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quarta-feira, 25 de maio de 2011

25 de maio de 2011 - VALOR ECONÔMICO


AVIAÇÃO
Embraer se prepara para uma nova decisão estratégica

Virginia Silveira e Ivo Ribeiro | De São Paulo

Há duas semanas, a Embraer surpreendeu o mercado com o anúncio de várias mudanças em sua estrutura organizacional. A fabricante brasileira de aviões alegou adequação às evoluções dos cenários de mercado e à sua estratégia futura. As alterações envolveram posições consideradas chaves na estrutura de comando da companhia. "Foram mudanças fundamentais para a definição do próximo passo estratégico da companhia na área de aviação comercial", disse ao ValorFrederico Fleury Curado, presidente da Embraer, em entrevista no novo escritório da empresa em São Paulo.
"Temos que tomar uma decisão no curto ou médio prazo e isso deve ocorrer nos próximos 12 a 18 meses", afirmou. O desenvolvimento de novos produtos para a aviação comercial já é esperado pelo mercado, embora os E-Jets da companhia ainda sejam relativamente novos, com uma idade média de 6 a 7 anos. "O mercado aceita bem os nossos aviões e nós temos que ter muito cuidado, justamente para decidir o que fazer e quando fazer", completou.
Para conduzir os novos programas de aeronaves, Curado escalou o engenheiro Luiz Carlos Affonso. Nos últimos cinco anos, o executivo comandou a área de aviação executiva. Lá liderou o lançamento dos principais produtos da Embraer nesse segmento, desde a linha do Phenom até os novos Legacy. "O Luiz Carlos é um dos melhores diretores de programa do mercado mundial e essa característica de senioridade dele nos dá tranquilidade para encarar os gigantescos desafios que temos pela frente", disse.
Curado lembrou que foi sob o comando de Affonso que a Embraer desenvolveu o programa da família 170/190, de 70 a 120 assentos, até hoje um sucesso no mundo, com mais de 1000 unidades vendidas para 58 companhias de 39 países. Estimativa feita da empresa mostra que esses jatos ainda têm um mercado grande nos próximos 20 anos: demanda de 6875 aeronaves novas.
"Nós não temos dúvida de que também existe mercado para novos aviões. A nossa dúvida é muito mais na questão da competitividade, de como poderemos trazer uma solução para o mercado que seja vencedora, como foram os demais produtos da empresa. Não podemos errar e, por isso, há preocupação de ter um produto que também seja vencedor", afirma.
A tomada de decisão da Embraer para um novo jato nesse mercado, segundo o executivo, depende de como seus grandes concorrentes vão se alinhar. "Nós não temos medo de competição, mas precisamos ter a convicção de que vamos trazer ao mercado algo que nos colocará em igualdade de competição ou que tenha um diferencial competitivo perante nossos principais concorrentes". Airbus e Bombardier já se posicionaram, mas a Boeing ainda não anunciou a sua decisão sobre seus aviões de menor porte, concorrentes diretos da Embraer.
O fato é que poderá se abrir um "buraco" de mercado na faixa entre 120 e 150 assentos que poderia ser ocupado pela Embraer. Para isso, a empresa teria de ter uma nova aeronave. A plataforma da família atual não permite conceber ampliação da capacidade de transporte de passageiros além de 5%.
