas adesões no Facebook e na internet, mas ninguém sabia. O governo ironizava, dizendo que era um movimento virtual. A revolução não teria sido possível sem os meios de comunicação modernos.

Muitos afirmam que o sr. está desconectado do Egito após viver tantos anos no exterior. Acha que isso pode enfraquecê-lo como líder?
Não estou num concurso de popularidade. Este é um país em que 30% das pessoas não sabem ler e escrever, em que a mídia é controlada pelo governo e em que todos os dias a população sofre lavagem cerebral. Queremos democracia, para que as pessoas pensem por si próprias.

Como vê os temores de que a Irmandade Muçulmana tem planos de transformar o país numa teocracia?
Mubarak espalhou essa ficção, de que depois dele viria o caos. É um grupo religioso conservador, mas não acho que eles estejam interessados em tomar o poder. E, mesmo se quiserem, terão que fazer isso nos parâmetros da nova Constituição.

O Brasil errou nos últimos anos ao se aproximar de ditaduras como a de Mubarak em nome da solidariedade de país em desenvolvimento?
Eu gostaria que Brasil, África do Sul, Índia e outros tivessem falado mais alto que o Egito, apesar de também ser um país em desenvolvimento, não tem o direito de torturar seu povo e privá-lo de liberdade política. Governos como o do Brasil têm que entender que perderão credibilidade se não defenderem esses valores universais.

O sr. se arrisca a dizer qual a próxima peça do dominó a cair no mundo árabe?
Não. Cada país tem sua própria dinâmica. Se o Egito se tornar um Estado democrático moderado, não vejo como outros poderão continuar a defender suas políticas opressivas.
Colaborou SAMY ADGHIRNI


EDITORIAL
O futuro do Egito

Depois da revolta que livrou o país da ditadura de 30 anos de Mubarak, resta saber se haverá tutela dos militares ou autêntica democracia

Passada a euforia inicial pelos protestos que em 18 dias derrubaram uma ditadura de 30 anos, é de perguntar se o Egito está a caminho do regime democrático. A junta militar que assumiu na última sexta-feira está longe de ser um grupo pró-democracia. Os oficiais ascenderam todos à sombra do ditador Hosni Mubarak e têm interesse em manter o status quo adquirido desde que os militares chegaram ao poder, há 58 anos, com a queda do rei Farouk. Os generais, no entanto, parecem intuir que não será possível utilizar a velha estratégia de mudar tudo para que tudo permaneça como antes. Diante de um quadro de revolta popular renitente, apresentaram propostas auspiciosas, embora genéricas e pendentes de confirmação prática. Prometem escrever emendas à Constituição em dez dias e submetê-las a um referendo popular em até dois meses. Também se comprometem a realizar eleições livres em um prazo de seis meses para a transferência de poder.
Os jovens opositores que lideraram a revolta, após encontro com a junta no domingo, deram sinais favoráveis. A comissão para reformar a Carta é "conhecida pela integridade", escreveu Wael Ghonim, o executivo do Google que cristalizou a face digital do movimento, depois de passar 12 dias preso por participar da organização de manifestações. Parece certo, porém, que os militares, apesar do papel relevante que tiveram no episódio, não pretendem perder a força e o prestígio de que desfrutam na sociedade egípcia. Alguns observadores temem que as Forças Armadas egípcias levantem objeções à liberdade de organização partidária e à ascensão de um governo civil livre de tutela. Ainda é cedo para saber que rumo seguirá a revolta de massa mais importante do século até o momento. Seus reflexos continuam a ser sentidos em todo o mundo árabe e no Oriente Médio, e é impossível saber quais regimes conseguirão se manter e quais cairão em decorrência dos protestos. Na Tunísia, onde tudo começou há um mês com a chamada Revolução de Jasmim, o vácuo de poder resultou numa onda emigratória que levou a Itália a decretar estado de emergência. A situação ainda é caótica. O frágil governo provisório lida com greves e protestos diários, além da ausência do poder público -até mesmo da polícia- em partes do país. O papel de lideranças islâmicas na sociedade, até então relativamente "ocidentalizada", segue incerto.
Embora o exemplo tunisiano deva ser levado em conta, o Egito é uma sociedade mais estruturada e complexa. Por sua função estratégia no precário equilíbrio da região, atrai as atenções das principais potências, como os EUA. Ao que parece, o processo, com maior ou menor entusiasmo militar, deverá desaguar na eleição de um novo governo. O que permanece como incógnita é se o mundo assistirá ao início de uma democracia estável e duradoura ou se a instabilidade ameaçará o país.


