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quarta-feira, 18 de maio de 2011

17 de maio de 2011 - FOLHA DE SÃO PAULO


DESTAQUE DE CAPA
Comissão de ética diz que Palocci não relatou bens

A Comissão de Ética Pública da Presidência da República contradisse a versão do ministro Antonio Palocci (Casa Civil) de que havia relatado aumento patrimonial em 20 vezes de 2006 a 2010, período em que foi deputado federal pelo PT. O presidente da comissão, Sepúlveda Pertence, contou que Palocci não fez menção ao apartamento de R$ 6,6 milhões e ao escritório de R$ 882 mil adquiridos pela sua empresa Projeto.



AVIAÇÃO
Emirates quer usar superjato no Brasil
Operação com o Airbus A380, o maior avião de passageiros do mundo, depende de adequações em Cumbica
Infraero diz que tem mantido conversas com a Emirates para tentar viabilizar o voo com o avião até dezembro

MARIANA BARBOSA
DE SÃO PAULO

A companhia aérea Emirates fez um pedido formal à Infraero para operar o superjato da Airbus, o A380, no aeroporto de Cumbica (Grande SP). A Folha apurou que o pedido foi feito há quase seis meses, mas a empresa ainda não obteve resposta formal.
Questionada pela reportagem, a Infraero disse que "tem dialogado com a companhia a fim de viabilizar o voo para dezembro".
Falou ainda que o aeroporto é capaz de receber aeronaves da categoria e que o horário pretendido pela Emirates "não compromete as atuais operações do aeroporto".
Com capacidade para acomodar de 525 a 853 passageiros, o A380 é o maior avião de passageiros do mundo. Além da Emirates, outras empresas que operam o superjato (Lufthansa, Air France e Singapore) também manifestaram à estatal interesse em operar os jatos no Brasil.
O pedido da Emirates foi acompanhado de um estudo de análise de risco e sugestões de procedimentos operacionais para receber o avião em Guarulhos.
Até a semana passada, porém, segundo a Folha apurou, técnicos da Infraero diziam que não era possível adaptar o aeroporto para receber o A380.
Já os técnicos da Anac (Agência Nacional de aviação Civil) emitiram parecer preliminar favorável. O entendimento é que o aeroporto comporta um A380 com segurança e em conformidade com regras internacionais, desde que a Infraero faça algumas adequações.

ÁREA DE MANOBRA
As adequações não demandam obras nem exigem grandes investimentos. Como o superjato tem uma envergadura (distância da ponta de uma asa à outra) de 60 metros e a pista de Guarulhos tem 45 metros de largura, na hora do pouso seria preciso interditar uma das pistas de manobra para que o avião possa taxiar com segurança.
Também seria preciso demarcar com pintura uma área próxima à ocupada hoje por sucatas da Vasp -que serviria para abrigar o A380 durante o tempo em que ficar estacionado entre a chegada e a partida do voo.
Técnicos da agência também acreditam que é possível agilizar a fila de passaporte para acomodar mais de 600 passageiros de uma só vez. Pelos cálculos da agência, uma gestão mais eficiente das filas e das posições de passaporte poderia aumentar a capacidade em 20%.
A Emirates opera hoje um voo diário de São Paulo a Dubai com um Boeing 777-300ER. Com 354 passageiros, o voo tem taxa de ocupação superior a 90% e a empresa quer substitui-lo pelo A380.
Além desse voo, a Emirates lança, no início de 2012, um voo diário ligando Dubai ao Rio de Janeiro.