O desenvolvimento de um novo avião não é barato e, geralmente, conta com parceria de risco de grandes fornecedores, como fabricantes de turbinas e desenvolvedores da asa. A família 170-190 custou US$ 1 bilhão.
Além de ter que se adequar à evolução do mercado mundial de aviação executiva, comercial e de defesa, a empresa vem tentando amenizar, ao máximo, os impactos do câmbio valorizado e do aumento do custo da mão de obra na sua base de custos no Brasil. "A Embraer tem cerca de 90% da sua receita atrelada às exportações e há uma pressão de custos subindo a uma velocidade muito grande", ressalta o executivo. Ele explica que a Embraer não está 100% exposta ao câmbio porque 70% dos seus custos são em dólar. "Mesmo assim, os 30% que sobram é bastante e nossas margens são de um dígito, mas não adianta esperar por uma solução milagrosa, até porque ela não é possível", disse.
Para o executivo, pesa também a questão conjuntural mundial, não dependendo apenas da política monetária do Brasil. Sua expectativa é que em seis a 12 meses o dólar comece a se recuperar. "À medida que a taxa de juros dos EUA volte a crescer, a tendência é que a gente pare de ter essa pressão enorme em cima do real".
A empresa tem focado muito em aumento de produtividade e expansão das vendas no mercado nacional. "Há cerca de cinco anos não tínhamos aviões da Embraer operando no Brasil. Hoje, mais de 30 aeronaves voam nas cores da Azul, Trip e Passaredo e perto de 100 na América Latina", informou.
O Brasil e a América Latina, além da China são os mercados onde as vendas de jatos comerciais estão crescendo mais. Na Europa, disse, a Embraer tem conseguido exportar de maneira tranqüila e no Oriente Médio vem se detectando uma pequena queda na curva do crescimento, por conta dos conflitos na região.
O grande mercado que faz a diferença hoje ainda é o americano, que já representou mais de 80% das vendas da Embraer nos primeiros anos de entregas dos E-Jets. "Os EUA continuam estáveis. Não crescem porque as companhias aéreas tem trabalhado com ganhos de eficiência e a taxa de ocupação média dos aviões é de 70%".
A expectativa do executivo é que a demanda na região volte a crescer à medida que a economia americana se recupere. "Nos próximos anos, as linhas aéreas do país vão estar muito otimizadas e aí só vai haver um caminho, o crescimento. Isso significa troca de aviões e modernização da frota". Hoje, segundo Curado, a frota de aviões comerciais americana é considerada uma das mais antigas do mundo.
Para este ano, a previsão da empresa é faturar US$ 5,6 bilhões - US$ 3,1 bilhões na aviação comercial; US$ 1,2 bilhão com jatos executivos; US$ 700 milhões com serviços e outros negócios e US$ 600 milhões no mercado de defesa. Em dólar, isso vai representar crescimento de 5%, mas terá queda em reais.
Na área de defesa o grande desafio da Embraer é o programa de desenvolvimento do cargueiro de transporte militar KC-390, o maior e mais complexo avião já feito pela companhia. "O projeto está bem adiantado do ponto de vista de definição e vários parceiros já foram anunciados", disse.