TODA MÍDIA

Brasil vai ao Oriente
Na BBC Brasil, de seu correspondente no Líbano, "Militares brasileiros chegam para comandar força naval da ONU". Na "CartaCapital", o contra-almirante Luiz Henrique Caroli qualificou a missão libanesa de "delicada" e um desafio "tremendo", dada a "área conturbada que é o Oriente Médio". O objetivo, diz ele, é "contribuir com a paz e a segurança" e também "dar projeção ao Brasil, que aspira a ser ator global". Pouco antes da revolta no Egito, o Líbano trocou de governo, agora menos alinhado aos EUA.

Eldorado
Ontem no "China Daily", "Brasil quer indústria de defesa conjunta da América do Sul". Ao fundo, o "FT" e o "Guardian" publicaram editoriais sobre o projeto chinês de financiar um "rival do Canal do Panamá" na Colômbia. Sublinhando que a "estrada trans-americana" entre São Paulo e o Pacífico "está quase pronta", o primeiro ressaltou que a busca chinesa pelo "Eldorado" pode ser um sinal de que "o grande reequilíbrio começou".

Suicídio
Da parte dos EUA, os cortes no orçamento derrubaram a "ajuda" financeira e militar para a América Latina em 18% e 43%, respectivamente, para escândalo das instituições que buscam vincular Washington aos países da região.
Na coluna de Andres Oppenheimer no "Miami Herald", "Corte de ajuda pode ser suicídio diplomático". Ele enfatiza que até Hugo Chávez agora investe mais na recuperação do Haiti do que a administração Obama.

BBC BRASIL

MISSÃO DE PAZ NO LÍBANO
Militares brasileiros chegam ao Líbano para comandar força naval da ONU

Tariq Saleh - De Beirute para a BBC Brasil

Oficiais da marinha brasileira chegam ao Líbano nesta terça-feira para assumir o comando da unidade marítima da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil, na sigla em inglês).
Segundo informações da Embaixada brasileira no Líbano, o contra-almirante Luiz Henrique Caroli coordenará as operações da Força Tarefa Marítima (MTF, na sigla em inglês), subordinada à Unifil, que atualmente monitora a fronteira entre Líbano e Israel e ajuda o governo libanês a evitar a entrada de armas ilegais no resto de suas fronteiras.
Os militares brasileiros participarão pela primeira vez da frota marítima de uma força de paz, em missão que começou oficialmente no dia 9 de fevereiro, segundo uma portaria do ministro da Defesa, Nelson Jobim.
A MTF iniciou suas atividades em outubro de 2006, logo após a guerra entre o grupo islâmico libanês Hezbollah e Israel.
O contra-almirante Caroli chega acompanhado de oito militares da Marinha brasileira, quatro oficiais e quatro marinheiros. Ele comandará uma frota composta de oito embarcações, 800 oficiais e marinheiros de cinco nacionalidades.
A força naval da Unifil tem a tarefa de patrulhar os 225 quilômetros da costa libanesa e interceptar navios que levem armas ilegais ao país.
Segundo o embaixador brasileiro no Líbano, Paulo Roberto Campos Tarrisse da Fontoura, a contribuição brasileira se encaixa na visão do Itamaraty de um engajamento ativo em missões internacionais.
"O Brasil já tem tradição em missões de paz. Desde 1948, foram mais de 60 missões de paz com a participação de militares brasileiros", disse.
O embaixador disse ainda que, apesar da tradição, essa será a primeira vez que o país fará parte do componente naval em uma missão de paz.
No ano passado, segundo Fontoura, o secretário-geral da ONU Ban Ki-moon pediu que o Brasil cedesse um contingente da marinha nacional à missão libanesa.
"Os militares brasileiros são conhecidos por sua qualidade e competência", disse o embaixador.
"Em vários níveis do governo libanês eu ouvi elogios ao Brasil por tornar-se parte da força de paz."