TAM lançará neste ano voo para o México

DE SÃO PAULO

A TAM inaugura até o fim do ano um voo para a Cidade do México. A rota era atendida por duas mexicanas. Com a desistência da AeroMéxico, a TAM obteve a autorização.
"É uma rota que nos interessa muito pela alta demanda de passageiro e carga", diz o presidente da TAM, Líbano Barroso.
A TAM também prepara um segundo voo diário para Orlando, a partir de julho.
O aumento de voos internacionais acontece em um momento em que a companhia exibe taxas de ocupação de 79,6% nas rotas para o exterior -três pontos percentuais a mais do que no ano passado. No período, a demanda internacional cresceu 16,3%, e a oferta, 11,9%.
No balanço do primeiro trimestre, divulgado ontem, a companhia registrou lucro de R$ 128,8 milhões, revertendo o prejuízo apurado no mesmo período do ano passado (R$ 71 milhões).
O presidente da TAM S.A., Marco Antonio Bologna, diz estar confiante na aprovação da associação com a LAN.
No dia 26 haverá audiência em Santiago para discutir o impacto da operação. Ele acredita que a conclusão da operação, inicialmente prevista para julho, não deve acontecer antes do quarto trimestre.
(MB)


TRAGÉDIA DO AVIÃO DA GOL
Pilotos do Legacy são condenados por batida em aeronave da Gol
Condenação a prestar serviços comunitários foi decidida por juiz federal de Sinop (MT)

ANDRÉ MONTEIRO - MATHEUS MAGENTA
SÃO PAULO

Os pilotos norte-americanos Joseph Lepore e Jan Paul Paladino, que conduziam o jato Legacy que se chocou contra um avião da Gol em 2006, foram condenados ontem pela Justiça Federal em Mato Grosso a prestar serviços comunitários pelo crime de atentado contra a segurança do transporte aéreo. Cabe recurso à decisão.  O acidente, ocorrido em setembro de 2006, causou a morte dos 154 ocupantes do avião da Gol. Os ocupantes do jato saíram ilesos.
A sentença foi proferida pelo juiz Murilo Mendes, da Vara Federal de Sinop (MT). Ele considerou que os pilotos ficaram mais de uma hora sem observar os controles da aeronave. "No tempo da aviação é uma eternidade", afirmou, na sentença. O magistrado citou a pena prevista pelo crime -quatro anos e quatro meses de prisão-, mas decidiu substitui-la pela prestação de serviços comunitários.
A pena deverá ser cumprida em uma repartição do governo brasileiro nos EUA, onde os pilotos vivem hoje. O local ainda não foi definido. A sentença revoltou a associação de familiares das vítimas. "Eles só vão tomar um cafezinho na embaixada brasileira e o juiz acha que isso é suficiente. Ele só usou a palavra condenação pela força da mídia", afirmou Rosane Gutjahr, que perdeu o marido na tragédia.
A Folha entrou em contato com o Ministério Público Federal em MT, que acusou os pilotos, mas não conseguiu confirmar se o órgão irá recorrer da decisão. A reportagem também não conseguiu localizar os advogados dos pilotos, no Brasil e nos EUA.


TRAGÉDIA DO VOO 447
França recupera dados das caixas-pretas
Especialistas conseguiram ler informações do voo 447, mas análise deve durar semanas

ANA CAROLINA DANI
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE PARIS

Os especialistas franceses que investigam as causas do acidente com o voo 447 da Air France conseguiram ler no último fim de semana os dados contidos nos cartões de memória das duas caixas-pretas do Airbus A330 que caiu no oceano Atlântico. O acidente aéreo, ocorrido em 31 de maio de 2009, na rota Rio de Janeiro-Paris, levou 228 pessoas à morte.
Em comunicado divulgado ontem, o BEA, órgão francês responsável pela investigação do caso, informou que a "integralidade dos dados" das duas caixas-pretas, que passaram 23 meses no fundo do mar, pôde ser recuperada. Mas a análise das informações, explica o comunicado, deve durar "várias semanas". A expectativa é que um primeiro relatório parcial seja divulgado em julho ou agosto deste ano.
O relatório final deve sair apenas no ano que vem.