Parceria nos EUA para vender SuperTucano à Força Aérea

Em associação com a americana Sierra Nevada, a Embraer vai disputar contrato para venda de 20 aeronaves turboélice Super Tucano a Força Aérea norte-americana (Usaf). Os aviões serão usados para treinamento avançado de pilotos e em operações de contrainsurgência no Afeganistão, dentro do programa conhecido como LAS (Light Air Support). O contrato está previsto para ser anunciado nos próximos meses e a Embraer concorre com a americana Hawker Beechcraft, fabricante do modelo AT-6, que ainda está em fase de desenvolvimento.
"Se ganharmos, vamos montar os aviões nos EUA e o site preferencial para abrigar a linha de montagem do Super Tucano será Jacksonville, na Flórida, onde já tivemos um contato preliminar para avaliar a viabilidade desse projeto", disse o presidente da Embraer, Frederico Fleury Curado.
Em 2004, a Embraer chegou a anunciar o início da construção de uma fábrica no mesmo local, onde planejava desenvolver programas de defesa e segurança nacional nos EUA. O primeiro projeto da unidade seria o programa Aerial Common Sensor (ACS), do Exército americano, que inicialmente escolheu a plataforma do jato Embraer 145 para implantar um sistema de nova geração para vigilância de batalha. Na época liderado pela Lockheed Martin, no entanto, o projeto não foi adiante.
Na nova concorrência, da qual participa o Super Tucano, a Embraer precisou se associar a uma empresa americana, em atendimento à lei "Buy American Act", que também exige a instalação de uma linha de fabricação das aeronaves no país. "A empresa Sierra Nevada não é um "prime contractor" americano, mas tem muita experiência em logística e em pós-venda e acabou sendo um sócio interessante, porque o programa é muito pequeno", explicou.
O Super Tucano, segundo Curado, é uma aeronave bastante competitiva e que atende bem à especificação técnica do contrato, além de já ter sido testada por cinco Forças Aéreas da América Latina. O executivo acredita, no entanto, que a decisão transcende a questão técnica, pois existem fatores geopolíticos envolvidos e que deverão ser respeitados.
"Outro ponto a nosso favor é o prazo de entrega. Temos capacidade de fabricar e de entregar rapidamente. No caso da Beechcraft, ainda tem um período de desenvolvimento. Essa variável tempo será importante se os EUA quiserem uma coisa muito a curto prazo", comentou.
A aeronave, segundo a Embraer, acumula até o momento um total de 180 encomendas, das quais 152 já entregues. A receita obtida com a venda do modelo até agora, de acordo com a fabricante brasileira, é da ordem de US$ 1,6 bilhão. A Embraer projeta um mercado de US$ 3,5 bilhões para a classe do Super Tucano, algo em torno de 300 aeronaves.
A aeronave já foi vendida para a Colômbia, Equador, Chile, Indonésia, República Dominicana, Guatemala e para dois clientes na África. "Nosso principal foco com o Super Tucano não são os países desenvolvidos, que já têm seus próprios aviões de treinamento. O Sudeste da Ásia, África e América Latina são os nossos mercados alvo", disse. O modelo está configurado para missões de treinamento avançado, vigilância de fronteiras, ataque leve e contrainsurgência.
VS


INFRAESTRUTURA
Obras de Jirau abrigavam bandidos, diz polícia
Investigações mostram uso de drogas e álcool