Frota
Os navios da MTF são compostos por três embarcações alemãs, duas bengalesas, uma turca, uma indonésia e um navio grego. O comando da força tarefa era exercido pela Itália até o ano passado.
A força naval da ONU deve auxiliar a marinha libanesa a monitorar as águas territoriais do Líbano, cuidar da segurança da costa e prevenir a entrada ilegal por mar de armamentos para dentro do país.
Segundo a Unifil, desde 2006, quando iniciou suas atividades, a MTF interceptou 28 mil embarcações, e encaminhou 400 navios suspeitos às autoridades libanesas para inspeções.
Outro militar brasileiro, o capitão de mar e guerra Gilberto Kerr, está no Líbano desde dezembro de 2010 como chefe de operações navais junto ao comando da Unifil.
A missão de paz no país foi criada em 1978, inicialmente para confirmar a retirada de Israel do Líbano, mas teve, depois, seu mandato alterado em 1982, 2000 e 2006. Hoje, a força tem um contingente de mais de 13 mil soldados de diferentes países. Desde 1978, 275 militares da missão foram mortos no Líbano.
A Unifil é liderada atualmente pelas tropas espanholas, sob o comando do major-general Alberto Asarta Cuevas.
Depois da guerra de 2006, entre Israel e o Hezbollah, o mandato da Unifil foi ampliado e os soldados de paz passaram também a patrulhar a fronteira sul do Líbano.
Os soldados de paz devem ajudar o Exército libanês a prevenir o contrabando de armamento ilegal, manter o controle sobre a região, além de coordenar e manter o cessar-fogo entre o Líbano e Israel.
Segundo a embaixada brasileira, o contra-almirante Luiz Henrique Caroli estará subordinado diretamente ao comandante espanhol Alberto Cuevas.