DADOS ESSENCIAIS
A leitura da memória das caixas-pretas é considerada essencial para explicar as causas do acidente. No início deste mês, as equipes de busca conseguiram localizar e recuperar tanto o Cockpit Voice Recorder (CVR), contendo os registros das conversas dos pilotos, as gravações das comunicações feitas por rádio e os ruídos ambientes no interior da cabine, quanto o Flight Data Recorder (FDR), equipamento que registra os dados técnicos do voo, tais como altitude, velocidade e trajetória.
A recuperação das caixas-pretas ocorreu na quinta fase de buscas aos destroços.

"ÓTIMA NOTÍCIA"
Para o presidente da associação francesa de familiares das vítimas do voo AF 447, Jean-Baptiste Audousset, o anúncio do BEA é uma "ótima notícia". Há quase dois anos as famílias dos passageiros e tripulantes do Airbus A330 esperam elucidar as causas da tragédia. Um relatório parcial divulgado pelo BEA em julho de 2009 apontou que problemas nas chamadas sondas pitot, que medem a velocidade das aeronaves em voo, eram "um elemento, mas não a causa do acidente".


FRONTEIRA
Para PF, Paraguai é "escritório" do crime
Adido no país vizinho, delegado Antônio Celso dos Santos diz que criminosos brasileiros baseiam lá sua ação
"Hoje, se um bandido quer crescer, tem que ter condição favorável, e o Paraguai oferece", diz, no cargo há 2 anos

FERNANDA ODILLA
DE BRASÍLIA

Adido da Polícia Federal no Paraguai desde 2009, o delegado Antônio Celso dos Santos define o território do país vizinho como "um escritório" do PCC e do Comando Vermelho, que lá se instalaram e se associaram a criminosos locais para eliminar intermediários no tráfico de drogas e armas.
À Folha, ele afirma que os cortes orçamentários do Brasil já afetam a parceria com o Paraguai, em especial as operações de erradicação das plantações de maconha.

Folha - Como é hoje a atuação do crime organizado brasileiro no território paraguaio?
Antônio Celso dos Santos - As grandes agremiações criminosas viram que teriam de ter representantes dentro do país produtor ou pelo menos no território onde trafegam as drogas e as armas, que é o caso do Paraguai. De uns anos para cá, eles estão se organizando para eliminar os intermediários e comandar toda a parte do tráfico no atacado. Deixariam de ser simples consumidores, compradores e distribuidores dessa droga no Brasil, mas os donos do mercado.

O Paraguai é uma filial do crime organizado?
Diria que é um campo muito fértil para ações criminosas. Se eu sou criminoso e procuro um lugar para trabalhar, entre aspas, vou para um lugar com pouca polícia, onde minha chance de ficar preso é pequena, que eu tenha grande mobilidade e esteja perto do meu mercado consumidor. É o Paraguai.


O Paraguai então é uma sucursal do crime organizado... um escritório?
Escritório, tudo bem. Sucursal dá a impressão de que as pessoas daqui estariam colaborando fortemente. O Paraguai tem intenção de combater, só que as características geográficas facilitam para os traficantes. Eles adotaram o Paraguai como um dos melhores locais para instalação de seus escritórios. Aqui há facilidade e corrupção policial como em qualquer lugar. Hoje, se um bandido quer crescer, tem que ter condições favoráveis, e o Paraguai oferece.

Quais são os grupos brasileiros que atuam no Paraguai?
Basicamente, PCC e Comando Vermelho. Além do CV, aquelas subfacções como ADA (Amigos dos Amigos) etc. O PCC está na região de Pedro Juan Caballero e Salto del Guaira. Já o Comando Vermelho está mais em baixo, na região de Capitán Bado, que era uma área usada pelo pessoal do [traficante] Fernandinho Beira-Mar. Hoje em dia, 90% dos presos em Pedro Juan são do PCC. Você começa a perceber um escritório do crime organizado deles ali. Aqui é a base logística de fornecimento. Como se fosse uma empresa de transporte, tem um escritório administrativo em São Paulo e a base de distribuição aqui [no Paraguai].