André Borges | De Brasília

Depois de 70 dias da rebelião que pôs abaixo o canteiro de obras da hidrelétrica de Jirau, ainda há muitas dúvidas sobre os autores e as razões que, de fato, deflagraram a onda de violência. Algumas conclusões preliminares, obtidas por investigadores que acompanham de perto o caso, dão uma ideia da gravidade que rondava uma das principais obras do país.
Entre os trabalhadores de Jirau havia casos de pessoas procuradas pela polícia. Trata-se de fugitivos que cometeram crimes em Rondônia e também fora do Estado. Um dos identificados pelos investigadores foi autor de dois homicídios. Os peritos também já sabem que o tráfico de drogas, como maconha e cocaína, era usual nos alojamentos do canteiro de obras. Bebidas alcoólicas, que são proibidas no local, também circulavam no mercado paralelo.
Essas informações foram confirmadas pelo delegado Hélio Teixeira Lopes Filho, diretor da divisão de repressão ao crime contra o patrimônio da Polícia Civil. Ele é responsável pelas investigações dos atos de vandalismo em Jirau. Segundo o delegado, atualmente a polícia trabalha na identificação de um grupo de 150 a 200 pessoas que participaram diretamente das ações. Depois da rebelião, algumas dezenas foram detidas pela Polícia Civil, mas não há informações se alguém ainda permanece preso. Para apoiar as investigações, vídeos gravados por câmeras de segurança e depoimentos de funcionários foram coletados.
O inquérito da Polícia Civil já soma 12 volumes, com 200 páginas cada um. Outro inquérito está em andamento pelos investigadores da Polícia Federal, sem prazo para conclusão.
Mais do que identificar os autores, a principal resposta que os peritos procuram são as motivações que desencadearam os atos. A tese inicialmente sustentada - de que uma briga entre dois funcionários teria detonado a onda de conflitos - já está totalmente descartada. São muitas as evidências de que houve uma ação coordenada e com data certa para ocorrer.
Em março, quando a confusão tomou conta de Jirau, a construção da usina estava no seu pico de contratação, com 22 mil trabalhadores na obra, dos quais 19 mil estavam sob responsabilidade da Camargo Corrêa. "A revolta arrebentou exatamente no dia de pagamento de salário, quem fez sabia que os caixas automáticos estavam abastecidos", comenta Lopes Filho. Durante o corre-corre, quatro dos dez caixas instalados no canteiro de obras foram arrancados de suas bases e levados por um caminhão até a oficina do canteiro, onde maçaricos já estavam a postos para cortar a porta dos cofres.
A Polícia Civil já identificou quatro pessoas que participaram dessa operação. Ainda não há informações sobre quanto dinheiro foi roubado. Em data de pagamento, os caixas de Jirau costumavam ser abastecidos com até R$ 1,5 milhão, ou seja, cada caixa automático era alimentado com cerca de R$ 150 mil.
A partir dos depoimentos colhidos até agora, a Polícia Civil detectou que a tensão entre os trabalhadores no canteiro de obras já era grande antes da rebelião. "A situação estava complicada, havia reclamações sobre diferenças salariais e benefícios, além de relatos de tratamento com muita truculência junto dos trabalhadores", comenta o delegado Lopes Filho.
Enquanto investiga o passado, a polícia mantém atenção total sobre qualquer movimento suspeito nas obras do Madeira. Na semana passada, a tensão voltou a rondar os trabalhadores da usina. Em Porto Velho, a 120 quilômetros do canteiro de obras, um hotel foi incendiado por funcionários da Camargo Corrêa que estavam hospedados nele. O clima de apreensão chegou até o canteiro de obras da usina e a boataria se espalhou rapidamente entre os trabalhadores. Lopes Filho afirma que a Polícia Civil foi acionada e chegou a enviar polícias até o local. Não houve registro de ocorrências.
A Camargo Corrêa, responsável pelas obras de Jirau, informou que havia 80 funcionários seus hospedados no hotel de Porto Velho e que dez deles foram, de fato, responsáveis pelo incêndio. Segundo a companhia, o fogo foi rapidamente debelado e não houve feridos. Os dez funcionários foram imediatamente demitidos.
A Camargo Corrêa negou que o clima entre os trabalhadores que estão no canteiro de obras tenha voltado a ficar ruim na última semana. Sobre as investigações que apontam que havia foragidos da polícia entre seus funcionários, além de tráfico de drogas, a empreiteira informou que se baseia única e exclusivamente na experiência profissional de seus funcionários para critério de seleção e que não fiscaliza a vida dessas pessoas, algo que a própria Constituição não permite.
Segundo a empresa, todas as suas contratações são realizadas com base no Sistema Nacional de Emprego (Sine), o cadastro de trabalhadores elaborado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A construtora informou que algumas empresas terceirizadas de recrutamento também foram usadas para levar mão de obra até Jirau, mas essas também teriam se baseado no cadastro do Sine. O Valor procurou o MTE para se pronunciar a respeito do assunto, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
A Energia Sustentável do Brasil (ESBR), consórcio responsável pela construção de Jirau, informou que as atividades no canteiro de obras seguem normalmente e que, aos poucos, os funcionários têm retornado para a construção. Atualmente, segundo a ESBR, há 10,5 mil trabalhadores atuando nas margens no Madeira. Questionada sobre as investigações, a ESBR informou que aguarda o resultado dos dois inquéritos para se pronunciar a respeito.
Vizinho de Jirau, o consórcio Santo Antônio Energia, que toca as obras da hidrelétrica de mesmo nome, informou que nunca tomou conhecimento de casos de tráfico de drogas dentro do canteiro de sua obra e que desconhece que haja foragidos da polícia em seu quadro de funcionários. A empresa informou ainda que, "como medidas de prevenção e educação ao trabalhador, o Consórcio Santo Antônio realiza frequentemente campanhas internas de combate às drogas" e que, em suas contratações, "não faz nenhuma discriminação por raça, cor ou qualquer outra característica".