15 FEV 2011

O Brasil e sua luta contra a guerra

Gianni Carta

Em 60 anos de operações de paz, de 1948 a 2008, “o Brasil enviou 18 mil militares, policiais e civis para mais de 40 missões”. Brasileiros estiveram presentes em operações de paz nos Bálcãs, na América Latina, Caribe, Europa, Oriente Médio, África e Ásia. Isso sem contar a cessão de homens e equipamentos para duas- Forças Multinacionais, informa Paulo Roberto Tarrisse da Fontoura, embaixador brasileiro no Líbano. Dezoito militares e policiais brasileiros perderam suas vidas em operações de paz patrocinadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre 1948 e 2009. Desse total está excluído Sérgio Vieira de Mello porque era Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, quando, em 2003, foi assassinado, com mais 21 pessoas, pela Al-Qaeda. Vieira de Mello participou de operações de paz.
E eis que desponta um novo líder brasileiro na ONU. Trata-se do contra-almirante Luiz Henrique Caroli. Ele será o primeiro brasileiro designado pela ONU a comandar frotas onusianas na história. Caroli assumirá o comando da Força-Tarefa Marítima (FTM) no dia 15, quando se apresentará ao comandante espanhol Alberto Asarta Cuevas, da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil, em inglês).
Criada pela ONU em março de 1978, após a invasão israelense do sul do Líbano, a missão Unifil recebeu seu mandato, como é sempre o caso, do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A Unifil é das raras missões da ONU com um componente terrestre e outro naval. Caroli não vai comandar a missão da Unifil – ele assumirá, sublinhe-se, a liderança do componente naval da operação de paz.
Da mesma forma, as mídias canarinho e internacional costumam errar ao dizer que o Brasil comanda a Missão das Nações Unidas de Estabilização no Haiti (Minustah), estabelecida em abril de 2004. Na verdade, o Exército Brasileiro lidera o componente armado, com significante efetivo de brasileiros, mas também composto de soldados de diversos outros países, principalmente da América Latina.
Em entrevista concedida em meados de janeiro, em Jerusalém, a Viviane Vaz, de CartaCapital, Caroli discorreu sobre o novo cargo na direção da FTM. Um desafio “tremendo”, constatou. Uma missão “delicada”, quando se leva em consideração a “área conturbada que é o Oriente Médio”. Caroli, treinado para a tarefa, mostrou-se otimista na execução de suas funções.
O objetivo da FTM, explicou o contra-almirante, é “contribuir com a paz e a segurança internacional”. O segundo objetivo “é dar projeção ao país”. O Brasil “aspira a ser um ator global e tem de alguma forma contribuir para esses processos de paz no mundo”. Esse desejo de projeção global é visto pela The Economist como, nas palavras de uma entrevistada brasileira para um artigo da revista britânica, “o preço a pagar para constar entre as nações a formular regras”.
A The Economist, com boa memória, reconhece o fato de o Brasil ter participado de inúmeras operações de paz da ONU, desde 1948. Mas teria sido o governo Lula a estabelecer essa nova política “altruísta” para projetar o País no exterior. Seria uma política útil para o próprio Brasil, a das operações de paz. De saída, a nova escola para formar pessoas aptas a participar em operações de paz, a CIOpPaz, treina peacekeepers que trabalham juntamente com a polícia nas favelas.
Ao mesmo tempo, operações de paz ajudam a modernizar o Exército. Após a ditadura (1964-1985), o Exército precisava adaptar-se a novas realidades, esclarece The Economist. Isso, apesar de, no caso do Haiti, o Exército Brasileiro ter aceitado pela primeira vez atuar sob o Capítulo 7 da Carta das Nações Unidas. O capítulo estabelece promover intervenções baseadas no uso da força, e não apenas em casos de autodefesa. O governo brasileiro foi atacado pela esquerda por ter capitulado diante de uma política que não aprova.  
No mundo das relações internacionais, é evidente, o altruísmo não pode ser a única meta de um país. Em seu livro Brasil: 60 Anos de Operações de Paz (Rio de Janeiro, Serviço de Documentação da Marinha, 2009), Campos Tarrisse da Fontoura, embaixador no Líbano, escreve que o Brasil, Estado fundador da ONU, “é coerente com suas responsabilidades internacionais”. Mais: baseado na Carta das Nações Unidas, “o Brasil entende que medidas coercitivas devem ser sempre a opção de última instância”.
Campos Tarrisse da Fontoura constata ainda: “A instabilidade política, social ou econômica em países e regiões, por longínqua que possa parecer, acaba por afetar toda a comunidade internacional”. A preservação da paz, continua, é garantia para as atividades socioeconômicas. Isso tem seu preço, e o embaixador não mastiga palavras: “Esse preço é o da participação nos esforços internacionais para superar controvérsias e dissipar surtos de violência no mundo”.
Um dos pioneiros a integrar operações de paz foi John Anderson Munro, capitão-tenente, um dos três brasileiros entre 36 observadores voluntários da Comissão Especial das Nações Unidas para os Bálcãs (Unscob), estabelecida pela ONU em outubro de 1947. Início da Guerra Fria. Um movimento comunista com 25 mil militantes criou então a “Grécia Livre”, na região do Grammos. Pairava no horizonte uma guerra civil, visto que os comunistas, integrantes do Exército Democrático da Grécia, encontravam-se equipados até os dentes com armas abandonadas pelos alemães.
Imparcial, dentro do possível (e eis um ponto de contenda nessas missões), a Unscob tinha mandato para vistoriar as fronteiras entre Grécia e Albânia, Iugoslávia e Bulgária. Meta: monitorar o tráfico de armas e fornecimento de ajuda médica, e livre trânsito aos militantes da chamada “Grécia Livre”. Debaixo de feroz inverno, Munro e seus pares tinham de enfrentar zonas minadas e montanhosas, sujeitos a emboscadas. Os trajetos eram feitos a pé, no lombo de mulas ou em jipes. Estavam, assim, expostos aos mesmos perigos dos militares gregos.
Em 1956, após a nacionalização do Canal de Suez pelo presidente Gamal Abdel Nasser, o Brasil mantinha um contingente de 3.305 homens na Força de Emergência das Nações Unidas (Unef-I). Aquela foi primeira experiência das Forças Armadas brasileiras em fornecer tropas para a ONU. E quando a Unef-I deixou o território em 1967, expulsa pelo governo egípcio, irrompeu a Guerra dos Seis Dias, que recompôs o mapa do Oriente Médio.
Além da missão no Haiti, mais recentemente o Brasil participou em intervenções de paz em Angola, Moçambique, Timor-Leste, Saara Ocidental e Costa do Marfim. Sobre seu livro, o embaixador Campos Tarrisse da Fontoura me diz: “Meu objetivo era fazer uma homenagem, não tinha outra intenção, muito menos ganhar dinheiro’’. O livro está à venda em duas livrarias da Marinha, no Rio de Janeiro.