Por isso o Paraguai deve ter tratamento prioritário?
Desde que eu entrei na polícia, ouço dizer que a droga sai do Paraguai, que a arma passa pelo Paraguai. Agora piorou muito. A gente no Brasil está acostumado a ficar muito no discurso e pouco na prática. Vejo falando que se pretende gastar R$ 500 milhões [com patrulhamento] na fronteira, com 20% disso você faria um trabalho muito maior e mais eficaz. Mas desde que fosse as pessoas que entendem e estão vivenciando aquilo ali que dissessem como gastar. Quando vem um tecnocrata que não manja nada... A gente percebe aqui que com pouco dinheiro dá para fazer muita coisa.

Seria exatamente o quê? Inteligência e monitoramento?
Quando você fala em monitoramento, parece que é escuta telefônica. Não é só isso. Hoje temos grande dificuldade das autoridades de fronteira do lado do Paraguai conseguirem informações do lado brasileiro e vice-versa. A forma de resolver é muito simples: com um acordo de cooperação formal para facilitar trâmite de informações, desburocratizar e manter contato direto. Você observa que é tão simples, mas por que não acontece? Porque depois disso tudo é levado para Brasília, para os grandes centros, e ficam naquela enorme discussão teórica. Cai no esquecimento.

Quanto ao orçamento, os cortes afetarão o trabalho?
Já estão afetando e muito. Gastos com diárias e passagens foram cortados. Para as ações de erradicação de maconha, não temos o dinheiro para o combustível dos helicópteros.


QUESTÃO NUCLEAR
Protesto na Bahia barra carga de urânio
Cordão humano feito por moradores impediu a entrada do material radioativo em Caetité, onde funciona mina
Segundo a Comissão Nacional de Energia Nuclear, o concentrado de urânio apresenta baixa radioatividade

PEDRO LEAL FONSECA - DE SÃO PAULO

Formando um cordão humano, cerca de 3.000 pessoas bloquearam na noite de anteontem a entrada de nove carretas com 90 toneladas de urânio na cidade de Caetité (624 km de Salvador). Os manifestantes diziam que a carga era "lixo radioativo". A carga estava sendo transportada de uma reserva da Marinha em Iperó (126 km de SP) para Caetité, onde está a única mina de urânio em funcionamento no país. O material é da estatal INB (Indústrias Nucleares do Brasil, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia). Segundo a Cnem (Comissão Nacional de Energia Nuclear), o concentrado de urânio tem baixa radioatividade.
Nos últimos anos, suspeitas sobre a qualidade da água mobilizaram os moradores. Um estudo do Ingá (Instituto de Gestão das Águas) -órgão do governo baiano- detectou que parte da água consumida apresentava índice de radioatividade maior que o recomendado. A Agência Internacional de Energia Atômica da ONU concluiu, porém, que as atividades da mina não provocavam impacto ambiental superior ao aceitável.
O protesto de anteontem foi convocado por ambientalistas. Segundo Marcell Moraes, presidente da ONG Geamo (Grupo Ecológico Amigos da Onça) e vice-presidente do PV na Bahia, a organização do ato "perdeu um pouco o controle da situação". "A comunidade queria queimar a carga", afirmou. A Polícia Federal acompanhou a ação. Não houve confronto.
Devido ao bloqueio, a carga foi levada para Guanambi, mas o prefeito da cidade vizinha, Charles Fernandes (PP), recusa a guarda. A Prefeitura de Caetité disse que uma reunião hoje definirá o destino do material. A INB diz que o material supriria um deficit de produção da mina de Caetité. Seria reembalado e seguiria para a Europa, onde passaria por processo de enriquecimento.
Depois de enriquecido, o urânio serve de combustível para as usinas de Angra dos Reis (RJ). "As atividades desenvolvidas pela INB não geram "lixo radioativo". O urânio é trabalhado em seu estado natural", diz a empresa.

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