CONGRESSO
Câmara aprova Código Florestal e irrita Dilma
Texto-base, com vários dispositivos contrários a interesses do Planalto, passa por 410 votos a 63

Mauro Zanatta e Caio Junqueira | De Brasília

A derrota do governo na votação do Código Florestal azedou o clima entre o Palácio do Planalto e a coalizão governista no Congresso. A presidente Dilma Rousseff ficou "furiosa", segundo relatos de auxiliares do Planalto, com a "imposição" de um texto contrário às suas determinações.
Por 410 votos a 63, o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi aprovado com vários dispositivos contrários aos interesses do Planalto. Até as 22h, não havia sido votada uma emenda do PMDB com a qual o governo atuou o dia inteiro para derrubar. O texto delega mais poderes ambientais aos Estados e autoriza plantações e criações em áreas de beiras de rios (APPs). Mesmo assim, só a aprovação do relatório de Rebelo em si já significava a primeira grande derrota de Dilma na Câmara.
Ao longo do dia de ontem, a presidente tentou, em várias reuniões, convencer os aliados a reduzir as concessões embutidas no relatório. O objetivo era mudar um acordo avalizado pelos líderes de todos os partidos governistas à exceção do PT. No plenário da Câmara, entretanto, prevaleceu esse acordo.
Na avaliação de parlamentares governistas e ministros de Dilma, a votação do código inaugurou uma "nova fase" na relação do Planalto com o Congresso. A estratégia de pressionar a presidente para obter benefícios, rejeitada por ela em várias ocasiões, deu resultado. A tática da "faca no pescoço" funcionou, avalia-se no Congresso.
No relatório, Dilma tinha ao menos cinco pontos com os quais tinha divergências frontais, mas teve que ceder à sua própria base. E isso, avaliam deputados governistas, pode determinar os rumos das próximas votações de interesse do governo. Há 18 medidas provisórias aguardando deliberação da Câmara. Ao menos duas delas são consideradas fundamentais: a que flexibiliza as regras de licitações para a Copa 2014 e a Olimpíada 2016 e a extensão do encargo sobre as tarifas de energia elétrica (RGR) por 25 anos.
Nos bastidores, auxiliares da presidente afirmam que Dilma estava "contrariada" com os líderes dos principais partidos. E rejeitou, em várias ocasiões, o argumento desses líderes para explicar os porquês de não conseguir brecar alterações indesejadas. Dilma afirmou, em conversas reservadas, que não admitia a rebelião do chamado baixo clero, aqueles deputados menos influentes, como motivo principal da derrota. A presidente atribuiu seu insucesso a ação insatisfatória dos líderes do governo. E apontou a prevalência de interesses pessoais de alguns líderes de sua base como a principal razão do revés.
Até no PT houve rebeldia. E o Planalto interveio para garantir a unidade de sua principal bancada. Em reunião na tarde de ontem, uma parte dos petistas defendia o voto contra o relatório e a emenda por entender que havia concessões excessivas aos ruralistas. Outra parte, porém, queria aprovar o relatório, mas rejeitar o que chamou de "emendão do centrão", em referência às votações do grupo majoritário na Constituinte de 1988.
No fim, o criticado ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, telefonou aos líderes governistas para afirmar que a ordem de Dilma era apoiar o relatório e rejeitar a emenda do próprio PMDB. Com isso, Dilma queria fazer um aceno à classe média urbana, uma parcela crescente do eleitorado com preocupações ambientais, e com a qual a presidente conta para uma eventual reeleição em 2014. A ordem, contudo, não foi cumprida. Dos 80 petistas que votaram o relatório de Aldo, 35 foram contra.
A derrota fez com que o líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), já apontasse à tarde algumas formas de retaliação que o Planalto usaria dali em diante, além dos já conhecidos métodos de congelar emendas parlamentares e atrasos nas nomeações no segundo escalão. "Concordamos com o relatório do Aldo, mas queremos punição maior para quem reincidir no desmatamento", disse. Isso poderá, segundo ele, ser incluído no Senado. Vaccarezza também ameaçou com o veto da presidente. Em alguns pontos ou "no todo", como informaram auxiliares de Dilma. "Se perder, Dilma não hesitará em usar seu direito constitucional de impedir o aumento do desmatamento no país".
O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), negou ter havido derrota do governo. "Nós somos governo também. Sou do partido do vice-presidente (Michel Temer). Ocorre que dentro do governo há posições diferentes. E, como sou governo, apenas pensamos pontualmente diferente sobre algumas questões", disse.
No Planalto, a presidente afirmou a auxiliares que vetará a emenda que permite aos Estados fiscalizar novos desmatamentos. Depois de várias negociações, o governo não teve êxito em convencer o PMDB a retirar a emenda. O DEM chegou, inclusive, a ameaçar resgatar uma emenda anterior caso o PMDB retirasse a sua proposta. "Na prática, isso é uma anistia, é muito grave", afirmou um governista. "Basta que o produtor informe ao órgão fiscalizador estadual a intenção de replantar".
Colaborou Paulo de Tarso Lyra