Brazil proposes common defense industry base in S America

MONTEVIDEO - Visiting Brazilian Defense Minister Nelson Jobim said Monday that South America must have a "single voice" on defense issues, among them a common defense industrial base.
It is necessary "to deepen the (defense) ties within South America," Jobim said after meeting Uruguayan President Jose Mujicam, adding that building a common defense industry base is at the core of Brazil's policy for regional integration.
The initiative would help boost regional technology and industry, and "give independence to all the nations on the Latin American continent," he said.

Google Tradutor

Brasil propõe base industrial de defesa comum da América do Sul

MONTEVIDÉU - O ministro da Defesa do Brasil visita Nelson Jobim, disse hoje que a América do Sul deve ter uma "voz única" em questões de defesa, entre eles uma base de defesa industrial comum.
É preciso "aprofundar os laços (defesa) na América do Sul", disse Jobim, após reunião o presidente uruguaio, José Mujicam, acrescentando que a construção de uma base industrial de defesa comum é o cerne da política do Brasil para a integração regional.
A iniciativa ajudará a impulsionar a tecnologia e da indústria regional, e "dar a independência a todas as nações do continente latino-americano", disse ele.


ARGENTINA
Cristina evoca soberania; EUA cobram equipamentos de volta

DE BUENOS AIRES - A crise entre Argentina e EUA por causa da apreensão de equipamentos em um avião americano ganhou ontem novos contornos com a presidente Cristina Kirchner clamando pela defesa da soberania nacional.
Sem citar diretamente o episódio, ela afirmou que nenhum país dita a regra na Argentina. "Quem toma as decisões é a Casa Rosada. A defesa nacional não pode ter cor nem bandeira política", declarou.
A Argentina revistou e apreendeu um lote de equipamentos, na última sexta, em um voo dos EUA que também transportava à Polícia Federal militares que participariam de um curso.
Segundo a Chancelaria argentina, um terço do material foi apreendido porque não estava declarado à aduana. Havia na carga, segundo a denúncia, armas e uma maleta com equipamentos de espionagem e drogas vencidas.
Os EUA reagiram às acusações. Ontem membros do governo Obama cobraram a imediata devolução do material apreendido. Segundo os americanos, os equipamentos são usados em cursos de preparação e eram do conhecimento do governo argentino.
Frank Mora, subsecretário de Defesa para o Hemisfério Ocidental, classificou o incidente de muito sério. "Isso nunca aconteceu com os EUA", disse.
Um juiz federal argentino solicitou à Chancelaria e à embaixada dos EUA em Buenos Aires informações sobre os equipamentos.

 FONTE: JORNAL FOLHA DE SP

Nenhum comentário:

Postar um comentário