CORRUPÇÃO
Um quinto do orçamento militar russo é desviado
Denúncia de promotor vem após demissões no Exército

Isabel Gorst | Financial Times, de Moscou

Um quinto do orçamento da Rússia para armamentos militares é roubado por funcionários corruptos e empreiteiros todos os anos, sangrando o Orçamento do Estado e minando a capacidade de prontidão a combates das Forças Armadas do país. A afirmação é do principal promotor militar da Rússia.
As alegações, publicadas em um jornal estatal, surgem uma semana depois que o presidente russo, Dmitri Medvedev, demitiu vários funcionários de alta patente das Forças Armadas por incapacidade de cumprir contratos estatais. O presidente disse que se o caso ocorresse na época de Josef Stálin (1878-1953) eles teriam sido presos.
Medvedev, que vem lutando para escapar da sombra do primeiro-ministro Vladimir Putin, acelerou uma campanha contra a corrupção na Rússia, uma vez que as eleições presidenciais do ano que vem se aproximam. Os dois ainda não disseram se vão disputar as eleições.
Numa entrevista concedida ao "Rossiskaya Gazeta", um jornal estatal russo, Sergei Fridinsky, o principal promotor militar russo, falou sobre como recursos alocados para armas e equipamentos militares são desviados a cada ano.
"Faturas falsas ou fictícias de trabalhos supostamente concluídos, cobrança de propinas para a obtenção de contratos com o governo - essas são parte das armas dos vigaristas", afirmou Fridinsky. "Como resultado, grandes somas de dinheiro são pilhadas - um a cada cinco rublos - e os militares continuam recebendo equipamentos e tecnologia de baixa qualidade", complementou.
Fridinsky disse que vários oficiais da área de defesa e empreiteiros militares receberam multas ou foram presos este ano, depois que o governo colocou em ação um esquema para coibir a corrupção.
Analistas confirmam as alegações de corrupção disseminada nas Forças Armadas, afirmando que a situação pode ser ainda pior do que a sugerida por Fridinsky. "Vinte por cento é uma estimativa baixa. Quarenta por cento é o número mais provável", diz Kirill Kabanov, diretor de um comitê anticorrupção não governamental.
Kabanov disse que a entrevista foi um "brado de convocação" do Kremlin para angariar o apoio popular para as eleições presidenciais marcadas para o ano que vem.
"Ela foi direcionada para a sociedade. A corrupção não pode ser combatida sem o apoio da sociedade. Ela atinge todo mundo e a maioria das pessoas está envolvida."
Nikolay Petrov, analista político do Moscow Carnegie Centre, disse que a entrevista teve a intenção de demonstrar que o Kremlin está no comando e cuidando das Forças Armadas. "Funcionários de escalões mais baixos e intermediários ficariam muito satisfeitos se alguns generais fossem parar na cadeia", afirmou Petrov.
As revelações de Fridinsky também poderiam refletir o conflito entre militares, promotores e investigadores. "Pode ser que Fridinsky esteja tentando transferir a culpa para se proteger", disse ele.
A corrupção disseminada nos meios militares ameaça minar os planos da Rússia de modernizar suas Forças Armadas e melhorar a prontidão das tropas para a batalha. Mais de 119 trilhões de rublos (US$ 650 bilhões) deverão ser aplicados no setor de defesa até 2020, nas mais amplas reformas realizadas desde a Guerra Fria.
Um promotor militar do extremo leste da Rússia disse esta semana que tropas estão sendo alimentadas com carne de cachorro em Vladivostock para encobrir o roubo de alimentos pelos oficiais.
MUNDO CORPORATIVO
Manobras de combate para gestores

Rafael Sigollo | De São Paulo

Pilotar um avião de caça F-15, projetado para missões de combate e manobras de alto desempenho, é uma tarefa que não admite nenhum tipo de erro. O domínio técnico deve vir acompanhado também de habilidades de liderança e de gestão quando, além de tudo, se está no comando de uma equipe de 42 pilotos que precisa estar pronta para atuar imediatamente em qualquer parte do mundo.
Toda essa experiência inspirou o ex-piloto e instrutor de voo da Força Aérea dos Estados Unidos James Murphy a desenvolver um modelo de planejamento e execução de projetos sem falhas - e que poderia ser aplicado também no mundo corporativo. Criou assim, em 1996, a consultoria Afterburner Incorporated e a metodologia "flawless execution" (execução impecável), que chega agora ao Brasil.
O objetivo, segundo Murphy, é proporcionar uma melhor liderança, ferramentas de planejamento estratégico e uma performance mais ágil e precisa. O nome Afterburner, inclusive, é uma referência a um artifício de pós-combustão que aviões de caça como o F-15 usam para aumentar rapidamente sua aceleração até atingir velocidades supersônicas. "Além disso, fornecemos as estruturas necessárias para o desenvolvimento de uma cultura de aprendizagem, comunicação, disciplina, inovação, administração do tempo, superação de obstáculos, colaboração e trabalho em equipe", diz.
Murphy, que também tem experiência como executivo de vendas, afirma que o foco é replicar seus processos em cada departamento, grupo e indivíduo para suprir o 'gap' entre o que a organização planeja fazer e o que ela efetivamente alcança. "Com a economia favorável e o rápido crescimento do Brasil, as empresas precisam cada vez mais treinar e desenvolver seus funcionários. Esse cenário abre boas oportunidades de negócios e incentivou nossa vinda para o país", afirma.
A empresa tem clientes como GE, Sony, Mattel, Pfizer, FedEx e Deloitte e sua equipe é formada por 50 pilotos de ambos os sexos. Inicialmente são eles que vão conduzir os programas no Brasil, com tradução simultânea. Em futuro próximo, porém, o diretor de negócios da Afterburner no Brasil, Eraldo DeCamargo, acredita que o conteúdo será oferecido em português por pilotos brasileiros. "Os treinamentos são feitos em equipe e customizados de acordo com as necessidades de cada empresa. Além disso, fazemos palestras, seminários, consultoria e coaching executivo", ressalta.
Depois do Brasil, o próximo alvo da Afterburner, que já tem escritórios nos Estados Unidos e na Austrália, será a China.

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